A leitora Bianca, protestante, nos escreveu nos
acusando de idolatria (puxa, que coisa inusitada, né?) e tentou usar alguns
vídeos do padre Fábio de Melo para sapatear em cima da fé católica.
Na verdade, Bianca, todo católico deve concordar
plenamente com essa afirmação do Padre Fábio: “Nós não podemos viver uma
devoção mariana que nos aparte de Jesus. Que toda devoção mariana só tem
sentido se nos apontar para o Cristo, se ela nos fazer conhecer o coração de
Jesus”. Está claro nos vídeos que o padre aprova a devoção mariana, e critica
tão somente os seus exageros e desvirtuações.
O Padre Fábio foi muito incisivo em sua denúncia,
mas também foi muito pouco claro. Afinal, que exageros seriam esses? Ele cita
vagamente que o “cristianismo sendo reduzido a medalhinhas”, “a teologia sendo
substituída por devoções vazias”, “a devoção mariana sendo excessivamente
colocada”… Exemplos mais concretos ajudariam, mas infelizmente ele deixa as
coisas meio no ar.
Bem, vou tentar analisar esses vídeos, dentro
dessas limitações.
O
“cristianismo sendo reduzido a medalhinhas”
Medalhas de santos são instrumentos humildes, mas
eficazes para a edificação espiritual (pode chiar a crentaiada e os católicos
soberbos, que fazem pouco das devoções simples e populares). Nossa Senhora das
Graças apareceu a Santa Catarina de Labourè em Paris, e mandou que fosse cunhada
a Medalha Milagrosa. Por meio dessa devoção, muitos curas foram operadas,
muitos incrédulos abraçaram a fé e tantas outras graças foram alcançadas.
Assim, espero que ao citar o tal “cristianismo
sendo reduzido a medalhinhas” o padre Fábio não tenha pretendido, de modo
algum, desprezar a piedosa prática de muitos fiéis, que levam consigo uma
medalha de um santo, desejando assim a bênção e a proteção do Céu.
Creio que o Padre Fábio esteja, muito justamente,
alertando aqueles que adotam somente a devoção externa – o uso e apreço pelas
medalhas –, sem, porém, realizar a necessária devoção interior (não são buscam
ser cristãos de verdade em sua consciência e atitudes cotidianas). Eles se
apegam a devoções exteriores, mas não se aplicam em imitar as virtudes dos
santos.
“A teologia
sendo substituída por devoções vazias”
Sim, é bem verdade que, não raras vezes, vemos “a
teologia sendo substituída por devoções vazias”. Mas se não alertamos as
pessoas sobre quais devoções seriam essas, se não damos nomes aos bois, como se
prevenirão? Senti falta de uma indicação mais específica na palestra do padre.
Atrevo-me a apontar uma devoção que vem tomando
amplamente o lugar da verdadeira teologia: a devoção ao respeito humano,
colocando-o acima do respeito e temor a Deus. Essa devoção leva à opção covarde
de falar as coisas pela metade, de forma dúbia. Como o Papa Francisco bem
disse, é “a tentação de negligenciar a realidade utilizando uma língua
minuciosa e uma linguagem ‘alisadora’ (polida) para dizer tantas coisas e não
dizer nada” (News.Va). Assim, a maior preocupação não é comunicar a
verdade, mas sim não ofender quem está vivendo no pecado, não contrariar a
mentalidade do mundo.
Sobre devoções marianas falsas e vazias, podemos
citar várias na história. Entre elas, Marpingen, na Alemanha (1876) e El
Escorial, na Espanha (1980). Mesmo depois de alertadas pelas autoridades da
Igreja, muitas pessoas continuaram a crer nos “videntes” dessas aparições e em
suas mensagens. Ou seja, essas pessoas eram realmente idólatras, pois
preferiram a desobediência, dando ouvidos mais a supostas revelações pessoais
do que à voz dos legítimos pastores.
“A devoção
mariana sendo excessivamente colocada”
Fico realmente muito curiosa para saber o que
seria, no conceito do Pe. Fábio de Melo, uma devoção mariana exagerada. Mas
como ele se furta a fazer observações mais precisas, volto-me então, para os
ensinamentos – avaliados e aprovados por vários papas – de São Luis Maria
Grignion de Montfort. Sobre o temor de dar a Maria uma devoção demasiada, ele
diz:
Os devotos escrupulosos são pessoas que temem
desonrar o Filho honrando a Mãe, rebaixar um ao elevar a outra. Não podem
suportar que se prestem à Santíssima Virgem louvores muito justos, tais como os
Santos Padres lhe dirigiram (…). Como se uma coisa fosse contrária à outra,
como se aqueles que rezam a Nossa Senhora não rezassem a Jesus Cristo por meio
d’Ela! Não querem que se fale tantas vezes da Santíssima Virgem, nem que a Ela
nos dirijamos tão frequentemente. Eis algumas frases que lhes são habituais:
“Para que servem tantos terços, tantas confrarias e
devoções externas à Santíssima Virgem? Há muita ignorância nisto tudo! Faz-se
da religião uma palhaçada. Falem-me dos que têm Devoção a Jesus Cristo (…). É
preciso pregar Jesus Cristo: eis a doutrina sólida!”
Isto que dizem é verdadeiro num certo sentido; mas
quanto à aplicação que disso fazem, para impedir a Devoção à Virgem Santíssima,
é muito perigoso. Trata-se duma cilada do inimigo sob pretexto dum bem maior.
Pois nunca se honra mais a Jesus Cristo do que quando se honra muito à
Santíssima Virgem. A razão é simples: só honramos a Virgem no intuito de honrar
mais perfeitamente a Jesus Cristo, indo a Ela apenas como ao caminho que leva
ao fim almejado, que é Jesus.
- Tratado da
Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem. Os devotos escrupulosos
A
necessidade da devoção a Maria
No segundo vídeo que postamos acima, o Pe. Fábio
conta que nunca teve o costume de rezar aos santos, fazer novenas etc. De forma
muito correta, ele diz que essas devoções são OPCIONAIS, e não essenciais para
a salvação. Certo. Mas há um “porém”: a devoção a Maria, Mãe de Deus, NÃO É
OPCIONAL. Como o padre mesmo disse no segundo vídeo, essa é uma devoção que
todo católico deve ter.
A Virgem se distingue amplamente dos demais santos,
sendo muito superior a todos eles. Mesmo os maiores santos pecaram, alguns
somente com faltas leves, outros ainda foram grandes pecadores antes de sua
conversão; Maria, porém, é toda pura e Imaculada. Por isso, seu corpo não foi
devorado pelos vermes: ao fim de sua vida terrestre, ela foi elevada aos Céus
de Corpo e Alma (saiba mais aqui).
Vocês já imaginaram um católico que se recuse a
rezar a “Ave Maria”, ou que o faça de má vontade? Certamente não pode ser um
bom católico! Pois se até o Anjo Gabriel diz com júbilo “Ave Maria, cheia de
graça, o Senhor é contigo!”, por que raios um pobre pecador se recusaria a
fazê-lo?
Católicos
rezam COM os santos e AOS santos
O Pe. Fábio, nos dois vídeos acima, insiste em
dizer que os católicos rezam “COM” os santos, e isso é correto… em parte. Ao
dizer que o o povo católico reza COM os santos, precisamos acrescentar também
que reza AOS santos; do contrário, se professa uma meia verdade, que flerta com
a heresia.
Provar o que digo é fácil. Basta notar os termos
usados na “Ladainha de Todos os Santos”, que é cantada especialmente na Vigília
Pascal. Vejam um pequeno trecho:
V. Todos os santos Anjos e Arcanjos.
R. Rogai por nós.
V. Todos as santas ordens de Espíritos
bem-aventurados.
R. Rogai por nós.
V. São João Batista.
R. Rogai por nós.
Nessa ladainha, é evidente que a assembleia dos
fiéis se dirige aos anjos, mártires e santos, pedindo que eles roguem a Deus
por todos. Pedimos AOS santos! Rezamos AOS santos, e não meramente COM os
santos.
Estando em comunhão mais perfeita com Cristo, os
santos podem apresentar a Ele nossas orações. De fato, Deus Onipotente não
precisa de Maria nem dos santos, MAS ELE QUER PRECISAR (quem quiser, pode
chorar!).
Em vez de se preocupar com nossos santos, a Bianca
deveria se preocupar com idolatria do dinheiro que tomou conta de tantas e
tantas seitas evangélicas. É meia ungida pra lá, é gente ajoelhando diante da
réplica da arca da aliança, é vassoura ungida… Que vergonha!
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