sábado, 4 de setembro de 2021

A Bíblia diz que Deus não existe – Acerca da polêmica sobre a Carta de S. Paulo aos Efésios



«Deus não existe». Por incrível que pareça, esta é uma proposição do Salmo 53,2b. Assim, é possível que alguém diga que a Sagrada Escritura afirma a não existência de Deus.  À primeira vista não estaria a mentir, pois basta abrir qualquer Bíblia para constatar que, de facto, a frase lá está. Mas também lá se encontra a sua introdução, que afirma: «Diz o ímpio no seu coração:» (Sl 53,2a). Mais do que uma mentira, seria uma manipulação desonesta e até perversa. Quando a uma frase se rouba o seu contexto, é muito fácil distorcê-la ao ponto de, inclusivamente, lhe dar o sentido contrário daquilo que pretende afirmar.

Vem isto a propósito da polémica construída a partir de uma frase da Carta aos Efésios (capítulo 5), lida nas missas do passado domingo. Também ela foi tirada do seu contexto, de modo a fazer S. Paulo dizer exatamente o contrário do que, de facto, afirmou.

No tempo de Paulo, a mulher contava muito pouco, a ponto de ser considerada uma propriedade que passava de um dono (o pai) para outro (o marido). Ora, é a pessoas geradas nesta cultura que o apóstolo escreve.  E não o faz apenas a respeito da relação do marido com a mulher (5, 22-33), mas também da relação de filhos e pais (6,1-4), e dos senhores com os seus escravos e vice-versa (6,5-9).  Paulo recorda aos destinatários da sua carta que todos estes relacionamentos ganharam uma nova e revolucionária dimensão à luz da fé em Cristo. O batismo rompe todos estes estereótipos culturais e introduz o crente numa nova forma de viver, que está resumida nas palavras do apóstolo que abriam, precisamente, a leitura do passado domingo, que tanto brado deu:  «Submetei-vos uns aos outros no temor a Cristo» (5,21). A fé em Cristo constrói uma nova cultura: a do amor – segundo o exemplo de Jesus – e não a do domínio e da subjugação do outro. Subjugar-se e não subjugar:  todos se devem submeter ao e no amor. Mas Paulo é explícito: todos e não apenas alguns; na vida cristã e também na matrimonial não há lugar para subjugadores! Por isso, depois de falar do submeter-se no amor das mulheres em relação aos maridos, Paulo fala – e que revolucionário é! – do submeter-se  no amor dos maridos em relação às mulheres: «Maridos, amai as vossas mulheres, como Cristo amou a Igreja e se entregou por ela» (5,25). Ou seja, entregando-se sem reservas ou egoísmos, submetendo-se ao seu bem e à sua felicidade. Dando a vida por elas, como Cristo pela Igreja!

Centenário da Legião de Maria será celebrado com Missa em Salvador



Uma caminhada centenária, marcada pelo amor a Deus e pela devoção à Nossa Senhora. É com esta certeza que legionários e legionárias celebram, com júbilo, os 100 anos de fundação da Legião de Maria no mundo.

Na Arquidiocese de Salvador, o bispo auxiliar, Dom Valter Magno de Carvalho, presidirá a Missa Solene no dia 7 de setembro, às 15h. A Celebração Eucarística acontecerá na Catedral Basílica de Salvador, localizada no Terreiro de Jesus.

EUA: Biden promete esforço ‘do governo inteiro’ para manter o aborto no Texas


O presidente dos EUA, Joe Biden, anunciou uma reação “do governo inteiro” para garantir acesso ao aborto no Texas, Estado em que entrou em vigor na quarta-feira 1º de setembro a mais restritiva lei pró-vida dos EUA desde a liberação do aborto em 1973.

Biden, que é o segundo presidente católico dos EUA, instruiu sua equipe de governo a examinar “que passos o governo federal pode dar para garantir que as mulheres no Texas tenham acesso a abortos seguros e legais”.

A “Lei da Batida do Coração” que entrou em vigor proíbe abortos no Estado assim que seja detectado um batimento cardíaco do bebê, o que pode se dar a seis semanas de gravidez.

Bien disse que está direcionando o Conselho de Política de Gênero da Casa Branca, assim como o Conselho da Casa Branca, a um esforço de todo o governo para descobrir “que ferramentas legais há para isolar as mulheres e os provedores (de aborto) do impacto do esquema bizarro do Texas”.

A difícil realidade da morte na família



Meu pai, em seu leito, ouviu o médico dizer-lhe que a grave, penosa e incurável doença de que padecia acabaria com sua vida terrena em pouco tempo – uma vida que ele amava intensamente. Assim, teríamos de enfrentar a dura realidade da morte na família.

Depois de se despedir amavelmente do médico, ele se virou para a luz da janela, profundamente pensativo; passados alguns minutos, seu rosto ficou sereno e seu semblante transmitia paz.

– Sabe o que o médico me disse? Ele afirmou que eu vou para casa. Isso não é lindo?

– Para você, sim, pai, mas não para nós – respondi.

– Sabe… a luz da janela me fez sentir nostalgia, uma espécie de saudade. Vou para a casa do Pai. Sim, sou como uma criança que volta para casa, e que está esperando que venham buscá-la.

Ele me disse isso com um sorriso cheio de esperança. Assim, minha dor humana cedeu e deixei de sentir pena dele.

Paz diante da morte na família

Meu pai morreu com muita paz. E deixou bem claro que queria um velório completo, sepultura cristã do corpo inteiro (não cremação), missa de corpo presente.

Ele nunca concordou com certas práticas atuais, segundo as quais o corpo vai do hospital para o crematório diretamente, como se nada tivesse acontecido, como se as crianças tivessem de ser poupadas desta vivência, como se a morte também não fizesse parte dos planos de Deus.

Meu pai aceitou sua morte e quis mostrá-la como o que ela é: um paradoxo divino que nos dá a maior lição de vida, ao mostrar o amor de Deus. De fato, é assim porque a alma não morre; a pessoa deixa a visibilidade do corpo, mas sua vida espiritual continua maior e melhor.

O cristão não vive para morrer, mas para viver mais.

Presidente da CNBB sai em defesa do STF por ocasião do 7 de setembro



Em uma tentativa de voltar os católicos contra o poder executivo, através de um vídeo no qual ele dá várias indiretas ao comandante máximo da nação e aos católicos que comparecerão às manifestações de 7 de setembro, Dom Walmor, Presidente da CNBB, intimou os católicos dizendo: “não se deixe convencer por quem agride os poderes Legislativo e Judiciário”. 

Por ocasião do Dia da Pátria, 7 de setembro, o presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), dom Walmor Oliveira de Azevedo, publicou mensagem pedindo que, independente de “convicções político-partidárias”, não se aceitem “agressões a instituições que sustentam a democracia”, porém ele ignora solenemente as diversas vezes em que o STF abusou do seu poder, interferindo de maneira inconstitucional nos poderes legislativo e executivo, através da prática do ativismo judicial.

Ativismo judicial costuma ser chamado o fenômeno jurídico para uma postura ativa do Poder Judiciário na interferência de maneira regular e significativa em ações políticas dos demais poderes. Um compilado foi avaliado por militares da ativa e da reserva, além de integrantes do governo mostra que essa prática foi executada 123 vezes nos últimos dois anos pelo Supremo Tribunal Federal (STF), contra o atual Governo. Isso equivale a uma decisão por semana.

“O dia 7 de setembro contribua para inspirar no seu coração o compromisso com o exercício qualificado da cidadania. A participação cidadã na política, reivindicando direitos, com liberdade, está diretamente relacionada com o fortalecimento das instituições que sustentam a democracia. Por isso, não se deixe convencer por quem agride os poderes Legislativo e Judiciário”, disse dom Walmor em vídeo publicado no site da CNBB. “Somos todos irmãos”, disse o arcebispo de Belo Horizonte (MG), inclusive “daqueles com que não concordamos”. Em seguida, o arcebispo afirmou que “a existência de três poderes impede a existência de totalitarismos, fortalecendo a liberdade de cada pessoa”.

quinta-feira, 2 de setembro de 2021

Setembro, mês da Bíblia



A Palavra de Deus deve estar cotidianamente presente na vida dos cristãos. A bíblia é a fonte dessa Palavra, evidenciada com destaque no mês de setembro através de algum tema sugestivo para reflexão. Neste ano de 2021 o destaque é dado ao Livro de São Paulo aos Gálatas, com o lema, “Pois todos vós sois um só, em Cristo Jesus” (Gl 3,28), um convite para a prática da unidade comunitária.

Através de sua Palavra, Deus injeta esperança na vida do povo, provoca coragem e ânimo nos ouvintes e exercício fecundo da liberdade cristã. Palavra com exigência de ser ouvida e transmitida, tirando as pessoas da surdez para assumir as propostas do Reino de Deus. Palavra que abre caminho de vida e dignidade, porque nela está a intervenção de Deus na vida daqueles que o acolhem.

A vida cristã se sustenta e consegue resistir às influências do secularismo hodierno com a força da Palavra de Deus. Ela ajuda no desmonte dos instrumentos que têm desvirtuado as bases da fé. Consegue também abrir caminho seguro de confiança e restauração de forças para o indivíduo agir. Muitas deficiências na vida podem ser sanadas e libertar as pessoas com o apoio da Palavra bíblica.

A bíblia não é uma coleção de livros literários. Aliás, muito mais do que isto, porque é fruto de práticas comunitárias com marcas históricas milenares e reconhecidas como de inspiração divina com a contribuição dos limites de seus escritores. A Palavra de Deus articula fé e vida, porque une a ação de Deus e a prática de vida das pessoas. Exige o exercício da justiça e do amor para dar dignidade às pessoas.

Uma das características da Palavra divina é a imparcialidade na opção pela vida das pessoas. Não há ali favorecimento para esta ou aquela pessoa, a não ser a opção pelo mais sofrido da sociedade. Apesar de amar a todos indistintamente, há uma preferência de Deus pelos pobres (Tg 2,5), porque muitas vezes eles estão assim porque foram explorados e desvalorizados na sua incapacidade de ação.

sexta-feira, 27 de agosto de 2021

Palavra de Vida: "Quem for humilde como esta criança, será o maior no reino dos Céus" (Mt 18, 4)



Quem é o maior, o mais forte, o mais bem-sucedido na sociedade, na Igreja, na política, nos negócios?

Esta pergunta está presente nos relacionamentos, orienta as escolhas, determina as estratégias. É a lógica dominante a que recorremos, até inadvertidamente, talvez com o desejo de garantir resultados positivos e eficientes com quem está à nossa volta.

Neste ponto, o Evangelho de Mateus apresenta-nos os discípulos de Jesus que, depois de terem ouvido o anúncio do Reino dos Céus, pretendem conhecer os requisitos para serem protagonistas no novo povo de Deus: «Quem é o maior?».

Como resposta, Jesus faz um dos seus gestos imprevisíveis: coloca uma criança no centro da pequena multidão, acompanhando este gesto com as inequívocas palavras:

Quem for humilde como esta criança, 
será o maior no reino dos Céus

À mentalidade competitiva e autossuficiente, Jesus contrapõe o elemento mais frágil da sociedade, aquele que não tem funções a ostentar ou a defender; aquele que em tudo é dependente e, espontaneamente, se confia à ajuda dos outros. Não se trata, porém, de aceitar uma atitude passiva, de renunciar a ser propositivos e responsáveis, mas sim de proceder a um ato de vontade e de liberdade. De facto, Jesus pede que nos façamos pequenos, pede a intenção e o compromisso de fazermos uma decidida inversão de marcha.

Quem for humilde como esta criança, 
será o maior no reino dos Céus

Chiara Lubich aprofundou as características da criança evangélica do seguinte modo: «[…] a criança abandona-se confiadamente ao pai e à mãe: acredita no amor que eles lhe têm. […] O cristão autêntico, como a criança, acredita no amor de Deus, lança-se nos braços do Pai celeste, tem uma confiança ilimitada n’Ele. […] As crianças dependem em tudo dos seus pais […]. Também nós, “crianças evangélicas”, dependemos em tudo do Pai: […] Ele sabe aquilo de que precisamos, ainda antes de Lho pedirmos, e concede-nos. O próprio reino de Deus não se conquista, acolhe-se como uma oferta, das mãos do Pai».

Chiara sublinha ainda que a criança se entrega totalmente ao pai e aprende tudo com ele. Do mesmo modo: «A “criança evangélica” coloca tudo na misericórdia de Deus e, esquecendo-se do passado, começa em cada dia uma vida nova, disponível às sugestões do Espírito, sempre criativo. A criança não sabe aprender sozinha a falar, precisa de quem lhe ensine. O discípulo de Jesus […] aprende tudo da Palavra de Deus, até chegar a falar e a viver segundo o Evangelho». A criança tende a imitar o seu pai. «Também a “criança evangélica” […] ama a todos, porque o Pai “faz nascer o Seu sol sobre maus e bons, e faz chover sobre justos e injustos”; toma a iniciativa no amor, porque Ele nos amou quando nós éramos ainda pecadores; ama gratuitamente, sem interesse, porque assim faz o Pai celeste»(1).

É verdade que o Papa Francisco proibiu a Missa Tridentina? Por que tanta confusão?


Após a promulgação da mais recente Carta Apostólica do Papa Francisco, Traditionis Custodes, em forma de Motu Próprio, muitos católicos se manifestaram sobre o documento. Alguns contra, outros a favor. O fato é que a maioria dos católicos que acompanhou os argumentos dos dois lados ainda não entendeu o que este documento significa na prática.

Fizemos esta análise no intuito de responder alguns destes questionamentos que pairam pela mente destes católicos.

O que é um Motu Próprio?

Motu próprio é uma das espécies normativas da Igreja Católica, expedido diretamente pelo próprio Papa. A expressão motu próprio poderia ser traduzida como “de sua iniciativa própria” o que se opõe ao conceito de rescrito que é, em regra, uma norma expedida em resposta a uma dada situação. Portanto este Motu Próprio é um documento que gera normas de iniciativa do próprio papa.

O que é a Missa Tradicional (ou Tridentina)?

O rito romano é a maneira como se celebra a Santa Missa (Missal romano). Dentro do rito romano atual, existem duas formas: a forma ordinária (a mais utilizada e a mais nova, instaurada pelo Missal Romano de 1970, hoje em sua 3ª edição) e a forma extraordinária (também conhecida como a Missa Tradicional ou Missa Tridentina ou de São Pio V, ou seja, aquele ritual previsto no Missal Romano de 1570, com as sucessivas adições feitas até a última edição de 1962).

A Missa Tridentina é rezada como foi transmitida pelos apóstolos, com algumas pouquíssimas diferenças e alterações. Na Missa Tradicional, a posição do padre é voltada, na maior parte do tempo, para o altar, todos ficam de frente para o altar. É rezada em Latim e todos ficam mais tempo ajoelhados e em silêncio. É uma liturgia predominantemente penitencial. Há uma preferência também pela música sacra, canto gregoriano e a polifonia. Outra especificidade é que as mulheres procuram estar mais modestas, sempre estão usando véu sobre o cabelo; Essas são algumas das diferenças mais perceptíveis para a missa nova.

Em 2007 o papa Bento XVI publicou o Motu Proprio Summorum Pontificum que colocou novamente esta forma de celebrar a missa em destaque.

Qual era a intenção de Bento XVI ao publicar o Motu Proprio Summorum Pontíficum em 2007?

Em seu pontificado, Bento XVI desempenhou uma busca constante por uma reforma da reforma liturgica. Percebendo os graves problemas na liturgia e até mesmo na filosofia/teologia em todo mundo, tentou, com seu exemplo, popularizar o zelo pela liturgia e a eucaristia, além de “descriminalizar” e restaurar a tradição na Igreja.

Com a publicação do Summorum Pontíficum, o Papa Bento XVI queria resolver a sobreposição do Missal do Vaticano II sem a abolição do anterior. Basicamente ele permitiu que os fiéis tivessem direito de solicitar celebrações da missa e dos outros sacramentos conforme os ritos e fórmulas anteriores ao Concílio Vaticano II.

Qual a importância do Summorum Pontíficum?

Através do Summorum Pontificum muitos grupos e comunidades tradicionais tiveram respaldo para solicitar a missa na forma tradicional e, desde então, surgiram muitos grupos e comunidades tradicionais, inclusive muitos padres que passaram a se interessar pela celebração da missa tradicional.

*Importante ressaltar que estes grupos que surgiram a partir do incentivo de Bento XVI, eram grupos que seguiam o papa e o magistério, sempre submissos à igreja. E que os grupos que se opunham ao papa e ao Vaticano II já existiam muito antes da promulgação do Summorum Pontificum.

O Summorum Pontíficum de Bento XVI era respeitado?

Nem sempre… Mesmo com o documento que estabelecia que qualquer sacerdote pudesse celebrar livremente a missa tradicional, muitos bispos e “conselhos diocesanos” não respeitavam a autoridade do papa, e frequentemente perseguiam os padres/comunicades tradicionais.

Ainda assim havia um lado bom, pois muitos bispos permitiam a missa “contra a própria vontade”.

Qual a intenção do Novo Motu Proprio Traditionis Custodes do Papa Francisco?

O Papa Francisco fez mudanças radicais na carta apostólica, emitida em 16 de julho de 2021, em forma de motu proprio “Traditionis custodes” (“Guardiães da Tradição”), sobre o uso da liturgia romana anterior a 1970, restringindo as missas celebradas sob a forma extraordinária do rito romano.

O uso da forma extraordinária depende agora da autorização do bispo local a grupos que queiram a Missa tradicional (art. 2), só podendo ocorrer em igrejas em locais determinados por ele que não sejam igrejas paroquiais (art. 3, § 2), e não poderão ser autorizados novos grupos (art. 3, § 6) ou novas paróquias pessoais (art. 3, § 2).

Em teoria a sua decisão se baseia na “defesa da unidade do Corpo de Cristo” e visa combater “o uso distorcido que foi feito desta faculdade é contrário às intenções que levaram a conceder a liberdade de celebrar a Missa com o Missale Romanum de 1962”, ou seja, com esse maior controle o Papa pretende fazer que as missas tradicionais não se tornem um reduto de católicos dissidentes, que não aceitam o Magistério da Igreja, rejeitam a validade da Missa Nova, do Concilio Vaticano II e dos últimos papas.

O texto determina que os bispos “se assegurem de que estes grupos não neguem a validade do Vaticano II e do Magistério dos sumos pontífices”.

O novo Motu Próprio do Papa Francisco proíbe a missa tradicional?

Na teoria não. No artigo segundo deste novo documento, o Papa Francisco afirma que é “competência exclusiva” do bispo autorizar o uso do Missal Romano de 1962 na sua diocese, isso significa dará uma autoridade para os bispos poderem proibir e suprimir comunidades tradicionais, o que, por sinal, já acontecia com uma certa frequência em muitas dioceses, mesmo durante o motu próprio anterior, mas agora terão autoridade dada pelo Vaticano.

De acordo com o documento, o bispo deve indicar um ou mais lugares onde se pode usar a liturgia na forma extraordinária, “mas não em igrejas paroquiais e sem erigir novas paróquias pessoais”.

O Papa também manda que os bispos locais verifiquem se as paróquias pessoais já estabelecidas para que as missas sejam celebradas no rito antigo “são eficazes para o crescimento espiritual e determine se devem ou não ser mantidas”. Fica proibida a criação de novos grupos ou a ereção de novas paróquias pessoais.

A missa tradicional corre “risco de extinção”?

Sim. Por dois motivos.

Primeiro Motivo:

Muitos bispos que antes já proibiam a missa tradicional em sua diocese, desobedecendo o Summorum Pontificum, agora terão autoridade para eliminar qualquer vestígio da tradição em suas dioceses. E mesmo aqueles bispos que antes permitiam contra a própria vontade, agora poderão simplesmente desautorizar as missas vigentes, tudo isso sem uma instância superior para se recorrer.

Certamente haverão bons bispos que darão liberdade para que os padres celebrem livremente a missa tradicional em suas dioceses, porém, contudo, todavia, nós sabemos que, além de serem poucos, qualquer bispado possui prazo de validade, seja por remanejamento ou por aposentadoria.

A partir deste cenário, concluímos que a simples mudança de um bispo poderá mudar totalmente o cenário de uma diocese, e com isso todas as autorizações poderão ser revogadas, desse modo, dioceses que hoje têm a liberdade para viver a tradição, podem perder a concessão com uma simples mudança de bispo.

Alguns exemplos que podemos citar são as dioceses de Ciudad del Este (Paraguai) e Anápolis (GO) que mesmo durante a vigência do Summorum Pontificum sofreram grandes mudanças pelos bispos que sucederam seus antecessores mais tradicionais.

Segundo Motivo:

O quarto artigo do documento determina que os sacerdotes ordenados após 16 de julho de 2021, que desejem oferecer a forma extraordinária da Missa, terão de apresentar um pedido formal ao bispo diocesano, o qual consultará previamente a Sé Apostólica antes de conceder a autorização.

O quinto artigo estabelece que os padres ordenados antes de 16 de julho de 2021 e que já oferecem a Missa tradicional devem pedir autorização ao seu bispo diocesano para “continuarem a usufruir desta faculdade”.

O sexto artigo informa que, a partir da data de 16 de julho de 2021, “os Institutos de Vida Consagrada e Sociedades de Vida Apostólica, estabelecidos pela Pontifícia Comissão Ecclesia Dei, são de competência da Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e Sociedades de Vida Apostólica”.

Portanto Vaticano reservou para si a competência para autorização de novas comunidades e carismas, mas de modo especial as comunidades de cunho tradicional, como já haviam determinado anteriormente e reiteram neste novo motu próprio.

Portanto a partir de agora será muito mais difícil o surgimento de novos grupos e comunidades cujo carisma seja viver a tradição, uma vez que os bispos locais não têm mais autoridade para autorizá-los.

Por que a restrição à missa tradicional causou tanto espanto?

O principal motivo é porque a Missa Tradicional é um tesouro da Igreja e, aqueles que a conhecem, sabem sua celebração é algo positivo em todos os aspectos para a Santa Igreja, portanto não existe motivo para restringir sua celebração e, que ao contrário do que foi feito, deveria ser motivada.

Nas comunidades em que há maior frequência à missa tradicional, as estatísticas em relação a diversos aspectos da vida cristã são sempre superiores. Maior frequência aos sacramentos, grande número de vocações sacerdotais, religiosas, missionárias. Maior consciência da doutrina, etc.

É verdade que existem católicos tradicionais que não aceitam a autoridade do Papa e o Concílio Vaticano II, e consequentemente não estão sob o Magistério da Igreja? Esse Motu Próprio foi uma punição para eles?

Sim, existem católicos que não aceitam o papa, e também não aceitam o Vaticano II. Esses “católicos” popularmente chamados de “radtrads”, entretanto, não têm o costume de frequentar paróquias, mas participam de missas com padres e comunidades que também não estão sob a autoridade do Vaticano. Eles participam da missa exclusivamente no rito tradicional, e também não aceitam a missa nova, mesmo que seja celebrada com toda piedade, sem abusos litúrgicos e de forma solene. Nos locais onde não há missa, eles preferem assistir pelo youtube a participar da missa nova.

O maior argumento deste motu próprio segue o raciocínio de querer exterminar estes grupos e comunidades, porém, o que não se levou em consideração é que eles já não aceitam a autoridade do Vaticano, e consequentemente não serão afetados pelo novo motu próprio. Eles continuarão frequentando suas missas normalmente nos locais onde já frequentavam.

Esse motu próprio afetará, pelos motivos já citados, principalmente padres e fiéis que aceitam o Concílio Vaticano II e que estão sob a autoridade do Papa, e deste modo estão sob a jurisdição do do Vaticano.