Existem inúmeros lugares marianos, metas de peregrinações populares, lugares célebres e famosos em todo mundo, ou pequenos e só conhecidos em nível regional.
Trata-se, sobretudo, da idéia de que, em determinados lugares geográficos, Deus (aqui, através de Maria) está mais próximo do orante e mais benigno do que em outra parte.
Uma concepção deste tipo está sedimentada na idéia de “lugar santo” que é inconciliável com os dados neotestamentários. O Novo Testamento exige uma adoração no Espírito de Deus e na Verdade que é Cristo, como transparece claramente no diálogo de Jesus com a samaritana: “É chegada a hora e já é agora em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em Espírito e em Verdade...” [1].
O próprio Jesus Cristo é o novo Templo[2]. Não existem lugares sagrados no sentido popular comumente entendido: o “Lugar Santo” ou “Sagrado”, o “Templo”, o lugar da presença Divina é o próprio Jesus e, portanto, em união com Ele e no seu seguimento, a Sua Comunidade[3].
“Onde dois ou três crentes se reúnem, ali Cristo prometeu estar presente” (cf. Mt 18,20).
Como na vida de cada pessoa, assim também na vida e na experiência de cada comunidade de fé, pode haver lugares importantes, lugares onde se verificam experiências importantes e que adquiriram um significado permanente.
Também não adianta apelar para os milagres que “lá” se operaram. Não porque se negue que realmente tenham acontecido, mas porque aqui geralmente se parte de um conceito não bíblico de milagre: milagre como violação das leis da natureza. Na realidade, o milagre é algo diferente. Partindo da experiência bíblica da fé, todo evento do qual Deus me fala e no qual se “mostra” a si próprio deve ser considerado como um milagre, uma demonstração de poder, um grande gesto seu, e, portanto deve ser exaltado como tal, independente de sua explicabilidade ou inexplicabilidade “natural”.
Na medida em que Maria desempenha na fé um papel que a Igreja lhe reconhece, também as peregrinações marianas são legítimas, desde que, em primeiro lugar e antes de tudo, procurem levar ao encontro com Cristo. Lourdes pode servir de exemplo da peregrinação cristã mariana, e do encontro do homem com o Deus surpreendente.
Isso torna algumas coisas plausíveis (a alegria ingênua e festiva da procissão com as velas), outras toleráveis (o comércio e a agitação que reinam fora do Santuário) e deixa ao gosto e ao ponto de vista pessoal um espaço livre no que se refere a alguns elementos (tomar ou não tomar banho na água de Lourdes).
Assim, as verdadeiras testemunhas de Lourdes são aquelas inúmeras pessoas que voltam para casa exteriormente idênticas, mas interiormente mudadas.
Enfim, nas peregrinações em grupos manifesta-se um fragmento da Igreja, um fragmento da existência cristã.
Também aqui se trata e uma manifestação, de um sinal, de um símbolo posto em ato: a Igreja como povo de Deus a caminho e, nela, o cristão particular ajudado pela comunidade e orientado, entre fadigas e esperanças, para a meta e realização final.
[1]cf. Jo 4,23-24
[2] “Jesus respondeu, e disse-lhes: Derribai este templo, e em três dias o levantarei. Disseram, pois, os judeus: Em quarenta e seis anos foi edificado este templo, e tu o levantarás em três dias? Mas ele falava do templo do seu corpo” (Jo 2,19-21).
[3] “Não sabeis vós que sois o templo de Deus e que o Espírito de Deus habita em vós?” (1Cor 3,16; Ver também: 1Pd 2,5s).
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Fonte: trechos do livro "O Culto a Maria Hoje", Paulinas.