Em meio a blazers e gravatas, resolvendo os rumos das guerras culturais do mundo em uma mesa de happy hour, uma cálida névoa de nostalgia foi me envolvendo durante o terceiro Tanqueray com tônica. O open bar a convite e a discussão das grandes ideias da humanidade eram como voltar no tempo e reviver os velhos anos de universidade.
Eu tinha conhecido aqueles elegantes companheiros de bar havia pouco, por meio de uma revista cultural conservadora, e, durante horas, me senti em casa enquanto compartilhávamos histórias de campus sobre esquerdistas e multiculturalistas que vestiam dashikis. Mas, à medida que esvaziávamos a sétima rodada, a conversa impagável mudou de rota:do tapete de asfalto preto,pontuado por linhas amarelas bem nítidas,eu fui lançado direto ao meio do mato. Eu devia ter previsto isso, eu acho, antes de mencionar o aborto.
Eu tinha conhecido aqueles elegantes companheiros de bar havia pouco, por meio de uma revista cultural conservadora, e, durante horas, me senti em casa enquanto compartilhávamos histórias de campus sobre esquerdistas e multiculturalistas que vestiam dashikis. Mas, à medida que esvaziávamos a sétima rodada, a conversa impagável mudou de rota:do tapete de asfalto preto,pontuado por linhas amarelas bem nítidas,eu fui lançado direto ao meio do mato. Eu devia ter previsto isso, eu acho, antes de mencionar o aborto.
O assunto era Teddy Kennedy e eu citei o seu abandono dos nascituros como mais uma das facetas reluzentes da sua miséria moral. O cavalheiro mais loiro da mesa tossiu discretamente. Outro fez um diplomático e suave assentimento com a cabeça. O terceiro apenas desviou o olhar. Um sujeito mais refinado teria captado a dica silenciosa e mudado o assunto para Hilary Clinton, mas eu sou filho de um carteiro do Queens. E toquei em frente.
Até que o cara ruivo de jaqueta voltou seus olhos apertados para mim e declarou sem maiores cerimônias: "Precisamos do aborto legalizado para abater os custos do bem-estar social".
Pela primeira vez em muitos, muitos anos, eu fiquei mudo, e mudo durante tempo suficiente para que outro dos meus novos amigos acrescentasse: “E os índices de criminalidade. Você nunca leu Freakonomics? Nova Iorque se tornou habitável de novo graças à Roe x Wade” [Nota da redação: Freakonomics é uma coletânea de estudos do economista Steven Levitt e do jornalista Stephen Dubner, que, entre outras teses polêmicas, sugere que o aborto foi o maior responsável pela diminuição dos crimes nos EUA. Quanto à questão Roe x Wade, trata-se do caso judicial em que a Suprema Corte dos EUA aprovou o direito ao aborto].
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Fonte: Aleteia