terça-feira, 21 de abril de 2015

Padrinhos homossexuais


Os pais devem educar seus filhos na fé católica. Eles são os primeiros catequistas. Entretanto, na falta destes, a criança não pode ficar abandonada à própria sorte. Assim, instituiu-se a figura dos padrinhos de batismo, os quais assumem o encargo de conduzirem seus afilhados no caminho reto da doutrina cristã.

Para explicar com maior profundidade a natureza do encargo de padrinho, o Catecismo da Igreja Católica no número 1255 diz que:

“Para que a graça batismal possa desenvolver-se, é importante a ajuda dos pais. Este é também um papel do padrinho ou da madrinha, que devem ser cristãos firmes, capazes e prontos a ajudar, o novo batizado, criança ou adulto, em sua caminhada na vida cristã. A tarefa deles é uma verdadeira função eclesial (officium).”

É uma função de grande importância e, por isso, não pode ser ocupado por qualquer pessoa, é preciso que o escolhido para o encargo preencha certos requisitos ditados pelo Código de Direito Canônico:

Cânon 874 § 1. Para que alguém seja admitido para assumir o encargo de padrinho, é necessário que: 

– seja designado pelo batizando, por seus pais ou por quem lhes faz as vezes, ou, na falta deles, pelo próprio pároco ou ministro, e tenha aptidão e intenção de cumprir esse encargo;


– Tenha completado dezesseis anos de idade, a não ser que outra idade tenha sido determinada pelo Bispo diocesano, ou pareça ao pároco ou ministro que se deva admitir uma exceção por justa causa;


– seja católico, confirmado, já tenha recebido o santíssimo sacramento da Eucaristia e leve uma vida de acordo com a fé e o encargo que vai assumir;


– não tenha sido atingido por nenhuma pena canônica legitimamente irrogada ou declarada;


– não seja pai ou mãe do batizando; 

Homilética: 4º Domingo da Páscoa - Ano B: “… e as ovelhas O seguem, porque conhecem a sua voz” (Jo 10,4).


O Quarto Domingo da Páscoa é o domingo do Bom Pastor na qual a Igreja celebra também o Dia Mundial de Oração pelas Vocações. 

Lançando um olhar para a história, podemos constatar que no Antigo Oriente, os reis costumavam designar a si mesmos como pastores dos seus povos. No Antigo Testamento, Moisés e Davi, antes de serem chefes e pastores do Povo de Deus, foram efetivamente pastores de rebanhos.  Uma das imagens mais usadas no Antigo Testamento para expressar o cuidado de Deus para com o seu povo, sobretudo o carinho com que o conduziu da escravidão do Egito para a Terra Prometida, é a imagem do pastor. Encontramos essas imagens nos livros dos profetas Isaías e Ezequiel (cf. Ez 34,12ss) e, de uma maneira muito viva, no salmo 22, onde lemos: “O Senhor é meu pastor, nada me falta”. O Salmo vai descrevendo como o pastor guia seu rebanho para verdes pastagens e para águas tranquilas; leva-o por caminhos seguros; infunde-lhe confiança pelo cajado que empunha em sua mão; e, mesmo que seja preciso atravessar um vale escuro, o rebanho não tem medo, porque sabe que está sendo bem guiado.  De um lado está a dedicação total do pastor, e do outro, a confiança do rebanho.

No Evangelho (Jo 10, 11-18) ouvimos a palavra do próprio Cristo que nos fala em primeira pessoa: Eu sou o Bom Pastor! É uma catequese sobre a missão de Jesus: conduzir o homem às pastagens verdejantes e às fontes cristalinas, de onde brota a vida em plenitude.

O Bom Pastor aparece numa atitude de ternura com as ovelhas… Ele as conhece, as chama pelo nome, caminha com elas e estas O seguem. Elas escutam a Sua voz, porque sabem que as conduz com segurança.

Em contraste com o Pastor, aparece a figura dos ladrões e dos bandidos. São todos os que se apresentam como Pastor, ou até falam em nome de Cristo, mas procuram somente vantagens pessoais. Além do título de Bom Pastor, Cristo aplica-Se a Si mesmo a imagem da porta pela qual se entra no aprisco das ovelhas que é a Igreja. Ensina o Concílio Vaticano II:” A Igreja é o redil, cuja única porta e necessário Pastor é Cristo (LG,6). No redil entram os pastores e as ovelhas. Tanto os pastores como as ovelhas hão de entrar pela porta que é Cristo. 

Para os cristãos, o Pastor por excelência é Cristo: Ele recebeu do Pai a missão de conduzir o rebanho de Deus… Portanto, Cristo deve conduzir as nossas escolhas.

Quem nos conduz? Qual é a voz que escutamos? A voz da política, a voz da opinião pública, a voz do comodismo e da instalação, a voz dos nossos privilégios, a voz do êxito e do triunfo a qualquer custo, a voz da novela? A voz da televisão?

Cristo é o nosso Pastor! Ele conhece as ovelhas e as chama pelo nome, mantendo com cada uma delas uma relação muito pessoal. Diz – nos o Senhor: “Conheço as minhas ovelhas e elas me conhecem ” (Jo 10, 14). Verdadeiramente, Jesus “conhece – nos”, de maneira ainda mais profunda de quanto nos conhecemos a nós mesmos, e Ele tem um plano para cada um de nós. Sabemos também que onde quer que Ele nos chame, encontraremos felicidade e satisfação; com efeito, encontrar-nos-emos a nós próprios ( Mt 10, 39).

Todos os anos a Igreja nos faz recordar, esta definição que Jesus deu de si mesmo, sendo vista à luz da sua paixão, morte e ressurreição: “O bom pastor oferece a sua vida pelas ovelhas” (Jo 10, 11): estas palavras realizaram-se plenamente quando Cristo, obedecendo de maneira livre à vontade do Pai, se imolou na Cruz por cada uma das suas ovelhas.

Na última aparição, pouco antes da Ascensão, Cristo ressuscitado constitui Pedro como pastor do seu rebanho.  Cumpre-se então a promessa que fizera pouco antes da Paixão: “Mas eu roguei por ti, para que a tua fé não desfaleça; e tu, uma vez convertido, confirma os teus irmãos” (Lc 22,32).  E como bom pastor, conforme diz a tradição, Pedro também morrerá pelo seu rebanho. E às margens do lago de Tiberíades disse certa vez Jesus a Pedro: “Apascenta as minhas ovelhas” (Jo 21,16-17). Estas últimas palavras indicam como sua o mandato confiado a Pedro: Guardar todo o rebanho do Senhor.  E apascentar equivale a dirigir e governar. Pedro é constituído pastor e guia de toda a Igreja. Com isto, podemos dizer que também cada sacerdote é destinatário deste convite de Jesus no apascentar o rebanho que é todo e só do Senhor.

Talvez alguém se assustaria com a afirmação tão clara que os filhos da Igreja ousam dizer nos tempos atuais: a Igreja de Cristo é a Igreja Católica. Contudo, isso é verdade: a Igreja que Jesus Cristo quis e fundou é a Igreja Católica, a única Igreja de Cristo, entregue a Pedro e aos demais Apóstolos. “Esta Igreja, constituída e organizada neste mundo como uma sociedade, subsiste na (“subsistit in”) Igreja Católica governada pelo sucessor de Pedro e pelos Bispos em comunhão com ele” (LG 8).

Hoje é também jornada mundial de oração pelas vocações sacerdotais e religiosas. Peçamos ao Senhor, Bom Pastor, que dê à Igreja e ao mundo pastores segundo o seu coração, pastores que, nele e com ele, estejam dispostos a fazer da vida uma total entrega pelo rebanho; pastores que tenham sempre presente qual a única e imprescindível condição para pastorear o rebanho do Bom Pastor: “Simão, tu me amas? Apascenta as minhas ovelhas!” (Jo 21,15s). Eis a condição: amar o Pastor! Quem não é apaixonado por Jesus não pode ser pastor do seu rebanho! Não se trata de competência, de eficiência, de vedetismo ou brilhantismo; trata-se de amor! Se tu amas, então apascenta! Como dizia Santo Agostinho, “apascentar é ofício de quem ama”. 

A consequência desta identificação de Jesus como verdadeiro e bom Pastor, está ainda na afirmação que encontramos na segunda Leitura da liturgia da Palavra deste domingo: “Vede com que amor nos amou o Pai…” (1Jo 3,1). 

Que o Senhor nos dê os pastores que sejam viva imagem dele; que Cristo nos faça verdadeiras ovelhas do seu rebanho. 

Eleita a nova presidência da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil - CNBB


Dom Sérgio da Rocha é eleito novo presidente da CNBB

O arcebispo de Brasília (DF), dom Sérgio da Rocha, foi eleito na manhã desta segunda-feira, 20, como presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). O novo presidente foi escolhido ainda no primeiro escrutínio, após receber 215 votos, superando assim os 196 que corresponderam aos dois terços necessários para a eleição.

Currículo de dom Sérgio

O arcebispo de Brasília e novo presidente da CNBB nasceu em Dobrada, no estado de São Paulo, em 1959 e foi ordenado presbítero na Matriz do Senhor Bom Jesus de Matão (SP) em 1984.

Foi nomeado bispo pelo papa João Paulo II em 2001, como auxiliar de Fortaleza (CE) e sua ordenação episcopal foi realizada em agosto do mesmo ano, na Catedral de São Carlos (SP), pelos bispos ordenantes dom José Antônio Aparecido Tosi Marques, dom Joviano de Lima Júnior e dom Bruno Gamberini.

Em janeiro de 2007 o papa Bento XVI o nomeou como arcebispo coadjutor da arquidiocese de Teresina (PI). Também pelo papa Bento XVI, em 2011, foi nomeado para arcebispo metropolitano de Brasília.

Dom Sérgio estudou Filosofia no Seminário de São Carlos (SP) e Teologia na Pontifícia Universidade de Campinas (SP). O arcebispo é mestre em Teologia Moral pela Pontifícia Faculdade de Teologia Nossa Senhora da Assunção (SP) e doutor pela Academia Alfonsiana da Pontifícia Universidade Lateranense, em Roma.

Dom Sérgio tem como lema episcopal “Omnia in Caritate” – “Tudo na caridade”

segunda-feira, 20 de abril de 2015

Armênia: a crônica de um genocídio


No próximo dia 24 de abril, o mundo recordará os 100 anos do início do genocídio armênio, episódio espantoso em que morreu, vítima de um plano de aniquilação sistemática de todo um povo, um milhão e meio de homens, mulheres e crianças indefesas.

O papa Francisco celebrou no último domingo, 12 de abril, na Basílica de São Pedro, uma missa em memória de todas as vítimas, muitas das quais morreram confessando o nome de Jesus, como mártires cristãos dos tempos modernos. Cem anos depois daqueles acontecimentos trágicos, a verdade histórica do genocídio armênio ainda é controversa, quando não negada com obstinação. Através das vozes de pessoas que sofreram a ferocidade das perseguições, o livro “A marcha sem retorno - o genocídio armênio”, da jornalista italiana Franca Giansoldati, procura reconstruir a história.

Como você aborda a questão armênia no livro?

Franca Giansoldati: Eu sou repórter, não historiadora. Meu interesse pelo tema vem dos primeiros passos como jornalista na agência AdnKronos, quando me envolvi com a iniciativa do [político italiano] Giancarlo Pagliarini, que, em 1998, apresentou uma moção assinada por 165 deputados de diferentes partidos para que o parlamento italiano reconhecesse formalmente o genocídio armênio. A resolução foi aprovada em 2000, seguindo a que tinha sido aprovada pelo Parlamento Europeu. Depois, como vaticanista, eu acompanhei a preparação da visita de João Paulo II ao patriarca Karekin II, na Armênia, que foi fortemente obstaculizada pela Turquia. As palavras "genocídio" e "extermínio", que entraram na declaração conjunta pelos 1.700 anos da proclamação do cristianismo no país, puderam ser usadas depois de uma longa discussão da comitiva papal. Eu percebi, com o tempo, que a questão do genocídio armênio é desconhecida para a maioria das pessoas, mesmo para as pessoas com bom conhecimento cultural. O meu livro tem um propósito informativo: resumir a questão para quem não a conhece ou conhece pouco. E deixar as testemunhas falarem. As estatísticas, o milhão e meio de mortes causadas pela tentativa sistemática do Império Otomano de exterminar os armênios, não atinge as consciências. A extensão do horror é mais fácil de ser entendida por meio da voz de quem a viveu.

Por que o genocídio armênio é negado até hoje?

Franca Giansoldati: Existem razões históricas. O extermínio ocorreu nos anos da Primeira Guerra Mundial, quando a atenção das grandes potências europeias estava em outros lugares. Também há razões diplomáticas: nos tratados posteriores à guerra, a influência do líder turco Ataturk foi grande o suficiente para tirar a "questão armênia" da berlinda, apesar de que um tribunal da própria Turquia tivesse condenado em 1920 alguns dos responsáveis ​​pelos massacres. Existem também razões de ordem prática: não é secundário, hoje, na atitude revisionista da Turquia, o medo dos eventuais ressarcimentos que poderiam ser reclamados pelos descendentes dos armênios trucidados, que, pelo menos nas cidades do Império Otomano, representavam a elite econômica e financeira. Tudo isso fez com que se desviasse o olhar do que aconteceu e criou uma espécie de buraco na memória coletiva, que eu acredito que influenciou a história europeia do século XX até os dias atuais: inclusive no fenômeno do auto-intitulado Estado Islâmico. 

Bispos reunidos na 53ª Assembleia Geral da CNBB


Desde quarta-feira, dia 15 de abril, os bispos do Brasil estão reunidos junto ao Santuário de Aparecida, em São Paulo para a 53ª Assembleia Geral da CNBB - Conferência Nacional dos Bispos do Brasil. É um bonito momento de confraternização e troca de experiências entre os bispos além de ser o grande espaço para deliberar sobre os rumos da Igreja no atual momento da história.

Todos os bispos chegaram à Assembleia com a disposição de ajudar a Igreja a cumprir com sua missão evangelizadora. Cada qual trouxe as alegrias e preocupações específicas da sua Diocese e região. Em todos se percebe uma grande preocupação com o futuro do Brasil, onde, além das contínuas denúncias de corrupção cresce o ódio entre grupos políticos e ideológicos. Igualmente é visível a preocupação com o acirramento da violência no mundo, em particular com a perseguição sofrida pelos cristãos em regiões dominadas por grupos extremistas muçulmanos. Também não passa despercebida a preocupação com as classes trabalhadoras que vêem ameaçados alguns direitos com as medidas tomadas pelos governos para fazer frente à crise econômica que se instaurou no Brasil e nos Estados.

Vários são os temas que irão ocupar os bispos durante estes dias. Se nada vier em contrário deveremos firmar as Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil aprovadas em 2011, adaptando-as à Exortação Apostólica Evangelii Gaudium e inserindo elementos do discurso do Papa Francisco aos bispos durante a Jornada Mundial da Juventude. Pretendemos também avançar no debate do texto de Estudos sobre “Cristãos leigos e leigas na Igreja e na Sociedade”, publicado na Assembléia de 2014. Há a possibilidade de procedermos à publicação de um Documento Oficial. Além disso, a Assembléia é eletiva, o que significa que deveremos eleger a nova presidência da CNBB, que terá a missão de presidir a entidade nos próximos anos. E, como sempre acontece em nossas assembléias, lançaremos um olhar sobre a conjuntura e participaremos de um retiro sobre a missão do bispo na Igreja de hoje. 

História e presença da Igreja Sírian Ortodoxa de Antioquia em São Luís


Igreja Sírian Ortodoxa de Antioquia

No dia 27 de julho de 2012, Sua Eminência Mor José Faustino Filho, em comum acordo com os demais hierarcas do Brasil, proclamou durante o XVIII Sínido Ortodoxo Nacional realizado em Brasília – DF a aprovação da criação da Comunidade Santo Efrém, na cidade de São Luis do Maranhão, ficando esta a partir de então formalmente e reconhecidamente pela Igreja sob coordenação do então vocacionado Pablo e acompanhamento espiritual do corepíscopo Francisco Vale, do Santuário Theotokos, no Piauí.

Desde então a nascente comunidade na capital do Maranhão (fruto de um trabalho missionário realizado desde 2008) passou por grandes transformações, especialmente marcadas pela inauguração da Capela Sirian Ortodoxa Santo Efrém em outubro de 2013 com a presença do Raban Cristiano Lopes e pela recém visita de Sua Eminência Mor José Faustino pela primeira vez ao Maranhão, acompanhado do vigário geral da Igreja no Brasil abuna Paulo Milton Justus.[1]

A Igreja Ortodoxa Siríaca no Brasil[2]


A Igreja Sirian Ortodoxa de Antioquia chegou ao Brasil na década de 1950 com os imigrantes sírios e libaneses (a maioria cristãos ortodoxos ou maronitas) que formaram colônias e trouxeram suas comunidades religiosas para manter viva não somente sua cultura e língua, mas também a forma de crer e rezar de seus países de origem. O Maranhão, apesar de possuir um dos maiores números de descendentes de sírios e libaneses do Brasil, não formou colônias e nem comunidades religiosas, ao contrário de estados como São Paulo, Minas Gerais e Mato Grosso do Sul. Porém, com o tempo, os brasileiros começaram a conhecer a Igreja e sua forma de viver a fé cristã, começando então a fazer parte de suas comunidades, sendo hoje a Igreja Sirian Ortodoxa no Brasil uma Igreja não só para imigrantes, mas para todos, presente em 15 estados brasileiros e hoje, inclusive, no Maranhão.

Os evangélicos são mais católicos do que eles imaginam


A tradição é importante.

Como declaração sobre as bases da doutrina da Igreja, este comentário pode não soar muito surpreendente. Aliás, ele é bastante óbvio para os fiéis católicos e ortodoxos. Mas ele também evoca um grande paradoxo que existe no pensamento de uma numerosa e influente parcela dos cristãos do mundo inteiro: os evangélicos. Por mais surpresos e até chocados que eles possam ficar ao ouvir ou ler isto, o fato é que os evangélicos são muito mais católicos do que eles imaginam.

Os evangélicos se orgulham do alicerçar a sua fé somente na Bíblia. Este, afinal, é o núcleo da doutrina da “sola scriptura”, proposta pela reforma protestante. Se você acompanhar um debate evangélico, verá que esta questão não demora quase nada para surgir: “Onde é que esta afirmação consta na Bíblia? Indique o capítulo e o versículo”.

E aí é que está o problema. Os evangélicos acreditam de modo irrenunciável em doutrinas centrais da fé que não podem se basear simplesmente na escritura, pois se desenvolveram na tradição da Igreja. Depois de formulada uma crença, caso se queira, é possível pinçar versículos bíblicos para ampará-la, mas nunca se chegaria a essas posições doutrinárias por meio das escrituras sozinhas.

O exemplo mais óbvio é a própria Trindade, que os evangélicos consideram uma crença fundamental para qualquer cristão. No entanto, ela não aparece explicitamente na Bíblia. A sua única base bíblica é aquilo que ficou conhecido como “os parênteses joaninos”, uma menção abertamente trinitária feita em 1 Jo 5, 7-8, passagem consagrada no texto da Bíblia do rei James, de 1611. Mas os estudiosos sabem há séculos que aquelas palavras foram inseridas muito tardiamente no texto original. Nenhum escritor sério as cita hoje como autênticas.

Deixar esses parênteses de lado não gera dificuldade alguma para quem acredita na Trindade, que é uma doutrina muito arraigada na tradição da Igreja. A doutrina foi abraçada pelos cristãos no segundo século, em especial por padres apostólicos como Inácio e Justino Mártir. Falar de tradição da Igreja não significa, é claro, que tais figuras inventaram doutrinas para satisfazer os seus próprios propósitos obscuros. Ao contrário, como os teólogos católicos e ortodoxos sempre destacaram, a Igreja foi e é guiada pelo Espírito Santo. Sem essa crença no poder da tradição contínua, porém, como é que se poderia justificar a própria doutrina da Trindade?

domingo, 19 de abril de 2015

Papa no Regina Coeli: Testemunha é alguém que viu e deixou-se envolver


PAPA FRANCISCO
REGINA COELI

Praça São Pedro
III Domingo de Páscoa, 19 de Abril de 2015


Queridos irmãos e irmãs, bom dia!

Nas leituras bíblicas da liturgia de hoje ressoa duas vezes a palavra "testemunha". A primeira vez nos lábios de Pedro que após a cura do paralítico exclama: “Matastes o autor da vida, mas Deus ressuscitou-o dos mortos: nós somos testemunhas”. A segunda vez em que ouvimos a palavra “testemunhas” nas leituras deste domingo são pronunciadas pelo próprio Jesus Ressuscitado que na noite de Páscoa diz aos discípulos: “Disto vós sois testemunhas”.

Os Apóstolos, que viram com os próprios olhos Cristo ressuscitado, não poderiam silenciar a extraordinária experiência. Ele apareceu a eles a fim que a verdade de sua ressurreição chegasse a todos através do testemunho deles. E a Igreja tem o dever de prolongar esta missão; todo batizado é chamado a testemunhar com palavras e com a vida, que Jesus ressuscitou, que Jesus está vivo e presente no meio de nós. Todos nós somos chamados a dar testemunho de que Jesus está vivo.

Podemos perguntar: afinal, quem é uma testemunha? Testemunha é alguém que viu, que recorda e conta. Ver, recordar e contar são os três verbos que nos descrevem a identidade e a missão. A testemunha é alguém que viu, mas não com olhos indiferentes; viu e deixou-se envolver pelo evento. Por isto recorda, não somente porque sabe reconstruir em modo concreto os fatos que aconteceram, mas porque aqueles fatos falaram-lhe e ele colheu o seu sentido profundo. Então, a testemunha conta, não em maneira fria e destacada, mas como um que se deixou pôr em questão, e desde aquele dia mudou de vida.

O conteúdo do testemunho cristão não é uma teoria, não é uma ideologia ou um complexo sistema de preceitos e proibições ou moralismo, mas uma mensagem de salvação, um evento concreto, aliás uma pessoa: é Cristo Ressuscitado, vivo e único Salvador de todos. Ele pode ser testemunhado por aqueles que tiveram uma experiência pessoal com Ele, na oração e na Igreja, através de um caminho que tem o seu fundamento no Batismo, seu alimento na Eucaristia, o seu selo na Confirmação, a sua conversão contínua na Penitência. Graças a este caminho, sempre guiado pela Palavra de Deus, todo cristão pode se tornar testemunha de Jesus ressuscitado. E o seu testemunho é tanto mais credível quanto mais transparece um modo de viver evangélico, alegre, corajoso, manso, pacífico, misericordioso. Se, ao invés, o cristão se deixa tomar pelas comodidades, pela vaidade, pelo egoísmo, torna-se surdo e cego ao pedido de "ressurreição" de tantos irmãos, como poderá comunicar  Jesus Vivo, como poderá comunicar a potência libertadora de Jesus vivo e sua infinita ternura?

Maria nossa Mãe nos sustente com a sua intercessão, para que nos tornemos, com as nossas limitações, mas com a graça da fé, testemunhas do Senhor Ressuscitado, levando às pessoas que encontramos os dons pascais da alegria e da paz.