O grito dos excluídos, manifestação de protesto da CNBB que há 27 anos se contrapõe à celebração do Dia da Pátria no dia 7 de setembro, propõe este ano do juntar-se "ao grito das pessoas transexuais e travestis " e equipara o Reino de Deus à Terra sem males, conceito da religião dos guaranis.
“A proposta do Grito dos Excluídos e Excluídas surgiu em 1994, a partir do processo da 2ª Semana Social Brasileira, da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), cujo tema era Brasil, alternativas e protagonistas, inspirada na Campanha da Fraternidade de 1995, com o lema: A fraternidade e os excluídos. Entre as motivações que levaram à escolha do dia 7 de setembro para a realização do Grito dos/as Excluídos/as estão a de fazer um contraponto ao Grito da Independência”, diz o site oficial do evento.
“O primeiro Grito dos Excluídos/as foi realizado em 7 de setembro de 1995, tendo como lema A vida em primeiro lugar”. “A partir de 1996, o Grito foi assumido pela CNBB que o aprovou em sua Assembleia Geral, como parte do PRNM (Projeto Rumo ao Novo Milênio -doc. 56nº129). A cada ano, se efetiva como uma imensa construção coletiva, antes, durante e após o Sete de Setembro. Mais do que uma articulação, o Grito é um processo, é uma manifestação popular”, prossegue o site.
Em declarações ao portal de notícias Rede Brasil Atual, uma agência de notícias fundada por sindicatos, o bispo de Brejo (MA), dom José Valdeci Santos Mendes, presidente da Comissão Episcopal Pastoral para Ação Sócio-Transformadora da CNBB, responsável pelo evento, falou sobre a edição deste ano. “O grito é sempre atual no sentido de questionar todas as mazelas que estão aí na sociedade”, disse. “Por tudo que é negado, o direito à vida, essa derrubada dos direitos conquistados, a maneira como se encara a vacina – que na verdade deve ser para todos –, a negação da ciência, isso não é um governo que nos representa. Precisamos dizer ‘Fora Bolsonaro!’. Assumimos isso como um compromisso para uma sociedade mais justa e mais fraterna”.
O Assessor da Pastoral da Ação Transformadora da CNBB, Frei Olávio Dotto, confirmou a ACI Digital que “em muitos lugares do país o grito se ‘entrelaça’ com a campanha Fora Bolsonaro, mas também a outras campanhas e causas que visem a defesa da vida da população”.
Sore a menção a transexuais e travestis, frei Dotto diz que “todos os anos o grito busca dar voz a grupos que precisam de visibilidade” e que “não é surpresa” que estes cidadãos estão em “vulnerabilidade”.
O coordenador nacional que articula todos os anos o Grito dos Excluídos e da Associação Rede Rua, que promove o evento, Alderon Costa, declarou ao Rede Brasil Atual: “Neste momento difícil que o Brasil atravessa temos que ‘sair da arquibancada’ e, com todos os cuidados, irmos para as ruas nos juntarmos com as vozes dos indígenas, das periferias, da população em situação de rua, que já são mais de 200 mil em todo o país. Juntar-nos ao grito das mulheres, das pessoas transexuais e travestis, dos trabalhadores (…) que estão cada dia mais perdendo seus empregos, contra a carestia e a inflação.”
A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, através da Pastoral de Ação Sociotransformadora, lançou no dia 31 de julho uma carta de apoio ao evento, convidando à participação ao longo do território nacional.
“Ainda estamos em tempo de pandemia do coronavírus. Ultrapassamos meio milhão de mortes. Quantos milhares de famílias sofrem por ter perdido seus entes queridos, fruto de uma cultura negacionista e da falta de vontade em resolver as questões da saúde. O avanço do desmonte de direitos sociais e do próprio estado democrático com a disseminação da cultura do ódio sustentada pelas notícias falsas manifestadas nas redes sociais também são sinais do descaso pela vida”, diz a carta da entidade. “Há que se destacar, ainda, o aprofundamento das desigualdades sociais, o aumento da fome, do desemprego, fruto do avanço do poder financeiro sobre a Constituição brasileira e ao aumento do lucro dos bancos, institucionalizando ainda mais os seus privilégios. O avanço dos grandes projetos sobre as terras indígenas, povos quilombolas, pescadores e as agressões ao meio ambiente tem sido outra marca da atual política”.
“Que o grito dos Excluídos e Excluídas seja o nosso grito e desperte em nós força para lutar em busca do Reino de Deus que começa aqui agora; na luta pelo Bem Viver e da Terra Sem Males”, diz a carta dos bispos brasileiros fazendo alusão a um da cultura tupi-guarani, que fala de um lugar onde não há fome nem guerras.
Fundos europeus
O grito dos Excluídos tem o apoio financeiro da Rede Jubileu Sul, um agrupamento de várias entidades de caráter ecumênico e de mobilização social, que inclui a Pastoral Social da CNBB, o Conselho Nacional de Igrejas Cristãs (CONIC), a Cáritas Brasileira, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), Grito dos Excluídos (brasileiro e continental), IBRADES, Rede Brasil sobre Instituições Financeiras, ESPLAR, Conlutas, Coordenação da Auditoria Cidadã da Dívida, Pastoral Operária Nacional, entre outros.
Segundo a Rede Jubileu Sul a realização do Grito dos Excluídos vem sendo realizada desde 2019 com fundos vindos da União Europeia.
“Desde 2019 o Grito dos/as Excluídos/as vem recebendo apoio da Rede Jubileu Sul Brasil através da ação de Ajuda a Terceiros, iniciativa que integra a ação Fortalecimiento de la Red Jubileo Sur/Américas en el logro del desarrollo y de la soberanía de los pueblos latinoamericanos y caribeños, cofinanciada com recursos da União Europeia”, afirma o site da Rede. Os recursos da EU, segundo a Rede Jubileu Sul, têm sido utilizados para a divulgação da manifestação, “permitindo uma mobilização nacional ainda maior”.