Em entrevista
exclusiva, o Patriarca Louis Sako Rafael I, chefe da Igreja Católica Caldeia,
fala à Oliver Maksan, correspondente da Fundação Pontifícia Ajuda à Igreja que
Sofre (AIS) no Oriente Médio, sobre a situação atual no Iraque e afirma temer
êxodo cristão.
AIS:
Vossa Excelência tem alguma esperança de que o Iraque possa permanecer um
estado único?
Patriarca:
Não. Talvez uma unidade simbólica e o nome do Iraque continuem a existir, mas
de fato, haverá três regiões independentes, com seus próprios orçamentos e
exércitos.
AIS: Quais são as consequências da desintegração do Estado para os cristãos no Iraque?
Patriarca:
Essa é a questão. Para ser honesto, os bispos estão um pouco perdidos
atualmente. O futuro pode estar no Curdistão. Muitos cristãos já estão morando
lá depois de todos os acontecimentos. Mas também há muitos que vivem em Bagdá,
e há também em Basra, no sul xiita. Devemos esperar e ver como as coisas se
desenvolvem.
AIS: Este é o momento mais sombrio para o cristianismo iraquiano?
Patriarca:
É o mais sombrio para todos. Não há perseguição dos cristãos; muitos mais
muçulmanos fugiram de Mossul e arredores, mas o que nos preocupa muito é o fato
de que o êxodo de cristãos do Iraque está aumentando. Quando eu estava na
Turquia, recentemente, dez famílias cristãs de Mossul chegaram lá e, no
intervalo de apenas uma semana, mais de vinte famílias deixaram Alqosh, uma
cidade completamente cristã não muito longe de Mossul. Isso é muito sério.
Estamos perdendo a nossa comunidade. Se os cristãos no Iraque chegarem ao fim,
esse será um hiato em nossa história. Nossa identidade estará ameaçada.
AIS: Então não há esperança?
Patriarca:
Talvez os mais velhos retornem quando a situação se estabilizar. Mas os mais
jovens não. Em dez anos, estima-se que 50.000 cristãos deixem o país. Antes de
2003, esse número era de cerca de 1,2 milhões. Dentro de dez anos, estaremos
reduzido à uma comunidade de, talvez, 400 a 500 mil fiéis.