quarta-feira, 15 de junho de 2016

Venha a nós o vosso reino, Seja feita a vossa vontade.




Continua a oração: Venha a nós o vosso reino. Assim como pedimos que seja santificado em nós o nome de Deus, também suplicamos que venha a nós o seu reino. Mas poderá haver algum momento em que Deus não reine? Como pode começar n’Ele o que sempre existiu e nunca deixará de existir? Não. O que pedimos é que venha o nosso reino, aquele reino que nos foi prometido por Deus e adquirido com o sangue e a paixão de Cristo, de modo que, servindo-O fielmente neste mundo, possamos um dia reinar com Ele, segundo a sua promessa: Vinde, benditos de meu Pai, recebei o reino que vos está preparado desde o princípio do mundo.

Na verdade, irmãos caríssimos, podemos entender que o próprio Cristo é o reino de Deus, cuja vinda desejamos ardentemente cada dia da nossa vida. Ele é a ressurreição, porque n’Ele ressuscitamos; por isso podemos compreender que Ele é também o reino de Deus, porque n’Ele havemos de reinar. Com razão, portanto, pedimos o reino de Deus, isto é, o reino celeste, porque há também um reino terrestre. Mas quem já renunciou ao mundo está acima das honras deste mundo e do seu reino.

Dizemos ainda na oração: Seja feita a vossa vontade, assim na terra como no céu, não para que Deus faça o que quer, mas para que façamos nós o que Deus quer. De facto, quem pode impedir que Deus faça o que quer? Nós, pelo contrário, podemos não fazer o que Deus quer, porque o diabo tenta impedir-nos de orientar os nossos sentimentos e acções segundo a vontade divina. Por isso pedimos e suplicamos que se faça em nós a vontade de Deus, e para isso precisamos da vontade de Deus, isto é, do seu poder e auxílios, porque ninguém pode confiar nas próprias forças: só na benevolência e misericórdia de Deus está a nossa segurança. Também o Senhor, manifestando a fraqueza humana que tinha assumido, diz: Pai, se é possível, afaste-se de Mim este cálice; e para dar exemplo aos seus discípulos de que não se deve fazer a vontade própria mas a de Deus, acrescentou: Todavia, não se faça como Eu quero, mas como Tu queres.

A vontade de Deus é, portanto, aquela que Cristo fez e ensinou. Humildade no trato, firmeza na fé, discrição nas palavras; justiça nas ações, misericórdia nas obras, retidão nos costumes; não ofender ninguém e suportar as ofensas recebidas, conservar a paz com os irmãos; amar o Senhor com todo o coração, amá-l’O como Pai, temê-l’O como Deus; nada recusar a Cristo, já que Ele nada nos recusou a nós; unirmo-nos inseparavelmente ao seu amor, permanecer junto à Cruz com fortaleza e confiança, quando está em jogo o seu nome e a sua honra; mostrar nas palavras a constância que professamos, nas adversidades a confiança com que lutamos, na morte a paciência que nos dá a coroa da vitória: isto é querer ser herdeiro com Cristo, isto é observar o mandamento de Deus, isto é cumprir a vontade do Pai.


Do Tratado de São Cipriano, bispo e mártir sobre a Oração Dominical
(Nn. 13-15: CSEL 3, 275-278) (Sec. III)

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