quarta-feira, 8 de julho de 2015

Levar a comunhão aos divorciados ou os divorciados à comunhão? (II Parte)


Dissemos anteriormente que a questão da comunhão dada aos divorciados e novamente casados não é central na pastoral familiar, além de ser uma discussão anacrônica. O mesmo ensino da Familiaris Consortio aparece no Catecismo da Igreja Católica, n.º 1650 (de 1992); na Carta Annus internationalis Familiae da Congregação para a Doutrina da Fé de 1994[1]; e no documento de 1998 da mesma Congregação, o qual respondia às objeções levantadas àqueles documentos[2]. Importante também é um documento do Conselho Pontifício para os Textos Legislativos sobre a admissão à santa Comunhão dos fiéis divorciados que contraíram novas núpcias, de 24 de junho de 2000[3]; o mesmo tema foi discutido no Sínodo sobre a Eucaristia do ano 2005 e a mesma decisão foi expressa no número 29 da Exortação Apostólica pós-sinodal Sacramentum Caritatis[4].

A declaração do Conselho Pontifício para os Textos Legislativos esclarece o sentido do cânon 915 do Código de Direito Canônico, o qual declara: «Não sejam admitidos à sagrada comunhão os excomungados e os interditos, depois da aplicação ou declaração da pena, e outros que obstinadamente perseverem em pecado grave manifesto». E interpreta aquele texto com a seguinte norma: «A proibição feita no citado cânon, por sua natureza, deriva da lei divina e transcende o âmbito das leis eclesiásticas positivas: estas não podem introduzir modificações legislativas que se oponham à doutrina da Igreja». E adiante esclarece o sentido da mesma norma: «considerando a natureza da já mencionada norma, nenhuma autoridade eclesiástica pode dispensar em caso algum desta obrigação do ministro da sagrada Comunhão, nem emanar diretrizes que a contradigam».

Poderia, pois, ser alteradas a disciplina da Igreja sobre a Comunhão dada aos divorciados que contrariam novas núpcias? Se isso ocorresse, não há dúvidas de que causaria muita confusão entre os fiéis e pastores da Igreja. Pois objetivamente implantaria contradições no Magistério da Igreja e criaria um clima de instabilidade doutrinal a ser curado em longo prazo. Mas vale a pena assumir uma contradição para resolver um problema que é cada vez mais raro? Além disso, a questão principal não é estatística, mas da verdade revelada. E a dita contradição não poderia levar os fiéis a pensar que a doutrina e a disciplina católicas dependem do gosto pessoal do legislador do momento, e que não seria algo objetivo e desenvolvido harmonicamente, a partir dos ensinamentos de Jesus Cristo?

E os pastores que sempre pretendem obedecer ao Magistério teriam que enfrentar um grave problema de consciência: a qual posicionamento obedecer? Ao mais antigo ou ao mais recente? Se há rupturas no ensinamento, caberia a pergunta: qual deles está expressando a sabedoria e a vontade de Cristo? Isso não levaria a cada um fazer o que bem entender? Os que não tiverem essas dificuldades e se adaptarem sem dificuldades à última legislação, mesmo se contraditória com as anteriores, demonstrariam falta de convicções sólidas. Mas isso ajudaria realmente o povo católico ou causaria mais confusão? 

terça-feira, 7 de julho de 2015

Na íntegra, homilia do Papa pela evangelização dos povos


Homilia

Viagem apostólica do Papa Francisco
Parque Bicentenário, Quito, Equador

Terça-feira, 7 de Julho de 2015

A Palavra de Deus convida-nos a viver a unidade para que o mundo acredite.

Imagino aquele sussurro de Jesus na Última Ceia como um grito nesta Missa que celebramos no «Parque do Bicentenário». O Bicentenário daquele Grito de Independência da Hispano-América. Foi um grito, nascido da consciência da falta de liberdade, de estar a ser espremidos e saqueados, «sujeitos às conveniências dos poderosos de turno» (EG 213).

Quereria que hoje os dois gritos coincidissem sob o belo desafio da evangelização. Não a partir de palavras altissonantes, nem com termos complicados, mas que nasça da «alegria do Evangelho», que «enche o coração e a vida inteira daqueles que se encontram com Jesus. Quantos se deixam salvar por Ele são libertados do pecado, da tristeza, do vazio interior, do isolamento» (EG 1). Nós todos juntos, aqui reunidos à volta da mesa com Jesus, somos um grito, um clamor nascido da convicção de que a sua presença nos impele para a unidade, «indica um horizonte estupendo, oferece um banquete desejável» (EG 14).

«Pai, que sejam um, para que o mundo creia»: assim o almejou, levantando os olhos ao céu. A Jesus brota-Lhe este pedido num contexto de envio: Como Tu me enviaste ao mundo, Eu também os enviei ao mundo. Naquele momento, o Senhor experimenta na sua própria carne o pior deste mundo que Ele, apesar de tudo, ama loucamente: intrigas, desconfianças, traição, mas não esconde a cabeça, não se lamenta. Também nós constatamos no dia-a-dia que vivemos num mundo dilacerado pelas guerras e a violência. Seria superficial pensar que a divisão e o ódio afectam apenas as tensões entre os países ou os grupos sociais. Na realidade, são manifestação daquele «generalizado individualismo» que nos separa e coloca uns contra os outros (cf. Evangelii gaudium, 99), da ferida do pecado no coração das pessoas, cujas consequências fazem sofrer também a sociedade e a criação inteira. É precisamente a este mundo desafiador que Jesus nos envia, e a nossa resposta não é fazer-nos de distraídos, argumentar que não temos meios ou que a realidade nos supera. A nossa resposta repete o clamor de Jesus e aceita a graça e a tarefa da unidade.

Àquele grito de liberdade, que prorrompeu há pouco mais de 200 anos, não lhe faltou convicção nem força, mas a história conta-nos que só se tornou contundente quando deixou de lado os personalismos, o afã de lideranças únicas, a falta de compreensão doutros processos libertadores com características diferentes, mas não por isso antagônicas. 

Discurso do Papa Francisco por ocasião da visita à Catedral de Quito


VIAGEM APOSTÓLICA DO PAPA FRANCISCO
AO EQUADOR, BOLÍVIA E PARAGUAI
(5-13 DE JULHO DE 2015)

VISITA À CATEDRAL DE QUITO

SAUDAÇÃO DO SANTO PADRE
ÀS PESSOAS REUNIDAS NA PRAÇA DA CATEDRAL

Equador
Segunda-feira, 6 de Julho de 2015


Queridos irmãos!

Venho a Quito como peregrino, para partilhar convosco a alegria de evangelizar. Saí do Vaticano saudando a imagem de Santa Mariana de Jesus, que, no exterior da abside da Basílica de São Pedro, vela pelo caminho que o Papa percorre tantas vezes. A Ela, recomendei também o fruto desta viagem, pedindo-lhe que todos nós pudéssemos aprender com o seu exemplo. O seu sacrifício e a sua heróica virtude são representados por uma açucena. Mas, na sua imagem em São Pedro, carrega um ramo de açucenas, porque juntamente com a dela apresenta ao Senhor, no coração da Igreja, as flores que sois todos vós, as flores do Equador.

Os Santos convidam-nos a imitá-los, a seguir a sua escola, como fizeram Santa Narcisa de Jesus e a Beata Mercedes de Jesus Molina, que se sentiram interpeladas pelo exemplo de Santa Mariana. Quantos daqueles que estão aqui hoje sofrem ou sofreram a orfandade, quantos tiveram que tomar a seu cargo irmãos ainda pequenos, quantos se empenham diariamente no cuidado dos enfermos ou idosos; assim o fez Mariana, assim a imitaram Narcisa e Mercedes. Não é difícil, se Deus está connosco. Elas não fizeram grandes proezas, aos olhos do mundo. Simplesmente amaram muito, demonstrando-o no dia-a-dia até chegarem a tocar a carne sofredora de Cristo no povo (cf. Evangelii gaudium24). Não o fizeram sozinhas; fizeram-no «junto com» outros; as pedras, escultura e alvenaria desta catedral foram feitas por meio da forma própria dos povos nativos: a «minga», um trabalho de todos a favor da comunidade, anónimo, sem cartazes nem aplausos. Queira Deus que, tal como as pedras desta catedral, assim ponhamos aos ombros as necessidades dos outros, assim ajudemos a construir ou reparar a vida de tantos irmãos que não têm forças para a construir ou a deixam por terra. 

Família é uma riqueza social insubstituível, diz Papa no Equador


VIAGEM APOSTÓLICA DO PAPA FRANCISCO
AO EQUADOR, BOLÍVIA E PARAGUAI
(5-13 DE JULHO DE 2015)

SANTA MISSA
HOMILIA

Parque Samanes, em Guayaquil, Equador.
Segunda, 6 de Julho de 2015


A passagem do Evangelho que acabámos de ouvir é o primeiro sinal portentoso que se realiza segundo a narrativa do Evangelho de João. A preocupação de Maria, transformada em súplica a Jesus: «Não têm vinho!» e a referência à «hora» compreender-se-ão nos relatos da Paixão.

É bom que assim seja, porque permite-nos ver a ânsia de Jesus por ensinar, acompanhar, curar e alegrar a começar da súplica de sua Mãe: «Não têm vinho!»

As bodas de Caná repetem-se em cada geração, em cada família, em cada um de nós e nossas tentativas de fazer com que o nosso coração consiga apoiar-se em amores duradouros, fecundos e felizes. Demos um lugar a Maria, «a mãe», como diz o evangelista. Façamos com Ela o itinerário de Caná.

Maria está atenta naquelas bodas já iniciadas, é solícita pelas necessidades dos esposos. Não Se fecha em Si mesma, não Se encerra no seu mundo; o seu amor fá-La «ser para» os outros. E não busca as amigas para comentar o que está passando e criticar a má preparação do casamento. E como está atenta, com sua discrição, se dá conta da falta de vinho. O vinho é sinal de alegria, de amor, de abundância. Quantos dos nossos adolescentes e jovens percebem que, em suas casas, há muito que não existe nenhum! Quantas mulheres, sozinhas e tristes, se interrogam quando foi embora o amor, quando se diluiu da sua vida! Quantos idosos se sentem deixados fora da festa das suas famílias, abandonados num canto e já sem beber do amor diário dos seus filhos, dos seus netos, dos seus bisnetos. A falta de vinho pode ser efeito também da falta de trabalho, doenças, situações problemáticas que as nossas famílias atravessam. Maria não é uma mãe «reclamadora», não é uma sogra que espia para se consolar com as nossas inexperiências, erros ou descuidos. Maria simplesmente é mãe! Se animam a dizer junto comigo? (E o Papa convidou a todos a repetirem 3 vezes: “Maria é Mãe”) Permanece ao nosso lado, atenta e solícita.

Maria, porém, dirige-Se com confiança a Jesus, Maria reza. Não vai ao chefe de mesa; apresenta a dificuldade dos esposos diretamente a seu Filho. A resposta que recebe parece desalentadora: «Que tem isso a ver contigo e comigo? Ainda não chegou a minha hora» (v. 4). Mas, entretanto, já deixou o problema nas mãos de Deus. A sua solicitude pelas necessidades dos outros apressa a «hora» de Jesus. Parte desta hora, desde o presépio até à cruz – Ela soube «transformar um curral de animais na casa de Jesus, com uns pobres paninhos e uma montanha de ternura» (EG 286), e recebeu-nos como filhos quando uma espada Lhe trespassava o coração –, Maria ensina-nos a deixar as nossas famílias nas mãos de Deus; a rezar, acendendo a esperança que nos indica que as nossas preocupações também preocupam a Deus.

Rezar sempre nos arranca do perímetro das nossas preocupações, fazendo-nos transcender aquilo que nos magoa, agita ou falta a nós mesmos para nos colocarmos na pele dos outros, calçarmos os seus sapatos. A família é uma escola onde a oração também nos lembra que há um nós, que há um próximo vizinho, patente: vive sob o mesmo teto, compartilha a vida e está necessitado. 

Como será a composição religiosa do mundo em 2050?


O instituto norte-americano de pesquisas Pew Research Center (PRC) fez uma projeção da situação religiosa do mundo dentro de 35 anos, considerando as oito religiões mais influentes da atualidade (que continuarão sendo as mais influentes durante todo este século).

A pesquisa se baseia em uma série de variáveis demográficas como fertilidade, pirâmides etárias e expectativa de vida nos 198 países do planeta, além de levar em conta a mudança de religião e a migração entre países.

Os muçulmanos são o grupo religioso que cresce com mais rapidez, por terem a taxa de fecundidade mais alta e a população mais jovem. A previsão é de que eles passem de 1,6 bilhão de pessoas (23% da população mundial) em 2010 para 2,7 bilhões (30% da humanidade) em 2050.

Se as estatísticas e matrizes do PRC estiverem certas, os cristãos em 2050 continuarão sendo a população majoritária do planeta, mas os muçulmanos já estarão muito próximos.

Em 2010, os 2,17 bilhões de cristãos representavam 31,4% da população do planeta; em 2050, haverá 2,92 bilhões de cristãos, mas eles representarão os mesmos 31,4% da população.

Um ponto interessante da pesquisa é que, embora a população cristã deva permanecer estável em termos de porcentagem da população global, o prognóstico do PRC destaca que a distribuição geográfica dos cristãos terá mudanças relevantes.

Cerca de 38% dos cristãos de todo o planeta viverão na África subsaariana em 2050. Trata-se de um aumento de 24% na quantidade de cristãos que moravam nessa região em 2010.

Por outro lado, a Europa continuará vendo o declínio da religião que formou a sua identidade. O cristianismo europeu, que já caiu de 66% da população em 1910 para 26% em 2010, deverá englobar apenas 16% da população do continente em 2050. 

segunda-feira, 6 de julho de 2015

Missa na Sé de São Paulo (SP) homenageia padre que lutou pelos direitos das mulheres e curou idosa com doença degenerativa


Após ser beatificado em Veneza, com celebração que reuniu mais de 5 mil pessoas na praça São Marco, Padre Luiz Caburlotto terá missa em 12 de julho, na Catedral da Sé (SP), a ser presidida por Dom Odilo. Caburlotto foi o primeiro a investir na educação para meninas como forma de tirá-las da extrema pobreza, ao fundar o Instituto Filhas de São José, no século 19.

O milagre

Maria Grazia em 2001,
 antes de receber o milagre.
“Ao amanhecer de 12 de fevereiro de 2008, não sei se em sonho, ou melhor, talvez meio dormindo, tive uma visão em que me parecia a figura do Caburlotto no jardim do prédio onde moro. Instintivamente, sempre no sonho, procurava aproximar-me dele sem sucesso, mas de repente eu senti como um empurrão e ele com uma voz autoritária me disse: ‘Caminha’. Para dizer a verdade, na hora eu fiquei com medo porque praticamente me acordei de sobressalto, mas então cumpri a ordem e, não sentindo as dores de costume nos membros, eu saí da cama sem a ajuda da bengala e comecei a me movimentar pela casa”. Essa foi a forma que Maria Grazia Veltraino, hoje com 84 anos, contou o milagre para os peritos do Vaticano.

Em 1999, Maria Grazia Veltraino, que sofria de dermatomiosite – uma doença crônica nos músculos que leva à paralisia -, foi desenganada pelos médicos. As condições clínicas e físicas da idosa eram de imobilidade quase total. Ela foi piorando progressivamente, ficou em estado caquético por volta de 2001, chegando a pesar 24kg.  Devido à impossibilidade total de caminhar, necessitou do uso constante de uma cadeira de rodas e da ajuda de uma cuidadora.

Maria Grazia em 2015,
dançando ao lado das irmãs
Filhas de São José,
sete anos depois de receber
 o milagre que levou
Caburlotto à beatificação.
Quando o milagre aconteceu, em 2008, o caso foi levado ao Vaticano, que designou peritos médicos para analisar todos os exames feitos com Maria Grazia. Após mais de seis anos de investigação, conversando com todos os envolvidos, o caso foi reconhecido como verdadeiro milagre, ou seja, quando não é encontrado nenhum tipo de indício científico que justifique o que aconteceu. Este primeiro milagre somado à obra do padre pelo direito da mulher à educação e trabalho digno renderam a ele a posição de beato da igreja católica. A cerimônia de beatificação aconteceu no último mês de maio e reuniu mais de 5 mil fieis, na Catedral de San Marco, em Veneza, Itália, terra natal de Luís Caburlotto. No Brasil, a Igreja reconhece a importância de sua obra e celebra no próximo dia 12 de julho, às 11h, uma missa, na Catedral da Sé, a ser presidida por Dom Odilo.

Caburlotto teve um importante papel na vida de jovens de baixa renda do século 19, quando fundou o Instituto Filhas de São José. Antes de morrer, um de seus últimos pedidos foi que a obra fosse levada à América Latina, mais especificamente ao Brasil. Então, em 1927, chegaram da Itália as Irmãs Filhas de São José, ao interior de São Paulo, e deram início ao trabalho educativo junto às crianças e adolescentes, seja na educação, na catequese ou nos grupos paroquiais.

Maria Grazia em 2015, caminhando pelas ruas de Veneza 
durante a semana da beatificação de Luis Caburlotto.

Discurso do Papa Francisco ao chegar no Equador


VIAGEM APOSTÓLICA DO PAPA FRANCISCO
AO EQUADOR, BOLÍVIA E PARAGUAI
(5-13 DE JULHO DE 2015)

CERIMÔNIA DE BOAS-VINDAS

DISCURSO DO SANTO PADRE

Aeroporto Internacional “Mariscal Sucre” de Quito, Equador
Domingo, 5 de Julho de 2015



Senhor Presidente,
Ilustres Autoridades do governo,
Irmãos no Episcopado,
Senhoras e senhores, amigos todos!

Dou graças a Deus por me ter permitido voltar à América Latina e estar aqui hoje convosco, nesta linda terra do Equador. Sinto alegria e gratidão pelas vossas calorosas boas-vindas: é mais uma prova do carácter acolhedor que tão bem define as pessoas desta nobre nação.

Agradeço, Senhor Presidente, as suas palavras – agradeço-lhe a sintonia com o meu pensamento; citou-me até demais, obrigado! – que retribuo com votos de todo o bem para o exercício da sua missão: possa conseguir o que deseja para o bem do seu povo. Saúdo cordialmente as ilustres Autoridades do Governo, os meus Irmãos Bispos, os fiéis da Igreja no país e todos aqueles que hoje me abrem as portas do seu coração, da sua casa e da sua Pátria. A todos vós, o meu reconhecimento afetuoso e sincero.

Visitei o Equador em diferentes ocasiões por motivos pastorais; e também hoje venho como testemunha da misericórdia de Deus e da fé em Jesus Cristo. A mesma fé que, durante séculos, modelou a identidade deste povo e deu muitos frutos bons, entre os quais se destacam figuras insignes como Santa Mariana de Jesus, o santo irmão Miguel Febres, Santa Narcisa de Jesus ou a Beata Mercedes de Jesus Molina, beatificada em Guayaquil, trinta anos atrás, durante a visita do Papa São João Paulo II. Eles viveram a fé com intensidade e entusiasmo e, praticando a misericórdia, contribuíram para melhorar, em diferentes áreas, a sociedade equatoriana do seu tempo.

Hoje, também nós podemos encontrar no Evangelho as chaves que nos permitam enfrentar os desafios atuais, avaliando as diferenças, fomentando o diálogo e a participação sem exclusões, para que as realizações alcançadas no progresso e desenvolvimento se consolidem e possam garantir um futuro melhor para todos, prestando especial atenção aos nossos irmãos mais frágeis e às minorias mais vulneráveis, uma dívida que tem ainda toda a América Latina. Para isso, Senhor Presidente, poderá contar sempre com o empenho e a colaboração da Igreja, servindo este povo equatoriano que com tanta dignidade se levantou. 

Por que a Virgem Maria enfurece as feministas?


Por que tantas mulheres de hoje parecem infelizes? Nas várias vezes em que me questionam isto, eu opino que talvez elas não tenham encontrado respostas adequadas para a pergunta "O que as mulheres querem?" e para outra pergunta mais importante ainda: "De que as mulheres precisam?".

Eu considero que a resposta vívida e fulgurante para estas perguntas está em Maria, Virgem e Mãe. Esta sugestão teria sido corriqueira algumas gerações atrás, mas hoje é problemática até mesmo dentro alguns círculos católicos, além de vastamente desprezada por grandes segmentos do feminismo laicista. Aliás, chega a ser surpreendente que haja paralelos entre a desconfiança católica a respeito de Maria e a pura e simples rejeição dela por grande parte das feministas laicas.

O principal ponto de discórdia são os títulos tradicionais de Maria como Virgem e Mãe.

A virgindade, como virtude louvável e mesmo como ideal, enfrenta tempos difíceis, inclusive em ambientes autoidentificados como "católicos". Por quê? Sejamos francos: no mundo ocidental contemporâneo, todos nós fomos submersos, ao longo dos últimos cinquenta anos, na cultura do “todo mundo faz” (em referência, neste caso, ao sexo fora do casamento). Assim, dizer que Maria, como Virgem, é um modelo sublime para restaurar a felicidade que Deus quer para as mulheres é algo difícil de vender nestes círculos. Mas não é impossível.

Faz alguns anos, Sarah Hinlicky escreveu um ensaio fascinante e sábio intitulado "Virgindade subversiva" (algum tempo depois, ela ainda escreveria outro belo ensaio sobre a virgindade masculina). Em seu texto, ela resume a visão do feminismo laicista sobre a sexualidade, uma perspectiva que tomou conta também de alguns indivíduos e comunidades autodenominados católicos:

De acordo com a herança da visão feminista, a sexualidade deve ser entendida mediante os conceitos-irmãos de “poder” e “escolha”. Não é uma questão banalmente biológica de gerar filhos, nem uma noção mais elevada de criar intimidade e confiança. Às vezes, parece que o sexo não precisa sequer ser prazeroso. O objetivo da sexualidade feminina seria afirmar seu poder sobre os homens infelizes, para fins de controle, vingança, prazer egocêntrico ou imposição de um compromisso. A mulher que deixa de se expressar na sua atividade sexual se tornaria vítima de uma sociedade machista, que pretenderia, por sua vez, impedir as mulheres de se tornarem poderosas. Por outro lado, dizem ainda as feministas laicas, a mulher que se torna sexualmente ativa descobre o seu poder sobre os homens e, supostamente, o exerce para a sua valorização pessoal.