sexta-feira, 13 de março de 2015

Revista de uma comunidade carente argentina entrevista o papa


Por ocasião dos dois anos de pontificado do papa Francisco, os jovens de uma favela da periferia da Grande Buenos Aires lhe enviaram uma série de perguntas, pensando em publicar as respostas do papa no jornal da comunidade. E o papa respondeu.

* * *

Cárcova News - O senhor fala muito em periferia. É uma palavra que usa muitas vezes. No que o senhor pensa quando fala de periferias? Em nós, nas pessoas da favela?

PAPA FRANCISCO - Quando eu falo de periferia, falo de limites. Normalmente, nós nos movemos em espaços que, de alguma forma, controlamos. Este é o centro. Mas, à medida que vamos saindo do centro, vamos descobrindo mais coisas. E quando olhamos para o centro a partir dessas novas coisas que descobrimos, a partir das nossas novas posições, a partir dessa periferia, vemos que a realidade é diferente. Uma coisa é ver a realidade a partir do centro e outra coisa é vê-la do último lugar ao qual chegamos. Um exemplo. A Europa, vista a partir de Madri no século XVI, era uma coisa, mas quando Magalhães chega ao fim do continente americano e olha para a Europa, ele entende outras coisas. A realidade é vista melhor a partir da periferia do que do centro. Também a realidade de uma pessoa, das periferias existenciais e, inclusive, a realidade do pensamento. Você pode ter um pensamento muito armado, mas, quando se confronta com alguém que está fora desse pensamento, de alguma forma tem que procurar as razões do seu próprio pensar; começa a dialogar, se enriquece a partir da periferia do pensamento do outro.

Cárcova News - O senhor conhece os nossos problemas. As drogas avançam e não são barradas; entram nas favelas e atacam os nossos jovens. Quem deve nos defender? E nós, como podemos nos defender?

PAPA FRANCISCO - É verdade, a droga avança e não é barrada. Há países que já são escravos da droga e isso nos preocupa. O que mais me preocupa é o triunfalismo dos traficantes. Essas pessoas já cantam vitória, venceram, triunfaram. E isto é uma realidade. Há países ou regiões onde tudo está sob o domínio da droga. A respeito da Argentina, posso dizer só isto: há 25 anos, era um lugar de passagem da droga; hoje em dia, é um lugar de consumo. E não tenho certeza, mas acredito que também de fabricação.

Cárcova News - Qual é a coisa mais importante que temos que dar aos nossos filhos?

PAPA FRANCISCO - O pertencimento, o pertencimento a um lar. O pertencimento se dá com amor, com carinho, com tempo, de mãos dadas, escutando-os, brincando com eles, dando a eles o necessário em cada momento para o seu crescimento. Dando a eles, principalmente, espaço para se expressarem. Se você não brinca com o seu filho, o priva da dimensão da gratuidade. Se você não dá espaço para que ele diga o que sente e para que ele possa até discutir com você por sentir-se livre para isso, então você não está deixando que ele cresça. Mas o mais importante é a fé. Dói muito, em mim, quando encontro jovens que não sabem fazer o sinal da cruz. Esses jovens não receberam a coisa mais importante que um pai e uma mãe podem dar a eles: a fé. 

Francisco fez com que os católicos se sentissem orgulhosos da sua Igreja


No dia 13 de março de 2013, da varanda da Basílica de São Pedro, o Cardeal Tauran disse: 'Habemus Papam'; e que 'José Mario cardenal Bergoglio' era o novo pontífice com o nome de Francisco. Daquele então até hoje mudou algo na Igreja?, Qual é a percepção e a realidade? ZENIT perguntou para o correspondente espanhol na Itália, que não faz descontos ao Vaticano, Pablo Ordaz, do jornal El País, que tem sido um correspondente no México, América Central e Caribe, e cujas respostas compartilhamos com os nossos leitores.

ZENIT: Desde o começo do pontificado do Papa Francisco, você acha que algo mudou na imagem da Igreja?

Pablo Ordaz: Com certeza. Tanto do ponto de vista dos católicos como do resto da opinião pública. Não podemos nos esquecer que faz só dois anos que o Vaticano estava imerso em guerras de poder que levaram à fuga de documentos do caso Vatileaks, à detenção do mordomo de Bento XVI, à demissão descarada do chefe do IOR, aos escândalos contínuos de pederastia, à renúncia de Joseph Ratzinger... Em um tempo recorde, Jorge Mario Bergoglio conseguiu que os católicos, na sua grande maioria, voltassem a se sentir orgulhosos da sua Igreja – é só olhar para a Praça de São Pedro cada quarta-feira e cada domingo ou o interesse que causam as suas viagens – e que líderes mundiais como Barack Obama tenham vindo a Roma para visita-lo e dizer: “É necessário escutar o Papa”. A sua mensagem social em um momento de crise e sofrimento para muitas pessoas em todo o mundo está chegando com força.

ZENIT: Tem sido somente uma mudança de imagem ou foram mudanças reais?

Pablo Ordaz: Eu acho que o segundo está ligado ao primeiro. Após aquela frase de abertura de seu pontificado - "como eu gostaria de ter uma Igreja pobre para os pobres" - Bergoglio está tentando, embora não sem resistência interna, lançar luz sobre as tradicionais escuras finanças vaticanas, racionalizar gastos, contagiar a Cúria e as diversas congregações, do seu estilo simples de vida, ir à busca dos feridos – divorciados recasados, novos casais, gays... – em vez de ficar protegido na comodidade. Mas, não é fácil. A inércia de muitos séculos nos contemplam e é mais simples acostumar-se a ser rico do que a ser pobre... como também não é fácil que depois de décadas olhando para outro lado, a Igreja, em seu conjunto, esteja se convencendo de que a “tolerância zero” é a única resposta à pederastia. Embora tarde, começa-se a dar passos nesse sentido. 

Iniciativa "24 horas para o Senhor" será nesta sexta e sábado


"Deus rico de misericórdia” é o tema da jornada de oração e confissão “24 horas para o Senhor”, organizada pelo Pontifício Conselho para a Promoção da Nova Evangelização e convocada pelo Papa Francisco em sua mensagem para a Quaresma 2015.

Em sua mensagem de Quaresma o Santo Padre chamou os fiéis a combaterem a globalização da indiferença.

“Também como indivíduos temos a tentação da indiferença. Estamos saturados de notícias e imagens impressionantes que nos relatam o sofrimento humano, sentindo ao mesmo tempo toda a nossa incapacidade de intervir. Que fazer para não nos deixarmos absorver por esta espiral de terror e impotência?”, expressou o Papa.

“Em primeiro lugar, podemos rezar na comunhão da Igreja terrena e celeste. Não subestimemos a força da oração de muitos! A iniciativa 24 horas para o Senhor, que espero se celebre em toda a Igreja – mesmo a nível diocesano – nos dias 13 e 14 de Março, pretende dar expressão a esta necessidade da oração”. 

quinta-feira, 12 de março de 2015

CNBB divulga nota sobre a realidade atual do Brasil


Nota da CNBB sobre a realidade atual do Brasil

“Pratica a justiça todos os dias de tua vida e não sigas os caminhos da iniquidade” (Tb 4, 5)


O Conselho Permanente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil-CNBB, reunido em Brasília-DF, nos dias 10 a 12 de março de 2015, manifesta sua preocupação diante do delicado momento pelo qual passa o País. O escândalo da corrupção na Petrobras, as recentes medidas de ajuste fiscal adotadas pelo Governo, a crise na relação entre os três Poderes da República e manifestações de insatisfação da população são alguns dos sinais de uma situação crítica que, negada ou mal administrada, poderá enfraquecer o Estado Democrático de Direito, conquistado com muita luta e sofrimento.

Esta situação clama por medidas urgentes. Qualquer resposta, no entanto, que atenda antes ao mercado e aos interesses políticos que às necessidades do povo, especialmente dos mais pobres, nega a ética e desvia-se do caminho da justiça. Cobrar essa resposta é direito da população, desde que se preserve a ordem democrática e se respeitem as instituições da comunidade política. 

Médio Oriente: Vaticano pede donativos para cristãos perseguidos na Síria e Iraque


O Vaticano apelou na última terça-feira aos donativos dos católicos em favor das comunidades cristãs perseguidas na Síria e Iraque, que vivem um “momento dramático”.

O pedido é apresentado pelo cardeal Leonardo Sandri, prefeito da Congregação para as Igrejas Orientais (Santa Sé), na carta aos episcopados de todo o mundo, por ocasião da coleta anual de Sexta-feira Santa (3 de abril, em 2015).

O documento, divulgado pela sala de imprensa da Santa Sé, é acompanhado por um relatório que descreve a aplicação dos donativos de 2014, em particular a ajuda de emergência (cerca de 2 milhões de euros) destinada à Síria e ao Iraque.

“Há milhões de deslocados que fogem da Síria e do Iraque, onde o grito das armas não se cala e o caminho do diálogo e da concórdia parece completamente perdido, ao mesmo tempo que parecem prevalecer o ódio insensato de quem mata e o desespero desarmamento de quem perdeu tudo e foi expulso da terra dos seus pais”, alerta o cardeal Sandri.

Segundo o responsável da Santa Sé, as comunidades católicas têm de estar atentas a estes acontecimentos, para evitar a “fuga” dos cristãos da Terra Santa.

“Só na unidade de espírito e na caridade fraterna de todos os discípulos de Cristo, a Igreja, sua esposa, poderá dar testemunho de esperança aos seus filhos que vivem todos os dias os mesmos sofrimentos do Senhor humilhado e abandonado”, escreve.

A verdade sobre o dom de línguas


 “O dom das línguas é um milagre não para os fiéis, mas para os infiéis” (1Cor 14,22).


O Papa São Gregório Magno comenta esse versículo:


"Estes sinais foram necessários no começo da Igreja. Para que a Fé crescesse, era preciso nutri-la com milagres. Também nós, quando nós plantamos árvores, nós as regamos até que as vemos bem implantadas na terra. Uma vez que elas se enraizaram, cessamos de regá-las. Eis porque São Paulo dizia: “O dom das línguas é um milagre não para os fiéis, mas para os infiéis” (I Cor, XIV,22)." ( Sermões sobre o Evangelho, Livro II, Les éditions du Cerf, Paris, 2008, volume II, pp. 205 a 209).


As línguas faladas em pentecostes eram "idiomas" (At 2,8ss).


“Partos e medos, elamitas e os que habitam na Mesopotámia, Judéia, Capadócia, Ponto e Asia, e Frígia e Panfília, Egito e partes da Líbia, junto a Cirene, e forasteiros romanos, tanto judeus como prosélitos, Cretenses e árabes, todos nós temos ouvido em nossas próprias línguas falar das grandezas de Deus.” (At 2,9-11).


O Apóstolo Paulo ao citar o profeta Isaías nos confirma que se referia a idiomas estrangeiros.


“Na lei está escrito: “Será por gente de língua estrangeira e por lábios estrangeiros que falarei a este povo; e nem assim me ouvirão, diz o Senhor (Is 28,11s)” (1 Cor 14,21).


Apesar dos textos bíblicos estarem claros, é bom mostrarmos que dessa forma interpretaram os Santos da Igreja:

Santo Agostinho Disse:


“No período primitivo, o Espírito Santo caiu sobre quem cria e falava em línguas que jamais havia aprendido. O Espírito concedia-lhes que falassem, e estes eram sinais adaptados a época, pois precisava haver aquela evidência do Espírito Santo em todas as línguas, e mostrar que o evangelho de Deus havia de correr através de todas as línguas sobre a terra. Aquele facto foi feito com evidência e passou”. (Fonte: Dez homilias sobre 1ª epístola de João, vol. VII. Os pais nicenos/pós niceno, 6 10).


O dom de língua aconteceu em Pentecostes para que a Igreja atingisse a unidade e assim o mesmo evangelho era pregado em vários idiomas para que todos tivessem a mesma doutrina. Logo após o acontecimento o próprio livro de atos mostra o resultado do evento em relação à unidade da Igreja “A multidão dos que haviam crido era um só coração e uma só alma(At 4,32).


Como comentou o Papa São Gregório Magno, o dom de língua não permanece quando a Igreja atinge a unidade. O próprio São Paulo deixa claro que o dom de línguas cessará.


1Cor 13,8: “[...] o dom das línguas cessará”.
1Cor 13,10: “Quando chegar o que é perfeito, o imperfeito desaparecerá”.
1Cor 13,13: "Por ora subsistem a fé, a esperança e a caridade - as três. Porém, a maior delas é a caridade”.


São João Crisóstomo disse:


“Este lugar está completamente obscuro. A obscuridade provém de nossa ignorância dos atos referidos e por sua cessação, sendo que esses então ocorriam. Mas agora não mais acontecem (Fonte: Homilias sobre a 1ª aos corintios, vol XII, os pais niceno e pós niceno. Hom 29,2) GEMIDOS INEFÁVEIS(Rm 8,26).

“O dom de língua era idiomas, e não sílabas sem sentidos! "Língua dos anjos é o silêncio" (Ortho Pisti, São João Damasceno).


Essa citação de São João Damasceno nos exorta em relação ao termo gemidos inefáveis (cf. Rm 8,26).

inefável

i.ne.fá.vel
adj (lat ineffabile): Que não se pode exprimir por palavras.

Este termo vem da palavra grega anekdiegetos e também pode ser traduzida como inexprimível como está na tradução Ferreira de Almeida.

Geralmente essa passagem de Rm 8,26 é usada de forma isolada e interpretada de forma tendenciosa para subentender que se refere ao dom de línguas, porém se lermos o próximo versículo vemos um significado bastante distinto. Não é nada mais que a intercessão do Espírito Santo por nós perscrutando nossos corações.


Rm 8,26-28: “Outrossim, o Espírito vem em auxílio à nossa fraqueza; porque não sabemos o que devemos pedir, nem orar como convém, mas o Espírito mesmo INTERCEDE POR NÓS com gemidos inefáveis. E aquele que prescruta os corações sabe o que deseja o Espírito, o qual intercede pelos santos, segundo Deus. Aliás, sabemos que todas as coisas concorrem para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são os eleitos, segundo os seus desígnios”.


Querer usar os textos bíblicos dos acontecimentos primitivos para associar esse dom à glossolalia atual é dar um tiro no pé, pois nem no seu formato encaixaria.


Paulo em 1Coríntios 12,10 nos fala: “a outro, o dom de milagres; a outro, a profecia; a outro, o discernimento dos espíritos; a outro, a variedade de línguas; a outro, por fim, a interpretação das línguas” (1 Cor 12,10);


Agora veja bem, se é variedade é porque são diversas línguas diferentes (idiomas), porque não pode haver variedade de “línguas dos anjos”, pois seria uma única língua. Observemos que o verbo interpretar está ligado à palavra língua no plural.

O engraçado é que o dom de falar em línguas na Igreja como acontecia na época do Novo Testamento era dado para apenas duas ou três pessoas no máximo e um por vez, não pode um grupo falar em línguas de uma só vez, e deve-se ter um interprete que em grego é (ερμηνεύει) que se refere à interpretação de línguas estrangeiras (1 Cor 14,27).


Obs.: As mulheres falariam em línguas se fossemos estar de acordo com as Escrituras, São Paulo é claro quando diz que na Igreja as mulheres deveriam silenciar-se (1Cor 14,34).


Nos estatutos da RCC que foram aceitos pela Santa Sé não constam esse fenômeno, foi pura invenção, constatando o perigo de comunidades regidas por leigos.

Homilética: 4º Domingo da Quaresma - Ano B: "Entre a luz e as trevas".


Hoje é o domingo Laetare, isto é, da alegria. O motivo de nossa alegria é: Deus nos ama! Diz São Paulo: “Por causa do grande amor com que nos amou, quando estávamos mortos por causa de nossas faltas, ele nos deu a vida com Cristo.” (Ef 2,5).

E no Evangelho (Jo 3, 14-21), João nos apresenta a conclusão do diálogo de Jesus com Nicodemos: “ Como Moisés levantou a serpente no deserto, assim é necessário que o Filho do Homem seja levantado, para que todos os que nele crerem tenham a vida eterna. Pois Deus amou tanto o mundo que entregou o seu Filho único, para que não morra todo o que nele crer, mas tenha a vida eterna” (Jo 3, 14-16). A Palavra de Deus é uma Palavra de esperança sem limites. Deus nunca nos considera um caso perdido. Continua a convidar – nos para erguermos os olhos para um futuro de esperança, e promete – nos a força para o realizar.

Muitas vezes temos a impressão de que a maior parte da nossa vida passa-se entre a luz e as trevas. Aquela antiga expressão que afirmava que há pessoas que mantêm duas velas acessas, uma ao diabo e outra a S. Miguel, parece encontrar o seu correlativo na vida de um filho de Deus que procura ser bom e encontra frequentemente as dificuldades da jornada. Uma coisa é bem certa: é preciso apagar a vela ao diabo!

No interior do ser humano trava-se uma batalha constante e que poucas vezes dá trégua. Não é à toa que somos chamados “Igreja militante”, isto é, a família de Deus que luta, que combate, que quer viver sempre na luz ainda que as trevas queiram entrar no seu interior. “Aquele que pratica a verdade, vem para a luz” (Jo 3,21). Observemos que a passagem citada não diz “aquele que fala a verdade”, mas “aquele que pratica a verdade”. O que seria então “praticar” a verdade? Poderíamos resumir em poucas palavras: “viver conforme a verdade”.

Viver segundo a verdade de Deus é adaptar a nossa maneira de pensar, querer, sentir e agir à maneira de Jesus, pois ele é a verdade. Não nos esqueçamos de que no cristianismo, a verdade não é simplesmente um argumento, a verdade é uma pessoa: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida” (Jo 14,6). Viver conforme a verdade de Deus é pensar a própria vida segundo o plano de Deus que se manifestou suficientemente no mistério da Palavra de Deus que se encarnou para a nossa salvação.

Mas, como sabemos e experimentamos, não basta saber essas coisas, é preciso lutar para propor-se seriamente o seguimento de Jesus-Verdade. O ambiente no qual nos movemos oferece muitas atrações que não nos conduzem a bom porto, que não nos levam pelo caminho da salvação. O pecado frequentemente se assemelha a uma maçã que, estando podre por dentro, apresenta-se com belíssimo aspecto, bem atraente aos sentidos. O que fazer? Pedir a luz de Deus para vermos que tal fruta está podre, que não alimenta. O Evangelho de hoje ressalta justamente isso: andar na luz, que é sinônimo de andar na verdade.

O cristão tem que ser consciente de que sem a luz da fé na inteligência e sem a caridade na vontade, não fará o bem que almeja. Ninguém pode mover-se sobrenaturalmente sem a graça de Deus. É impossível! A nossa natureza, depois do pecado original, ficou estragada (não totalmente), posteriormente foi resgatada, e, contudo, nela permanece a ignorância e a concupiscência. Essas duas realidades são as que obscurecem a nossa inteligência e debilitam a nossa vontade. A fé vem para curar a ignorância e o amor de Deus vem para dar força à nossa vontade.

Os sofrimentos e as tribulações acompanham todos os homens na terra, mas o sofrimento, por si só, não transforma nem purifica; pode até causar revolta e ódio. Alguns cristãos separam-se do Mestre quando chegam até a Cruz, porque esperavam uma felicidade puramente humana, que estivesse isenta de dor e acompanhada de bens naturais.

Para O amarmos com obras, o Senhor pede-nos que percamos o medo à dor, às tribulações, e o procuremos onde Ele nos espera: na Cruz. A nossa alma ficará então mais purificada e o nosso amor mais forte. Então compreenderemos que a alegria está muito perto da Cruz. Mais ainda: que nunca seremos felizes se não amarmos o sacrifício.

Essas tribulações que, à luz exclusiva da razão, nos parecem injustas e sem sentido, são necessárias para a nossa santidade pessoal e para a salvação de muitas almas. No mistério da co-redenção, a nossa dor, unida aos sofrimentos de Cristo, adquire um valor incomparável para toda a Igreja e para toda a Humanidade. A dor, quando lhe damos o seu verdadeiro sentido, quando serve para amar mais, produz uma paz íntima e uma profunda alegria. Por isso, em muitas ocasiões, o Senhor abençoa-nos com a Cruz.

Nesta quaresma, tempo de conversão, é preciso ter em conta essa realidade: quem vive habitualmente na graça de Deus não está livre de todas as tentações, também ele se encontra exposto às trevas do pecado. Nunca percamos o bom senso: somos fracos, precisamos da luz e do amor de Deus. Não sejamos ingênuos: fujamos das ocasiões de pecados! Nada dizer: “não importa, eu resisto, pois eu sou forte”. Quantos heróis já foram derrotados por causa de uma confiança exagerada nas próprias forças!
 

quarta-feira, 11 de março de 2015

Papa explica valor e missão dos idosos na família


CATEQUESE
Praça São Pedro
Quarta-feira, 11 de março de 2015


Queridos irmãos e irmãs, bom dia.

Na catequese de hoje, prosseguimos a reflexão sobre os avós, considerando o valor e a importância do seu papel na família. Faço isso identificando-me com essas pessoas, porque também eu pertenço a essa faixa de idade.

Quando estive nas Filipinas, o povo filipino me saudava dizendo “Lolo Kiko” – isso é, vovô Francisco – “Lolo Kiko”, diziam! Uma primeira coisa é importante destacar: é verdade que a sociedade tende a nos descartar, mas certamente não o Senhor. O Senhor não nos descarta nunca. Ele nos chama a segui-Lo em cada idade da vida e mesmo a velhice contém uma graça e uma missão, uma verdadeira vocação do Senhor. A velhice é uma vocação. Não é ainda o momento de “tirar os remos do barco”. Este período da vida é diferente dos precedentes, não há dúvida; devemos também “criá-lo” um pouco, porque as nossas sociedades não estão prontas, espiritualmente e moralmente, para dar a isso, a esse momento da vida, o seu pleno valor. Uma vez, de fato, não era assim normal ter tempo à disposição; hoje é muito mais. E mesmo a espiritualidade cristã foi pega um pouco de surpresa e se trata de delinear uma espiritualidade das pessoas idosas. Mas graças a Deus não faltam os testemunhos de santos e santas idosos!

Fiquei muito impressionado com o “Dia para os idosos” que fizemos aqui na Praça São Pedro no ano passado, a praça estava cheia. Ouvi histórias de idosos que se gastam pelos outros e também histórias de casais de esposos que diziam: “Completamos os 50 anos de matrimônio, 60 anos de matrimônio”. É importante mostrar isso aos jovens que se cansam cedo; é importante o testemunho dos idosos na fidelidade. E nesta praça estavam tantos naquele dia. É uma reflexão a continuar, em âmbito seja eclesial seja civil. O Evangelho vem ao nosso encontro com uma imagem muito bela e comovente e encorajante. É a imagem de Simeão e de Ana, dos quais nos fala o Evangelho da infância de Jesus composto por Lucas. Eram certamente idosos, o “velho” Simeão e a “profetisa” Ana que tinha 84 anos. Esta mulher não escondia a idade. O Evangelho diz que esperavam a vinda de Deus todos os dias, com grande fidelidade, há muitos anos. Queriam propriamente vê-lo aquele dia, colher os sinais, intuir o início. Talvez estivessem um pouco resignados, por agora, a morrer primeiro: aquela longa espera continuava, porém, a ocupar toda a vida deles, não tinham compromissos mais importantes que isso: esperar o Senhor e rezar. Bem, quando Maria e José foram ao templo para cumprir as disposições da Lei, Simeão e Ana se moveram animados pelo Espírito Santo (cfr Lc 2, 27). O peso da idade e da espera desapareceu em um momento. Esses reconheceram o Menino e descobriram uma nova força, para uma nova tarefa: dar graças e dar testemunho para este Sinal de Deus. Simeão improvisou um belíssimo hino de júbilo (cfr Lc 2, 29-32) – foi um poeta naquele momento – e Ana se tornou a primeira pegadora de Jesus: “falava do menino a quantos esperavam a redenção de Jerusalém” (Lc 2, 38).