terça-feira, 4 de outubro de 2016

Devemos ser simples, humildes e puros


O Pai altíssimo, pelo seu arcanjo São Gabriel, anunciou à santa e gloriosa Virgem Maria que o seu Verbo, tão santo, digno e glorioso, ia descer do Céu. Do seio de Maria tomou Ele a carne verdadeira da nossa humanidade e fragilidade. Sendo Ele mais rico que tudo, quis no entanto escolher a pobreza com sua Mãe bem-aventurada. E ao aproximar-se a sua paixão celebrou a Páscoa com os discípulos. Depois rezou ao Pai, dizendo: Pai, se é possível, afaste-se de mim este cálice. 

Submeteu todavia a sua vontade à vontade do Pai. Ora, a vontade do Pai foi esta: que seu Filho bendito e glorioso, que Ele nos tinha dado e que por nós nascera, Se oferecesse pelo seu próprio sangue como sacrifício e hóstia no altar da cruz, não por Si mesmo – Ele tinha criado todas as coisas – mas pelos nossos pecados, deixando-nos o exemplo para seguirmos os seus passos. E quer que todos sejamos salvos por Ele e que O recebamos de coração puro e corpo casto. 

Como são felizes e abençoados os que amam o Senhor e praticam o que o mesmo Senhor diz no Evangelho: Amarás o Senhor teu Deus, com todo o teu coração e com toda a tua alma, e ao teu próximo como a ti mesmo. Amemos portanto a Deus e adoremo-l’O de coração puro e alma simples, porque é isso o que Ele deseja acima de tudo, quando afirma: Os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e verdade. Por conseguinte, todos os que O adoram devem adorá-l’O em espírito e verdade. Dia e noite elevemos para Ele os nossos louvores e preces, dizendo: Pai nosso, que estais no Céu, porque é preciso orar sempre e não desfalecer. 

Além disso, façamos frutos dignos de penitência. Amemos o próximo como a nós mesmos. Sejamos caridosos e humildes e dêmos esmola, porque a esmola lava as almas da imundície do pecado. Na verdade, os homens perdem tudo o que deixam neste mundo, mas levam consigo o preço da sua caridade e das esmolas que fizeram, e por elas receberão do Senhor recompensa e digna remuneração. 

Não devemos ser sábios e prudentes segundo a carne, mas procuremos antes ser simples, humildes e puros. Nunca devemos desejar estar acima dos outros, mas devemos antes ser servos e súbditos de toda a criatura humana por amor de Deus. E sobre todos aqueles que assim procederem e perseverarem até ao fim, repousará o Espírito do Senhor, que neles fará sua habitação e morada, e serão filhos do Pai celeste, cujas obras imitam; eles são esposos, irmãos e mães de Nosso Senhor Jesus Cristo.


Da Carta de São Francisco de Assis a todos os fiéis
(Opuscula, ed. Quaracchi, 1949, 87-94) (Sec. XIII)

A Igreja Católica e o Tabagismo: Uma revisão histórica.


O presente texto visa mostrar como através dos anos a Igreja tratou com a questão do tabaco. Entenda-se aqui que Igreja tratou através dos anos com o Tabaco puro provindo diretamente da planta, e não do cigarro industrializado como conhecemos hoje, com dezenas de substancias nocivas a saúde e viciantes.

O tabaco in natura por assim dizer, por si só, não causa vícios e não é um substancia ilícita, portanto não é “pecado” sua utilização, contudo não é algo que simplesmente pode ser usado por qualquer um indiscrimidamente, seu uso requer cuidado.

Será tratado aqui as 3 formas de consumo do tabaco: cheirar (pó de fumo ou rapé), mascar (a folha processada) e o fumo direto.

EX FUMO DARE LUCEM

Na época, logo após os exploradores espanhóis conhecerem o tabaco por meio das viagens de Colombo, fumando ou cheirando como os nativos do Novo Mundo faziam - traziam consigo algo de um ar de diabrura porque os nativos viam nele uma conexão com espíritos invisíveis. Para alguns membros mais sinceros do clero missionário, as coroas de sua fumaça e sua ação sobre os espíritos daqueles que se embebiam, eram uma espécie de imitação sacramental dos sacramentos da Igreja, estabelecida no Novo Mundo de antemão pelo Diabo, a fim de impedir a sua evangelização.

Por volta de 1575, sínodos provinciais no Novo Mundo já tiveram que lidar com o fato de que os índios, convertendo-se ao catolicismo, trouxeram a prática de fumar em igrejas durante a liturgia -  fumaça do tabaco, em suas tradições, evocavam os espíritos. Eles ofereciam sua fumaça como incenso, ou misturado em outro incenso. Autoridades eclesiásticas mexicanas proibiram o fumo em Igrejas nas Américas.

As autoridades da Igreja no México e Peru definiram a disciplina eclesiástica para a Nova Espanha e outras partes da América. Em 1583, um sínodo em Lima declarou: “É proibido, sob pena de condenação eterna para os sacerdotes, administrar os sacramentos, tanto levando a fumaça do sayri, ou tabaco, na boca, quanto o pó de tabaco no nariz , até mesmo sob o pretexto de remédio, antes do serviço da missa." em 1588, o colégio de cardeais, em Roma aprovou a proibição que se aplicava para as colônias espanholas na América. (A prática voltou na década de 1980, entre alguns americanos católicos índios, com a queima do tabaco e erva antes da Missa como o seu modo de sincretismo entre as crenças indígenas americanas e liturgia católica).

Mas a questão não se limitou às Américas. O uso do tabaco: fumar, cheirar e mastigar, muito rapidamente se espalhou por todo o Velho Mundo também. E se espalhando entre ambos leigos e clérigos. A matéria era confusa: Não faltaram pessoas que abominavam o uso do tabaco como insalubre, sujo, viciante, e até mesmo pecaminoso; mas também houve muitas pessoas que apontavam para os seus benefícios, seus efeitos calmantes, os grandes e pequenos prazeres em seu uso, sua capacidade de fomentar a sociabilidade (talvez para uma esperada paz das nações, uma irmandade internacional da fumaça), e mesmo (no caso de rapé nasal) a sua eficácia médica como uma maneira de limpar as cavidades através da indução de uma purga cefálica.

No entanto, a questão do uso de tabaco na igreja rapidamente surgiu na Europa, tal como tinha acontecido na Nova Espanha, e que tinha a ver com a questão de sacrilégio durante a missa. Num domingo, em Nápoles, um padre enquanto celebrava a Missa deu uma pitada de  rapé nasal logo depois de receber a Sagrada Comunhão. Parece que ele não era um cheirador experiente porque ele caiu em um acesso de espirros, que o levou a vomitar o Santíssimo Sacramento no altar na frente de sua congregação horrorizada. 

Como o uso do tabaco se espalhou através do clero católico da Europa, a Igreja focou em sua intrusão na igreja. O que foi anatematizado não era o seu uso em si, mas sim o seu uso antes ou durante a liturgia. E, especialmente, pelo clero, que eram esperados para manter a pureza absoluta e limpeza do altar, dos paramentos litúrgicos, e das mãos que consagrariam a hóstia. O tabaco não fumaçava igual o incenso.

O Papa Urbano VIII, em 30 de janeiro de 1642 emitiu uma bula Cum Ecclesiae, em que ele respondeu as denúncias do decano da Catedral de Sevilha, ao declarar que qualquer um que usasse tabaco pela boca ou nariz, tanto em peças inteiras, desfiado, em pó, quanto fumado em um cachimbo, nas igrejas da Diocese de Sevilha, receberia a pena de excomunhão latae sententiae.

A razão para a proibição, explicou, era proteger a missa e as igrejas de contaminação. Em Sevilha, o mau hábito de usar o tabaco tinha aumentado tanto, disse ele, que homens e mulheres, clérigos e leigos, “tanto enquanto eles estavam realizando os seus serviços no coro e no altar, quanto enquanto eles estavam ouvindo a missa e os ofícios divinos, [que] não eram, ao mesmo tempo, e com grande irreverência, tendo tabaco; e com excrementos fétidos mancham o altar, lugares santos, pavimentos e calçadas das igrejas daquela diocese.” Alguns padres, aparentemente, tinham ido tão longe a ponto de colocar as suas caixas de rapé no altar enquanto eles estavam rezando a missa.

Mais tarde, em Roma, um panfleto provocador apareceu como um comentário sobre a Bula: "Contra folium quod vento rapitur ostendis potentiam tuam, et stipulam siccam persequeris." (“Queres, então, assustar uma folha levada pelo vento, ou perseguir uma folha ressequida?” Jó 13, 25 ).

Esta proibição gerou uma grande quantidade de lendas urbana (Urbano?) ao longo dos séculos, agravada por boatos corrompidos e falsamente atribuidos. Alguns relataram isso como uma proibição mundial sobre o uso de tabaco, alguns atribuíram ao papa errado ou deram a data errada, e alguns chegaram mesmo a dizer que o papa proibiu o uso do tabaco, porque ele bizarramente acreditava que o espirros que rapé causavam se assemelhava  a êxtase sexual, que era inapropriado na igreja. (Hey, senhor papa! Mantenha seus rosários longe de nosso nariz!) Ultimamente, a lenda tornou-se tão deturpada e desgastada que o pobre Papa Urbano VIII foi acusado de insanidade de tentar proibir espirros.

Em 1650, oito anos após a bula de Urbano VIII, Inocêncio X decretou a mesma pena para o uso do tabaco nas capelas, na sacristia ou no pórtico da Arquibasílica de São João de Latrão, ou na de São Pedro, em Roma, a razão foi que ele tinha gastado muito tempo, talento e dinheiro embelezando-as, instalando mármores preciosos no chão e ornamentando as capelas com baixos-relevos, e ele não queria que eles fossem manchados com suco de tabaco e fumaça. Inocêncio XI depois reiterou a bula.

Por volta de 1685, alguns teólogos estavam debatendo se as bulas de Urbano VIII e Inocêncio X poderiam ser implicitamente entendidas como aplicáveis a Igreja Universal, e, em caso afirmativo, eles se perguntaram como se aplicava a todas as propriedades da igreja (não apenas o santuário e sacristia; alguns se perguntaram se a reitoria estava incluído).

Embora Bento XIII (que usava pó de fumo) reforçou a necessidade de manter o tabaco longe do altar e do tabernáculo, em 1725, ele revogou a pena de excomunhão por fumar na Igreja de São Pedro, porque ele reconheceu que os freqüentadores da igreja eram freqüentemente saiam da Missa por um tempo para pegar um cigarro ou pó de fumo, e ele decidiu que era melhor para eles ficaram por dentro e não interromper ou perturbar a liturgia ou perder parte dela.

Será que o uso do tabaco quebrava o jejum antes da comunhão? Afonso Ligório (usava pó de fumo), em seu manual de instruções para os confessores, considerou que “o tabaco tomado pelo nariz não quebra o jejum, mesmo que uma parte dele desça para o estômago.” Nem “o fumante um cigarro quebra”, nem mesmo o tabaco mastigado ou “mascado pelos dentes, fazendo suco que é cuspido”. Outros de tempo acordado, esclarecendo que, se uma quantidade significativa de tabaco mascado foi engolido, o jejum foi quebrado.

São Francisco de Assis


Francisco nasceu em Assis, na Úmbria (Itália) em 1182. Jovem orgulhoso, vaidoso e rico, que se tornou o mais italiano dos santos e o mais santo dos italianos. Com 24 anos, renunciou a toda riqueza para desposar a “Senhora Pobreza”.

Aconteceu que Francisco foi para a guerra como cavaleiro, mas doente ouviu e obedeceu a voz do Patrão que lhe dizia: “Francisco, a quem é melhor servir, ao amo ou ao criado?”. Ele respondeu que ao amo. “Porque, então, transformas o amo em criado?”, replicou a voz. No início de sua conversão, foi como peregrino a Roma, vivendo como eremita e na solidão, quando recebeu a ordem do Santo Cristo na igrejinha de São Damião: “Vai restaurar minha igreja, que está em ruínas”.

Partindo em missão de paz e bem, seguiu com perfeita alegria o Cristo pobre, casto e obediente. No campo de Assis havia uma ermida de Nossa Senhora chamada Porciúncula. Este foi o lugar predileto de Francisco e dos seus companheiros, pois na Primavera do ano de 1200 já não estava só; tinham-se unido a ele alguns valentes que pediam também esmola, trabalhavam no campo, pregavam, visitavam e consolavam os doentes. A partir daí, Francisco dedica-se a viagens missionárias: Roma, Chipre, Egito, Síria… Peregrinando até aos Lugares Santos. Quando voltou à Itália, em 1220, encontrou a Fraternidade dividida. Parte dos Frades não compreendia a simplicidade do Evangelho.

Em 1223, foi a Roma e obteve a aprovação mais solene da Regra, como ato culminante da sua vida. Na última etapa de sua vida, recebeu no Monte Alverne os estigmas de Cristo, em 1224.

Já enfraquecido por tanta penitência e cego por chorar pelo amor que não é amado, São Francisco de Assis, na igreja de São Damião, encontra-se rodeado pelos seus filhos espirituais e assim, recita ao mundo o cântico das criaturas. O seráfico pai, São Francisco de Assis, retira-se então para a Porciúncula, onde morre deitado nas humildes cinzas a 3 de outubro de 1226. Passados dois anos incompletos, a 16 de julho de 1228, o Pobrezinho de Assis era canonizado por Gregório IX.

São Francisco de Assis, rogai por nós!


Glorioso São Francisco, Santo da simplicidade, do amor e da alegria. No céu contemplais as perfeições infinitas de Deus. Lançai sobre nós o vosso olhar cheio de bondade. Socorrei-nos em nossas necessidades espirituais e corporais. Rogai ao nosso Pai e Criador que nos conceda as graças que pedimos por vossa intercessão, vós que sempre fostes tão amigo dele. E inflamai o nosso coração de amor sempre maior a Deus e aos nossos irmãos, principalmente os mais necessitados. Meu Amado São Chiquinho, coloque suas mãos sobre este Anjo (nome do animal) que precisa de ti! Sabedora do seu Amor atendei ao nosso pedido. São Francisco de Assis, rogai por nós. Amém.

segunda-feira, 3 de outubro de 2016

França mobiliza caças para preparar batalha de Mossul contra EI


Aviões de combate decolaram nesta sexta-feira do porta-aviões francês Charles de Gaulle como parte dos preparativos da coalizão internacional para a reconquista de Mossul, último reduto do grupo extremista Estado Islâmico (EI) no Iraque.

O Estado Islâmico conquistou em 2014 amplas zonas do território iraquiano ao norte e a oeste da capital Bagdá. Mossul, a segunda cidade do Iraque, se converteu em seu principal reduto.

As tropas iraquianas, que conseguiram reconquistar grandes partes destes territórios nos últimos dois anos, se preparam para retomar esta cidade do norte do país, com o apoio da coalizão internacional, que mobiliza cada vez mais meios antes do início desta batalha chave.

O navio de guerra francês é um dos meios colocados a serviço desta coalizão.

Oito caças do tipo Rafale decolaram nesta sexta-feira pela manhã do navio mobilizado no Mediterrâneo oriental, constatou um jornalista da AFP. 

Não foi comunicado nenhum detalhe sobre o objetivo da missão. Estas aeronaves podem realizar bombardeios ou trabalhos de reconhecimento no Iraque ou na Síria.

“Não é o início da batalha de Mossul, é o prosseguimento das operações de apoio que fornecemos no âmbito da coalizão (…). Em breve começará a ação maior, mas não hoje”, declarou nesta sexta-feira o ministro francês da Defesa, Jean-Yves Le Drian. 

Papa no Encontro Inter-religioso: "Somos chamados a construir juntos um futuro de paz"


VIAGEM APOSTÓLICA DO PAPA FRANCISCO
 À GEÓRGIA E AO AZERBAIJÃO 
(30 DE SETEMBRO - 2 DE OUTUBRO DE 2016)


ENCONTRO INTER-RELIGIOSO COM O
CHEFE DOS MUÇULMANOS DO CÁUCASO
E COM OS REPRESENTANTES DAS COMUNIDADES

RELIGIOSAS DO PAÍS

DISCURSO DO SANTO PADRE
Mesquita Heydar Aliyev - Baku
Domingo, 2 de outubro de 2016



Considero uma bênção encontrarmo-nos aqui juntos. Desejo agradecer ao Presidente do Conselho dos Muçulmanos do Cáucaso, que nos acolhe com a sua habitual cortesia, e aos Chefes religiosos locais da Igreja Ortodoxa Russa e das Comunidades Judaicas. É um grande sinal encontrarmo-nos, em fraterna amizade, neste lugar de oração; um sinal que manifesta aquela harmonia que as religiões, em conjunto, podem construir, a partir das relações pessoais e da boa vontade dos responsáveis. Prova disto mesmo é, por exemplo, a ajuda concreta que o Presidente do Conselho dos Muçulmanos garantiu em várias ocasiões à comunidade católica, e os sábios conselhos que partilha, em espírito de família, com ela; são de sublinhar também o vínculo estupendo que une os católicos à comunidade ortodoxa, manifestado numa fraternidade concreta e num carinho diário que são um exemplo para todos, e a amizade cordial com a comunidade judaica.

Desta concórdia beneficia o Azerbaijão, que se distingue pelo acolhimento e a hospitalidade, dons que pude experimentar neste dia memorável e pelo qual lhes estou muito grato. Aqui deseja-se guardar o grande património das religiões e, ao mesmo tempo, procura-se uma abertura maior e frutuosa: o próprio catolicismo, por exemplo, encontra lugar e harmonia entre outras religiões muito mais numerosas; um sinal concreto que mostra como não seja a contraposição mas a colaboração que ajuda a construir sociedades melhores e pacíficas. Este nosso ajuntamento está em continuidade também com os numerosos encontros que se realizam em Baku para promover o diálogo e a multiculturalidade. Ao abrir as portas ao acolhimento e à integração, abrem-se as portas do coração de cada um e as portas da esperança para todos. Confio que este país, «porta entre o Oriente e o Ocidente» [João Paulo II, Discurso na cerimônia de boas-vindas, Baku, 22 de maio de 2002: Insegnamenti XXV/1 (2002), 838], cultive sempre a sua vocação de abertura e encontro, condições indispensáveis para construir sólidas pontes de paz e um futuro digno do ser humano.

A fraternidade e a partilha que desejamos incrementar não serão apreciadas por aqueles que querem salientar divisões, reacender tensões e enriquecer à custa de conflitos e contrastes; mas são imploradas e esperadas por quem deseja o bem comum, e sobretudo são agradáveis a Deus, Compassivo e Misericordioso, que quer os filhos e filhas da única família humana unidos e sempre em diálogo entre si. Assim escreveu um grande poeta, filho desta terra: «Se és humano, mistura-te com os humanos, porque os homens sentem-se bem uns com os outros» (Nizami Ganjavi, O livro de Alexandre I, sobre o próprio estado e o passar do tempo). Abrir-se aos outros não empobrece, mas enriquece, porque nos ajuda a ser mais humanos: a reconhecer-se parte ativa dum todo maior e a interpretar a vida como um dom para os outros; a ter como alvo não os próprios interesses, mas o bem da humanidade; a agir sem idealismos nem intervencionismos, sem realizar interferências prejudiciais nem ações forçadas, mas sempre no respeito das dinâmicas históricas, das culturas e das tradições religiosas.

As próprias religiões têm uma grande tarefa: acompanhar os homens em busca do sentido da vida, ajudando-os a compreender que as limitadas capacidades do ser humano e os bens deste mundo nunca se devem tornar absolutos. O mesmo Nizami escreveu: «Não te estabeleças solidamente sobre as tuas forças, enquanto não encontrares morada no céu! Os frutos do mundo não são eternos; não adores o que perece!» (Leylā e Majnūn, Morte de Majnūn no túmulo de Leylā). As religiões são chamadas a fazer-nos compreender que o centro do homem está fora dele, que tendemos para o Outro infinito e para o outro que está próximo de nós. Aí o homem é chamado a encaminhar a vida rumo ao amor mais sublime e, simultaneamente, mais concreto: este não pode deixar de estar no cume de toda a aspiração autenticamente religiosa; porque – diz ainda o poeta – «amor é aquilo que nunca muda, amor é aquilo que não tem fim» (Ibid., Desespero de Majnūn).

A religião é, pois, uma necessidade para o ser humano realizar o seu fim, uma bússola a fim de o orientar para o bem e afastá-lo do mal, que sempre jaz deitado à porta do seu coração (cf. Gn 4, 7). Neste sentido, as religiões têm uma tarefa educativa: ajudar a tirar fora do homem o seu melhor. E nós, como guias, temos uma grande responsabilidade que é dar respostas autênticas à busca do homem, hoje frequentemente perdido nos paradoxos vertiginosos do nosso tempo. De facto vemos como nos nossos dias, por um lado, avança o niilismo daqueles que não acreditam em nada mais senão nos seus próprios interesses, benefícios e lucros, daqueles que jogam fora a vida acomodando-se ao ditado «se Deus não existe, tudo é permitido» (cf. F. M. Dostoievski, Os irmãos Karamazov, XI, 4.8.9); por outro lado, emergem cada vez mais as reações rígidas e fundamentalistas daqueles que, com a violência da palavra e dos gestos, querem impor atitudes extremas e radicalizadas, as mais distantes do Deus vivo. 

No encontro com as Autoridades, Papa almeja nova fase de paz estável


VIAGEM APOSTÓLICA DO PAPA FRANCISCO
 À GEÓRGIA E AO AZERBAIJÃO 
(30 DE SETEMBRO - 2 DE OUTUBRO DE 2016)


ENCONTRO COM AS AUTORIDADES

DISCURSO DO SANTO PADRE
Centro Heydar Aliyev - Baku
Domingo, 2 de outubro de 2016



Senhor Presidente,
Distintas Autoridades,
Ilustres membros do Corpo Diplomático,
Senhoras e Senhores!

Sinto-me muito feliz por visitar o Azerbaijão e agradeço-vos pelo cordial acolhimento nesta cidade, capital do país, debruçada sobre as margens do Mar Cáspio; uma cidade que transformou radicalmente o seu rosto com edifícios novos, como este onde se realiza o nosso encontro. Estou-lhe muito grato, Senhor Presidente, pelas gentis expressões de boas-vindas que me dirigiu em nome do Governo e do povo azerbaijano e por me ter dado a possibilidade, graças ao seu amável convite, de retribuir a visita que Vossa Excelência realizou no ano passado ao Vaticano, juntamente com a sua gentil Consorte.

Cheguei a este país trazendo no coração a admiração pela complexidade e a riqueza da sua cultura, fruto da contribuição dos muitos povos que, ao longo da história, habitaram nestas terras, dando vida a um tecido de experiências, valores e peculiaridades que caracterizam a sociedade atual e se manifestam na prosperidade do Estado azerbaijano moderno. No próximo dia 18 de outubro, o Azerbaijão celebrará o vigésimo quinto aniversário da sua independência e tal data oferece a possibilidade de lançar um olhar de conjunto aos acontecimentos destas décadas, aos progressos realizados e aos problemas que o país está a enfrentar.

O caminho percorrido até agora mostra claramente os esforços consideráveis feitos para consolidar as instituições e favorecer o crescimento económico e civil da nação. É um percurso que requer constante solicitude por todos, especialmente os mais vulneráveis, um percurso possível graças a uma sociedade que reconhece os benefícios do multiculturalismo e da necessária complementaridade das culturas, fazendo com que se instaurem relações de mútua colaboração e respeito entre as várias componentes da comunidade civil e entre os membros das diferentes confissões religiosas.

Este esforço conjunto na construção duma harmonia entre as diferenças é muito significativo neste tempo, porque mostra que é possível testemunhar as próprias ideias e a própria concepção da vida sem ofender os direitos daqueles que são portadores doutras concepções e visões. Cada afiliação étnica ou ideológica bem como todo o caminho religioso autêntico não podem deixar de excluir atitudes e concepções que instrumentalizem as convicções próprias, a sua identidade ou o nome de Deus para legitimar desígnios de opressão e domínio.

Espero vivamente que o Azerbaijão continue pela estrada da colaboração entre diferentes culturas e confissões religiosas. Que a harmonia e a coexistência pacífica alimentem sempre mais a vida social e civil do país, nas suas múltiplas expressões, assegurando a todos a possibilidade de oferecer a própria contribuição para o bem comum. 

Aos religiosos, Papa fala de "guerra mundial contra o matrimônio"


VIAGEM APOSTÓLICA DO PAPA FRANCISCO
 À GEÓRGIA E AO AZERBAIJÃO 
(30 DE SETEMBRO - 2 DE OUTUBRO DE 2016)


ENCONTRO COM OS SACERDOTES, RELIGIOSOS, RELIGIOSAS, SEMINARISTAS E AGENTES DA PASTORAL

DISCURSO DO SANTO PADRE
Igreja da Assunção - Tbilisi
Sábado, 1 de outubro de 2016




Boa tarde! Obrigado, querido Irmão. Obrigado!

Agora falarei para todos, misturando todas as perguntas.

No fim de tu [o sacerdote que deu o testemunho] falares, veio-me à mente uma coisa que aconteceu no final da Missa em Gyumri[na Arménia] – e ele [D. Minassian] é testemunha. Acabada a Missa, convidei a subir para o «papamóvel» D. Minassian e também o Bispo da Igreja Apostólica Arménia, da mesma cidade. Éramos três bispos: o Bispo de Roma, o Bispo Católico de Gyumri e o Bispo Arménio Apostólico. Os três juntos: uma boa salada de fruta! Fizemos o giro e depois descemos. E, quando eu estava para entrar no carro, vi lá uma velhinha que fazia sinal para me aproximar. Quantos anos teria? Oitenta? Não era muito idosa... Parecia ter mais, pareciam oitenta e mais... No coração, senti vontade de me aproximar para a saudar, porque ela estava por detrás das divisórias. Era uma mulher humilde, muito simples. Saudou-me com amor... Tinha um dente de ouro, como se usava outrora... E disse-me: «Sou arménia, mas moro na Geórgia. E vim da Geórgia». Viajara oito, ou seis, horas de autocarro para encontrar o Papa. Depois, no dia seguinte, quando fomos… não me lembro aonde, mas distante duas horas a passar, encontrei-a lá. Disse-lhe: «Mas, a senhora veio da Geórgia, tantas horas de viagem; e ainda mais duas horas, no dia seguinte, para me encontrar!» – «É verdade; é a fé»: retorquiu-me ela. Tu falaste de estar firmes na fé. Estar firmes na fé é o testemunho que deu esta mulher. Acreditava que Jesus Cristo, Filho de Deus, deixou Pedro na terra e ela queria ver Pedro.

Firmes na fé significa capacidade de receber dos outros a fé, conservá-la e transmiti-la. Quando falavas de estar firmes na fé, disseste: «manter viva a memória do passado, a história nacional e ter a coragem de sonhar e construir um futuro luminoso». Firmes na fé significa não esquecer aquilo que aprendemos; mas antes, fazê-lo crescer e dá-lo aos nossos filhos. Por isso, em Cracóvia, dei como missão especial aos jovens falar com os avós. São os avós que nos transmitiram a fé. E vós que trabalhais com os jovens deveis ensiná-los a escutar os avós, a falar com os avós, para receberem a água fresca da fé, elaborá-la no presente, fazê-la crescer – não escondê-la numa gaveta; isso não – elaborá-la, fazê-la crescer e transmiti-la aos nossos filhos.

O apóstolo Paulo, na Segunda Carta a Timóteo, seu discípulo predileto, dizia-lhe que conservasse firme a fé que recebera da mãe e da avó. Este é o caminho que devemos seguir, e isto far-nos-á amadurecer imenso. Receber a herança, fazê-la germinar e dá-la. Uma planta sem raízes não cresce. Uma fé sem a raiz da mãe e da avó não cresce. E uma fé que me foi dada e que eu não dou aos outros, aos mais pequeninos, aos meus «filhos», não cresce.

Então, resumindo, para estar firmes na fé é preciso ter memória do passado, coragem no presente e esperança no futuro. Isto, a propósito de estar firmes na fé. E não esqueçais aquela senhora georgiana, que foi capaz de ir de autocarro – 6/7 horas – à Arménia, à cidade de Gyumri, onde ele [D. Minassian] é bispo, e no dia seguinte ir encontrar o Papa outra vez em Yerevan. Não esqueçais esta imagem; é uma mulher que mora aqui: uma mulher arménia, mas da Geórgia. E as mulheres georgianas têm fama, têm grande fama de ser mulheres de fé, fortes, que fazem a Igreja seguir para diante. 

Devemos orar especialmente por todo o corpo da Igreja


Oferece a Deus um sacrifício de louvor e cumpre os teus votos para com o Altíssimo. Louva a Deus quem Lhe faz um voto e o cumpre. Por isso se nos dá como exemplo aquele samaritano que, uma vez curado da lepra juntamente com os outros nove leprosos por intervenção do Senhor, foi o único que voltou à presença de Cristo, louvando e dando graças a Deus. Dele disse Jesus: Não houve quem voltasse a dar graças a Deus senão este estrangeiro? E a ele disse: Levanta‑te e vai; a tua fé te salvou.

No seu ensinamento divino, o Senhor Jesus mostrou‑te, por um lado, a bondade de Deus Pai e, por outro, a conveniência de orar com intensidade e frequência: mostrou‑te a bondade do Pai que sabe conceder boas dádivas, para que aprendas a pedir bens Àquele que é o sumo bem; e mostrou‑te a conveniência de orar com intensidade e frequência, não para que repitas sem cessar e mecanicamente as orações, mas para que adquiras o verdadeiro espírito da oração assídua. De facto, muitas vezes as longas orações vão acompanhadas de vanglória e, por outro lado, a falta de assiduidade na oração é sinal evidente de negligência. 

Seguidamente também adverte o Senhor que ponhas o máximo empenho em perdoar aos outros quando pedes perdão para ti; deste modo, a tua oração é recomendada pelas tuas obras. O Apóstolo ensina também que se há‑de orar sem ira nem contenda, para que a oração não seja perturbada nem falsificada. Também ensina que se deve orar em toda a parte, como afirma o Salvador quando diz: Entra na tua habitação. 

Mas deves compreender que não se trata de uma habitação cercada de paredes em que te fechas corporalmente, mas da tua morada interior, onde estão os teus pensamentos e habitam os teus sentimentos. Esta morada da tua oração acompanha‑te por toda a parte e em toda a parte continua a ser um lugar secreto, onde não há outro juiz que não seja Deus. 

Também te é dito que deves orar principalmente pelo povo de Deus, isto é, por todo o corpo e por todos os membros da Igreja tua mãe, que é o sacramento da caridade. Se oras só por ti, serás o único a orar por ti. E se cada um reza apenas por si mesmo, a graça do pecador será menor que a do intercessor. Mas se cada um ora por todos, oram todos por cada um.

Assim, portanto, para concluir, se rezares somente por ti, ficarás, como dissemos, isolado na tua oração. Mas se rezares por todos, todos rezarão por ti. Na verdade tu estás presente em todos. Deste modo alcançarás uma grande recompensa, porque a oração de cada um é enriquecida com as orações de todo o povo. Assim desaparece toda a sombra de presunção; aumenta a humildade e o fruto será mais abundante.


Do Tratado de Santo Ambrósio, bispo, sobre Caim e Abel
(Lib. 1, 9, 34.38-39: CSEL 32, 369.371-372) (Sec. IV)