quarta-feira, 14 de setembro de 2016

A cruz é a glória e a exaltação de Cristo



Celebramos a festa da santa cruz, que dissipou as trevas e nos restituiu a luz. Celebramos a festa da santa cruz, e junta mente com o Crucificado somos elevados para o alto, para que, deixando a terra do pecado, alcancemos os bens celestes. Tão grande é o valor da cruz, que quem a possui, possui um tesouro. E chamo‑a justamente tesouro, porque é na verdade, de nome e de facto, o mais precioso de todos os bens. Nela está a plenitude da nossa salvação e por ela regressamos à dignidade original.
 
Com efeito, sem a cruz, Cristo não teria sido crucificado. Sem a cruz, a Vida não teria sido cravada no madeiro. E se a Vida não tivesse sido crucificada, não teriam brotado do seu lado aquelas fontes de imortalidade, o sangue e a água, que purificam o mundo; não teria sido rasgada a sentença de condenação escrita pelo nosso pecado, não teríamos alcançado a liberdade, não poderíamos saborear o fruto da árvore da vida, não estaria aberto para nós o Paraíso. Sem a cruz, não teria sido vencida a morte, nem espoliado o inferno.
 
Verdadeiramente grande e preciosa realidade é a santa cruz! Grande, porque é a origem de bens inumeráveis, tanto mais excelentes quanto maior é o mérito que lhes advém dos milagres e dos sofrimentos de Cristo. Preciosa, porque a cruz é simultaneamente o patíbulo e o troféu de Deus: o patíbulo, porque nela sofreu a morte voluntariamente; e o troféu, porque nela foi mortalmente ferido o demónio, e com ele foi vencida a morte. E deste modo, destruídas as portas do inferno, a cruz converteu‑se em fonte de salvação para todo o mundo. A cruz é a glória de Cristo e a exaltação de Cristo.
 
A cruz é o cálice precioso da paixão de Cristo, é a síntese de tudo quanto Ele sofreu por nós. Para te convenceres de que a cruz é a glória de Cristo, ouve o que Ele mesmo diz: Agora foi glorificado o Filho do homem e Deus foi glorificado n’Ele e em breve O glorificará. E também: Glorifica‑me, ó Pai, com a glória que tinha junto de Ti, antes de o mundo existir. E noutra passagem: Pai, glorifica o teu nome. Veio então uma voz do Céu: ‘Eu O glorifiquei e de novo O glorificarei’.
 
E para saberes que a cruz é também a exaltação de Cristo, escuta o que Ele próprio diz: Quando Eu for exaltado, então atrairei todos a Mim. Como vês, a cruz é a glória e a exaltação de Cristo.




Dos Sermões de Santo André de Creta, bispo
(Sermão 10, na Exaltação da Santa Cruz: PG 97, 1018-1019.1022-1023) (Sec. VIII)

Existe liberdade de arbítrio?


“O homem possui realmente liberdade de arbítrio, de modo a ser responsável por seus atos?” (Tiago Natal - Rio de Janeiro-RJ).

Questão formulada a propósito de um texto de Alexandre Dumas:

- "Diz-se que Deus outorgou ao homem o livre arbítrio (...) Se o deu, só o deu ao primeiro homem que Ele criou (...) Tal pai, tal filho. Após o segundo homem, não somos mais as criaturas de Deus (...) O pai foi culpado, o filho é criminoso; a transmissão fisiológica tem início, a fatalidade hereditária se impõe".

1. A liberdade de arbítrio de que entendemos tratar aqui é a propriedade arraigada na vontade do homem, de poder escolher entre o agir e o não agir, entre o agir deste modo e o agir daquele modo.

A existência desta propriedade se deriva das proposições seguintes:

- O homem possui duas faculdades que o caracterizam como ser espiritual: a inteligência e a vontade.

- A inteligência é capaz de formar o conceito de ser como tal, abstração feita de tal e tal modalidade do mesmo. Quanto à vontade, é a faculdade que ama o ser previamente conhecido pela inteligência.

- Ora todo ser, por natureza, é bom (o mal é uma carência). Disto se segue que a vontade em qualquer de seus atos quer o bem, e não pode querer senão o bem (o bem real ou, ao menos, o bem aparente).

Digamos agora que a inteligência apresente à vontade o Ser (que é também o Bem) real infinito (Deus) apreendido como infinito, sem mistura de não-ser ou de imperfeição; a vontade então não pode deixar de aderir a Ele e de se dar por plenamente satisfeita; no caso, não goza de liberdade, porque o não agir ou o agir de outro modo não lhe podem parecer um bem (o Bem infinito é o que esgota o conceito de Bem). Todavia, o encontro face a face com o Infinito não se dá na vida presente. Todo bem que a inteligência conheça na terra ou é finito ou é o Infinito (Deus) apreendido analogamente, à semelhança dos seres finitos; de onde se segue que, enquanto está unida ao corpo, a vontade humana nunca é necessariamente solicitada por determinado objeto. Qualquer ser que se lhe apresente, pode-lhe aparecer não somente como um bem, mas também como um não-bem ou como um bem deficiente (o próprio Deus lhe ocorre não apenas como Pai atraente, mas também como o Legislador coibitivo de tais e tais prazeres desregrados e, enquanto tal, pode ser repudiado).

É isto que nos leva à conclusão de que a vontade humana goza de liberdade de arbítrio neste mundo em relação a qualquer bem criado e em relação ao próprio Criador; enquanto a inteligência apresenta à vontade os aspectos de um objeto convenientes às disposições momentâneas do sujeito, a vontade se inclina para esse objeto; dado, porém, que o indivíduo se ponha a considerar os aspectos do mesmo objeto que contrariam às paixões do sujeito, a vontade já tem fundamento para o rejeitar.

Eis brevemente o argumento filosófico de onde se deduz a existência do livre arbítrio no homem. Tal raciocínio é comprovado pela experiência: todo indivíduo tem consciência de ser, por natureza, senhor de seus atos, responsável do que fez e deixou de fazer; pressuposto isto, as leis sempre estabeleceram sanções correlativas ao procedimento do homem.

2. Vejamos agora outro aspecto da questão.

São Materno de Colônia


São Materno é celebrado pela tradição como o primeiro bispo da cidade de Colônia, na Alemanha. Ainda segundo a tradição, no século quarto, Materno veio da Palestina para evangelizar os germânicos. 

Materno viveu num período de crises da Igreja. Após um período de perseguições do império, o problema agora estava no próprio seio da Igreja, que estava em perigo de dividir-se por causa das heresias. 

O bispo Materno foi um grande pacificador na Igreja. Por causa da heresia donatista, ele viu-se obrigado a deslocar-se para o norte da África. A heresia donatista pregava o elitismo moral cristão, deixando de lado os infiéis e pecadores. Por causa de suas infidelidades, estes cristãos não poderiam nunca mais ser admitidos a comunhão da Igreja. 

Materno interferiu na comunidade africana, mostrando-se favorável ao reestabelecimento da paz e da comunhão dos cristãos que tinham extraviado do bom caminho. Mas, mesmo assim, o cisma donatista continuou a espalhar-se pelo norte da África. 

São Materno é venerado pelo poo germânico e suas ações estão estampadas nos vitrais da Catedral de Tréveres, que também abriga seus restos mortais. 



Ó Deus pai de bondade, que enviastes vosso servo São Materno para reconciliar os cristãos entre si e manter a unidade da fé, ensinai-nos a viver de tal modo unidos a Vós que em tudo que fizermos proclamemos vosso amor. Por Cristo Nosso Senhor. Amém. 

Exaltação da Santa Cruz


Nos reunimos com todos os santos, neste dia, para exaltar a Santa Cruz, que é fonte de santidade e símbolo revelador da vitória de Jesus sobre o pecado, a morte e o demônio; também na Cruz encontramos o maior sinal do amor de Deus, por isso : “Nós, porém, pregamos um Messias crucificado, escândalo para os judeus, loucura para os pagãos ” (I Cor 1,23).

Esta festividade está ligada à dedicação de duas importantes basílicas construídas em Jerusalém por ordem de Constantino, filho de Santa Helena. Uma, construída sobre o Monte do Gólgota e outra, no lugar em que Cristo Jesus foi sepultado e ressuscitado pelo poder de Deus. A dedicação destas duas basílicas remonta ao ano 335, quando a Santa Cruz foi exaltada ou apresentada aos fiéis. Encontrada por Santa Helena, foi roubada pelos persas e resgatada pelo imperador Heráclio.

Graças a Deus a Cruz está guardada na tradição e no coração de cada verdadeiro cristão, por isso neste dia, a Igreja nos convida a rezarmos: “Do Rei avança o estandarte, fulge o mistério da Cruz, onde por nós suspenso o autor da vida, Jesus. Do lado morto de Cristo, ao golpe que lhe vibravam, para lavar meu pecado o sangue e a água jorravam. Árvore esplêndida bela de rubra púrpura ornada dos santos membros tocar digna só tu foste achada”.“Viva Jesus! Viva a Santa Cruz!”

Santa Cruz, sede a nossa salvação!


Exaltai ao Senhor, nosso Deus 
e prostrai-vos ante o escabelo de seus pés 
porque Ele é Santo.

Salva-nos, ó Filho de Deus, 
Tu que foste crucificado na carne, 
a nós, que a Ti cantamos: aleluia!

Salva, Senhor, o teu povo 
e abençoa a tua herança. 
Concede à tua Igreja a vitória sobre o mal 
e guarda o teu rebanho pela tua Cruz.

Tu, ó Cristo Deus, que, voluntariamente, foste erguido na Cruz, 
tem compaixão do povo que traz o teu Nome. 
Alegra, pelo teu poder, a tua santa Igreja 
e concede-lhe a vitória sobre o mal. 
Que tua aliança seja para nós 
uma arma de paz e um troféu de vitória!

Diante da tua Cruz † (sinal da cruz), ó Mestre, nos prostramos 
e glorificamos a tua santa Ressurreição. (3 vezes)

Glória ao Pai † …

E glorificamos a tua santa Ressurreição.

Diante da tua Cruz †, ó Mestre, nos prostramos 
e glorificamos a tua santa Ressurreição.

Exaltai ao Senhor, nosso Deus 
e prostrai-vos ante o escabelo de seus pés porque ele é Santo.

O Senhor reina, alegrem-se os povos; 
seu trono está sobre os Querubins, vacila a terra. (Sl 99, 5)

Aleluia, aleluia, aleluia!

Lembra-te do teu povo que elegeste há tanto tempo; 
recuperaste o cetro de tua herança. 
Aleluia, aleluia, aleluia!

Deus, que é nosso Rei antes dos séculos, 
operou a salvação no meio da terra. 
Aleluia, aleluia, aleluia!

Ó Mãe de Deus, tu és o paraíso místico, 
pois sem ser cultivada, produziste Cristo, 
que plantou a árvore da Cruz. 
Por isso, agora O adoramos crucificado 
e a ti exaltamos.

Gravada está sobre nós, Senhor, 
a luz da tua face. 
Aleluia, aleluia, aleluia!

Ó Cristo Deus, que voluntariamente foste suspenso à Cruz, 
tem compaixão do povo que traz o teu nome. 
Alegra, pelo teu poder, a tua santa Igreja 
dando-lhe a vitória sobre o mal. 
Que tua aliança seja para nós 
uma arma de paz e um troféu de vitória.

Cumprida, Senhor foi a palavra de teu profeta Moisés: 
«Vereis vossa Vida suspensa a vossos olhos». 
Hoje, a Cruz é exaltada e o mundo se liberta do erro. 
Hoje, renova-se a ressurreição de Cristo; 
regozijam-se os confins da terra, 
e, com hinos e salmos, como outrora Davi, exclamam: 
«Realizaste hoje, a salvação do mundo, 
passando pela Cruz e a Ressurreição, 
pelas quais nos libertaste, Senhor Nosso Deus!»


Ó Tu, que amas a humanidade, Senhor, glória a Ti!

terça-feira, 13 de setembro de 2016

Mensagem sobre as Eleições


Dia 02 de outubro próximo, o povo brasileiro é chamado novamente às urnas, para definir quem vai lhe prestar serviços no governo municipal. Deveremos eleger o Prefeito, o Vice e os Vereadores.

Neste momento singular da democracia, a Arquidiocese de Juiz de Fora, consciente de sua responsabilidade social, deseja oferecer ao Povo de Deus algumas indicações práticas, a fim de que o eleitor possa agir com liberdade e escolher com responsabilidade os seus candidatos. Tanto a Bíblia quanto a Doutrina Social da Igreja nos mostram que o compromisso político é uma das formas de realizar o dever cristão de servir ao próximo (Cf. Compêndio da Doutrina Social da Igreja, nº 565).

Entre outras coisas, é bom que cada eleitor fique atento aos seguintes pontos práticos:

1 ‐ Sugerimos que ninguém anule ou deixe seu voto em branco. Seria omissão.

2 ‐ Nunca se deve aceitar doações em dinheiro, ou qualquer outro benefício, de candidatos em troca do voto. Quem vende seu voto, vende sua dignidade. 

3 ‐ O eleitor católico defende a vida e a dignidade da pessoa humana. Ao dar seu voto, deve informar‐se a respeito da postura do candidato, se uma vez eleito ele vai defender a vida humana desde a concepção (fecundação) até o seu fim natural, não apoiando programas e nem políticos contrários a estes princípios éticos.

4 ‐ A Igreja é totalmente contrária a qualquer tipo de violência praticada contra a mulher, ou a qualquer ser humano, bem como praticada contra o patrimônio público ou particular. Ela defende a paz e a ordem social e sabe que os fins não justificam os meios. Ela está sempre preocupada com as classes empobrecidas ou enfraquecidas de alguma forma. Isto, contudo, não significa que ela possa aceitar tipos de ideologias contrárias à ética e à moral presente nos santos evangelhos e na doutrina cristã.

5 ‐ O eleitor deve informar‐se a respeito do desempenho político do candidato e se ele tem ficha limpa. Nunca vote em candidato que tenha histórico de corrupção.

Política e religião se misturam? Se sou cristão, em quem votar?


Os velhos jargões contra a religião se inflamam nos discursos em tempos de eleições. Como a religião possui um forte apelo às consciências e a moralidade humana, ela tem um poder de alcance muito grande entre as pessoas pela transmissão do dado de fé que é comum a um grupo de religiosos. Isso incomoda, de modo especial aos políticos, os avessos aos princípios religiosos e a moralidade humana pregada pela religião, que são benéficos para a sociedade como um corpo.

Quando existe um projeto de poder seja por ideologia, ganância, interesses pessoais ou mesmo de instituições e que venham a se opor à moral instruída por uma doutrina de fé, os discursos políticos e até falsamente “religiosos” tentam de todo modo castrar as religiões e os seus representantes para que nada opinem, de tal modo que eles não sejam impedidos de chegarem ao poder.

Afinal, “Política e religião se misturam”? Sim! Explico: a divisão entre religião e política é apenas categórica para o estabelecimento de um esquema de funcionamento das partes, quer dizer, serve para dividir exercício de funções dentro de um corpo social, como numa divisão de tarefas. Aí você diz: “Então religião e política não se misturam”. Calma! Há de concordar comigo que essa divisão não existe dentro do homem. Pois o mesmo homem religioso que crê e celebra as coisas do seu Deus, é o mesmo que vota carregando consigo os princípios e valores morais enraizados em sua espiritualidade, senão teríamos um grave caso de esquizofrenia moral, seria como ter duas personalidades diferentes, uma para política e outra para religião, e isso seria uma enfermidade social e moral na vida do indivíduo. Esse dualismo moral é prejudicial. O homem tem que ser autêntico, um só, indiviso. Se não tudo seria hipocrisia e contradição!

Se nas urnas esqueço o católico que sou e o que a minha fé exige da vida social, estou agindo sem nenhuma autenticidade. Seria a cizânia, a ruptura e a traição consentidas.

Então antes de votar, pense bem no cristão que você é, não ignore os fatores de perseguição à liberdade de expressão, à imprensa, às mídias sociais, à liberdade religiosa, à vida por práticas e projetos abortistas, à dignidade da pessoa humana, aos direitos humanos e às leis naturais, especialmente acerca da família. Não ignore os fatos como a corrupção comprovada, julgada e sentenciada, os projetos socialistas e comunistas que por sua própria natureza atentam contra as liberdades religiosas e de expressão, alimentam a luta de classes e o pecado do fratricídio (irmãos que matam irmãos). Um cristão não pode consentir com estas coisas.

E diz: “Não sei em quem votar!? Quase todos tem problemas, quase todos tem sobre si numerosas acusações. O que faço?” Existe o chamado princípio ético do “mal menor” que pode salvar seu voto nessas eleições. O que é isso? Quando um bem torna-se impossível e só resta duas ou mais opções que não correspondam nenhuma delas ao bem que você tanto deseja, se escolhe dentre estas o menor mal de todos. Se você escolher o maior mal dentre as possibilidades que tem, você só aumenta o progresso do mal. Se escolhe o menor, você diminui sua força, e quem sabe está começando abrir caminho para o bem, e no futuro não precisará escolher o mal menor, mas sim o próprio bem. Se o mal progredir, o bem se afasta ainda mais do nosso horizonte. Escolhendo o mal menor diminuímos seu progresso e o bem torna-se mais viável.

Alguém vai ser presidente, alguém vai governar nosso Estado. Votar em branco ou nulo é completamente inútil em certo sentido. É dar o voto a ninguém, mas alguém vencerá e governará do mesmo modo. Por que não ajudar escolhendo com nosso um bem possível ou ao menos um mal menor quando for impossível o bem mais imediato? Não devemos ter preguiça e má vontade para esse dever cívico. Reflitamos e discutamos sobre política com nossos princípios.

Para mim, viver é Cristo e morrer é lucro


  
Muitas vagas e fortes tempestades nos ameaçam, mas não tememos ser submergidos, porque nos apoiamos na rocha firme. Por mais que se enfureça o mar, nunca poderá quebrar esta rocha; por mais que se levantem as ondas, nunca poderão afundar a nau de Jesus. Que havemos de temer? A morte? Para mim, viver é Cristo e morrer é lucro. O exílio? Do Senhor é a terra e tudo o que nela existe. A confiscação dos meus bens? Nada trouxemos para este mundo e também nada daqui podemos levar. Para mim, os perigos deste mundo só merecem desprezo, e os seus bens não passam do ridículo. Não temo a pobreza nem ambiciono riquezas; não receio a morte nem desejo viver, senão para vosso proveito. Por isso, ao recordar-vos a situação presente, exorto a vossa caridade para que tenha confiança.
 
Não ouvis a palavra do Senhor: Onde dois ou três se reúnem em meu nome, Eu estou no meio deles? E não estará presente o Senhor no meio de um povo tão numeroso, unido pelos vínculos da caridade? Estarei eu porventura confiado nas minhas próprias forças? Não. Eu tenho a promessa do Senhor, tenho comigo a sua palavra escrita: este é o meu bordão, esta é a minha segurança, este o meu porto tranquilo. Ainda que todo o mundo se perturbe, eu tenho a sua resposta por escrito, leio a sua Escritura: esta é a minha muralha, esta é a minha fortaleza. Que diz a Escritura? Eu estou convosco todos os dias até ao fim do mundo.
 
Cristo está comigo; a quem hei-de temer? Ainda que se lancem contra mim as ondas do mar ou o furor dos príncipes, tudo isto para mim é mais desprezível do que uma teia de aranha. E se a vossa caridade me não retivesse aqui, não recusaria partir hoje mesmo para onde quer que fosse. Porque sempre estou dizendo: Senhor, seja feita a vossa vontade; não o que quer este ou aquele, mas o que Vós quereis que eu faça. Esta é a torre que me abriga, esta é a pedra firme que me sustenta, este é o bordão que não me deixa vacilar. Seja o que Deus quiser. Se Ele quer que eu permaneça aqui, fico-Lhe agradecido. Se me chama para qualquer outro lado, sempre Lhe darei graças.
 
Onde eu estiver, ali estareis vós também; e onde estiverdes vós, ali estarei também eu. Somos um só corpo; e nem o corpo se separa da cabeça, nem a cabeça do corpo. Ainda que estejamos em lugares distantes, ficamos sempre unidos pela caridade e nem a própria morte poderá separar-nos. Porque o corpo morre, mas a alma sobrevive; e a minha alma sempre se recordará do meu povo.
 
Esta é a minha pátria e a minha família; vós sois os meus pais, meus irmãos e meus filhos; sois membros do mesmo corpo; sois a minha luz, uma luz mais amável que a luz do dia. Que brilho pode haver para mim mais agradável que a vossa caridade? O brilho da luz do dia é-me útil na vida presente; mas a vossa caridade prepara-me uma coroa para a vida futura.




Das Homilias de São João Crisóstomo, bispo
(Antes de partir para o exílio, nn. 1-3: PG 52, 427-430) (Sec. IV)

Como comungar, se tenho intolerância ao glúten?


Segundo a Federação Nacional das Associações de Celíacos do Brasil, "a doença celíaca é uma condição crônica que afeta principalmente o intestino delgado. É uma intolerância permanente ao glúten, uma proteína encontrada no trigo, centeio, cevada, aveia e malte". O tratamento indicado para os celíacos é "evitar por toda a vida alimentos que contenham glúten".

Trata-se de uma doença que atinge um número significativo de pessoas e com variada intensidade. Existem celíacos que apresentam uma reação leve ao glúten e outros uma reação extremada. Como, então, essas pessoas podem comungar, uma vez que as hóstias são feitas com trigo?

O Cardeal Joseph Ratzinger, quando era Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, em 24 de julho de 2003, assinou uma carta circular falando sobre o uso do pão com pouca quantidade de glúten e do mosto como matéria eucarística. Nela afirma que:

1. As hóstias completamente sem glúten são matéria inválida para a eucaristia.

2. São matéria válida as hóstias parcialmente desprovidas de glúten, de modo que nelas esteja presente uma quantidade de glúten suficiente para obter a panificação, sem acréscimo de substâncias estranhas e sem recorrer a procedimentos tais que desnaturem o pão.

Já existem no mercado hóstias especiais para celíacos, que contém uma reduzida quantidade de glúten, uma vez que é impossível confeccioná-las e consagrá-las totalmente sem glúten, conforme o item 1 acima citado.