Os documentos do Magistério da Igreja já condenaram inúmeras vezes o projeto marxista para a sociedade. Qual é, então, a proposta da Igreja? O único caminho é o capitalismo e o projeto neoliberal?
A princípio, é importante explicar brevemente quais as forças ideológicas que têm conduzido o mundo nos últimos anos. Em primeiro lugar, há o liberalismo – hoje também chamado de neoliberalismo –, que defende, em resumo, o livre mercado e a não intervenção do Estado na economia. Há também o socialismo, tal como concebido por Karl Marx, para o qual o liberalismo, na marcha da história, oprimiria de tal modo os trabalhadores, que esses se revoltariam, abolindo, por fim, o mercado e a propriedade privada. Uma vez errada essa previsão, o pensamento marxista se dividiu em duas correntes: o leninismo, que propõe a mesma revolução pelo uso da força; e a guerra cultural, que defende uma transformação da cultura e o controle do Estado sobre o mercado. O nacional-socialismo, que é uma espécie de socialismo com tons messiânicos, está temporariamente desativado.
Em todas essas opções reside um erro fundamental: seja liberalismo, seja socialismo, todos esses sistemas estão excessivamente preocupados com a economia, como se ela fosse a realidade mais importante de uma sociedade. O Catecismo da Igreja Católica é bem claro a esse respeito, quando explica que “todo sistema segundo o qual as relações sociais seriam inteiramente determinadas pelos fatores econômicos é contrário à natureza da pessoa humana e de seus atos” [1]. Por outro lado, a Doutrina Social da Igreja não adota um sistema específico ou um “misto”, por assim dizer, entre o liberalismo e o socialismo. O que ela propõe é uma realidade de “outra” ordem, para além da mentalidade materialista predominante hoje.
Mas, antes de explicar o que ensina a Doutrina Social da Igreja, importa entender como a sociedade foi historicamente se centralizando em torno da economia. Tudo começou na Inglaterra, com o advento do moderno sistema bancário. Com o Banco Central financiando diretamente o crescimento das indústrias, iniciou-se uma produção em massa de riquezas, que criou a ilusão de que tudo se explica em torno do dinheiro. Karl Marx, ao invés de desmontar essa mentira, aceitou a premissa liberal – basta pensar na ideia que fazia de “infraestrutura” – e, a partir dela, construiu o seu pensamento. Os Estados Unidos, embora seja considerado o “berço” do capitalismo liberal, começou como uma sociedade agrária e pré-industrial e não foi edificado na obsessão do dinheiro. Pelo menos na sua fundação – hoje, as coisas são diferentes –, o que importavam eram as “virtudes cívicas” – relacionadas à busca do bem comum –, expostas principalmente na obra “O Espírito das Leis”, de Montesquieu. Em relação ao que propõe a Doutrina Social da Igreja, essa situação já é decadente, mas, comparada à obsessão econômica que começaria na Revolução Industrial, trata-se de algo melhor.