A Oração do Rosário
Uma forma de oração mariana praticada ininterruptamente por muitos séculos e sempre encorajada pela mais alta autoridade eclesiástica é a oração do rosário.
A primeira tradição foi o uso muito antigo, atestado já a propósito dos monges egípcios dos primeiros séculos cristãos, de contar as orações orais com a ajuda de grãos ou pedrinhas. Posteriormente lanço-se mão de uma cordinha munida de pérolas ou grãos, enquanto na maioria das vezes a oração repetida ao ritmo desta cadeia era o “pai-nosso”.
A partir do século XII a “ave-maria” difundiu-se sempre mais. Começou-se a repetir-se também esta oração através de cordinhas munidas de nós, e por fim, foi unida ao “pai-nosso”. A contemplação hoje habitual dos 20 mistérios da vida, paixão e glorificação de Jesus Cristo é atestada com certeza a partir de 1480.
Durante séculos a tradição cristã considerou São Domingos como o verdadeiro criador do rosário, mas o certo é que as origens do rosário devem ser procuradas no fundador da Ordem dos Pregadores, no início do século XIII.
Em todo caso, São Domingos e a sua Ordem (dominicana) permaneceram através dos tempos, e até hoje, um símbolo da difusão desta oração por meio da pregação, dos escritos e das associações. Outras Ordens, como a Companhia de Jesus (jesuítas), a adotaram e contribuíram de maneira significativa para a sua difusão em toda a Igreja.
Num tempo de graves perigos provocados pelas heresias e pelo ataque dos turcos contra o Ocidente, São Pio V (1569 e 1571) exortou a cristandade a encontrar conforto no rosário. Depois da grande vitória conseguida na batalha naval de Lepanto, ele acrescentou à virtude desta oração a salvação da cristandade, definiu sua forma, e instituiu o dia 7 de outubro como festa do santo rosário e concedeu uma indulgência plenária aos que o rezassem.
De modo particular, o rosário é ilustrado sob os seguintes aspectos essenciais:
Ø O rosário é uma oração bíblica;
Ø Ele faz a resenha dos dados essenciais da história da salvação;
Ø Está orientado para Cristo;
Ø Apresenta um caráter meditativo;
Ø Entre liturgia e rosário existe uma relação profunda.
O Concílio de Éfeso no ano de 431 afirmou: “Quem não confessar que o Emanuel é verdadeiramente Deus e que conseqüentemente a bem-aventurada Virgem Maria é a Mãe de Deus, porque, segundo a carne, deu à luz o Verbo encarnado que procede de Deus, seja excomungado”.
Como afirma o Magnificat, Deus realizou grandes coisas em Maria. Estas grandes coisas nada mais são senão isto: “Maria tornou-se Mãe de Deus”.
A finalidade última e autêntica da oração é o louvor a Cristo, ao passo que Maria abre caminho para Ele.
O que as nossas igrejas e o Cristianismo experimentado cotidianamente parecem oferecer apenas de maneira insuficiente, é procurado por muitos indivíduos nas filosofias e religiões orientais que com freqüência chegam ao homem ocidental sedento de soluções e cheio de problemas confeccionados de maneira sincretista.
Que o indivíduo recorra ao esquema orgânico e fixo de uma oração continuamente repetida não é necessariamente uma coisa de que deva envergonhar-se.
Para compreender realmente a natureza desta oração e experimentar a sua bênção, existe apenas um caminho: aproximar-se dela e rezá-la.
O Terço
Desde o início do Cristianismo, há mais de dois mil anos, os seguidores de Jesus desenvolveram muitas formas de oração. Uma delas, muito conhecida, é a oração vocal ou de repetição[1].
Não se sabe quando os cristãos começaram a rezar a ave-maria como oração vocal. Na Idade Média, monges analfabetos não podiam ler os Salmos e recitavam de memória algumas frases, inclusive a primeira parte da ave-maria que vem do Evangelho de Lucas.
Como há 150 Salmos, eles rezavam no correr do dia o mesmo número de ave-marias, mas só a primeira parte que junta a saudação do anjo com a de Isabel[2]. A segunda parte da ave-maria se espalhou a partir do ano 1480. Embora exista uma lenda que São Domingos tenha recebido diretamente de Maria o rosário, foi um monge que, nos anos 1300 fez a divisão das ave-marias em 15 dezenas com um pai-nosso em cada uma. Mais tarde, outro monge propôs a meditação dos mistérios. E depois, um frade dominicano criou o rosário, dividindo nos mistérios gozosos, dolorosos e gloriosos.
O nome rosário quer dizer uma corrente de ave-marias, como uma coroa de rosas. O Papa João Paulo II, no aniversário de seu pontificado (16/10/2002) incluiu os Mistérios Luminosos no rosário.
Atualmente o rosário possui duzentas ave-marias e vinte pai-nosso. O terço significa, como a palavra já fala, a terça parte do rosário, ou seja, 50 ave-marias. Um rosário completo tem quatro terços. A devoção do terço é livre. O devoto de Maria reza o terço como lhe guia o coração.
Se há desejo e tem possibilidades, pode rezar mais ave-marias, se lhe falta ocasião, reza menos. Mas deve ser bem rezado, com o coração aberto e boa preparação. Não é bom rezar o terço de forma mecânica, repetindo às pressas as ave-marias, para acabar logo. Os mistérios podem ser enriquecidos com trechos da Palavra de Deus, hinos e canções.
Como acontece com outras devoções, não se deve misturar o terço com a liturgia. Na hora da missa não se reza o terço.
Embora seja tão bom, nenhum católico é obrigado a rezar o terço. Como devoção, rezar o terço não é lei para ninguém, mas um instrumento abençoado.