Junto com o apelo à oração, há um conselho que deve ser dado aos católicos, dentro e fora do Brasil, especialmente neste tempo de pré-conclave: não deem ouvidos à mídia. Falando assim, soa como um daqueles avisos de quem é contrário à liberdade de imprensa ou a que os meios de informação seculares cubram assuntos religiosos. Só que não, não se trata disto. A Globo, bem como a Bandeirantes, o SBT, e também os veículos impressos, como a Folha e o Estadão, não só podem, como devem trazer ao grande público notícias que se referem ao futuro próximo da Igreja Católica, especialmente porque, em um mundo no qual a religião parece não ter lugar e no qual temas como fé e espiritualidade normalmente são relegados à esfera privada, é sempre bom lembrar aos laicistas intolerantes que a Santa Sé é pauta nos noticiários, porque primeiro “é pauta” no coração de uma multidão mundo afora.
Quando dizemos que não deem ouvidos à mídia, queremos prevenir os leitores do perigo de enxergarem a Igreja apenas com os olhos humanos, deixando de lado o dom da fé. E esta talvez seja uma das grandes lições para este Ano da Fé, proclamado pelo Papa Bento XVI, no começo deste ano litúrgico: a confiança em Jesus, que guia e pastoreia a Sua Igreja, apesar dos abusos sexuais cometidos por alguns membros do clero, apesar dos escândalos do Vatileaks, apesar da existência de uma rede de prostituição homossexual associada a eclesiástico. Nunca é demais lembrar que, apesar de tantos pecados de seus membros – pecados nossos! -, a Igreja é santa, porque é de Cristo. Nada – nem Alexandre VI, nem as feridas recentes abertas e expostas ao público – pode fazer vacilar esta certeza, macular a Esposa do Cordeiro. Esta é a nossa fé. Se não a preservarmos, ninguém o fará por nós.
Muito menos a mídia. Acho saudável que denúncias de corrupção sejam trazidas ao público e devidamente apuradas, atinjam quem for. Assim, regozijei com o julgamento dos chefes do Mensalão – o STF fez a sua parte -, e também fiquei feliz com a limpeza feita por Bento XVI à frente da Igreja, mandando para fora quem devia estar não nos altares, mas na cadeia. Acontece que, quando o assunto é Igreja Católica, há um desejo de massacrá-la, uma hostilidade que salta aos olhos. A intenção dos veículos de comunicação, mais que denunciar o erro, é criar uma caricatura da Igreja, uma “igreja” que acoberta pedófilos, que restringe as “liberdades reprodutivas” das pessoas, que é contrária ao casamento gay por pura hipocrisia, que condena o aborto e “não abre” o sacerdócio às mulheres porque é misógina, enfim… A lista de acusações é grande, o leitor conhece bem.
Cabe um esclarecimento, para não cair na bobeira de falar da mídia como um ente pessoal, dotado de vontade e inteligência próprias. É claro que há pessoas honestas por trás dos meios de comunicação. Só que, ao mesmo tempo, stultorum infinitus est numerus – o número dos idiotas é infinito. E, obviamente, é desta mídia que falamos.
Os lobistas que hoje são pagos para execrar o Vaticano e cuspir no rosto da Igreja são descendentes dos revolucionários da década de 1960 que criaram o que o Papa Bento XVI chamou recentemente, em encontro com o clero de Roma, de “o Concílio dos meios de comunicação”. Todos sabem que nos anos 60 do último século, os bispos do mundo inteiro reuniram-se no Concílio Vaticano II. Falou-se de aggiornamento, e, realmente, os documentos conciliares refletem esta preocupação de dialogar com a modernidade. Só que, ao contrário do que postulava a mídia da época, as pretensões dos Padres conciliares não eram – nas palavras do beato João XXIII – “a discussão sobre este ou aquele tema doutrinal”, mas sim “que o depósito sagrado da doutrina cristã” fosse “guardado e ensinado de forma mais eficaz”.
Cinquenta anos se passaram, e parece que os nossos jornalistas ainda não aprenderam. Ao próximo Papa não cabe “a discussão sobre este ou aquele tema doutrinal” – um eufemismo para trair a fé dos Apóstolos e a doutrina multissecular da Igreja -, mas sim “que o depósito sagrado da doutrina cristã seja guardado e ensinado de forma mais eficaz”. O Papa dos sonhos de nossa mídia liberal é um que saia distribuindo camisinhas pela avenida, confabulando tranquilamente com feministas, gayzistas e outras minorias barulhentas e anticlericais. Acontece que este Papa – assim como o Concílio virtual, “dos meios de comunicação” – não existe; está limitado mesmo aos “sonhos” dos inimigos da Fé.
Por isso, quando forem assistir à cobertura do conclave pela mídia progressista, fiquem atentos. A qualquer momento algum daqueles chamados “vaticanistas” pode trazer à baila alguma ideia louca, como um Papa que defenda o aborto, a união civil de homossexuais ou o sacerdócio feminino – tudo discutido num futuro Vaticano III.
Não se enganem. Nem temam. Afinal, o Papa é sucessor de São Pedro, não de Judas.
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Disponível: Ecclesia Una.