quarta-feira, 2 de abril de 2014

Igrejas tocarão os sinos hoje, 2 de abril, na canonização do padre José de Anchieta


O Conselho Permanente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) convoca todas as Igrejas do país para que toquem os sinos, hoje, 2 de abril, às 9 horas da manhã, por ocasião da canonização do beato José de Anchieta.

Em carta, enviada aos bispos, o bispo auxiliar de Brasília e secretário geral da CNBB, dom Leonardo Steiner, explica que será um "gesto de alegria, gratidão e comunhão por estar inscrito entre os santos, o Apóstolo do Brasil".

Durante a 52ª Assembleia Geral da CNBB, que acontecerá em Aparecida (SP), será celebrada missa em ação de graças pela canonização do beato, no dia 4 de maio, às 8h, no Santuário Nacional de Aparecida.

Celebrações por onde Anchieta passou

O arcebispo de São Paulo (SP), cardeal Odilo Pedro Scherer, convidou o clero da arquidiocese para acolher a canonização com manifestações de "júbilo e ação de graças a Deus", pedindo que os sinos toquem, todos juntos, às 14h, por cinco minutos, ao menos. No domingo, dia 6, haverá procissão saindo do Pátio do Colégio, às 10h15, em direção à Catedral da Sé, onde será celebrada missa solene às 11h.

Em Salvador (BA), o arcebispo local e primaz do Brasil, dom Murilo Krieger, celebrará uma missa, às 18h, na Catedral Basílica.

Na arquidiocese de Vitória do Espírito Santo (ES) haverá missa na catedral metropolitana, às 18h do dia 2, presidida pelo arcebispo local, dom Luiz Mancilha Vilela. Às 20h, a comunidade Shalom apresenta o musical “Anchieta para todas as tribos”. No domingo, dia 6, duas missas estão marcadas. Às 9h30, na paróquia Beato José de Anchieta, em Serra (ES), e às 16h, no pátio do Santuário de Anchieta (ES).

O arcebispo de São Sebastião do Rio de Janeiro (RJ), cardeal Orani João Tempesta, presidirá uma missa em ação de graças na Catedral Metropolitana de São Sebastião, no dia 2 de abril, às 18h.


História do Apóstolo do Brasil1

O padre José de Anchieta nasceu em 19 de março de 1534, nas ilhas Canárias, Espanha. Seu primeiro contato com os jesuítas foi quando estudava filosofia na universidade de Coimbra, Portugal. Em 1551, Anchieta entrou na Companhia de Jesus.

A missão no Brasil começou em 1553, quando, ainda noviço, aos 19 anos, desembarcou em Salvador (BA) para trabalhar com padre Manuel da Nóbrega e outros missionários.

A fundação da cidade de São Paulo está relacionada à primeira missa celebrada na missão de Piratininga, em 25 de janeiro de 1554, festa litúrgica da Conversão do apóstolo São Paulo. Ali, os jesuítas fundaram um colégio, o primeiro da Companhia de Jesus na América Latina.

Outros elementos são marcantes na história do beato José de Anchieta, no Brasil. Ele ensinou a língua portuguesa aos filhos de índios e de portugueses; aprendeu a língua indígena; escreveu gramática, catecismo, peças de teatro e hinos na língua dos índios, além de outras obras em português, latim, tupi e guarani; participou de negociações de paz em conflitos entre índios e portugueses; fundou outro colégio no Rio de Janeiro, no qual foi reitor; foi responsável por outras missões; provincial dos jesuítas no Brasil; e escreveu muitos relatos sobre a missão e particularidades da terra e do povo brasileiros.

José de Anchieta morreu em 9 de junho de 1597, em Reritiba, cidade fundada por ele no Espírito Santo que futuramente recebeu o nome de Anchieta.

O título de “Apóstolo do Brasil” foi dado pelo prelado do Rio de Janeiro, dom Bartolomeu Simões Pereira, durante a homilia do funeral.
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1História baseada no artigo “Quem foi Pe. José de Anchieta?” de autoria do arcebispo de São Paulo (SP), cardeal Odilo Pedro Scherer.
Fonte: CNBB
Disponível em: Comissão Nacional dos Diáconos

Medo de prestar contas


Certa vez, em visita aos enfermos numa paróquia, que ouvi essa expressão: “Não tenho medo de morrer, mas de prestar contas”.

Já ouvi e muitas vezes, e de vários modos, a expressão: “Tenho medo da morte”; mas pela primeira vez ouvi dizer: “Tenho medo de prestar contas”. Essa será a porta de passagem pela qual todos nós seremos convidados a entrar.

Entrar pela porta estreita e diante do Pai Deus, ver e julgar em segundos, como se fosse um filme, toda a minha existência terrena, e no final ouvir das duas uma palavra: “vinde, bendito” ou “ide, maldito”.

O Julgamento, sem dúvida, será de um Pai que não quer a condenação e sim a salvação de todos; porém não deixa de ser um julgamento.

O Senhor não vai julgar pelas vezes que participamos da missa ou do culto; pelas vezes que pegamos a Bíblia para meditar ou preparar a pregação aos fiéis; pelas vezes que dobramos os joelhos para rezar no templo ou no quarto. O Senhor não quer saber se fizemos peregrinação para a Terra Santa, pelos santuários. Nunca vai perguntar sobre nossos ritos e rituais, nossas fórmulas de louvores. Não seremos sabatinados sobre as contas bancárias e muito menos sobre os bens materiais. O julgamento será sobre uma única pergunta: Tudo o que fizemos e possuímos serviu para amar a Deus sobre tudo e o próximo como a nós mesmos?

Todas as nossas práticas religiosas, se não levarem para um amor maior entre nós, não servem para nada. Pelo contrário. Serão motivos do fogo eterno.

O amor verdadeiro se revela na prática da regra de ouro: “fazer aos outros o que gostaria que fizesse a nós.”

Portanto, o único critério a nos julgar será a nossa capacidade de atender às necessidades básicas dos mais necessitados.

“Estive com fome me destes de comer, estive com sede me destes de beber, estava nu e me vestistes, estava doente e preso viestes me visitar”. Porque todo o bem ou o mal feito ao próximo, é ao Senhor que fazemos, e ficará para a recompensa na eternidade, ou para a condenação eterna.

Não precisamos ter medo da morte. Por isso ainda é tempo de fazer deste tempo um recomeço. No tempo presente esta a oportunidade de refazer nossas escolhas e ser coerentes nas suas consequências. 

terça-feira, 1 de abril de 2014

Bispos do Noroeste solidarizam-se com vítimas das enchentes.


Nota do Regional Noroeste da CNBB


Os Bispos do Regional Noroeste (Acre, Rondônia e sul do Amazonas), reunidos em Cruzeiro do Sul, partilhamos nossas experiências e preocupações neste momento difícil para nossas dioceses e todo o povo.

A enchente histórica de 2014 que inundou centenas de comunidades ribeirinhas e urbanas, expulsando milhares de famílias e submergindo inúmeras plantações à beira do Rio Madeira trouxe muito sofrimento.

Sabemos que catástrofes naturais ameaçam a vida no nosso planeta desde o princípio. A terra é um planeta vivo que se reconfigura continuamente. No entanto, acreditamos que há novos fatores como o aquecimento global que acelera o descongelamento das geleiras das montanhas, desmatamentos e processos erosivos no solo, a formação de represas para geração de energia elétrica.

As águas abundantes que descem das montanhas da Bolívia e do Peru aumentaram consideravelmente os reservatórios das usinas hidrelétricas de Jirau e Santo Antônio. A construção dessas duas obras no Alto Rio Madeira, além de sofrer um atraso de mais de um ano, segundo especialistas, apresenta erros no estudo de impacto ambiental. A inundação das BRs 364 e 425 isolou o Estado do Acre, a região de Guajará-Mirim e toda a área do Abunã. O difícil abastecimento de suas populações, com combustíveis e alimentos, mostra a urgência de novos estudos.

Sem desconsiderar o esforço do governo para oferecer à população do País energia elétrica de qualidade, lamentamos a falta de cuidado com os estudos de impacto ambiental que, por sinal, não contemplaram o médio e o Baixo Madeira. A falta de interesse em fontes alternativas de energia, tais como a solar, eólica e de bio-massa, abundantes no Brasil, nos faz questionar: Por que?


Manifestamos apoio à ação civil pública que tramita perante a Justiça Federal de Porto Velho relativamente ao seu propósito de atender as necessidades básicas (moradia, alimentação, transporte, educação e saúde) da população atingida pela enchente do Rio Madeira.

Solicitamos com insistência às autoridades competentes uma nova e criteriosa investigação técnica das construções e dos impactos ambientais e sociais. Que ela seja feita por profissionais especialistas e independentes. Precisamos fazer o possível para evitar ou minorar as consequências das catástrofes que põem em perigo a vida e os bens das populações da cidade de Porto Velho, do Vale do Rio Madeira, do Acre e regiões adjacentes.

Nesse momento, urgimos junto aos poderes públicos que deem a devida assistência às famílias flageladas da área urbana e rural para que possam recuperar suas casas, visto que o direito à moradia é um direito constitucional. Compete ainda ao Governo adotar medidas que facilitem o acesso a créditos com tempo de carência e juros baixos, bem como fornecer orientação técnica a fim de que as famílias possam reorganizar os seus meios de sobrevivência. Acrescenta-se ainda a necessidade de socorrer as pessoas e famílias flageladas com um ‘salário emergencial’. 

Toda a sociedade e, ainda mais os Cristãos, estamos sendo desafiados a solidarizar-nos ainda mais com as famílias sofridas. De mãos dadas para rezar, partilhar e reconstruir, poderemos crescer humana e espiritualmente. As perdas se transformarão em ganho e a dor em alegria. Já estamos experimentando a força da fé e da caridade que são a essência da vida humana. “A esperança não decepciona porque o amor de Deus foi derramado em nossos corações” (Rm 5,5).

Cruzeiro do Sul, 29 de março de 2014. 

Regional Noroeste da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB)

Maria entre nós cristãos


A compreensão de Maria entre nós cristãos depende muito do diálogo. Quando falamos em diálogo, falamos em escuta, respeito e entendimento entre as pessoas. O que não quer dizer que ao dialogar todos precisam concordar com todos e com tudo. O diálogo supõe diferença. Só é possível dialogar com diferentes, em busca de comunhão. As religiões devem sempre buscar o diálogo para não se isolarem umas das outras ou o que é pior: levadas pelo desentendimento, colocarem-se umas contra as outras.

Nesse sentido, é necessário começar por buscar os pontos em comum. Debruçar-se sobre o que une, para daí construir um diálogo que favoreça a colaboração e o entendimento. Desta forma, propiciando que se trabalhe pela defesa da vida, justiça e paz, valores que sinalizam a presença do Reino de Deus.

O Papa Paulo VI em sua encíclica Ecclesiam Suam ao abordar o diálogo que a Igreja deve ter com o mundo assim se expressa: “Não é em vão que a Igreja se diz católica. Não é em vão que está encarregada de promover no mundo a unidade, o amor e a paz” (ES 53). No número 60 deste mesmo documento, coloca o diálogo inter-religioso como o segundo círculo do diálogo, anterior ao terceiro que seria o diálogo entre os cristãos. Com esta inspiração do papa, o Vaticano II vai ter a preocupação de impulsionar o diálogo entre os cristãos e entre as religiões. A paz no mundo vai depender muito da paz entre as religiões, mas também de um testemunho de concórdia entre os cristãos.

A abordagem de Maria no diálogo entre as várias denominações cristãs é necessária e essencial, ao contrário do que possa parecer. Nelas a figura de Maria tem uma presença forte e marcante em algumas como na Igreja Católica, a Ortodoxa, e uma presença mais marginal em outras, como no luteranismo e entre os evangélicos. Onde reside a fonte das divergências na visão de Maria? Não reside na leitura diferente do Novo Testamento, embora existam variantes, mas, sim, no fato de que as várias denominações, avaliam de modo diferente cada um dos elementos e textos do Novo Testamento referentes a Maria.

Apesar disso, cada vez se torna mais clara e aceitável, a partir de estudos e reflexões desapaixonadas, que o Novo Testamento apresenta uma evolução na compreensão da imagem e do papel de Maria. Tais linhas buscam a sua apresentação cada vez mais positiva como virgem-mãe e discípula por excelência, modelo de vida na fé. Existem grupos ecumênicos de estudo sobre Maria, como o Grupo de Dombes (cf. Maria no desígnio de Deus e na comunhão dos santos, Ed. Santuário, Aparecida, 2005) que oferecem contribuições valiosas para o diálogo entre os cristãos sobre Maria. Neste sentido muito se tem caminhado. 

Curiosidades sobre o 1° de Abril!!



Você sabia que este dia 1° de abril ficou conhecido como dia da mentira por causa dos protestantes Franceses? Não? Então vamos à explicação.

Antigamente quase todo o mundo utilizava o Calendário de Julio Cesar, neste calendário a passagem do dia 31 de março para 1° de abril se tratava do ano novo, mas isso era baseado em uma teoria em que o sol dava a volta na terra e isso era totalmente errado! Assim nosso Papa de numero 226° Gregório XIII mandou construir uma espécie de calendário que marcasse o sol, em Roma no vaticano, para ver se o calendário de Julio Cesar estava realmente correto. 

segunda-feira, 31 de março de 2014

A Via Sacra: Que É? Como Teve Origem?


Em síntese: O exercício da Via Sacra consiste em que os fiéis percorram mentalmente a caminhada de Jesus a carregar a Cruz desde o pretório de Pilatos até o monte Calvário, meditando simultaneamente a Paixão do Senhor. Tal exercício, muito usual no tempo da Quaresma, teve origem na época das Cruzadas (séculos XI/XIII): os fiéis que então percorriam na Terra Santa os lugares sagrados da Paixão de Cristo, quiseram reproduzir no Ocidente a peregrinação feita ao longo da Via Dolorosa em Jerusalém. O número de estações ou etapas dessa caminhada foi sendo definido paulatinamente, chegando à forma atual, de quatorze estações, no século XVI. O Papa João Paulo II introduziu, em Roma, a mudança de certas cenas desse percurso não relatadas nos Evangelhos por outros quadros narrados pelos Evangelistas. A nova configuração ainda não se tornou geral. O exercício da Via Sacra tem sido muito recomendado pelos Sumos Pontífices, pois ocasiona frutuosa meditação da Paixão do Senhor Jesus.

Por "Via Sacra" entende-se um exercício de piedade segundo o qual os fiéis percorrem mentalmente com Cristo o caminho que levou o Senhor do Pretório de Pilatos até o monte Calvário; compreende quatorze estações ou etapas, cada uma das quais apresenta uma cena da Paixão a ser meditada pelo discípulo de Cristo.

Embora semelhante exercício seja assaz antigo na história do Cristianismo, as modalidades que ele hoje em dia apresenta são relativamente recentes. Percorramos, portanto, rapidamente o histórico da "Via Sacra" para entendermos o significado dessa prática.


1.                  Peregrinação em miniatura

Há certas devoções do povo cristão que nada mais são do que a forma simplificada de exercícios de piedade solenemente praticados pelos cristãos antigos ou medievais. Tal é o caso, por exemplo, do Santo Rosário. Na antiga Igreja os ascetas tendiam a rezar diariamente ou, ao menos, a intervalos regulares os 150 salmos da Escritura Sagrada. Com o tempo, porém, esta tarefa tornou-se impraticável, seja porque a vida cotidiana se tornou mais complexa, seja por que os fiéis foram perdendo o entendimento dos salmos; daí a substituição destes por 150 "Ave Marias" distribuídas em dezenas; cada uma das quais representa um dos mistérios de nossa Redenção (por sua vez os salmos nos falam dos mistérios do Redentor e do seu Reino na terra).
Pois bem; nesta série deve-se enumerar também a Via Sacra. Já que a peregrinação aos lugares santos da Palestina é um ideal para todo cristão, ideal, porém, que nem todos conseguem realizar, a Igreja consentiu em que os fiéis pratiquem uma peregrinação em espírito, enriquecida de graças semelhantes às que estão anexas a uma verdadeira peregrinação. É o que se dá justamente no exercício da Via Sacra.

A este vamos agora voltar nossa atenção.

2.                  O histórico da devoção â Via Sacra

1. Desde os primórdios do Cristianismo, os fiéis dedicaram profunda veneração aos lugares santificados pela vida, a morte e a glorificação do Senhor Jesus. De longínquas regiões afluíam à Palestina, a fim de lá orar, deixando-nos, em conseqüência, suas narrativas de viagem, das quais as mais importantes na antigüidade são a de Etéria e a do peregrino de Bordéus (sec. IV). Voltando às suas pátrias, esses peregrinos não raro procuravam reproduzir, por meio de quadros ou pequenos monumentos, os veneráveis locais que haviam visitado.

2. A tendência a "reproduzir" se acentuou por efeito das Cruzadas (séc. XI/XIII), que proporcionaram a muitos fiéis o ensejo de conhecer os lugares santos e de se nutrir da espiritualidade dos mesmos Então, principalmente nos mosteiros, se foram erguendo capelas ou monumentos que recordavam os diversos santuários da Terra Santa e eram objeto de 'peregrinação" espiritual dos monges e das monjas que não podiam viajar em demanda do Oriente.

Conta-se, por exemplo, que a bem-aventurada Eustochium (+1491), pobre Clarissa de Messina, construiu no interior da clausura uma capelinha que lembrava a Natividade do Senhor, outra que evocava a casa de sua Mãe Santíssima, e outras mais, que significavam respectivamente o monte das Oliveiras, o Cenáculo, as casas de Anás e Caifás, o pretório de Pilatos, o monte Calvário e, por fim, o Santo Sepulcro. Visitava diariamente esses monumentos e, "como se houvera assistido às cenas que eles representavam, contemplava com lágrimas a bondade do Celeste Esposo e todos os feitos deste na sua respectiva sucessão" (Wadding, Annales Minorum, ad an. 1491).

Um dos casos mais expressivos da piedade fervorosa da Idade Média é o seguinte: no mosteiro cisterciense de Louvão (Portugal), havia, provavelmente no séc. XV, uma Religiosa conversa que, antes de se consagrar a Deus no claustro, levava vida muito mortificada; entre outros atos de piedade, emitira o voto de peregrinar á Terra Santa. Tendo, porém, entrado para o mosteiro, já não podia dispor de si para empreender tal viagem; achava-se por conseguinte, continuamente preocupada com a lembrança da promessa feita ao Senhor; os escrúpulos a torturavam. Orava, porém, e mortificava-se ardentemente, na esperança de conseguir realizar seu desígnio. Foi então que o Santo Padre o Papa promulgou um jubileu solene, concedendo aos confessores faculdades extraordinárias, inclusive a de comutar votos. A irmã, feliz, resolveu recorrer ao confessor, pedindo-lhe comutação (embora não precisasse disto, pois sua profissão religiosa solene anulara qualquer voto de devoção). O confessor, para dar-lhe a paz de alma, respondeu-lhe que ela poderia fazer no mosteiro mesmo uma peregrinação espiritual protraída por tanto tempo quanto duraria a viagem à Terra Santa. Diante disto, a Religiosa, tendo obtido o consentimento da sua Superiora, resolveu empreender o itinerário espiritual: um belo dia despediu-se das Irmãs e cessou o intercâmbio com elas; doravante pelo prazo de um ano pôs-se a peregrinar dentro da clausura de um altar ou de um oratório para outro, identificando-os com os lugares santos que os peregrinos da Palestina costumavam percorrer; tomava suas frugais refeições depois que a comunidade saia do refeitório, deixando para os pobres a mor parte dos "alimentos que lhe eram destinados; à noite dormia no chão, no lugar mesmo em que se encontrava quando tocava o sino para o repouso.

Após doze meses de tal regime, na tarde em que devia encerrar a peregrinação espiritual, a Irmã foi para a igreja, onde entrou em oração diante do Santíssimo Sacramento, com as mãos erguidas; ficou nessa atitude até a manhã seguinte, quando a Irmã Sacristã, tendo aberto a igreja, resolveu avisá-la de que os fiéis iam entrar na igreja para assistir à S. Missa. Eis, porém, que a "peregrina" estava morta, de joelhos, irradiando do seu semblante uma luminosidade extraordinária...

O fato causou profunda impressão nos fiéis da localidade, que mais tarde disseram ter obtido graças milagrosas por intercessão da santa Religiosa.. . (cf. Frei Bernardo de Brito, Primeira Parte da Chronica de Cister, I. VI c. XXXIV fol. 463, Lisboa 1602).

Fique o episódio aqui consignado, a título de ilustração! . . .

3.                   De acordo com a documentação que nos resta, parece que até o século XII só havia, para os peregrinos da Palestina, guias e roteiros que orientavam a visita dos lugares santos em geral, sem focalizar de maneira especial os que diziam respeito à Paixão do Senhor; em 1187, porém, apareceu o primeiro itinerário que visava â via percorrida pelo Senhor Jesus ao carregar a cruz: é o opúsculo francês "L'éstat de la Citéz de Jhérusalem". Somente no fim do séc. XIII começaram os fiéis a distinguir nesse itinerário etapas ou estações, cada uma das quais dedicada a um episódio do carregamento da cruz e consagrada por uma oração especial. Por causa das restrições ditadas pelos maometanos que ocupavam a Palestina, foi-se registrando, entre os cristãos, a tendência a fixar cada vez mais um programa determinado e quase invariável para a visita dos lugares concernentes à Paixão de Cristo; no fim do séc. XIV tal roteiro comum já existia: percorria em sentido inverso a Via Dolorosa de Cristo, partindo da igreja do Santo Sepulcro (monte Calvário) para ir terminar no monte das Oliveiras (donde se vê que não havia propriamente a intenção de acompanhar em espírito Nosso Senhor na sua caminhada dolorosa).

Eis aqui o itinerário que o peregrino inglês William Wey, tendo estado duas vezes na Terra Santa (1458 e 1462), propunha sob a forma de versos mnemotécnicos (Wey, aliás, é o primeiro autor a designar como "stationes", estações, as etapas da Via Dolorosa):

"Lap strat di trivium flent sudar sincopizavit Por pis lapque schola domus her Symonis Pharisey".

A explicação latina das abreviações seria a seguinte:

1.     Lapis cum crucibus super quem Christus cecidit cum cruce.
2.     Strata per quam Christus transivit ad suam passionem.
3.     Domus divitis negantis micas dare Lazaro.
4.     Trivium ubi Christus cecidit cum cruce.
5.     Locus ubi mulieres flebant propter Christum.
6.     Locus ubi vidu sive Veronica posuit sudarium super faciem Christi.
7.     Locus ubi beatissima Maria sincopizavit
7.    Porta per quam Christus transibat ad passionem.
8.    Piscina in qua aegroti sana-bantur tempore Christi.
10. Lapides super quos stetit Christus quando iudicatus erat ad mortem.
11. Locus ubi beata Maria tran-sivit ad Scholas.
12. Domus Pilati.
13. Domus Herodis.
14. Domus Simonis Pharisey.

Em tradução portuguesa:

Pedra com cruzes sobre a qual Cristo caiu com a cruz.
A estrada pela qual Cristo passou para padecer.
A casa do ricaço que negava as migalhas a Lázaro.
A encruzilhada na qual Cristo caiu com a cruz.
O lugar onde as mulheres choravam por causa de Cristo.
O lugar em que a viúva ou Verônica colocou o véu sobre a face de Cristo.
O lugar em que a mui bem-aventurada Maria desmaiou.
A porta pela qual Cristo passou para padecer.
A piscina onde os doentes eram curados no tempo de Cristo.
As pedras sobre as quais Cristo esteve quando o condenaram à morte.
O lugar em que a bem-aventurada Maria freqüentou a escola:  a casa de Pilatos, a casa de Herodes, a casa de Simão o Fariseu.

Como se vê, as estações desse itinerário estão longe de coincidir com as do exercício da Via Sacra moderno; apenas quatro estações da lista de Wey são ainda em nossos dias observadas, a saber:

4.  Trivium ou o encontro com o Cireneu;
5.  Flent ou o encontro com as santas mulheres que choravam;
6.  Sudarium ou o encontro com a Verônica;
7.  Sincopizavit ou o encontro com Maria Santíssima.

As outras estações do itinerário de Wey assim se explicam:

1.  "Pedra com cruzes...": havia uma pedra assinalada por cruzes no pátio diante da igreja do Santo Sepulcro, pedra que designava o lugar em que Jesus, ao carregar a cruz, caíra pela última vez (esta estação do itinerário de Wey poderia ser identificada com a estação referente à terceira queda de Cristo no percurso hoje em dia usual).
2.  "Strata": supunha-se estar pavimentada a estrada que levava ao Calvário.
3.  Alusão â parábola narrada em Lc 16,19-31.

8.  Trata-se da Porta do Julgamento da antiga cidade de Jerusalém.
9.  Referência à piscina probática mencionada em Jo 5, 2.
10. Alusão às duas pedras talhadas que constituíam o arco do "Ecce Homo".
11. Referência à escola freqüentada por Maria Santíssima.
12.    13 e 14. Alusão a casas que remotamente se prendem à história da Paixão do Senhor.

Alguns autores de fins do séc. XV, entre os quais Félix Fabri (1480), compraziam-se em afirmar que o itinerário então adotado, do Calvário ao monte das Oliveiras, era aquele mesmo que a Virgem Santíssima costumava percorrer, recordando outrora os episódios da Paixão de seu Divino Filho; tal asserção, porém, era sugerida apenas pela devoção, carecendo de fundamento na realidade histórica.

Note-se, de passagem, que os peregrinos da Terra Santa no fim da Idade Média davam certamente provas de extraordinário fervor, pois, para satisfazer à sua piedade, deviam submeter-se não somente aos perigos mortais da viagem marítima (piratas e peste), mas também a duras humilhações e dificuldades que os muçulmanos ocupantes da Palestina lhes impunham. Tal fervor não podia deixar de provocar imitadores cada vez mais numerosos entre os cristãos que estavam impedidos de empreender a viagem à Terra Santa; estes deviam experimentar o vivo desejo de substituir a peregrinação local ao Oriente por algum exercício de piedade que pudesse ser realizado nas igrejas ou nos mosteiros mesmos do Ocidente. É a esse desejo crescente que se deve o ulterior desenvolvimento do exercício do Caminho da Cruz.

4.                   O fervor levou, sim, os fiéis a querer percorrer o Caminho Doloroso do Senhor Jesus não na ordem inversa (do Calvário ao monte das Oliveiras), mas observando a sucessão mesma dos lugares e dos episódios que tecem a história da Paixão: uma narrativa de viagem devida ao sacerdote inglês Richard Torkington e datada de 1517 mostra que já nesta data os fiéis seguiam o Caminho da Cruz em demanda do Calvário, isto é, na direção mesma que Nosso Senhor tomara — o que lhes possibilitava reviver mais intensa e vividamente as etapas dolorosas da Paixão. A partir de 1517, não se registra mais nenhum documento que refira as estações sagradas a partir do Calvário.

No Ocidente as reproduções, em pintura ou escultura, das estações da Via Dolorosa eram variadas. Algumas se contentavam com a enumeração de sete etapas, também ditas "Sete quedas de Jesus", porque em cada uma delas Cristo aparecia ou prostrado por terra ou ao menos vacilante sob o peso da cruz e desejoso de se reerguer.

Assim, por exemplo, em fins do séc. XV se enumeravam:

1)  o encontro de Jesus com sua Mãe Santíssima;
2)  o encontro de Jesus com o Cireneu;
3)  o encontro de Jesus com as mulheres de Jerusalém;
4)  o encontro de Jesus com Verônica;
5)  a queda de Jesus sob a cruz, a 780 passos da casa de Pilatos;
6)  a prostração do Senhor sob a cruz, a 1000 passos da casa de Pilatos;
7)  a deposição de Jesus nos braços da sua Mãe Santíssima.
Podiam-se enumerar na iconografia e na devoção dos Ocidentais oito estações assim concebidas:
1)  Jesus é condenado à morte;
2)  Jesus cai pela primeira vez;
3)  Simão, o Cireneu, ajuda o Senhor a carregar a cruz;
4)  a Verônica enxuga a face de Jesus;
5)  o Senhor cai pela segunda vez;
6)  Cristo encontra-se com as filhas de Jerusalém;
7)  Jesus cai pela terceira vez;
8)  Jesus é despojado das suas vestes.

(Série devida a Pedro Steckx ou Petrus Potens, de Lovaina, depois que voltou de Jerusalém em 1505).

Também no século XV alguns devotos tendiam a venerar, juntamente com as sete quedas de Jesus, as sete dores de Nossa Senhora, ou as tristezas da Virgem Santíssima por contemplar, de cada vez, o seu Filho prostrado ou padecente sob a cruz.

Alguns autores ocidentais de livros de piedade ou de obras de arte sacra enumeravam por vezes 19 ou 25 ou até 37 estações na Via Dolorosa de Jesus. Parece aqui merecer especial menção o fato de que foi na Alemanha e na Holanda que nos séc. XV/XVI mais floresceu a devoção â Via Sacra do Senhor, ocasionando naturalmente grande núrnero de monumentos literários e artísticos dedicados a tal tema.

5.                   Finalmente, entrou em cena na literatura ocidental um livrinho que devia pôr remate à evolução do santo exercício do Caminho da Cruz: era o opúsculo do carmelita flamengo Jan Pascha (ou Jan van Paesschen), intitulado "A peregrinação espiritual" (1563).

A viagem espiritual aí descrita devia durar um ano, sendo assinalada para cada dia uma parte determinada do roteiro "Lovaina — Terra Santa"; essa parte cotidiana era acompanhada de um tema de meditação e de exercícios de piedade. No primeiro dia, por exemplo, o peregrino imaginava que ia viajar de Lovaina a Tirlemont, e devia meditar sobre o tema "Deus, último Fim de todas as criaturas"; no segundo dia, "viajava" de Tirlemont a Tongres, e meditava sobre a criação dos anjos, etc. No 188° dia, porém, estando o "peregrino" no horto das Oliveiras a contemplar a agonia de Jesus, advertia Jan Pascha:

"Aqui começa a primeira prece da longa caminhada da cruz.
As preces deste caminho são em número de quinze. . ."
A segunda estação fazia-se na casa de Anás, ao 193° dia;
a terceira estação, ao 196° dia, no lugar em que Jesus fora encarcerado e submetido ao escárnio da soldadesca;
a quarta estação, ao 206° dia, se fazia no tribunal de Pilatos, onde Jesus fora condenado;
a quinta estação se detinha no lugar em que Jesus tomara a cruz;
a sexta estação considerava o encontro de Jesus com sua Mãe Santíssima, assim como a segunda queda do Salvador (a primeira queda, não explicitamente venerada, se dera logo após a tomada de cruz por parte do Senhor);
a sétima estação se dava no lugar em que o Cireneu auxiliara Jesus a carregar a cruz, tendo o Divino Mestre aí caído mais uma vez;
a oitava estação assinalava o encontro de Jesus com Verônica e a quarta queda do Senhor;
a nona estação cultuava o encontro de Jesus com as filhas de Jerusalém;
a décima estação venerava a última queda do Senhor; a undécima estação considerava o despojamento de Jesus; a duodécima estação, a crucifixão; a décima terceira estação, a morte de Jesus sobre a cruz; a décima quarta estação, a deposição da cruz;
a décima quinta estação, por fim, venerava o sepultamento do Senhor.

Observe-se que as diversas etapas acima são acompanhadas de tantas minúcias topográficas e arqueológicas que certamente a obra de Jan Pascha deve ter causado a impressão de estar baseada em documentação sólida e abundante.

Em 1584 outro autor, Adrichomius, retomava o itinerário espiritual de Jan Pascha, e dava-lhe a forma que ele hoje tem: fez, sim, começar o Caminho da Cruz no pretório de Pilatos, onde Jesus foi condenado â morte, e, para atingir o número de quatorze estações, dedicou especial veneração a mais duas pressupostas quedas do Senhor. Por obra de Pascha e Adrichomius, portanto, o exercício do Caminho da Cruz recebeu no século XVI a sua configuração atual.

6.                   Uma verificação interessante se impõe agora ao estudioso: a escolha das etapas do Caminho da Cruz, hoje usual entre os cristãos, se deve à piedade dos autores de livros de devoção escritos no Ocidente, e não à prática observada na própria Cidade Santa, ou seja, em Jerusalém (Adrichomius mesmo nunca esteve na Palestina).

O curioso fenômeno explica-se muito bem: na cidade de Jerusalém dos séc. XV/XVI não se podia pensar em assinalar aos peregrinos estações ou paradas para cultuarem as diversas fases da Via Dolorosa de Jesus. Com efeito, os cronistas da época referem que o ânimo pouco amigo dos turcos ocupantes da Terra Santa não permitia que os fiéis cristãos se detivessem diante das localidades sagradas do interior da Cidade de Jerusalém; deviam transitar com a máxima sobriedade pela estrada que o Senhor percorrera com a cruz, contentando-se com uma prece ou meditação puramente interna. Sendo assim, entende-se que em Lovaina e Nürnberg, ou na Flândria e na Alemanha em geral, o exercício da Via Sacra fosse celebrado com muito mais aparato e minúcias do que na própria Cidade Santa; foi, pois, nestas regiões, e não no Oriente, que a referida devoção tomou sua forma hodierna.

Estas circunstâncias explicam outrossim que as cenas atualmente comemoradas nas estações do Caminho da Cruz em parte sejam conjeturais: principalmente o que se refere às quedas de Jesus fica sujeito a dúvidas (lembramo-nos de que a princípio se assinalavam sete quedas, quatro das quais estavam associadas aos encontros de Jesus respectivamente com Maria Santíssima, com o Cireneu, com as piedosas mulheres de Jerusalém, com Verônica). O próprio encontro de Jesus com Verônica não é atestado pelos documentos escritos senão a partir do séc. XV; também não se tem certeza de um encontro de Jesus com sua Mãe Santíssima. É preciso observar ainda que a série na qual se sucedem os diversos episódios do Caminho da Cruz é, por sua vez, hipotética.

7. Tais afirmações talvez suscitem perplexidade em um ou outro dos fiéis cristãos. A perplexidade, porém, se dissipará sem demora após uma reflexão serena sobre o assunto.

O cenário do Caminho da Cruz é proposto aos fiéis não à guisa de ensinamento histórico, para que os cristãos, mediante esse documento, enriqueçam o seu cabedal de cultura e saber. Não; as estações da Via Sacra são propostas unicamente para mover a piedade, fomentar o amor a Deus e a chama da oração. Por conseguinte, não queira o discípulo de Cristo deduzir conclusões de historiografia ao folhear o seu manual de Via Sacra; procure, antes, prorromper em atos de fé, esperança e caridade, mediante o percurso do Caminho da Cruz.

É de notar que na Sexta-feira Santa de 1991 e 1992 o S.Padre João Paulo II, ao realizar o exercício da Via Sacra no Coliseu de Roma, quis alterar o conteúdo das respectivas estações, substituindo as cenas não incluídas no Evangelho por outras, tiradas do texto sagrado. Eis a sequencia então adotada:

1.  Jesus no Horto das Oliveiras
2.  Jesus, traído por Judas, é aprisionado
3.  A condenação de Jesus
4.  A negação de Pedro
5.  Jesus diante de Pilatos
6.  A flagelação e a coroação de espinhos
7.  Jesus carrega a Cruz
8.  Jesus e o Cirineu
9.  O encontro com as mulheres de Jerusalém
10. A crucificação
11. Jesus e o Bom Ladrão
12. Maria e João ao pé da Cruz
13. A morte de Jesus
14. Jesus deposto no sepulcro

Esta nova ordem é certamente bela e apta a inspirar a meditação dos fiéis. Não consta que tenha sido promulgada pela autoridade da Igreja para o roteiro da Via Sacra realizada fora de Roma. Como quer que seja, fica a critério de cada fiel ou cada grupo de fiéis assumir a nova sequencia no exercício da sua devoção, pois, como dito, o que importa na Via Sacra é meditar a Paixão do Senhor Jesus. Tem sido costume acrescentar às quatorze estações uma décima quinta, destinada a contemplar a ressurreição de Cristo, visto que Paixão, Morte e Ressurreição constituem um só Mistério de Páscoa.

7.                   Por fim, deve ser realçado o papel importante dos Franciscanos na difusão do exercício da Via Sacra. Desde o século XIV os filhos de São Francisco são os guardiães oficiais dos lugares santos da Palestina; entende-se, pois, que de modo especial se tenham dedicado à propagação da veneração à Via Dolorosa do Senhor; em suas igrejas e junto aos seus conventos, desde fins da Idade Média tomaram o hábito de erguer as estações da Via Sacra; adotando a série sugerida por Jan Pascha e Adrichomius, fizeram que esta prevalecesse sobre todas as congêneres; foram também os filhos de São Francisco que obtiveram dos Papas a concessão das numerosas indulgências anexas a tal exercício de piedade. — Grandemente benemérito da devoção à Via Sacra é São Leonardo de Porto Maurício OFM, que, por ocasião de sua atividade missionária em toda a Itália, de 1731 a 1751, conseguiu erguer 572 "Vias Sacras".

Atualmente a Igreja concede indulgência plenária a quem pratique o exercício da Via Sacra. Para que este possa ser efetuado, requer-se uma série de quatorze cruzes (com alguma imagem ou inscrição, se possível) devidamente bentas. O cristão deve percorrer essas cruzes meditando a Paixão e a Morte do Senhor (não é necessário que siga as cenas das quatorze clássicas estações; pode servir-se de algum livro de meditação). Caso o exercício da Via Sacra se faça na igreja, com grande afluência de fiéis, de modo a impossibilitar a locomoção de todos, basta que o dirigente do sagrado exercício se locomova de estação em estação.

Quem não possa realizar a Via Sacra nas condições acima, lucra indulgência plenária lendo e meditando a Paixão do Senhor pelo espaço de meia-hora ao menos (1).

(1) O que são as indulgências, e o modo preciso de lucrá-las, são explicados em PP 309/1988, pp. 95s.


Dom Estêvão Bettencourt
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Fonte: Revista Pergunte e Responderemos

Síria: míssil atinge igreja durante missa


A igreja armênio-católica da Santíssima Trindade, em Aleppo (Síria), foi atingida por tiros enquanto os fiéis participavam da missa cotidiana. O ataque danificou a cúpula e os vitrais, mas não deixou ninguém ferido. É o que confirma à Agência Fides o sacerdote armênio católico Joseph Bazuzu, pároco da igreja atingida.

"Na segunda-feira à tarde", conta Pe. Joseph, "uma série de mísseis caíram no bairro de al-Meydan. Um atingiu e danificou a cúpula da nossa igreja, enquanto dentro estava em andamento a liturgia eucarística. Graças a Deus ninguém ficou ferido. E no dia seguinte, na missa, os fiéis presentes foram ainda mais numerosos. Depois de tantos anos de violência, o medo tornou-se um sentimento que nos acompanha a cada dia. As pessoas que vivem com medo".


O lançamento de mísseis devastou algumas casas na área circunstante à igreja, habitada em sua maioria por armênios. "Antes do início do conflito" refere-se à Agência Fides Pe. Joseph, "as famílias católicas armênias de Aleppo eram cerca de 250. Mas as liturgias na língua armênia contavam também com a presença de armênios ortodoxos, num total de oitocentas famílias. Agora, pelo menos, trezentos deles tiveram que abandonar suas casas, especialmente aqueles que viviam em áreas ocupadas pelas milícias insurgentes".


Na madrugada de sexta-feira, 21 de março, a cidade de Kessab, de maioria armênia, na fronteira com a Turquia, foi ocupada por milícias anti-Assad durante a ofensiva lançada por eles para chegar à cidade costeira de Latakia. Centenas de famílias armênias foram obrigadas a fugir. De acordo com fontes armênias, as três igrejas de Kessab teriam sido profanadas por militantes islâmicos de Al- Nusra.



Enquanto isso, na Armênia, estão em fase de conclusão os projetos da "Nova Aleppo ", área residencial destinada a refugiados armênios provenientes da Síria que será construída perto da cidade de Ashtarak. Na fase inicial, o complexo deve acomodar, pelo menos, 500 famílias. Segundo dados fornecidos pelo Ministério armênio para a diáspora, os refugiados armênios sírios que encontraram refúgio na Armênia são cerca de 11 mil. 
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Disponível em: Aleteia

Abrir-se à luz de Jesus, pede Papa no Angelus


ANGELUS
Praça São Pedro – Vaticano
Domingo, 30 de março de 2014

Queridos irmãos e irmãs, bom dia

O Evangelho de hoje nos apresenta o episódio do homem cego de nascença, ao qual Jesus doa a visão. A longa história começa com um cego que começa a ver e se fecha – é curioso isto – com as supostas pessoas que veem que continuam a permanecer cegas na alma. O milagre é narrado por João em apenas dois versículos, porque o evangelista quer atrair a atenção não sobre o milagre, mas sobre o que acontece depois, sobre as discussões que suscita; também sobre as fofocas, tantas vezes uma obra boa, uma obra de caridade suscita fofocas e discussões, porque há alguns que não querem ver a verdade. O evangelista João quer atrair a atenção sobre isso que acontece também nos nossos dias quando se faz uma obra boa. O cego curado primeiro é interrogado pela multidão atônita – viram o milagre e o interrogam – depois pelos doutores da lei; e estes interrogam também seus pais. Ao final, o cego curado  chega à fé, e esta é a maior graça que lhe é feita por Jesus: não somente de ver, mas de conhecê-Lo, vê-Lo como “luz do mundo” (Jo 9, 5).

Enquanto o cego se aproximava gradualmente da luz, os doutores da lei, ao contrário, caíam sempre mais em sua cegueira interior. Fechados em suas presunções, acreditam já ter a luz; e por isso não se abrem à verdade de Jesus. Fizeram de tudo para negar a evidência. Colocaram em dúvida a identidade do homem curado; depois negaram a ação de Deus na cura, adotando como desculpa que Deus não age de sábado; chegaram até a duvidar que aquele homem tivesse nascido cego. O seu fechamento à luz torna-se agressivo e acaba na expulsão do homem curado do templo.

O caminho do cego, em vez disso, é um percurso de etapas, que parte do conhecimento do nome de Jesus. Não conhece outro além Dele; de fato diz: “Aquele homem que se chama Jesus fez lodo, ungiu-me os olhos” (v. 11). Seguindo as insistentes perguntas dos doutores da lei, considera-O antes de tudo um profeta (v. 17) e depois um homem próximo a Deus (v. 31). Depois que se afastou do templo, excluído da sociedade, Jesus encontra-o de novo e lhe “abre os olhos” pela segunda vez, revelando-lhe a própria identidade: “Eu sou o Messias”, assim lhe diz. Neste momento, aquele que estava cego exclama: “Creio, Senhor!” (v. 38), e se prostra diante de Jesus. Este é um trecho do Evangelho que faz ver o drama da cegueira interior de tanta gente, também a nossa, porque nós, algumas vezes, temos momentos de cegueira interior.


A nossa vida às vezes é similar àquela do cego que se abriu à luz, que se abriu a Deus, que se abriu à sua graça. Às vezes, infelizmente, é um pouco como a dos doutores da lei: do alto do nosso orgulho, julgamos os outros, e até mesmo o Senhor! Hoje somos convidados a nos abrirmos à luz de Cristo para levar frutos à nossa vida, para eliminar os comportamentos que não são cristãos; todos nós somos cristãos, mas todos nós, algumas vezes, temos comportamentos não cristãos, comportamentos que são pecados. Devemos nos arrepender disso, eliminar estes comportamentos para caminhar decididamente no caminho da santidade. Esse tem a sua origem no Batismo. Também nós, de fato, fomos “iluminados” por Cristo no Batismo, a fim de que, como nos recorda São Paulo, possamos nos comportar como “filhos da luz” (Ef 5, 8), com humildade, paciência, misericórdia. Estes doutores da lei não tinham nem humildade, nem paciência, nem misericórdia!

Eu sugiro a vocês, hoje, quando voltarem para casa, peguem o Evangelho de João e leiam este trecho do capítulo 9. Fará bem a vocês, porque assim vocês verão este caminho da cegueira à luz e o outro caminho mal rumo a uma mais profunda cegueira. Perguntemo-nos: como está o nosso coração? Tenho um coração aberto ou um coração fechado? Aberto ou fechado para Deus? Aberto ou fechado para o próximo? Sempre temos em nós algum fechamento nascido do pecado, dos erros. Não devemos ter medo! Abramo-nos à luz do Senhor, Ele nos espera sempre para nos fazer ver melhor, para nos dar mais luz, para nos perdoar. Não esqueçamos isto! À Virgem Maria confiemos o caminho quaresmal, para que também nós, como o cego curado, com a graça de Cristo, possamos ‘seguir rumo à luz’, andar mais adiante rumo à luz e renascer para uma vida nova.
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Fonte: Boletim da Santa Sé
Tradução: Jéssica Marçal