Hoje, a Palavra de Deus nos apresenta o
testemunho de Pedro em Cristo ressuscitado, diante do Sinédrio.
Proibido de dar testemunho de Jesus
ressuscitado, Pedro repete novamente, com toda a franqueza, o anúncio da
Ressurreição: “O Deus de nossos pais ressuscitou Jesus, a quem vós matastes,
pregando-O numa Cruz” (At 5,30). Acaba de sair da prisão com os outros
apóstolos, sabe que poderá ter que enfrentar piores dificuldades; mas não tem
medo porque colocou já toda a sua confiança no Ressuscitado e compreendeu que
tem de seguí-Lo nas tribulações. As suas palavras são reforçadas com uma
notável afirmação: “Somos testemunhas destes fatos, nós e o Espírito Santo, que
Deus concedeu àqueles que lhe obedecem” (At 5,32). É como se afirmasse que o
Espírito Santo fala pela boca daqueles que, obedecendo a Deus, pregam o
Evangelho enfrentando todos os riscos. Para os Apóstolos, este risco
converte-se imediatamente em realidade ao serem submetidos à flagelação, mas
tudo suportou com alegria, “por terem sido considerados dignos de injúrias, por
causa do nome de Jesus” (At 5,41). “Pedro e os outros apóstolos responderam: “É
preciso obedecer a Deus, antes que aos homens” (At 5,29). É este o testemunho
que Jesus espera de cada um de nós, um testemunho livre de respeitos humanos e
também do medo aos riscos e perigos. A fé intrépida dos que creem convence o
mundo, mais do que qualquer outra apologia.
O Evangelho (Jo 21, 1-19) narra a terceira
aparição de Cristo ressuscitado aos apóstolos. Trata-se de uma aparição marcada
por gestos de carinho e ternura, mas também de envio, de missão: a pesca
milagrosa, a refeição preparada pelo próprio Ressuscitado e a entrega do
primado a Pedro. Dá para perceber que a missão terrena de Jesus terminou! O
ANÚNCIO do Evangelho, agora, é missão dos discípulos; são os discípulos que
espalharão a Boa-Nova pelos caminhos da humanidade.
Aquele discípulo que Jesus amava percebeu e
disse: “É o Senhor!” (Jo 21,7). Além dessa vez, a palavra “Senhor” aparece
cinco vezes mais no Evangelho de hoje. Esta palavra nos lembra do nome de Deus
no Antigo Testamento. O livro do Êxodo nos relata que Deus apareceu a Moisés e
lhe disse: “EU SOU AQUELE QUE SOU” (Ex 3,14). Deus é!
Deus é! Ao contrário, a criatura não é!
Apresenta-se assim à nossa inteligência cristã uma doutrina básica, uma
distinção de primeira ordem: Deus é, a criatura não é. Deus é tudo, nós não
somos nada! Deus é criador, nós somos criaturas e, por tanto, a nossa
existência depende totalmente dele. É muito sadio saber quem somos, dessa
maneira não iremos por aí vangloriando-nos, cheios de soberba e vaidade. É
verdade: nós não somos! Somente depois, num segundo momento, podemos afirmar: e
o que somos vem de Deus! A nossa dependência de Deus é tal que se por algum
momento ele deixasse de pensar em nós e de nos amar, deixaríamos de existir
imediatamente. Isso é muito importante: Deus não me ama porque eu sou bom, mas
eu sou bom e eu posso ser melhor porque Deus me ama, a minha existência e tudo
o que eu tenho depende radicalmente do amor de Deus. Aquele que permanece no
mais além se fez presente no mais aquém.
Ele é o Senhor! São João o reconheceu e avisou
a Pedro. Depois dessa afirmação, a atitude dos discípulos vai mudando: Pedro se
oculta, os discípulos se calam e não ousam perguntar nada a Jesus, ao mesmo
tempo a confiança deles no Senhor vai aumentando. Quando nós tivermos mais consciência
do senhorio de Deus nas nossas vidas, quando reconhecermos a transcendência de
Deus, quando percebermos que ele nos ama com amor eterno, a nossa atitude
também será outra. A força do Ressuscitado está se manifestando durante esses
dias na Igreja. É uma realidade! Observe um pouco ao seu redor e verá na vida
dos seus irmãos as maravilhas da graça. Mas, é verdade, para ver essas coisas,
é preciso amar a Deus. Você percebeu que somente S. João, esse discípulo
apaixonado por Deus, percebeu que era o Senhor? Como não reconhecer a Deus no
nosso quotidiano se nós o amamos? Como não viver em sua presença se tudo o que
existe nos fala dele? Meu Deus do céu, como ainda somos cegos! Vivemos
frequentemente como se Deus não existisse. Estou pensando em tantos cristãos
que muitas vezes atuam como se Deus não os visse, como se Deus não se
importasse com eles, como se pudessem fugir da sua face adorável.
É o Senhor! Nós o temos também, e
principalmente, no Sacramento da Eucaristia. Jesus é Deus, o Criador, o Senhor.
Quando os sacerdotes e os leigos perceberem de verdade que é o Senhor, muita
coisa mudará: as nossas celebrações eucarísticas estarão repletas desse
sentimento de presença de Deus, de transcendência de Deus, e da sua proximidade
amorosa. Quando isso acontecer, as paróquias serão lugares de adoração de Jesus
na Eucaristia, de silencio, de respeito. Quando percebermos de verdade que
Jesus está presente na Eucaristia verdadeiramente, realmente e substancialmente
com o seu Corpo, Sangue, Alma e Divindade, participaremos da Santa Missa e da
Adoração eucarística cuidando também dos detalhes do culto católico, não por
escrúpulo, mas por amor: não teremos problema nenhum em adornar dignamente as
nossas igrejas, em dourar ou pratear os cálices utilizados na celebração
eucarística, em dar ao Senhor um sacrário fisicamente digno dele, em
comportar-nos com a “urbanidade da piedade” sabendo que somos filhos amados de
Deus e que, por tanto, podemos aproximar-nos com confiança do trono da graça. É
o Senhor!