Certa vez, em visita aos enfermos numa
paróquia, que ouvi essa expressão: “Não tenho medo de morrer, mas de prestar
contas”.
Já ouvi e muitas vezes, e de vários modos, a
expressão: “Tenho medo da morte”; mas pela primeira vez ouvi dizer: “Tenho medo
de prestar contas”. Essa será a porta de passagem pela qual todos nós seremos
convidados a entrar.
Entrar pela porta estreita e diante do Pai
Deus, ver e julgar em segundos, como se fosse um filme, toda a minha existência
terrena, e no final ouvir das duas uma palavra: “vinde, bendito” ou “ide,
maldito”.
O Julgamento, sem dúvida, será de um Pai que
não quer a condenação e sim a salvação de todos; porém não deixa de ser um
julgamento.
O Senhor não vai julgar pelas vezes que
participamos da missa ou do culto; pelas vezes que pegamos a Bíblia para
meditar ou preparar a pregação aos fiéis; pelas vezes que dobramos os joelhos
para rezar no templo ou no quarto. O Senhor não quer saber se fizemos
peregrinação para a Terra Santa, pelos santuários. Nunca vai perguntar sobre
nossos ritos e rituais, nossas fórmulas de louvores. Não seremos sabatinados
sobre as contas bancárias e muito menos sobre os bens materiais. O julgamento
será sobre uma única pergunta: Tudo o que fizemos e possuímos serviu para amar
a Deus sobre tudo e o próximo como a nós mesmos?
Todas as nossas práticas religiosas, se não
levarem para um amor maior entre nós, não servem para nada. Pelo contrário.
Serão motivos do fogo eterno.
O amor verdadeiro se revela na prática da
regra de ouro: “fazer aos outros o que gostaria que fizesse a nós.”
Portanto, o único critério a nos julgar será a
nossa capacidade de atender às necessidades básicas dos mais necessitados.
“Estive com fome me destes de comer, estive
com sede me destes de beber, estava nu e me vestistes, estava doente e preso
viestes me visitar”. Porque todo o bem ou o mal feito ao próximo, é ao Senhor
que fazemos, e ficará para a recompensa na eternidade, ou para a condenação
eterna.
Não precisamos ter medo da morte. Por isso
ainda é tempo de fazer deste tempo um recomeço. No tempo presente esta a
oportunidade de refazer nossas escolhas e ser coerentes nas suas consequências.
O mundo precisa de cristãos autênticos,
coerentes com o que professa com a boca, crê com o coração e efetiva nas ações.
De palavras e palavras, promessas e promessas
o inferno já esta cheio. A tristeza de Deus está no coração humano petrificado
pela prática hipócrita, onde as aparências são mais importantes.
O coração ganancioso e prepotente, nunca será
capaz de ver o outro como alguém a ser amado. Não precisa ter medo da morte;
comece a preocupar-se com a prestação de contas no encontro com Aquele que te
criou por amor e para amar.
DOM ANUAR BATTISTI
ARCEBISPO DE MARINGÁ (PR)
Nenhum comentário:
Postar um comentário