sábado, 6 de agosto de 2016

Transfiguração do Senhor




Existe uma experiência que na vida cristã não se pode ignorar. É a experiência da Cruz. Não é uma experiência fácil de assumir e que muitas vezes tentamos escapar da melhor maneira possível. Mas será realmente possível viver uma vida sem a dor? E dando um passo a mais, é possível viver um cristianismo sem Cruz? A resposta é não, Jesus mesmo diz que se queremos segui-lo, precisamos negar-nos a nós mesmos, tomar nossa cruz e, então, segui-lo (Mt 16, 24ss).

Mas Jesus sabe que não é fácil carregar a Cruz. Ele mesmo a carregou com muito esforço até o Monte do Gólgota, onde foi crucificado e morto. Ele sabe que a nossa fé vacila muitas vezes e que a tentação de deixar a nossa cruz de lado é grande. Por isso, em outro monte, o Tabor, Ele permite que alguns dos seus amigos mais próximos experimentem algo que com certeza pôde fortalecer a fé e a esperança deles e que pode fazer o mesmo com a nossa. Estamos falando da Transfiguração do Senhor.

No Oficio das Leituras de hoje podemos ler uma passagem que expressa muito bem o que significa a celebração desse dia: “Para que tivessem firme convicção no íntimo do coração e, mediante as realidades presentes, cressem nas futuras, deu-lhes ver maravilhosamente a divina manifestação do monte Tabor, imagem prefigurada do reino dos céus”.

Pensemos no que significa “imagem prefigurada do reino dos céus”. É uma antecipação daquilo que vamos viver eternamente junto a Deus, se escolhemos, com a ajuda da Graça de Deus, não deixar a nossa Cruz de lado. Se escolhemos caminhar pelo caminho do Calvário até o Gólgota e se nos deixamos crucificar junto com Jesus. Mas isso só é possível se sabemos que a morte não tem a última palavra.

E realmente não tem a última palavra, porque Jesus Ressuscitou. Deus venceu a morte e é Ele que tem a última palavra. Se os discípulos não tinham esse fato para fortalecer a sua fé, com certeza se lembraram do dia da Transfiguração de Jesus para poderem permanecerem com Ele. E sabemos pelos Evangelhos que não foi fácil, tiveram muito medo, inclusive Pedro, que havia presenciado essa transfiguração, chegou a negá-lo.

Mas a experiência de Pedro no momento da Transfiguração foi tão intensa que o levou a exclamar: “Senhor, é bom estarmos aqui”! Essa é a experiência que Deus quer que tenhamos ao seu lado, na oração, na Eucaristia, na Confissão. Quer que experimentemos que o melhor lugar em que possamos pensar é junto a Ele. Por isso nessa festa estamos chamados a buscá-lo com mais ardor, para encontrar nEle as forças para continuarmos sendo fiéis.

Por outro lado, a Transfiguração não é ainda a Ressurreição. Jesus e seus discípulos desceram do Monte Tabor porque ainda tinham uma missão que cumprir. Se era bom estar ali, era urgente anunciar a todos essa bondade, para que mais pessoas pudessem experimentá-la. Nós também somos chamados a, uma vez nutridos dessa esperança da Transfiguração, descer do monte para a nossa vida ordinária e anunciar esse encontro com Jesus, porque muitas pessoas ainda não conhecem essa verdadeira alegria de encontrar-se com Ele.

Que nessa festa possamos encontrar-nos com Jesus e, a partir desse encontro, saiamos a fazer apostolado, anunciando essa experiência com todos que ainda não a tem.


Ó Deus, que na gloriosa Transfiguração de vosso Filho confirmastes os mistérios da fé pelo testemunho de Moisés e Elias, e manifestastes de modo admirável a nossa glória de filhos adotivos, concedei aos vossos servos e servas ouvir a voz do vosso Filho amado, e compartilhar da sua herança. Amém.

sexta-feira, 5 de agosto de 2016

Santo Apolinário, bispo de Ravena




Neste mesmo dia em que comemoramos a dedicação da Basílica de Santa Maria Maior em Roma, lembramos com alegria da vida de santidade do mais antigo Bispo de Ravena: Santo Apolinário.

Nascido no Séc. I numa família pagã, foi convertido por Deus em Roma, através da pregação do apóstolo São Pedro.

No tempo de Apolinário o paganismo e sincretismo estavam dominando todo o Império e, por isso, todo evangelizador corria grandes riscos de vida. Com a missão indicando a evangelização do Norte da Itália, foi ele edificar a Igreja de Ravena, a qual tornou-se na Itália, depois de Roma, pólo do Cristianismo.

Por causa de Jesus Cristo e do Seu Reino, lutou contra as tentações, permaneceu fiel, com coragem sofreu e suportou até mesmo as torturas como confessor e, mais tarde, o martírio. Conta-nos a história que diante do Édito de Milão em 313, a Igreja Católica adquiriu liberdade religiosa e com isso pôde livremente evangelizar o Império Romano, assim como venerar seus santos; é deste período que encontramos em Ravena grande devoção ao Santo Bispo do qual celebramos hoje, herói da nossa fé.

Santo Apolinário, rogai por nós!


Deus eterno e todo-poderoso, que destes a santo Apolinário a graça de lutar pela justiça até a morte, concedei-nos, por sua intercessão, suportar por vosso amor as adversidades e correr ao encontro de vós, que sois a nossa vida. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, Vosso Filho, na unidade do Espírito Santo. Amém

Desposar-te-ei para sempre


A alma, unida e transformada em Deus, respira em Deus para Deus, com profundíssima aspiração semelhante à divina que Deus, nela presente, respira em si mesmo; é este seu modelo. Tanto quanto entendo, foi isto que São Paulo quis dizer com estas palavras: Porque sois filhos, enviou Deus a vossos corações o Espírito de seu Filho que clama: Abá, Pai! (Gl 4,6). É o que se dá com os perfeitos. 

Não é de admirar que a alma possa realizar coisa tão sublime. Se Deus lhe concedeu o favor da união deiforme na Santíssima Trindade, por que, pergunto, será incrível que ela possa realizar sua vida de inteligência, conhecimento e amor na Trindade, unida à própria Trindade, assemelhando-se ao máximo a ela e tendo a viver nela o próprio Deus?  

Nenhuma capacidade ou sabedoria poderá expressar melhor como isto se faz do que as palavras do Filho de Deus pedindo para nós este sublime estado e lugar e prometendo que seríamos filhos de Deus. Assim rogou ao Pai: Pai, aqueles que me deste quero que onde eu estou, estejam eles comigo (Jo 17,24), realizando por participação aquilo mesmo que faço. Disse mais: Não rogo apenas por eles, mas também por aqueles que crerão em mim, através de suas palavras; para que todos sejam um como tu, Pai, em mim e eu em ti, que também eles sejam um em nós; para que o mundo creia que tu me enviaste. E eu lhes dei a glória que me deste para que sejam um assim como nós somos um. Eu neles e tu em mim, a fim de que sejam consumados na unidade; e o mundo conheça que me enviaste e os amaste como também me amaste a mim (Jo 17,20-23). 

O Pai põe em comum com eles o mesmo amor que comunica ao Filho: não no entanto, por natureza, como ao Filho, mas pela unidade e transformação operadas pelo amor. Também não se deve entender que o Filho peça ao Pai que os santos sejam um por essência, como são um o Pai e o Filho na unidade do amor. Os santos possuem assim, por participação, os mesmos bens que eles possuem por natureza. Por isso são verdadeiramente deuses por participação, feitos à semelhança e consortes do próprio Deus. 

Daí dizer Pedro: Graça e paz a vós em abundância no conhecimento de Deus e do Cristo Jesus, nosso Senhor. O poder divino nos concedeu tudo quanto se relaciona à vida e à piedade. Pelo conhecimento daquele que nos chamou por sua própria glória e virtude, por quem cumpriu para nós as maiores e mais preciosas promessas, para que por elas nos tornemos consortes da natureza divina (2Pd 1,2-4). Nesta união a alma é, pois, feita em seu agir participante da Trindade. Isto só se dará perfeitamente na vida futura; contudo já nesta vida se alcança não pequena parcela e antegozo. 

Ó almas, criadas para o gozo de tão indizíveis dons, que fazeis? Para onde se voltam vossos esforços? Ó deplorável cegueira dos filhos de Adão, fecham-se os olhos à imensa luz envolvente e se tornam surdos a tão potentes palavras!



Do Cântico espiritual, de São João da Cruz, sacerdote
(Red. A, str. 38)                 (Séc. XVI)

A última Missa em Latim


- Foi tão bonito, Pai. Foi tão bonita a tua presença. Tanta felicidade, que não havia como acreditar no que estava acontecendo. Algumas vezes, parecia que tuas bênçãos derramavam-se sobre nós. Em outras, nem sei como dizer isto, mas julguei que as pessoas olhavam para mim como se desejassem estar no meu lugar. Ou seria um pouco de vaidade tomando conta de mim? Perdoa-me, meu Pai, pois até um pobre homem como eu também fica sujeito a essas fraquezas.

No trajeto em direção à velha igreja, para onde se dirigia todas as manhãs a fim de tocar os sinos que anunciavam a missa aos fiéis, seu Ludinho procurava colocar os pensamentos em ordem, com a mente voltada para a noite do dia anterior, um domingo, quando ajudou Monsenhor a celebrar a última missa em latim para os paroquianos da cidade.

Quantas vezes, recordou, e nunca mais haveriam de se repetir as cerimônias em que tomara parte ativa durante toda sua vida. Nunca mais ouviria os cânticos que tanto compraziam Monsenhor e que ele mesmo se esforçava para acompanhar, repetindo-os muito mais com o pensamento do que com a própria voz. Não, seu Ludinho sabia que as coisas nunca mais seriam como antes.

Envolvido em profundo recolhimento, ocupara ele, na noite anterior, o seu lugar na celebração, de corpo e alma entregue aos cuidados de um ritual que, mesmo sabendo-o repetido e de cor, em certas ocasiões fazia nele ressurgir a mesma emoção que sentiu ao ajudar Monsenhor pela primeira vez. Tão forte, que jamais teria como esquecê-la. Dessa vez, no entanto, ele sabia que fora tudo diferente.

– Alguém chegou a lhe dizer, não é mesmo seu Ludinho, que a última vez é sempre diferente?

Bastante idoso, todos os dias seu Ludinho acordava muito cedo. Levantava-se com o canto das primeiras aves que, de quintal em quintal, desdobravam-se para lembrar que, também para ele, era chegada a hora da alvorada. E levantava fazendo o seu “Em nome do Pai”, em paz consigo mesmo e entregue às lembranças de uma vida que os mais antigos diziam reportar ao tempo de seus avós. O que, na verdade, não passava de simples brincadeira, apesar de ninguém conhecer a verdadeira idade que ele tinha: oitenta anos, de qualquer forma, pareciam lhe cair bem. Fosse como fosse, seu Ludinho nunca admitiu ter mais de setenta. E, em respeito ao seu desejo, esta ficou sendo a sua idade: setenta anos que, repetidos, ano a ano, continuavam a ser apenas setenta anos.

Seu Ludinho andava muito devagar e seus passos, um a um, arrastando-se pelas calçadas, demoravam três a quatro vezes o tempo gasto por uma pessoa de meia idade em igual trajetória. Sua estatura mal ultrapassava o ombro de uma pessoa de médio porte e como seus olhos estavam sempre voltados para o chão, isso o fazia parecer ainda mais baixo do que era.

Usando, o mais das vezes, um mesmo terno de cores encardidas, corroído pelo uso e nada proporcional à fragilidade de seu corpo, a aparência de Seu Ludinho, recurvado e à distância, não diferia muito de um bem antigo sacristão; e olha ali, devagarinho, lá vai ele.

Naquela manhã, ao se dirigir à igreja, uma chuvinha fina e persistente surpreendeu-o a poucos passos de sua casa. Ao contrário de seus hábitos, estava bastante atrasado, mas, como havia se esquecido do guarda-chuva, recostou-se debaixo do beiral de um telhado para ver se as águas passavam. De repente, lembrou-se que, naquele dia, era aniversário de Monsenhor.

– Coitado de Monsenhor – foi-se deixando levar, após muita recusa em dar curso a alguns pensamentos que insistiam em provocá-lo. – Depois de tantos anos, prosseguiu, seria difícil Monsenhor se acostumar com os novos tempos que chegavam para a Igreja. Quem celebrou missa em latim a vida inteira não veria com bons olhos a nova liturgia, toda ela de tal modo instituída que a qualquer um seria dado agora, fácil, fácil, desvendar os seus mistérios e o que mais fosse.

Não, seu Ludinho não concordava nem um pouco com o que estava acontecendo. Para ele, o mais bonito da missa sempre esteve associado à forma como se cumpriam os seus rituais. Não via sentido em substituírem o latim nos textos sacros. Depois, transpostos para o português, eles ficariam transparentes demais, irreconhecíveis mesmo, sem dizer que até um vagabundo como Zé Margarida, esse arruaceiro incapaz de soletrar o próprio nome, poderia vir a entender o que até então fora exclusividade de alguns poucos, entre os quais, ele próprio, seu Ludinho, conquistara seu lugar.

Missa em latim, para seu Ludinho, era outra coisa. Essa ficava somente ao alcance da competência de Monsenhor. Do seu zelo pelas tradições. Do fervor com que se entregava às suas preces. E de conhecer tão a fundo o antigo idioma dos romanos que poucos conseguiriam se expressar naquela língua com tanta fluência como ele.

Dava gosto assistir às suas missas. Sem dizer do bem que fazia a seu Ludinho ouvi-lo pronunciar uma daquelas bonitas citações tão presentes em seus sermões. Uma delas, por exemplo, ele sabia quase de cor. Tamanha era sua carga de persuasão e envolvimento que, mais de uma vez, após Monsenhor traduzi-la em linguagem corrente, seu Ludinho notou uma ponta de arrepio subir à face dos fiéis lá melhor aquinhoados com os bens desta vida, enquanto os outros, os mais desafortunados, como que suspiravam aliviados diante de algo que caía como uma luva para compensá-los da pobreza e da penúria dos seus dias.

E foi com a mente voltada para essas recordações que seu Ludinho, recompondo-a como pôde, ouviu de novo ressoar a velha sentença tantas vezes proclamada por Monsenhor; aquela que fala da passagem de um camelo pelo buraco de uma agulha:

Facilius est camelum per foramen acus transire do que um rico entrar no reino dos céus.

– E abolirem uma prática dessas – queixou-se, contrariado, por ter esquecido algumas palavras do texto original.

Bem, em vista dos laços que os uniam, é verdade que Monsenhor continuaria a ser para ele o mesmo Monsenhor de sempre, mas, de qualquer forma, diante do ocorrido, não via como continuar ajudando-o nas celebrações.

– Ah, os tempos estão mudando, seu Ludinho – soprava-lhe uma voz no fundo do pensamento. – Não vê que, se todas as coisas passam, as missas um dia também acabariam se modificando?

Dedicação da Basílica de Santa Maria Maior

 
A liturgia nos convida hoje a comemorar a Dedicação da Basílica de Santa Maria Maior, o primeiro tempo mariano construído em Roma. Esta Igreja construída durante o pontificado do Papa Sisto III surgiu no Esquilino, no século IV, entre 432 e 440, foi consagrada no dia 15 de agosto pouco depois do Concílio de Éfeso (431) em que se definiu a maternidade divina de Maria.

A belíssima Basílica de Santa Maria Maior, também conhecida como Basílica de Nossa Senhora das Neves, ou Basílica Liberiana, é uma das basílicas papais. Nas extremidades da rua Merulana é possível vislumbrar duas das basílicas papais, a saber: Santa Maria Maior e São João de Latrão.

Ao solicitar a construção desta igreja, o Papa solicitou que fosse grande e majestosa, e é pela grandiosidade desta igreja é que a ela deu-se o nome pelo qual é conhecida: Basílica de Santa Maria Maior.

Nesta igreja foi realizado o primeiro presépio sobre o qual se tem conhecimento, por isso ficou também conhecida como “Basílica de Santa Maria do Presépio”. Aqui encontram-se os primeiros e mais belos mosaicos alusivos à Virgem. É indizível a beleza desta basílica e é de fato, um dos maiores e mais belos santuários da cristandade.

A festa litúrgica da “Dedicação de Santa Maria Maior” que acontece no dia 5 de agosto passou a constar no calendário litúrgico a partir do ano de 1568.


Perdoai, Senhor, os nossos pecados, e como já não vos podemos agradar por nossos atos, sejamos salvos pela intercessão da Virgem Maria, Mãe de Deus. Amém.

quinta-feira, 4 de agosto de 2016

O perdão de Deus não tem limites, reforça Papa




VISITA À BASÍLICA DE SANTA MARIA DOS ANJOS
POR
OCASIÃO DO VIII CENTENÁRIO DO PERDÃO DE ASSIS

MEDITAÇÃO DO SANTO PADRE

Basílica de Santa Maria dos Anjos - Assis
Quinta-feira 4 de agosto de 2016


Queridos irmãos e irmãs!

Gostaria hoje de começar por lembrar as palavras que, segundo uma antiga tradição, São Francisco pronunciou aqui mesmo, perante todo o povo e os bispos: «Quero mandar-vos todos para o paraíso». Que poderia o Pobrezinho de Assis pedir de mais belo do que o dom da salvação, da vida eterna com Deus e da alegria sem fim, que Jesus nos conquistou com a sua morte e ressurreição?

Aliás, que é o paraíso senão o mistério de amor que nos liga para sempre a Deus numa contemplação sem fim? Desde sempre a Igreja professa esta fé ao afirmar que acredita na comunhão dos santos. Na vivência da fé, nunca estamos sozinhos; fazem-nos companhia os Santos, os Beatos e também os nossos queridos que viveram com simplicidade e alegria a fé e a testemunharam na sua vida. Há um vínculo invisível – mas não por isso menos real – que, em virtude do único Batismo recebido, faz de nós «um só corpo» animados por «um só Espírito» (cf. Ef 4, 4). São Francisco, ao pedir ao Papa Honório III o dom da indulgência para quantos viessem à Porciúncula, talvez tivesse em mente estas palavras de Jesus aos seus discípulos: «Na casa de meu Pai há muitas moradas. Se assim não fosse, como teria dito Eu que vos vou preparar um lugar? E quando Eu tiver ido e vos tiver preparado lugar, virei novamente e hei-de levar-vos para junto de mim, a fim de que, onde Eu estou, vós estejais também» (Jo 14, 2-3).

A via mestra a seguir para alcançar o tal lugar no Paraíso é, sem dúvida, a estrada do perdão. E aqui, na Porciúncula, tudo fala de perdão. Que grande prenda nos deu o Senhor ao ensinar-nos a perdoar, para tocar quase sensivelmente a misericórdia do Pai! Há pouco ouvimos a parábola com que Jesus nos ensina a perdoar (cf. Mt 18, 21-35). Porque deveremos perdoar a uma pessoa que nos fez mal? Porque antes fomos perdoados nós mesmos… e infinitamente mais. É isto mesmo que nos diz a parábola: tal como Deus nos perdoa a nós, assim também devemos perdoar a quem nos faz mal. Precisamente como dizemos na oração que Jesus nos ensinou, o Pai Nosso: «Perdoai-nos as nossas ofensas, assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido» (Mt 6, 12). As ofensas são os nossos pecados diante de Deus, e, àqueles que nos ofenderam, também nós devemos perdoar.

Cada um de nós poderia ser aquele servo da parábola que tem uma dívida para pagar, mas tão grande, tão grande que nunca conseguiria satisfazê-la. Também nós, quando nos ajoelhamos aos pés do sacerdote no confessionário, estamos simplesmente a repetir o mesmo gesto daquele servo. Dizemos: «Senhor, tem paciência comigo!» Na realidade, sabemos bem que estamos cheios de defeitos e muitas vezes recaímos nos mesmos pecados. E todavia Deus não se cansa de nos oferecer o seu perdão, sempre que Lho pedimos. É um perdão completo, total, dando-nos a certeza de que, não obstante podermos voltar a cair nos mesmos pecados, Ele tem piedade de nós e não cessa jamais de nos amar. Como o senhor da parábola, Deus compadece-Se, isto é, experimenta um sentimento de piedade combinada com ternura: é uma expressão para indicar a sua misericórdia para conosco. Com efeito, o nosso Pai sempre Se compadece, quando estamos arrependidos e manda-nos voltar para casa de coração tranquilo e sereno dizendo que todas as coisas nos foram remidas e nos perdoou tudo. O perdão de Deus não tem limites; ultrapassa toda a nossa imaginação e alcança toda e qualquer pessoa que, no íntimo do coração, reconheça ter errado e queira voltar para Ele. Deus vê o coração que pede para ser perdoado.