Após ser beatificado em
Veneza, com celebração que reuniu mais de 5 mil pessoas na praça São Marco,
Padre Luiz Caburlotto terá missa em 12 de julho, na Catedral da Sé (SP), a ser
presidida por Dom Odilo. Caburlotto foi o primeiro a investir na educação para
meninas como forma de tirá-las da extrema pobreza, ao fundar o Instituto Filhas
de São José, no século 19.
O milagre
Maria Grazia em 2001,
antes de receber o milagre.
|
“Ao amanhecer de 12 de fevereiro de 2008, não sei se em sonho, ou melhor,
talvez meio dormindo, tive uma visão em que me parecia a figura do Caburlotto
no jardim do prédio onde moro. Instintivamente, sempre no sonho, procurava
aproximar-me dele sem sucesso, mas de repente eu senti como um empurrão e ele com
uma voz autoritária me disse: ‘Caminha’. Para dizer a verdade, na hora eu
fiquei com medo porque praticamente me acordei de sobressalto, mas então cumpri
a ordem e, não sentindo as dores de costume nos membros, eu saí da cama sem a
ajuda da bengala e comecei a me movimentar pela casa”. Essa foi a forma que
Maria Grazia Veltraino, hoje com 84 anos, contou o milagre para os peritos do
Vaticano.
Em 1999, Maria Grazia Veltraino, que sofria de
dermatomiosite – uma doença crônica nos músculos que leva à paralisia -, foi
desenganada pelos médicos. As condições clínicas e físicas da idosa eram de
imobilidade quase total. Ela foi piorando progressivamente, ficou em estado
caquético por volta de 2001, chegando a pesar 24kg. Devido à
impossibilidade total de caminhar, necessitou do uso constante de uma cadeira
de rodas e da ajuda de uma cuidadora.
Maria Grazia em 2015, dançando ao lado das irmãs Filhas de São José, sete anos depois de receber o milagre que levou Caburlotto à beatificação. |
Quando o milagre aconteceu, em 2008, o caso foi
levado ao Vaticano, que designou peritos médicos para analisar todos os exames
feitos com Maria Grazia. Após mais de seis anos de investigação, conversando
com todos os envolvidos, o caso foi reconhecido como verdadeiro milagre, ou
seja, quando não é encontrado nenhum tipo de indício científico que justifique
o que aconteceu. Este primeiro milagre somado à obra do padre pelo direito da
mulher à educação e trabalho digno renderam a ele a posição de beato da igreja
católica. A cerimônia de beatificação aconteceu no último mês de maio e reuniu
mais de 5 mil fieis, na Catedral de San Marco, em Veneza, Itália, terra natal
de Luís Caburlotto. No Brasil, a Igreja reconhece a importância de sua obra e
celebra no próximo dia 12 de julho, às 11h, uma missa, na Catedral da Sé, a ser
presidida por Dom Odilo.
Caburlotto teve um importante papel na vida de
jovens de baixa renda do século 19, quando fundou o Instituto Filhas de São
José. Antes de morrer, um de seus últimos pedidos foi que a obra fosse levada à
América Latina, mais especificamente ao Brasil. Então, em 1927, chegaram da
Itália as Irmãs Filhas de São José, ao interior de São Paulo, e deram início ao
trabalho educativo junto às crianças e adolescentes, seja na educação, na
catequese ou nos grupos paroquiais.
Maria Grazia em
2015, caminhando pelas ruas de Veneza
durante a semana da beatificação de Luis
Caburlotto.
|
Um
verdadeiro missionário
O arcebispo de Veneza, Francesco Moraglia, na missa
de beatificação, aplicou a Luís Caburlotto os pensamentos do papa Francisco.
“Esse sacerdote foi um verdadeiro missionário, que saiu ao encontro das pessoas
nas periferias e se fez próximo delas; foi um verdadeiro bom pastor, com “o
cheiro das ovelhas”, que se dedicou a elas com todas as suas energias”.
Padre Luís Carbulloto |
Caburlotto mudou o rumo de vida de milhares de
crianças e adolescentes que tinham o futuro comprometido pela miséria, pelo
abandono e pela falta de oportunidade para ascender profissionalmente. Quando
iniciou sua obra, em meados do século 19, na paróquia San Giacomo dell’Orio, na
época uma região pobre de Veneza, a primeira preocupação do padre foi dar
educação às meninas de baixa renda, vítimas de frequentes abusos. Foi então
que, com apoio de três fiéis leigas, criou a primeira escola de caridade
exclusiva para meninas de baixa renda, o Instituto das Filhas de São José. Além
de introduzirem leitura e escrita, essas mulheres também ensinavam noções de matemática
e um pequeno ofício às meninas, a fim de que adquirissem conhecimento e
autonomia para uma vida com mais oportunidades. Caburlotto tinha convicção de
que se uma menina fosse salva, uma família também seria salva ao mesmo tempo.
A mulher constrói ou destrói a casa, esta era a
minha convicção. Precisava tirar as meninas da triste condição de
“instrumentos úteis” e abrir para elas caminhos, para percorrerem
estradas que as levassem a tornarem-se mulheres conscientes da própria dignidade
e força”, Pe. Caburlotto.
Maria Grazia
como personificação da obra de Caburlotto
Entre tantas, Maria Grazia Veltraino foi escolhida
para receber tamanha graça vinda de Luís Caburlotto. Para quem conhece a obra
do padre e a compara com a história de Maria Grazia, tudo fica mais claro – a
vida dela é a personificação da história de vida de milhares de meninas que
foram abraçadas pela causa de Caburlotto. Quando questionada sobre o porquê do
milagre ter acontecido justamente com ela, a resposta é sempre a mesma, “O milagre
não foi para mim, foi para o Instituto Filhas de São José”, diz Maria Grazia
Veltraino.
Órfã aos 6 anos, Maria Grazia viveu em um abrigo,
de onde teve de sair ao completar 18 anos. Ao ir para a rua, vivia de bicos,
tentando sobreviver, mas estava vivendo em uma situação de extrema pobreza.
Nessa época, em uma escadaria nas ruas de Roma, Madre Girolama Paladin, do
Instituto Filhas de São José encontrou Maria Grazia e a convidou para conhecer
uma das casas de apoio. Mesmo relutante, Grazia aceitou. Com o tempo, se tornou
parte daquela comunidade. No Instituto, recebeu estudos, formou-se como
enfermeira e começou a trabalhar na área. Com ajuda daquela comunidade, também
conseguiu comprar seu apartamento em Roma, onde vive até hoje.
Assim como as meninas abandonadas na região do
porto de Veneza, a história de Maria Grazia, que começou pelo abandono ainda na
infância e falta de oportunidades durante a vida, foi transformada pela obra de
Luis Caburlotto. Muito antes de ficar enferma, um verdadeiro milagre já havia
acontecido com ela desde o momento em que foi encontrada por uma das Filhas de
São José. Maria Grazia criou uma intimidade espiritual muito forte com o padre
e, apesar de serem de épocas diferentes, o trabalho que ele desenvolveu no
século 19 foi capaz de salvar a sua vida e esta, por sua vez, nunca deixou de
rezar pelo padre, sempre conversando com ele, pedindo pela sua interseção
durante as orações.
Canonização
x Beatificação
Muitos confundem a canonização e a beatificação. O
que acontecerá no dia 16 de maio, em Veneza, será a Beatificação do Padre Luís
Caburlotto, que é o reconhecimento feito pela Igreja de que a pessoa a quem é
atribuída pode interceder por aqueles que lhe recorrem em oração. Para se
tornar beato, é necessária a comprovação de um milagre por sua intercessão,
além da obra que desenvolveu durante a vida. Uma vez atingida essa condição,
procede-se o processo de canonização. Aqui no Brasil, quem passa por esse
processo é a Irmã Dulce, beata nascida na Bahia, que está com três milagres
sendo analisados por peritos do Vaticano. Se comprovados, Irmã Dulce será a
segunda santidade brasileira - a primeira foi Frei Galvão, santificado por
Bento 16, em 2007. Segundo o Código Canônico, alguém só pode ser canonizado, ou
seja, se tornar santo, graças a um milagre ocorrido após a santificação. É esse
o processo pelo qual Caburlotto passará daqui para frente.
Sobre o
Instituto das Filhas de São José
Em 30 de abril de 1850, foi fundado o Instituto das
Filhas de São José pelo Pe. Luís Caburlotto. Desde então, a educação
proporcionada pelo Instituto é uma via de acesso para que o educando aprenda a
ocupar o seu lugar no mundo, presente e futuro, sendo protagonista em seu
aprendizado e na sua história pessoal a fim de engajar-se construtivamente na
sociedade. No Brasil desde 1927, o Instituto já conta 37 irmãs presentes em
seis comunidades religiosas, atuando na administração de escolas, obras sociais
e nas paróquias, colaborando com a catequese, a liturgia, o grupo de jovens,
dentre outras ações.
________________________________
Contato para imprensa:
Virta
Comunicação Corporativa
Lucila
Lopes – lucila.lopes@virta.inf.br
Mariana
Dente – mariana.dente@virta.inf.br
(11)
3083-1242
Nenhum comentário:
Postar um comentário