quinta-feira, 3 de março de 2016

São Marino


São Marino era oficial do exército imperial em Cesaréia da Palestina. Devido a sua bravura foi nomeado centurião romano, cargo esse bastante almejado. Enquanto se aguardava a cerimônia da entrega da vara da videira, quando se concretizava a promoção, um dos pretendentes ao cargo, por inveja a ambição, acusou Marino de ser cristão. O fato ocorreu por volta de 260, quando a Igreja de Cristo era bastante perseguida.

Um certo juiz Aqueu, irritado com esta informação, deu a Marino algumas horas para que apresentasse sua defesa.

São Marino saiu do tribunal com o coração cheio de alegria por defender sua fé. Encontrou-se bispo Teotecno, que o incentivou a perseverar na fé, embora isso fosse lhe custar a vida. O bispo, diante do altar, apresentou-lhe uma espada e a bíblia, e pediu que ele escolhesse. São Marino, com segurança, escolheu a Bíblia.

De volta ao tribunal e diante das autoridades, São Marino afirmou ser cristão. Estava presente na execução outro cristão, o senador Astério, que o incentivou a permanecer firme na sua decisão.

Logo após o martírio, Astério tomou seu corpo a fim de lhe dar uma sepultura digna, embora soubesse que este gesto também lhe custaria a vida, como de fato aconteceu. Dessa maneira, São Marino divide com Astério a honra do martírio por ser seguidor de Cristo.  

ORAÇÃO


Deus eterno e todo poderoso, que destes a São Marino a graça de lutar pela justiça até a morte, concedei-nos, por sua intercessão, suportar por vosso amor as adversidades e correr ao encontro de vós, que sois a nossa vida. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo. Amém!

quarta-feira, 2 de março de 2016

Bem-aventurados os puros de coração, porque verão a Deus


Se me disserem: “Mostra-me o teu Deus”, dir-te-ei: “Mostra-me o homem que és e eu te mostrarei o meu Deus”. Mostra, portanto, como veem os olhos de tua mente e como ouvem os ouvidos de teu coração.

Os que veem com os olhos do corpo, percebem o que se passa nesta vida terrena, e observam as diferenças entre a luz e as trevas, o branco e o preto, o feio e o belo, o disforme e o formoso, o que tem proporções e o que é sem medida, o que tem partes a mais e o que é incompleto; o mesmo se pode dizer no que se refere ao sentido do ouvido: sons agudos, graves ou harmoniosos. Assim também acontece com os ouvidos do coração e com os olhos da alma, no que diz respeito à visão de Deus.

Na verdade, Deus é visível para aqueles que são capazes de vê-lo, porque mantêm abertos os olhos da alma. Todos têm olhos, mas alguns os têm obscurecidos e não veem a luz do sol. E se os cegos não veem, não é porque a luz do sol deixou de brilhar; a si mesmos e a seus olhos é que devem atribuir a falta de visão. É o que ocorre contigo: tens os olhos da alma velados pelos teus pecados e tuas más ações.

O homem deve ter a alma pura, qual um espelho reluzente. Quando o espelho está embaçado, o homem não pode ver nele o seu rosto; assim também, quando há pecado no homem, não lhe é possível ver a Deus.

Mas, se quiseres, podes ficar curado. Confia-te ao médico e ele abrirá os olhos de tua alma e de teu coração. Quem é este médico? É Deus, que pelo seu Verbo e Sabedoria dá vida e saúde a todas as coisas. Foi por seu Verbo e Sabedoria que Deus criou o universo: A Palavra do Senhor criou os céus, e o sopro de seus lábios, as estrelas (Sl 32,6). Sua Sabedoria é infinita. Com a sua Sabedoria, Deus fundou a terra; com a sua inteligência consolidou os céus; com sua ciência foram cavados os abismos e as nuvens derramaram o orvalho.

Se compreenderes tudo isto, ó homem, se a tua vida for santa, pura e justa, poderás ver a Deus. Se deres preferência em teu coração à fé e ao temor de Deus, então compreenderás. Quando te libertares da condição mortal e te revestires da imortalidade, então serás digno de ver a Deus. Sim, Deus ressuscitará o teu corpo, tornando-o imortal como a tua alma; e então, feito imortal, tu verás o que é Imortal, se agora acreditares nele.


Do Livro A Autólico, de São Teófilo de Antioquia, bispo

(Lib. 1,2.7:PG6,1026-1027.1035)            (Séc.II)

É verdade que Nossa Senhora “desce” ao purgatório para resgatar almas?


Ouvi dizer que Maria Santíssima desce ao purgatório para libertar as almas e levá-las ao céu, onde está nosso Senhor Jesus. Eu gostaria de saber qual é a postura da Igreja a respeito disso.

Resposta

Antes de responder à pergunta, é preciso recordar que a dimensão do purgatório é doutrina comum da Igreja, que não o interpreta necessariamente como um lugar, e sim como uma oportunidade de purificação post mortem e, portanto, como um dom da misericórdia divina.

Para que isso fique claro, é preciso recordar que o purgatório não é uma doutrina da Idade Média: temos testemunhos muito antigos de oração em sufrágio e pela purificação dos defuntos que dão testemunho dessa crença. Por exemplo, algumas lápides, desde os séculos III-IV, pedem orações pelo defunto e invocam sua purificação, assim como as liturgias fúnebres de sufrágio e as orações privadas pelos defuntos são testemunhadas pelos Padres da Igreja desde o século III (por exemplo, Tertuliano).

O primeiro texto que oferece uma doutrina do purgatório mais elaborada é o “Prognosticon futuri saeculi”, de São Juliano de Toledo (escrito entre os anos 687 e 688), o qual, com a expressão “ignis purgatorius” (livro II, c. 20-23), descreve uma perspectiva “purgante mediante fogo”. Trata-se de uma descrição que permite conceber o purgatório como um lugar, mas isso acontece pela limitação da nossa linguagem.

Na realidade, o que é essencial no texto é a obra de purificação das almas que, após sobreviver à morte do corpo, esperam tanto a purificação como a ressurreição no final dos tempos. Obviamente, a ideia do fogo provém da Bíblia: Livro da Sabedoria 3, 6 (foram provados como ouro na fornalha) e Eclesiástico 2, 5 (é pelo fogo que se provam o ouro e a prata, e os homens justos, na fornalha da dor).

Sobre o purgatório como lugar, os cristãos não católicos teriam muito a dizer. Na verdade, se o consideramos como uma dimensão de purificação misericordiosa, encontramos um maior consenso por parte das diversas confissões cristãs, sobretudo com os ortodoxos.
 

Santa Inês da Boêmia (Praga)


Santa Inês da Boêmia nasceu em 1208. Pertencia à família real. Otocaro I, seu pai, era rei da Boêmia. Foi educada por monges. Recusou-se a casar com Frederico II, imperador da Alemanha, para isso contando com o apoio do papa Gregório IX.

Foi uma mulher ativa e preocupada com os problemas de seu tempo. Dedicou-se de corpo e alma ao serviço dos pobres, fundando para eles um hospital. Estabeleceu ali a pobreza absoluta, renunciando às rendas e vivendo de esmolas e doações. Incentivou e apoiou os Franciscanos e as Clarissas. Para eles fundou dois mosteiros.

Santa Clara, a quem devotava grande amizade, escreveu-lhe numerosas cartas e chamava-a de "metade de minha alma".

Numa das cartas, Santa Clara dizia à Santa Inês:

“Eu me alegro de verdade, e ninguém vai poder roubar-me esta alegria, porque já alcancei o que desejava abaixo do céu: vejo que você, sustentada por maravilhosa sabedoria da própria boca de Deus, já superou astúcias do esperto inimigo: o orgulho que perde a natureza humana e a vaidade que torna estultos os corações dos homens. Vejo que são a humildade, a força da fé e os braços da pobreza que a levaram a abraçar o tesouro incomparável escondido no campo do mundo e dos corações humanos, com o qual compra-se aquele por quem tudo foi feito do nada. Eu a considero, num bom uso das palavras do Apóstolo, auxiliar do próprio Deus, sustentáculo dos membros vacilantes de seu corpo inefável”.

Santa Inês ingressou, mais tarde, no convento das Clarissas, por ela própria fundado, onde foi nomeada abadessa.

Morreu no dia 2 de março de 1282 em Praga, onde nasceu.  

ORAÇÃO


Deus, nosso Pai, em vosso Filho Jesus nos revelastes vossa face cheia de misericórdia, de ternura e de amor. Nós vos agradecemos e vos louvamos por nos ter dado Jesus como nosso irmão, Deus-conosco para sempre. Exultamos de alegria, porque as vossas promessas se cumpriram; já experimentamos aqui as alegrias do vosso Reino de justiça e de paz. Por isso, repetimos as palavras do Apóstolo: “Vede que prova de amor nos deu o Pai: que sejamos chamados filhos de Deus. E nós o somos”. Santa Inês, que se consagrou inteiramente a vós e ao serviço dos necessitados, interceda para que a fraternidade se estabeleça na terra. Amém!

terça-feira, 1 de março de 2016

O silêncio de Cristo


Uma antiga lenda norueguesa narra este episódio sobre um homem chamado Haakon, que cuidava de uma ermida à qual muita gente vinha orar com devoção. Nesta ermida havia uma cruz muito antiga, e muitos vinham ali para pedir a Cristo que fizesse algum milagre.

Certo dia, o eremita Haakon quis também pedir-lhe um favor. Impulsionava-o um sentimento generoso. Ajoelhou-se diante da cruz e disse:

– Senhor, quero padecer por vós. Deixai-me ocupar o vosso lugar. Quero substituir-vos na Cruz.

E permaneceu com o olhar pendente da cruz, como quem espera uma resposta.

O Senhor abriu os lábios e falou. As suas palavras caíam do alto, sussurrantes e admoestadoras:

– Meu servo, cedo ao teu desejo, mas com uma condição.

– Qual é, Senhor?, perguntou com acento suplicante Haakon. É uma condição difícil? Estou disposto a cumpri-la com a tua ajuda!

– Escuta-me: Aconteça o que acontecer, e vejas tu o que vires, deves guardar sempre o silêncio.

Haakon respondeu:

– Prometo-o, Senhor!

E fizeram a troca sem que ninguém o percebesse. Ninguém reconheceu o eremita pendente da cruz; quanto ao Senhor, ocupava o lugar de Haakon. Durante muito tempo, este conseguiu cumprir o seu compromisso e não disse nada a ninguém. 

Espanha: por que um homossexual que vive com outro homem não pode ser padrinho de batismo?


Ante as diversas informações divulgadas na mídia acerca do impedimento que uma pessoa homossexual tem para que seja padrinho de batismo, a Arquidiocese de Sevilha (Espanha) indicou ao Grupo ACI que “ser homossexual não é um impedimento”, mas neste caso o candidato não conta com “os requisitos necessários para sê-lo”, pois convive com outro homem.

Trata-se de Salvador Alférez, a quem um pároco da Igreja de Santa Cruz em Écija (Sevilha) recentemente negou a possibilidade de ser o padrinho de batismo de seu sobrinho.

Nesse sentido, a Arquidiocese declarou ao Grupo ACI que “ser padrinho não é um direito, mas uma responsabilidade da Igreja e que esta concede a algumas pessoas que cumprem uma série de requisitos, segundo o Cânon 874 de Direito Canônico”.

A Arquidiocese de Sevilha explicou que esses requisitos estão relacionados “com levar uma vida congruente com a fé e a missão que vai assumir”. E o fato de que Alférez conviva com uma pessoa do mesmo sexo é “uma situação que a Igreja considera irregular”.

Esta condição “é considerada um impedimento para certas responsabilidades na Igreja” como a missão de ser padrinho de batismo.

“A situação em que vive não é considerada congruente com a fé e com a missão que vai assumir”, pontuam. 

O que a oração pede, o jejum o alcança e a misericórdia o recebe


Há três coisas, meus irmãos, três coisas que mantêm a fé, dão firmeza à devoção e perseverança à virtude. São elas a oração, o jejum e a misericórdia. O que a oração pede, o jejum alcança e a misericórdia recebe. Oração, misericórdia, jejum: três coisas que são uma só e se vivificam reciprocamente.

O jejum é a alma da oração e a misericórdia dá vida ao jejum. Ninguém queira separar estas três coisas, pois são inseparáveis. Quem pratica somente uma delas ou não pratica todas simultaneamente, é como se nada fizesse. Por conseguinte, quem ora também jejue; e quem jejua, pratique a misericórdia. Quem deseja ser atendido nas suas orações, atenda as súplicas de quem lhe pede; pois aquele que não fecha seus ouvidos às súplicas alheias, abre os ouvidos de Deus às suas próprias súplicas.

Quem jejua, pense no sentido do jejum; seja sensível à fome dos outros quem deseja que Deus
seja sensível à sua; seja misericordioso quem espera alcançar misericórdia; quem pede compaixão, também se compadeça; quem quer ser ajudado, ajude os outros. Muito mal suplica quem nega aos outros aquilo que pede para si.

Homem, sê para ti mesmo a medida da misericórdia;deste modo alcançarás misericórdia como quiseres, quanto quiseres e com a rapidez que quiseres; basta que te compadeças dos outros com generosidade e presteza.

Peçamos, portanto, destas três virtudes – oração,jejum, misericórdia – uma única força mediadora junto de Deus em nosso favor; sejam para nós uma única defesa, uma única oração sob três formas distintas.

Reconquistemos pelo jejum o que perdemos por não saber apreciá-lo; imolemos nossas almas pelo jejum, pois nada melhor podemos oferecer a Deus como ensina o Profeta: Sacrifício agradável a Deus é um espírito penitente; Deus não despreza um coração arrependido e humilhado (cf. Sl 50,19).

Homem, oferece a Deus a tua alma, oferece a oblação do jejum, para que seja uma oferenda pura, um sacrifício santo, uma vítima viva que ao mesmo tempo permanece em ti e é oferecida a Deus. Quem não dá isto a Deus não tem desculpa, porque todos podem se oferecer a si mesmos.

Mas, para que esta oferta seja aceita por Deus, a misericórdia deve acompanhá-la; o jejum só dá frutos se for regado pela misericórdia, pois a aridez da misericórdia faz secar o jejum. O que a chuva é para a terra, é a misericórdia para o jejum. Por mais que cultive o coração, purifique o corpo, extirpe os maus costumes e semeie as virtudes, o que jejua não colherá frutos se não abrir as torrentes da misericórdia.

Tu que jejuas, não esqueças que fica em jejum o teu campo se jejua a tua misericórdia; pelo contrário, a liberalidade da tua misericórdia encherá de bens os teus celeiros. Portanto, ó homem, para que não venhas a perder por ter guardado para ti, distribui aos outros para que venhas a recolher; dá a ti mesmo, dando aos pobres, porque o que deixares de dar aos outros, também tu não o possuirás. 


Dos Sermões de São Pedro Crisólogo, bispo
(Sermo 43: PL 52,320.322)

(Séc.IV)

O dia em que três papas renunciaram (!)


Uma das épocas mais turbulentas de toda a história da Igreja nos reafirma:
“As portas do inferno não prevalecerão sobre ela”

Quando Gregório XII foi eleito para o pontificado, após a morte de Inocêncio VII em 1406, havia em Avignon, na França, outra pessoa que afirmava ser papa.

Embora reclamasse falsamente o papado, o antipapa francês estava criando uma grande confusão na Igreja. Quando foi eleito, Gregório XII concordou em renunciar caso o antipapa francês fizesse o mesmo, permitindo, assim, que a Igreja elegesse um novo pontífice. Depois de muitos anos de impasse, apareceu um segundo antipapa. No final, a situação se resolveu quando Gregório XII autorizou o Concílio de Constança e renunciou.

O Concílio de Constança começaria em 5 de novembro de 1414: o único dia em toda a história em que se diz que três papas renunciaram, e no qual teve fim, formalmente, o grande Cisma do Ocidente. É necessário precisar, no entanto, que só um dos “três papas” era verdadeiro; os outros dois eram antipapas.