quinta-feira, 16 de junho de 2016

Depois do alimento, pedimos o perdão dos pecados




Continuando a oração, suplicamos: O pão nosso de cada dia nos dai hoje. Isto pode entender-se no sentido espiritual ou literal, porque num e noutro sentido aproveita à nossa salvação. Mas o pão da vida é Cristo; e este pão não é o pão de todos, mas o nosso. E assim como chamamos Pai nosso, porque Ele é Pai dos que O conhecem e creem n’Ele, também dizemos o pão nosso, porque Cristo é o pão daqueles que recebem o seu Corpo.

E pedimos que nos seja dado cada dia este pão, a nós que vivemos em Cristo e todos os dias recebemos a sua Eucaristia como alimento da salvação, para não suceder que, por algum pecado grave, sejamos privados da comunhão do pão celeste e nos separemos do Corpo de Cristo. Ele mesmo proclamou:
Eu sou o pão da vida, que desci do Céu. Se alguém comer do meu pão, viverá eternamente. E o pão que eu hei-de dar é a minha carne pela vida do mundo.

Portanto, se Ele afirma que viverão eternamente os que comerem do seu pão, é evidente que possuem a vida aqueles que recebem o seu Corpo e participam retamente na Eucaristia; mas ao mesmo tempo ensina que, ao contrário, é de temer, e devemos orar para que assim não suceda, que, abstendo-se da Eucaristia, alguns se separem do Corpo de Cristo e fiquem privados da salvação, como Ele próprio adverte: Se não comerdes a carne do Filho do homem e não beberdes o seu sangue, não tereis a vida em vós. Por isso pedimos que nos seja dado cada dia o nosso pão, isto é, Cristo, para que nós, que permanecemos e vivemos em Cristo, não nos afastemos do seu Corpo que nos santifica.

Depois disto, pedimos também pelos nossos pecados, dizendo: Perdoai as nossas ofensas, assim como também nóspedimos também o perdão dos pecados.

É verdadeiramente providencial e salutar esta petição, que nos recorda que somos pecadores, porque, ao exortar-nos a pedir o perdão dos pecados, o Senhor desperta-nos a consciência da nossa indignidade e ao mesmo tempo a confiança na misericórdia divina. Ao mandar-nos pedir cada dia o perdão dos pecados, Ele lembra-nos que pecamos todos os dias, e assim ninguém pode vangloriar-se da sua inocência e cair no orgulho.

No mesmo sentido nos adverte também São João na sua Epístola, quando diz:
Se dissermos que não temos pecado, enganamo-nos a nós mesmos e a verdade não está em nós. Se confessarmos os nossos pecados, o Senhor é fiel e justo para nos perdoar os nossos pecados. Duas coisas nos ensina o Apóstolo na sua Epístola: que devemos pedir o perdão dos nossos pecados e que alcançamos perdão quando o pedimos. Diz que o Senhor é fiel, porque nos prometeu o perdão dos pecados e não pode faltar à sua palavra. Efetivamente, Aquele que nos ensinou a orar pelas ofensas e pelos pecados, prometeu ao mesmo tempo a sua paterna misericórdia e o seu perdão.


Do Tratado de São Cipriano, bispo e mártir, sobre a Oração Dominical
(Nn. 18.22: CSEL 3, 280-281.283-284) (Sec. III)

Domingo, o dia do Senhor


Nos últimos anos, o tema do domingo foi indevidamente transformado num “problema”, não apenas no plano religioso, mas nos planos social, político e econômico. Quando procuramos examinar essa questão, não entram em causa somente a vivência da fé e o compromisso propriamente pastoral, mas toda a complexidade do tecido social. Diante disto, comecemos por perguntar nos: Como entender realmente o domingo? O que é?

O Catecismo da Igreja Católica (CIC) diz-nos: “Devido à tradição apostólica que tem origem no próprio dia da Ressurreição de Cristo, a Igreja celebra o mistério pascal a cada oitavo dia, no dia chamado com razão dia do Senhor ou domingo. O dia da Ressurreição de Cristo é ao mesmo tempo «o primeiro dia da semana», memorial do primeiro dia da Criação, e o «oitavo dia», em que Cristo, depois do seu «repouso» do grande sábado, inaugura o dia «que o Senhor fez», o «dia que não conhece ocaso». A «Ceia do Senhor» é o seu centro, pois é aqui que toda a comunidade dos fiéis se encontra com o Senhor ressuscitado, que os convida para o seu banquete <...>. Para os cristãos, tornou-se o primeiro de todos os dias, a primeira de todas as festas, o dia do Senhor («Hé kyriaké hemera», «dies dominica»), o «domingo»” (CIC, ns. 1166 e 2174). Foi graças à Ressurreição do Senhor que o domingo foi estabelecido como dia privilegiado, como dia da Reconciliação.

Apesar disso, há quem critique fortemente a Igreja Católica por ter “mudado” o preceito bíblico do descanso sabático: ao tomar a liberdade de converter o domingo no Dia dos dias, no Dia principal, estaria “substituindo o ensinamento divino por preceitos humanos”. Será verdade?

Para responder a essa crítica, repassemos rapidamente o Gênesis para podermos entender o significado do sábado: Tendo Deus terminado no sétimo dia a obra que tinha feito, descansou do seu trabalho. Abençoou o sétimo dia e o consagrou, porque nesse dia havia repousado de toda a obra da Criação (Gên 2, 2 3). Mais tarde, no Monte Sinai, esse dia voltou a ser declarado Dia Santo e dia de descanso, pois devia ser um dia destinado a recordar a Aliança – a antiga Aliança – de Deus com o seu povo: Lembra-te de santificar o dia de sábado <shabbat, “descanso”>. Trabalharás durante seis dias, e farás toda a tua obra. Mas no sétimo dia, que é um dia de repouso em honra do Senhor teu Deus, não farás trabalho algum (Êx 20, 8 10).

Os elementos que podemos extrair do relato da Criação na Sagrada Escritura são, pois, os seguintes:

a. É o último dia da Criação, um Dia santo e santificado por Deus. O dia do descanso é “abençoado” e “consagrado” por Deus, ou seja, separado dos outros dias para ser dentre todos o dia do Senhor. É um dia para se ocupar das coisas santas, não das profanas. Trabalhar seria, para o judeu, “profanar” o dia santo.

b. É um dia de libertação. O sábado é estabelecido como sinal de libertação no Monte Sinai (cfr. Deut 5, 15), pois Javé quer que o seu Povo comemore nesse dia a sua libertação do Egito pelo poder divino.

c. É um dia consagrado a Javé. O Senhor do sábado é Javé: os judeus o chamavam o dia de Javé, o dia consagrado ao Senhor (cfr. Êx 16, 23 25).

Depois disto, alguém ainda poderá perguntar se há oposição entre o que se diz no Antigo Testamento e o domingo católico? Todos os elementos que acabamos de ver encontram a sua plenitude na vinda do Senhor Jesus. Seja-nos permitida uma analogia, tendo presentes as evidentes limitações de toda a comparação entre as coisas divinas e as humanas: o sábado é como uma televisão em preto e branco, na qual se via corretamente a imagem, o significado divino; já o domingo é como uma televisão a cores, em que vemos a mesma imagem, mas de maneira mais plena e com muito mais detalhes.

O domingo, portanto, mais do que uma “substituição” do sábado, é o seu cumprimento perfeito e a sua plena realização no plano da História da Salvação, cujo cume se encontra em Cristo. O Papa João Paulo II diz na Carta Apostólica Dies Domini: “Aquilo que Deus realizou na Criação e o que fez pelo seu povo no Êxodo, encontrou na Morte e Ressurreição de Cristo o seu cumprimento <...>. Em Cristo realiza-se plenamente o sentido «espiritual» do sábado, como sublinha São Gregório Magno: «Nós consideramos o verdadeiro sábado a Pessoa do nosso Redentor, nosso Senhor Jesus Cristo»” (Dies Domini, n. 18). 

Santos Julita e Ciro

  
Julita vivia na cidade de Icônio, atualmente Turquia. Ela era uma senhora riquíssima, da alta aristocracia e cristã, que se tornara viúva logo após ter dado à luz a um menino. Ele foi batizado com o nome de Ciro. Tinha três anos de idade quando o sanguinário imperador Diocleciano começou a perseguir, prender e matar cristãos. Julita, levando o filhinho Ciro, tentou fugir, mas acabou presa. O governador local, um cruel romano, tirou-lhe o filho dos braços e passou a usá-lo como um elemento a mais à sua tortura. Colocou-o sentado sobre seus joelhos, enquanto submetia Julita ao flagelo na frente do menino, com o intuito de que renegasse a fé em Cristo. Como ela não obedeceu, os castigos aumentaram. Foi então que o pequenino Ciro saltou dos joelhos do governador, começou a chorar e a gritar junto com a mãe: "Também sou cristão! Também sou cristão!". Foi tamanha a ira do governador que ele, com um pontapé, empurrou Ciro violentamente fazendo-o rolar pelos degraus do tribunal, esmigalhando-lhe assim o crânio. Conta-se que Julita ficou imóvel, não reclamou, nem chorou, apenas rezou para que pudesse seguir seu pequenino Ciro no martírio e encontrá-lo, o mais rápido possível, ao lado de Deus. E foi o que aconteceu. Julita continuou sendo brutamente espancada e depois foi decapitada. Era o ano 304. Ciro tornou-se o mais jovem mártir do cristianismo, precedido apenas dos Santos Mártires Inocentes, exterminados pelo rei Herodes em Belém.  É considerado o Santo padroeiro das crianças que sofrem de maus tratos. 

Deus Nosso Senhor e Nosso Pai, destes a Santa Julita e a São Ciro os sofrimentos do martírio, por sua intercessão dai-me uma fé verdadeira, forte, perseverante. Suplico-Vos o perdão de meus pecados e a graça de Vos amar e bendizer todos os dias de minha vida. Amém.

quarta-feira, 15 de junho de 2016

Papa fala da luz da misericórdia: a indiferença nos torna cegos




CATEQUESE Praça São Pedro – Vaticano Quarta-feira, 15 de junho de 2016

Queridos irmãos e irmãs, bom dia!

Um dia, Jesus, aproximando-se da cidade de Jericó, realizou o milagre de restituir a visão a um cego que mendigava ao longo do caminho (cfr Lc 18, 35-43). Hoje queremos colher o significado deste sinal porque toca também a nós diretamente. O evangelista Lucas diz que aquele cego estava sentado à margem do caminho a mendigar (cfr v. 35). Um cego naquela época – mas também há pouco tempo – não podia viver de nada que não de esmola. A figura deste cego representa tantas pessoas que, também hoje, se encontram marginalizadas por causa de uma deficiência física ou de outro gênero. Está separado da multidão, está ali sentado enquanto as pessoas passam ocupadas, entretidas nos próprios pensamentos e em tantas coisas…E o caminho, que pode ser um lugar de encontro, para ele, em vez disso, é o lugar da solidão. Tanta gente que passa…E ele é sozinho.

É triste a imagem de um marginalizado, sobretudo no pano de fundo da cidade de Jericó, o esplêndido e exuberante oásis no deserto. Sabemos que justamente em Jericó chega o povo de Israel ao término do longo êxodo do Egito: aquela cidade representa a porta de ingresso na terra prometida. Recordemos as palavras que Moisés pronuncia naquela circunstância: “Se houver no meio de ti um pobre entre os teus irmãos, em uma de tuas cidades, na terra que te dá o Senhor, teu Deus, não endurecerás o teu coração e não fecharás a mão diante de teu irmão pobre; mas lhes abrirá a mão e lhes emprestará segundo as necessidades de sua indigência”.(Dt 15,7.11). É forte o contraste entre esta recomendação da Lei de Deus e a situação descrita pelo Evangelho: enquanto o cego grita invocando Jesus, o povo o repreende para fazê-lo calar, como se não tivesse o direito de falar. Não tem compaixão dele, ao contrário, fica cansado com os seus gritos. Quantas vezes nós, quando vemos tanta gente no caminho – gente necessitada, doente, que não tem o que comer – sentimos cansaço. É uma tentação que todos nós temos. Todos, também eu! É por isso que a Palavra de Deus nos adverte que a indiferença e a hostilidade tornam cegos e surdos, impedem de ver os irmãos e não permitem reconhecer neles o Senhor. Indiferença e hostilidade. E às vezes essa indiferença e hostilidade se tornam também agressão e insulto: “mas levem embora todos esses”, “coloquem-nos em outro canto!”. Essa agressão é aquilo que fazia o povo quando o cego gritava: “mas você, vá embora, vai, não fale, não grite”.

Homilética: 12º Domingo do Tempo Comum - Ano C: "A Cruz que salva".





A liturgia do XII Domingo, no Evangelho (Lc. 9, 18-24), mostra o caminho do verdadeiro Messias e de quem quiser seguí-Lo.

No final de sua atividade na Galiléia, Jesus, depois de ter orado, provoca os Apóstolos a dizer o que pensam dele, de sua identidade e missão: “Quem sou Eu no dizer do povo? E vós, quem dizeis que Eu sou?” (Lc 9, 19-20).

Responderam-lhe: “João Batista… Elias… ou um dos antigos profetas…” Reconhecem em Jesus um grande Mestre, um operador de milagres, mas um homem apenas…

Porém, os discípulos deviam ter compreendido algo mais, pois foram testemunhas da seus milagres e destinatários privilegiados de sua doutrina. Por isso Jesus acrescenta: Mas, para vós, quem sou Eu?

Pedro, em nome de todos, responde: “Tu és o Cristo de Deus”. A resposta era exata! E Jesus completa, apontando “o Caminho de Jesus”, falando pela primeira vez de sua Paixão…

Para os discípulos, que esperavam um Messias-Rei, tal afirmação deve ter sido muito dura e decepcionante… Mas Jesus não volta atrás, pelo contrário, reafirma que o Caminho do Discípulo é o mesmo: “Se alguém me quer seguir, renuncie a si mesmo, tome sua cruz cada dia, e siga-me” (Lc 9, 23).

Ele irá à frente para dar o exemplo: será o primeiro a levar a cruz. Quem quiser ser seu discípulo, há de imitá-Lo. E conclui: “Aquele que quiser salvar a sua vida, vai perdê-la; e quem perder a sua vida por causa de Mim, esse a salvará.” (Lc 9, 24).

O discípulo é chamado a imitar Jesus, não apenas uma vez, mas dia após dia, negando-se a si mesmo, (vontade, inclinação, gostos) para se conformar com o Mestre sofredor e crucificado.

O cristão não pode passar por alto esses ensinamentos de Jesus Cristo. Deve arriscar-se, jogar a vida presente em troca de conseguir a eterna.

A exigência do Senhor inclui renunciar à própria vontade para identificá-la com a de Deus, não aconteça que, como comenta São João da Cruz, tenhamos a sorte de muitos “que queriam que Deus quisesse o que eles querem, e entristecem-se de querer o que Deus quer, e têm repugnância em acomodar a sua vontade à de Deus. Disto vem que muitas vezes, no que não acham a sua vontade e gosto, pensam não ser da vontade de Deus e, pelo contrário, quando se satisfazem, crêem que Deus Se satisfaz, medindo também a Deus por si, e não a si mesmos por Deus” (Noite Escura, liv. I, Cap. 7, nº. 3).

O fim do homem não é ganhar os bens temporais deste mundo, que são apenas meios ou instrumentos; o fim último do homem é o próprio Deus, que é possuído como antecipação aqui na terra pela Graça, e plenamente e para sempre na Glória. Jesus indica qual é o caminho para conseguir esse fim: negar-se a si mesmo (isto é, tudo o que é comodidade, egoísmo, apego aos bens temporais) e levar a cruz. Porque nenhum bem terreno, que é caduco, é comparável à salvação eterna da alma. Diz São Tomás: “O menor bem da Graça é superior a todo o bem do universo” (Suma Teológica, I-II, q.113, a. 9).

A Cruz é sinal do cristão. Está presente em toda parte, com muitos nomes…

Que o Senhor nos conceda a graça de também segui-Lo na Cruz; de perder a vida por causa de Cristo para salvá-la.

O ensinamento de Jesus é claro: é necessário fazer tudo tendo em vista a vida eterna; para ganhar este bem podemos gastar a vida terrena. Em outra ocasião Jesus lembrou: “de que vantagem tem um homem em ganhar o mundo inteiro, se se perder a si mesmo ou causar a própria ruína?” (Lc 9, 25).

E como a paixão do Senhor conduziu à alegria da ressurreição, assim o cristão, que carregue com a cruz até perder a vida por Cristo, salvá-la-a, encontrando-a nEle na glória eterna.

Cáritas Brasileira divulga marca oficial dos 60 anos


A Cáritas Brasileira comemorará seus 60 anos no dia 12 de novembro. Por isso, a entidade lançou o concurso “Imagem, ritmo e história da Cáritas Brasileira”, com o objetivo de selecionar peças que representem a marca oficial dos seus 60 anos, nas modalidades design gráfico, música e literatura.

A proposta vencedora na modalidade design gráfico foi a da moradora de Governador Valadares (MG), Andréia Marçal. O trabalho foi selecionado atendendo ao regulamento do concurso e respeitando a proposta e os conceitos da equipe de comunicação do Secretariado Nacional da Cáritas. O trabalho original será publicado no livro “Pintando, cantando e contando os 60 anos da Cáritas Brasileira”, junto com as obras escolhidas nas modalidades de música e literatura do mesmo concurso.

Na proposição da autora, as aberturas existentes no desenho do numeral “representam a versatilidade da instituição em trabalhar com milhares de voluntários”. Além disso, Andréia previu a inserção da marca da Cáritas Brasileira no algarismo “0″ por entender que este, ao se posicionar em segundo plano em relação ao algarismo “6″, simboliza a posição da instituição que, “esvaziando-se de sua vaidade, coloca-se à disposição do próximo”.

Ao vencer o concurso, o trabalho de Andréia também servirá de modelo à criação da identidade visual que estampará as peças gráficas e virtuais produzidas ao longo deste ano para o V Congresso Nacional da Cáritas Brasileira, que acontecerá nos dias 9 a 13 de novembro, no Santuário Nacional de Nossa Senhora Aparecida, em São Paulo.

Os vencedores de cada uma das três modalidades do concurso participarão do Congresso Nacional como convidados especiais da Cáritas. No congresso, serão apresentadas as obras vencedoras e seus respectivos autores.

Patriarcado de Moscou pediu o adiamento do Concílio pan-ortodoxo


A decisão do Patriarcado de Moscou de participar ou não do histórico Concílio pan-ortodoxo que deveria ser realizado em Creta do 16 ao 26 de Junho era esperado há dias. Após a rejeição das Igrejas Ortodoxas da Bulgária, Sérvia, Antioquia e Georgia, o não de Moscou, com os seus cem milhões de fieis, teria sido o golpe não indiferente ao evento histórico, jamais realizado desde 1054, quando se consumou o cisma do Oriente.

Bem, a decisão chegou agora e congelou toda esperança. Com um texto longo e detalhado preparado depois de uma reunião especial do Sínodo da Igreja Ortodoxa Russa, o Patriarcado de Moscou anunciou a sua recusa oficial para participar.

O metropolita Hilarion, chefe do Departamento para as relações eclesiásticas exteriores de Moscou, insistiu sobre a necessidade do adiamento, por causa das já anunciadas deserções de outras Igrejas locais. “Todas as Igrejas deveriam participar do Concílio pan-ortodoxo, e apenas nesse caso, as decisões do Concílio seriam legítimas”, declarou Hilarion, citado pelas agências russas.

Venha a nós o vosso reino, Seja feita a vossa vontade.




Continua a oração: Venha a nós o vosso reino. Assim como pedimos que seja santificado em nós o nome de Deus, também suplicamos que venha a nós o seu reino. Mas poderá haver algum momento em que Deus não reine? Como pode começar n’Ele o que sempre existiu e nunca deixará de existir? Não. O que pedimos é que venha o nosso reino, aquele reino que nos foi prometido por Deus e adquirido com o sangue e a paixão de Cristo, de modo que, servindo-O fielmente neste mundo, possamos um dia reinar com Ele, segundo a sua promessa: Vinde, benditos de meu Pai, recebei o reino que vos está preparado desde o princípio do mundo.

Na verdade, irmãos caríssimos, podemos entender que o próprio Cristo é o reino de Deus, cuja vinda desejamos ardentemente cada dia da nossa vida. Ele é a ressurreição, porque n’Ele ressuscitamos; por isso podemos compreender que Ele é também o reino de Deus, porque n’Ele havemos de reinar. Com razão, portanto, pedimos o reino de Deus, isto é, o reino celeste, porque há também um reino terrestre. Mas quem já renunciou ao mundo está acima das honras deste mundo e do seu reino.

Dizemos ainda na oração: Seja feita a vossa vontade, assim na terra como no céu, não para que Deus faça o que quer, mas para que façamos nós o que Deus quer. De facto, quem pode impedir que Deus faça o que quer? Nós, pelo contrário, podemos não fazer o que Deus quer, porque o diabo tenta impedir-nos de orientar os nossos sentimentos e acções segundo a vontade divina. Por isso pedimos e suplicamos que se faça em nós a vontade de Deus, e para isso precisamos da vontade de Deus, isto é, do seu poder e auxílios, porque ninguém pode confiar nas próprias forças: só na benevolência e misericórdia de Deus está a nossa segurança. Também o Senhor, manifestando a fraqueza humana que tinha assumido, diz: Pai, se é possível, afaste-se de Mim este cálice; e para dar exemplo aos seus discípulos de que não se deve fazer a vontade própria mas a de Deus, acrescentou: Todavia, não se faça como Eu quero, mas como Tu queres.

A vontade de Deus é, portanto, aquela que Cristo fez e ensinou. Humildade no trato, firmeza na fé, discrição nas palavras; justiça nas ações, misericórdia nas obras, retidão nos costumes; não ofender ninguém e suportar as ofensas recebidas, conservar a paz com os irmãos; amar o Senhor com todo o coração, amá-l’O como Pai, temê-l’O como Deus; nada recusar a Cristo, já que Ele nada nos recusou a nós; unirmo-nos inseparavelmente ao seu amor, permanecer junto à Cruz com fortaleza e confiança, quando está em jogo o seu nome e a sua honra; mostrar nas palavras a constância que professamos, nas adversidades a confiança com que lutamos, na morte a paciência que nos dá a coroa da vitória: isto é querer ser herdeiro com Cristo, isto é observar o mandamento de Deus, isto é cumprir a vontade do Pai.


Do Tratado de São Cipriano, bispo e mártir sobre a Oração Dominical
(Nn. 13-15: CSEL 3, 275-278) (Sec. III)