segunda-feira, 11 de março de 2013

Os Limites da Pregação



No que alguns chamam de espiritualidade do púlpito, em alinhamento com a espiritualidade do claustro e com a espiritualidade da missão há propostas e posturas das quais o pregador não deve se afastar sob pena de perder conteúdo, autoridade e credibilidade.

Ele deve se estabelecer um “até aqui” ou um “daqui não passo” por mais interessante, vantajoso e missionário que seja prosseguir. Para a formiga também há um limite de tamanho. Cortará o pedaço que pode levar. Além disso ela cairá pelo caminho. Fazem os mesmo os João de Barro, as andorinhas, o castor, e os animais que constroem para o futuro da comunidade. Nenhum deles passa do limite.

Ultrapassado o limite o pregador que sabe ser enviado pela comunidade à qual se filiou exporá aos superiores as suas razões e decidirá com eles se vai embora, para ou continua.


Há três limites dos quais um pregador não deve abrir mão. O da sua dignidade pessoal, o da sua capacidade de prosseguir ou ampliar o que faz e o do conteúdo. Se sentir que foi desrespeitado gravemente na sua missão e após opinião dos superiores; se sentir que não tem mais saúde ou que exigem dele mais do que pode dar naquele veículo; se interferirem no conteúdo de sua pregação aprovada pelas autoridades de sua igreja ele deve evita conflito e ir embora, comunicar a fé em outro veículo e em outro lugar, mesmo que a partir de sua decisão perca 90 ou 95% de sua assembleia.

As duas vezes em que tomei a decisão de mudar de veículo de comunicação fui questionado por amigos que diziam que eu não poderia perder aquele espaço. Deveria ceder. Mas consultara meus colegas e eles concordaram que meu limite fora ultrapassado. Decidiram comigo. São opções minhas que não devem nunca expor os outros. Se alguém pensa diferente e o veículo de comunicação, ou seja, o púlpito está aos seus cuidados, quem deve se retirar é pregador. Sei de muitos que assim fizeram, deixando o lugar para outros. A Igreja sempre tem outros pregadores que talvez façam melhor do que ele. E , mesmo que não façam, aceitam a visão dos que conduzem aquele púlpito. Há muitos púlpitos na nossa igreja e, se acontecer de um pregador que ontem falava para milhões de ouvidos sair por razões de espiritualidade, ficar reduzido a 2% da audiência que tinha, considere isso uma das dores do seu púlpito.

Ao sair não deve dizer ao grande público porque desceu daquele espaço. Coloque-se nas mãos de Deus que se o quiser com alguma preeminência o colocará num outro púlpito.


Ninguém deve cavar seu espaço e seu púlpito. Aceite o convite. Se não for convidado fique no seu pequeno púlpito de onde saiu a convite. Haverá sempre alguma assembleia onde sua pregação será útil à igreja. Nunca se governe por sucesso, impacto ou números. Isto, para que seja unção e graça, depende de Deus.



O mundo dos santos e dos papas



Nós encontramos o início da história dos papas na Sagrada Escritura quando Jesus Cristo disse ao apóstolo Pedro: "Tu és Pedro e sobre esta pedra edificarei minha Igreja" (Mateus 16, 18). O apóstolo era chamado de Simão, e Cristo lhe dá o apelido de Pedro que em grego significa pedra, rocha.

Cristo nominando Pedro significa que o apóstolo seria a pedra firme, a rocha inquebrável que daria sustentação à Igreja, apesar de ser uma pessoa humana, frágil e sujeito à toda e qualquer limitação.

Diante deste chamado ele é destinado para "apascentar as ovelhas" (João 21,17), como pastor que conhece as suas ovelhas e dá a vida por elas. O papa, portanto, é o sucessor de Pedro, o centro da unidade de toda a Igreja "é o perpétuo e visível princípio e fundamento da unidade, quer dos Bispos, quer da multidão dos fiéis" (Concílio Vaticano II: LG n° 23). Mais do que uma autoridade a promulgar dogmas e ensinar a doutrina, o papa é o elo de unidade e de comunhão de toda Igreja.


O segredo da Igreja para se manter viva como um corpo vivo milenar, atravessando séculos, culturas, guerras, discórdias, e sempre firme, é a certeza de que não somos nós humanos a conduzir este barco. O barco é de Jesus, que escolhe e chama homens, pessoas simples, humildes, para estar no lugar Dele, e com Ele tornar visível a casa, a assembleia reunida.

Por isso Jesus afirma: "Onde dois ou mais estiverem reunidos em meu nome eu estarei no meio deles" (Mt18,20). A presença de Jesus entre nós, mesmo às vezes pensando que Ele está dormindo no barco, é a garantia de ancorar em porto seguro, da calmaria em mar revolto, de tranquilidade em tempos difíceis. Ele acalma, tranquiliza e questiona: "porque tendes medo"? As ondas do mar nunca serão mais fortes do que o barco do Mestre.

Nestes dias de apreensão e curiosidade sobre quem assumirá o leme do barco, que é a Igreja, a mídia nacional e internacional escolheu alguns nomes chamados de "papáveis". Neste elenco divulgado, não podia faltar dois dos nossos cardeais brasileiros. Eu fui abordado várias vezes para falar deles, pois os conheço de longa data. O homem a ser escolhido será surpresa para todos.

Nestes dias de reunião dos cardeais, que ainda não estão sob segredo, falei por telefone com Dom João Braz Cardeal Aviz. Ele dizia: "Aqui entre nós não há nomes favoritos, ninguém comenta nada sobre este ou aquele. Estou impressionado com o clima de amizade e de abertura de coração existente nas nossas reuniões. É a primeira vez que participo e estou admirado pelo ambiente de confiança e companheirismo".

Assim a Igreja faz o seu caminho no mundo sem ser do mundo (Jo 17,10). É igreja é santa e pecadora, feita de homens e mulheres santos e de papas santos. Para mim, Bento XVI deu um sinal público e notório de santidade ao reconhecer-se limitado, incapaz fisicamente falando, para estar no leme do barco.

Só é capaz de atitudes heroicas, de gestos que tocam o coração, aquele que se deixou moldar pelo amor verdadeiro, pelo serviço desinteressado, pela autoridade discreta. Queira Deus que eu também tenha a força e a coragem dos santos vivos e jamais a covardia de quem se veste de pele de carneiro, mas são lobos ferozes.


Dom Anuar Battisti 
Arcebispo de Maringá (PR)

domingo, 10 de março de 2013

Capela Sistina se prepara para eleger Papa



Contagem Regressiva...

Fornos que queimarão os votos estão prontos para o Conclave

A três dias do Conclave, era grande a movimentação na Capela Sistina na manhã deste sábado, 9. Funcionários do Vaticano estão trabalhando duro para que tudo fique pronto para as votações de eleição do novo Papa que começam na próxima terça-feira, 12.

A capela, que além de atrair os olhares por preservar as principais pinturas de Michelangelo – entre as quais, o famoso Juízo Universal -, ganha a atenção mundo nesses dias, por se tratar do local onde se realizará pela 25ª vez, a eleição de um sucessor do apóstolo Pedro.

Os fornos pelos quais passará a fumaça branca

Fornos que serão utilizados para queimarem as cédulas de votação dos cardeais.

Os fornos que produzirão as famosas fumaças preta e branca, já estão prontos para serem usados, após a conclusão das votações dos cardeais, os quais devem queimar suas respectivas cédulas com a escolha do candidato escrita à mão. Se a votação não eleger o Papa, será produzida uma fumaça preta através de uma solução química capaz de provocar tal efeito. No entanto, se um nome finalmente for escolhido para assumir a Sé de Pedro através da maioria dos votos, a fumaça será branca.

Outros preparativos

Além disso, a rampa pela qual passarão todos os cardeais que ingressarão no local do voto entoando o famoso Veni Creator Spiritus, as cadeiras e as mesas sobre as quais cada cardeal tomará sua decisão e um pavimento de madeira com objetivo de corrigir os desníveis da Capela, também já foram colocados.

O acesso foi limitado aos jornalistas credenciados junto à Santa Sé que nesses dias participam da cobertura dos eventos relacionados ao Conclave e à eleição do novo Papa. O espaço, que também é visitado por turistas por fazer parte do complexo dos museus vaticanos, foi fechado ao público desde a última terça-feira, 5.

Capela Sistina quase pronta para o Conclave /
Foto: Clarissa Oliveira – CN Roma

Tubo que levará a fumaça para a Chaminé /
Foto: Clarissa Oliveira – CN Roma

Mirticeli Medeiros
Enviada especial a Roma
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Fonte: Canção Nova.

É lícito fazer orações por alguém que cometeu suicídio?




Pergunta: Em minha família tivemos um ente querido que cometeu suicídio, era irmão de minha esposa, e no seu velório o Padre se recusou a rezar por sua alma. Eu e minha família ficamos extremamente chocados. Gostaria de saber se o senhor poderia me explicar a atitude do Padre. Se foi uma atitude isolada ou se é sempre assim. Podemos mandar rezar Missas em intenção da alma de meu cunhado?

Resposta:

Nada justifica o suicídio porque, por mais árduas que sejam as condições de existência de uma pessoa, o homem foi feito para enfrentar durante a vida situações adversas, às vezes duríssimas. E Deus nunca recusa ao homem os auxílios de que precisa para cumprir seus deveres familiares, profissionais e sociais e para superar todas as provações. Auxílios esses que alcançamos de Deus muito especialmente através da oração: “Em verdade, em verdade vos digo: se pedirdes alguma coisa a meu Pai em meu nome, Ele vo-la dará”, disse Nosso Senhor Jesus Cristo (Jo 16, 23). “Tudo que pedirdes, com fé, na oração, o recebereis” (Mt 21, 22). O desespero do suicida é uma negação pecaminosa da misericordiosa paternidade de Deus e da promessa infalível de Jesus Cristo.

O suicídio é um pecado escandaloso, que atenta contra os direitos de Deus, supremo e único Senhor da vida e da morte. É um pecado que agride brutalmente o convívio familiar e social, privando os familiares e os amigos da presença de um ente querido, e muitas vezes de um sustentáculo material, afetivo e espiritual. É um pecado gravíssimo que precipita a alma diretamente no inferno.

Por esta razão, as leis da Santa Igreja (cânones 1184/5) vedam conceder exéquias eclesiásticas aos “pecadores manifestos” — como é o caso dos suicidas — “a não ser que antes da morte tivessem dado algum sinal de arrependimento”.

O ítem 3º do cânon 1184 introduz a precisão de que a privação das exéquias elcesiásticas deve ser aplicada aos “pecadores manifestos, aos quais não se possam conceder exéquias eclesiásticas sem escândalo público dos fiéis”.

O sacerdote, ao recusar-se a rezar pela alma da pessoa que cometeu o suicídio, presumivelmente examinou a situação concreta para, conforme diz o ítem acima referido, evitar o “escândalo público dos fiéis”. Compreende-se, pois, a atitude assumida por ele.

Convém ainda acrescentar que não basta a mera suposição de que talvez, nos últimos instantes (entre o ato suicida e a morte efetiva), pela infinita misericórdia de Deus, ter-se-á arrependido de seu ato tresloucado e obtido o perdão. É preciso que haja algum testemunho fidedigno de que o suicida, antes de expirar, tenha por exemplo beijado devotamente um crucifixo ou alguma imagem ou objeto piedoso, tenha batido no peito dando mostras de arrependimento de seu pecado, tenha pedido que lhe levassem um sacerdote, ainda que este não tivesse chegado a tempo etc. Sem estes sinais, o sacerdote não pode dar-lhe “sepultura eclesiástica”, ou seja, rezar publicamente pelo defunto, encomendar-lhe a alma, benzer sua sepultura etc., nem celebrar as Missas de exéquias.

De qualquer modo, como resta a possibilidade de Deus ter concedido in extremisao suicida a graça do perfeito arrependimento, sem que ele o tenha podido manifestar publicamente, é permitido rezar privadamente pelo defunto, e mesmo encomendar Missas em sua intenção, desde que estas sejam celebradas privadamente e assistidas só pelos familiares e amigos mais íntimos, sem comunicar ao ato nenhum caráter social (como anúncios em jornal, por exemplo).

Infelizmente, essas sábias e razoáveis disposições eclesiásticas, que antigamente eram bem conhecidas dos ­fiéis, hoje não mais o são, o que explica que o consulente e sua família tenham ficado extremamente chocados com a atitude do sacerdote. Em vista disso, teria sido conveniente, talvez, que ele desse uma explicação à família.

A triste realidade de nossos dias é que vivemos numa sociedade que se distanciou de Deus.Noções como a da extrema seriedade da vida, na qual devemos, pela honestidade de nossos atos, ganhar o Céu, e portanto evitar qualquer transgressão dos Mandamentos da Lei de Deus e da Igreja, não fazem mais parte das cogitações habituais de um número enorme de nossos contemporâneos. Restam apenas alguns fiapos de tradições cristãs, como a de rezar pelos defuntos no velório, chamar um Padre para que encomende a sua alma etc.

E ainda é forçoso reconhecer que mesmo esses fiapos estão desaparecendo. Contudo, a reação do consulente e de sua família, de ficarem chocados com a recusa do sacerdote de rezar publicamente pelo suicida, compreende-se em função do desejo de obter para ele a salvação. Que eles rezem, pois, pelo seu ente querido, pois Deus, em sua infinita misericórdia, na previsão dessas orações, pode ter dado ao defunto a graça do arrependimento in extremis. Até lá pode chegar a misericórdia divina!


Cônego José Luiz Villac
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Fonte: Catolicismo: revista de cultura e atualidades.

O filho pródigo na Quaresma.



Meus queridos amigos e irmãos na fé! Na caminhada rumo à Páscoa, atingimos o quarto estágio de nosso grande retiro. À medida que os dias passam, e as festas pascais se aproximam, aumenta nossa alegria. ‘Alegra-te, Jerusalém! Reuni-vos, vós todos que a amais; vós que estais tristes, exultai de alegria! Saciai-vos com a abundância de suas consolações’. O Senhor nos acolhe e convida a tomarmos parte no banquete do seu amor misericordioso, deixar o nosso coração transbordar de alegria com a música da festa, com as coisas boas que aconteceram na convivência com as pessoas e a buscar no interior de nossa vida motivos para bendizer o Senhor.

Nesta Quaresma ressoa o convite de participarmos na alegria do Pai que, agora, por meio de Jesus Cristo, acolhe e salva os pecadores. O amor e a bondade de Deus libertam as pessoas de suas misérias, da solidão e do desespero. Para que isto aconteça, se faz necessário entrar na lógica do amor e da bondade do Pai que se revelam em Jesus. Como filhos pródigos reconduzidos ao aconchego familiar pelo abraço amoroso do Pai, começamos a experienciar o amor de Deus que, na Páscoa de seu Filho Jesus, nos perdoa e nos acolhe com carinho em sua casa. À luz do gesto do Pai misericordioso entendemos melhor que a ‘fé, que atua pelo amor’ (Gl 5,6), torna-se um novo critério de entendimento e de ação que muda toda a vida do homem.

Na descoberta diária do seu amor, ganha força e vigor o compromisso missionário dos crentes que jamais pode faltar. Com efeito, a fé cresce quando é vivida como experiência de um amor recebido e é comunicada como experiência de graça e de alegria. ‘Assim como o povo de Deus celebrou a Páscoa e se alimentou dos frutos da terra após entrar na terra prometida, vamos nos nutrir da palavra da vida, que nos torna novas criaturas em Cristo e nos faz experimentar a acolhida carinhosa do Pai celeste. O povo se liberta à medida que consegue o sustento com o próprio trabalho. Elementos básicos da boa convivência familiar são a reconciliação, a alegria e o diálogo. A encarnação de Jesus reconciliou-nos com Deus e nos tornou novas criaturas” (cf. Liturgia Diária de Março de 2013 da Paulus, pp. 38-40).

O inferno? Quase ninguém mais acredita nele!



A razão por que muitos em nossos tempos não acreditam no inferno, é que nunca tiveram explicação exata do que ele significa: é frequente conceber-se o inferno como castigo que Deus inflige de maneira mais ou menos arbitrária, como se desejasse impor-se vingativamente como Soberano Senhor; o réprobo seria atormentado maldosamente por demônios de chifres horrendos, em meio a um incêndio de chamas, etc. — Não admira que muitos julguem tais concepções inventadas apenas para incutir medo ; não seriam compatíveis com a noção de um Deus Bom.

Na verdade, o inferno não é mais do que a consequência lógica de um ato que o homem realiza de maneira consciente e deliberada aqui na terra; é o indivíduo quem se coloca no inferno (este vem a ser primàriamente um estado de alma; vão seria preocupar-se com a sua topografia) ; não é Deus quem, por efeito de um decreto arbitrário, para lá manda a criatura, é o que passamos a ver.

Admitamos que um homem nesta vida conceba ódio a Deus (ou ao Bem que ele julgue ser o Fim último, Deus) e O ofenda em matéria grave, empenhando toda a sua personalidade (pleno conhecimento de causa e liberdade de arbítrio); essa criatura se coloca num estado de habitual aversão ao Senhor. Caso morra nessas condições, sem retratar, nem mesmo no seu íntimo, o ódio ao Sumo Bem, que sorte lhe há de tocar ?


A morte confirmará definitivamente nessa alma o ódio de Deus, pois a separará do corpo, que é o instrumento mediante o qual ela, segundo a sua natureza, concebe ou muda suas disposições. Depois da morte, tal criatura de modo nenhum poderá desejar permanecer na presença de Deus; antes espontaneamente pedirá afastar-se d'Ele. Não será necessário que, para isto, .o Juiz supremo pronuncie alguma sentença; o Senhor apenas reconhecerá, da sua parte, a opção tomada pela criatura ; Ele a fez livre e respeitará esta dignidade, em hipótese nenhuma forçando ou mutilando o seu alvitre.

Eis, porém, que desejar afastar-se de Deus e permanecer de fato afastada, vem a ser, para a alma humana, o mais cruciante dos tormentos. Com efeito, toda criatura é essencialmente dependente do Criador, do qual reflete uma imagem ou semelhança ; por conseguinte, ela tende por sua própria essência a se conformar ao seu Exemplar (é a natureza quem o pede, antecedentemente a qualquer opção da vontade livre); caso o homem siga esta propensão, ele obtém a sua perfeição e felicidade. Dado, porém, que se recuse, a fim de servir a si mesmo, não pode deixar de experimentar os protestos espontâneos e veementíssimos da natureza violentada. A existência humana torna-se então dilacerada : o pecador sente, até nas mais recônditas profundezas do seu ser, o brado para Deus ; esse brado, porém, ele o sufocou e sufoca, para aderir a um fim inadequado, fim que, em absoluto, ele não quer largar apesar do terrível tormento que a sua atitude lhe causa. — Na vida presente, a dor que o ódio ao Sumo Bem acarreta, pode ser temperada pela conversão a bens aparentes, mas precários..., pela auto-ilusão ; na vida futura, porém, não haverá possibilidade de engano!

É nisto que consiste primariamente o inferno. Vê-se que se trata de uma pena infligida pela ordem mesma das coisas, não de uma punição especialmente escolhida , entre muitas outras por um Deus que se quisesse “vingar” da criatura. Em última análise, dir-se-á que no inferno só há indivíduos que nele querem permanecer. — A este tormento espiritual se acrescenta no inferno uma pena física, geralmente designada pelo nome de fogo; certamente não se trata de fogo material, como o da terra, mas de um sofrimento que as demais criaturas acarretam para o réprobo, e acarretam muito naturalmente. Sim; quem se incompatibiliza com o Criador não pode deixar de se incompatibilizar com as criaturas, mesmo com as que igualmente se afastaram de Deus (o pecador é essencialmente egocêntrico), de sorte que os outros seres criados postos na presença do réprobo vêm a constituir para este uma autêntica tortura (não se poderia, porém, precisar em que consiste tal tormento).

Por último, entende-se que o inferno não tenha fim ; há de ser tão duradouro quanto a alma humana, a qual por sua natureza é imortal; Deus não lhe retira a existência que lhe deu e que, em si considerada, é grande perfeição. Embora infeliz, o réprobo não destoa no conjunto da criação, pois por sua dor mesma ele proclama que Deus é a Suma Perfeição, da qual ele se alheou (é preciso, nos lembremos bem de que Deus, e não o homem, é o centro do mundo).

Não se pense em nova “chance” ou reencarnação neste mundo. Esta, de certo modo, suporia que Deus não leva a sério as decisões que o homem toma, empenhando toda a sua personalidade; o Senhor não trata o homem como criança que não merece respeito. De resto, a reencarnação é explicitamente excluída por textos da Sagrada Escritura como os que se acham citados sob o no 8 deste fascículo.

Eis a autêntica noção do inferno, que às vezes é encoberta por descrições demasiado infantis e fantasistas.


D. Estêvão Bettencourt
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Veja a propósito E. Bettencourt, A vida que começa com a morte (ed. AGIR) Cap. VI.
Fonte:  Revista Pergunte e Responderemos. No. 03, Julho de 1957. Pág. 10-12. 
Disponível em: Veritatis Splendor

sábado, 9 de março de 2013

Nota de Falecimento


A Equipe de Liturgia "Vida Nova" da Igreja Matriz perdeu hoje um importante membro: dona Helena. Ela encontrava-se internada há alguns dias e hoje pela manhã tendo algumas complicações veio a falecer. Oremos a Deus Pai todo-poderoso, que ressuscitou Jesus Cristo dentre os mortos e dará vida também aos nossos corpos mortais a fim de que Ele revele a dona Helena o esplendor de Sua face. Ao mesmo tempo manifestamos nossa solidariedade aos familiares e amigos, e também à equipe de Liturgia "Vida Nova" por meio do qual dona Helena dedicou grande parte de sua vida nos serviços a Deus e à Igreja. Que descanse em paz!

Atenciosamente, PNSPS.

O Centro da Unidade



O Papa, sucessor de Pedro, é antes de tudo a garantia da unidade, chefe visível da Igreja, segundo a determinação de Cristo: “Apascenta as minhas ovelhas [...] apascenta os meus cordeiros” (Jo 21, 15-19). Nunca houve da parte dos católicos papolatria, mas, sim, uma veneração especial para com aquele que pastoreia a grei do Filho de Deus. Enquanto comunidade que se insere na história, a Igreja possui uma organização social e uma estrutura hierárquica, sendo inegável o primado pontifício de acordo com os textos bíblicos.

Ao se falar da Igreja, porém, cumpre que nunca se esqueça o caráter teândrico da mesma. A Igreja na parte divina ela é incorruptível, na parte humana há falhas. Nota-se, por isto mesmo, em muitos textos apresentados na mídia ao ensejo da renúncia de Bento XVI uma terrível confusão no que concerne à eclesiologia. Há aspectos dogmáticos, morais, históricos que não podem ser abordados confusamente sob pena de se distorcer a verdade e causar confusão entre os fiéis. Impera então uma generalização perversa e se fala numa Igreja envelhecida, crepuscular, que se definha.


Aspectos históricos não podem ser analisados fora do contexto em que se deram. Assim, por exemplo, o Dictatus papae que foi um conjunto de 27 proposições publicado pelo Papa Gregório VII. Foi uma obra de direito canônico na Idade Média elaborada por canonistas que recolheram uma série de textos sob o poder papal num posicionamento claro diante dos Imperadores. Traduzir o Dictatus papae por Ditadura do Papa é já colocar uma análise preconceituosa do reflexo deste documento na história posterior da Igreja. Dictatus significa manifesto a ser divulgado. Sob o ponto de vista histórico a Igreja sempre enfrentou procelas, mas, assistida pelo Espírito Santo, princípio vital pelo qual ela recebe as forças divinas que nela atuam, nunca falhou na sua missão de salvação.

No século XIX, a título de exemplo, surgiram o iluminismo, o josefinismo, o febronianismo, as ideologias de Jean Jacques Rousseau e dos jacobinos, as agitações da Revolução Francesa. Entretanto, nunca deixou de haver uma restauração ou renovação no interior da Igreja que sempre contou também com grandes teólogos. Esforço secular para fazer Deus presente no mundo numa evangelização constante dos fiéis. O mesmo ocorreu no século XX e no início do novo milênio. Dentro desta multiplicidade de aspectos convém notar que a Cúria Romana é o órgão administrativo do Estado do Vaticano, constituído pelas autoridades que coordenam e organizam o funcionamento da Igreja Católica. Trata-se do governo da Igreja. Curia no latim medieval significa "corte" no sentido de "corte real", pelo que a Cúria Romana é a corte papal, que assiste o Papa nas suas funções. Circulam denúncias entre as quais o mau uso de dinheiro, disputas de poder, relações homossexuais e até um plano para revelar a homossexualidade do editor de uma publicação católica, tudo isso dentro da Cúria. É o lado humano da Igreja que o novo Papa terá que enfrentar. Qualquer desvio que signifique o desprezo de um dos dez preceitos do decálogo jamais será tolerado, não apenas a prostituição gay, prato preferido de certos puritanos que deveriam fazer um exame de consciência e reconhecer os próprios pecados e emendar de vida.

Ao comentar texto anterior deste articulista, um notável médico católico, residente no Rio de Janeiro, assim se expressou: “Sabe-se que não se muda a essência da doutrina. Medidas disciplinares, porém, são urgentes. Os padres sexualmente doentes devem ser afastados e alguns até eliminados de suas atividades. Tratamentos, em geral, são falhos. O mal que fazem é destrutivo. Hoje, as reações são maiores seja das vítimas, quanto de seus familiares. A repercussão disto é ruim. Não adianta tampar o sol com peneira com desculpas não muito aceitas”. Não há dúvida, porém, que o próximo Papa tomará todas as medidas necessárias para uma total renovação eclesiástica. Numa linguagem chula, grosseira, houve quem afirmasse que Bento XVI “jogou a toalha”, “chutou o balde”, obscurecendo assim a atitude corajosa de um sábio Pastor octogenário que consultou sua consciência, entrou em tertúlia com Deus, e percebeu que estava na hora de deixar o pontificado. O momento não é de críticas destrutivas, mas de muita oração da parte daqueles que verdadeiramente amam a Igreja de Jesus Cristo.


Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho

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* Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.