ORIENTE
E OCIDENTE PERANTE
O MISTÉRIO DO ESPÍRITO SANTO
O MISTÉRIO DO ESPÍRITO SANTO
Meditaremos hoje sobre a fé comum do Oriente e do
Ocidente no Espírito Santo e procuraremos fazê-lo "no Espírito", em
sua presença, sabendo que, como diz a Escritura, "antes mesmo de a nossa
palavra chegar à língua, ele já a conhece" (cf. Salmo 139, 4).
1. Rumo ao
acordo sobre o Filioque
Durante séculos, a doutrina sobre a origem do
Espírito Santo no seio da Trindade foi o ponto de maior atrito e tema de
acusações mútuas entre o Oriente e o Ocidente, por causa do famoso
"Filioque". Tentarei reconstruir o estado da questão para avaliar
melhor a graça que Deus está nos dando de chegar ao entendimento também neste
problema espinhoso.
A fé da Igreja no Espírito Santo foi definida, como
se sabe, no concílio ecumênico de Constantinopla, em 381, com as seguintes
palavras: "... e (cremos) no Espírito Santo, Senhor que dá a vida, que
procede do Pai e com o Pai e o Filho é adorado e glorificado, Ele que falou
pelos profetas"[1]. Esta fórmula contém a resposta para as duas perguntas
fundamentais sobre o Espírito Santo. À pergunta "Quem é o Espírito
Santo", responde-se que é "Senhor" (isto é, pertence à esfera do
Criador, não das criaturas), que procede do Pai e, na adoração, é igual ao Pai
e ao Filho; à pergunta "o que o Espírito Santo faz?", responde-se que
Ele "dá a vida" (o que resume toda a obra santificadora, interior e
renovadora do Espírito) e que "falou pelos profetas" (o que resume a
ação carismática do Espírito Santo).
Apesar destes elementos de grande valor, deve-se
dizer, no entanto, que o artigo reflete um estágio ainda provisório, se não da
fé, pelo menos da terminologia sobre o Espírito Santo. A lacuna mais óbvia é
que ainda não se atribui explicitamente ao Espírito Santo o título de
"Deus". O primeiro a lamentar esta reticência foi São Gregório Nazianzeno,
que, por conta própria, tinha escrito: "O Espírito é Deus? Certamente!
Então é consubstancial (homousion)? É claro que sim, se é verdade que Ele é
Deus"[2]. Esta lacuna foi preenchida na prática da Igreja, que, superados
os motivos contingentes que até então a tinham contido, não hesitou em atribuir
ao Espírito o título de "Deus" e em defini-lo como
"consubstancial" ao Pai e ao Filho.
Mas esta não era a única "lacuna". Do
ponto de vista da história da salvação, não deveria tardar em parecer estranho
que a única obra atribuída ao Espírito fosse a de ter "falado pelos
profetas", silenciando-se todas as suas outras obras e, especialmente, a
sua atividade no Novo Testamento, na vida de Jesus. Mais uma vez, o complemento
da fórmula dogmática ocorreu espontaneamente na vida da Igreja, como fica
evidente nesta epiclese da liturgia dita de São Tiago, em que se atribui ao
Espírito o título de consubstancial:
"Enviai... o vosso Santíssimo Espírito, Senhor
que dá a vida, que está sentado convosco, Deus e Pai, e com o vosso Filho
unigênito; que reina, consubstancial e coeterno. Ele falou na Lei, nos Profetas
e no Novo Testamento; desceu em forma de pomba sobre nosso Senhor Jesus Cristo
no rio Jordão, repousando sobre Ele, e desceu sobre os santos apóstolos... no dia
do Santo Pentecostes"[3].