terça-feira, 4 de outubro de 2016

Papa Francisco autoriza início do processo de beatificação do Pe. Jacques Hamel


O Papa Francisco autorizou o início do processo de beatificação do sacerdote francês Pe. Jacques Hamel, assassinado enquanto celebrava Missa na sua igreja no dia 26 de julho, homicídio cometido por dois terroristas do Estado Islâmico.

Em um comunicado oficial publicado no domingo, 2 de outubro, pela Arquidiocese de Rouen, à qual o sacerdote pertencia, destacaram que o Arcebispo Dominique Lebrun “foi informado pela Congregação romana das Causas dos Santos que o Papa Francisco dispensou a espera de 5 anos exigidos habitualmente antes de iniciar a investigação oficial em vistas à beatificação”.

Normalmente, o tempo de espera para começar uma causa de beatificação são 5 anos depois da morte do servo de Deus. Os casos mais conhecidos desta dispensa nos últimos anos foram o da Madre Teresa de Calcutá e o de São João Paulo II.

“Em agradecimento ao Papa por este gesto excepcional, o Arcebispo de Rouen decide neste dia reabrir a igreja de Saint-Etienne-du-Rouvray”, onde o Pe. Hamel foi assassinado, pois o templo permanecia fechado desde o dia deste acontecimento lamentável.

O anúncio do Arcebispo foi realizado alguns dias depois da Missa celebrada pelo Santo Padre na capela da Casa Santa Marta, na qual o Prelado esteve acompanhado por um grupo de fiéis de Rouen para recordar o Pe. Hamel.

Nessa homilia, o Papa Francisco disse que o sacerdote falecido “é um mártir! E os mártires são beatos – devemos rezar para ele!”.

Do mesmo modo, o Pontífice ressaltou durante a celebração: “Que esse exemplo de coragem, mas também de martírio da própria vida, de esvaziar a si mesmo para ajudar os outros, de fazer fraternidade entre os homens, ajude todos nós a ir avante sem medo”. 

Homilética: 28º Domingo do Tempo Comum - Ano C: "Justificados pela fé".



A liturgia do 28º domingo do tempo comum nos apresenta um tema bem caro ao evangelista Lucas e muito esquecido em nossa sociedade: a gratidão. Em nossos dias de individualismo e de egocentrismo exacerbado, por causa do mito do bem-estar e da idolatria do mercado, a gratidão brilha como uma luz nas trevas.

Vivemos num mundo em que a vida humana transformou-se num grande comércio onde tudo se compra e tudo se paga… É a época do descartável! Diante dessa realidade, muitos perderam o valor da gratuidade e da gratidão. “Obrigado” é uma palavra tão simples, mas tão esquecida por muitos! No Evangelho (Lc. 17, 11-19) Jesus cura dez leprosos, mas apenas um volta para agradecer.

Com freqüência, temos melhor memória para as nossas necessidades e carências do que para os nossos bens. Vivemos pendentes daquilo que nos falta, e reparamos pouco naquilo que temos, e talvez seja por isso que ficamos aquém no nosso agradecimento. Pensamos que temos pleno direito ao que possuímos e esquecemo-nos do que diz Santo Agostinho: “Nada é nosso, a não ser o pecado que possuímos. Pois que tens tu que não tenhas recebido? (1Cor 4, 7).”

Toda a nossa vida deve ser uma contínua ação de graças. Lembrai-vos das maravilhas que Ele fez, exorta o salmista. O samaritano, através do seu mal, pôde conhecer Jesus Cristo e por ser agradecido conquistou a sua amizade e o incomparável dom da fé: …Tua fé te salvou. Ou seja, a fé salva!

Martinho Lutero foi um sacerdote agostiniano alemão que viveu no século XVI, homem de grande inteligência e de uma fina sensibilidade. Atormentado pelos seus escrúpulos de consciência e sentindo-se oprimido pelas normas da religião, passou por uma experiência que mudaria a sua vida. Leu Rm 1,17: “o justo viverá da fé”. Lutero entendeu que bastaria a fé, somente a fé, para salvar-se; as obras não contariam para nada nesse processo de salvação. A partir daquele momento, seria clássico o tripé luterano: Sola fides! Sola gratia! Sola Scriptura! A tradução é fácil: Somente a fé! Somente a graça! Somente a Bíblia! Com exclusão das obras, do esforço ascético e da Tradição da Igreja. Logicamente, a partir daquele momento, Lutero já não se sentia ligado à autoridade da Igreja Católica para interpretar a Sagrada Escritura. Curiosamente, parece que Lutero não leu muito bem o seguinte capítulo da Carta aos Romanos que, entre outras coisas, nos diz que Deus “retribuirá a cada um segundo as suas obras” (Rm 2,6), nem tampouco o que escreveu o mesmo Apóstolo aos gálatas: que a fé “opera pela caridade” (Gl 5,6).

Enfim, o Concilio de Trento teve que tratar dessa questão e fê-lo magistralmente no ano 1547. O fruto daquela Sessão VI do Concilio foi o valiosíssimo Decreto sobre a justificação. É interessante observar que, desde o começo, o Concilio não se preocupou em dar uma interpretação imediata a uma passagem concreta, como poderia ser Rm 1,17, mas primeiramente quis conhecer profundamente o que significa ser justificado, ser justo, o que quer dizer “justificação”. Depois de deixar claro até que ponto chegou o drama do ser humano – pecador, imundo, separado de Deus, com uma vontade e uma liberdade enfermas, incapaz de salvar-se a si mesmo –, nos explica que a salvação nos vem de Jesus Cristo. Ele nos salvou, mas cada de um nós tem que deixar-se lavar pelo seu sangue purificador. Finalmente, o Concilio nos diz que a justificação não é somente remissão dos pecados, mas também santificação e renovação do homem interior pela voluntária recepção da graças e dos dons. E qual é o papel da fé na justificação já que a Escritura afirma que o somos justificados pela fé (cfr. Rm 1,17; 3,28)? O Concilio interpreta essas palavras da Escritura com outras: “sem fé é impossível agradar a Deus, pois para se achegar a ele é necessário que se creia primeiro que ele existe e que recompensa os que o procuram” (Hb 11,6). Ser justificado pela fé, ser salvado e santificado pela fé, significa que para ser justo diante de Deus é preciso antes crer que ele existe e que é a causa da nossa santificação. Com efeito, como estar inserido em Cristo se não cremos nele e se não permitimos, livremente, que ele entre nas nossas vidas? Deus é muito cortês, se nós não permitimos que ele entre na nossa casa, ele não entrará, mas continuará insistindo.

“Levanta-te a tua fé te salvou” (Lc 17,10). Abracemos cada vez mais a salvação doada por Cristo a cada um de nós, mas não nos esqueçamos de que é importante voltar para agradecer com obras e na verdade. Aquele samaritano, que antes era leproso como os outros, quis percorrer o caminho de volta para agradecer a Jesus pessoalmente prostrando-se aos seus pés. A sua fé foi acompanhada por umas quantas obras que mereceram um elogio e uma exclamação de Jesus: “Não se achou senão este estrangeiro que voltasse para agradecer a Deus?!” (Lc 17,18). Agradeçamos ao Senhor “opere et veritate”, com obras e na verdade, pois, salvados em Cristo Jesus, “esforçai-vos quanto possível por unir à vossa fé a virtude, à virtude a ciência, à ciência a temperança, à temperança a paciência, à paciência a piedade, à piedade o amor fraterno, e ao amor fraterno a caridade. (…) Portanto, irmãos, cuidai cada vez mais em assegurar a vossa vocação e eleição” (2 Pd 1,5-10). Sim, a nossa fé nos salvou, mas é preciso continuar cuidando – por uma vida santa – essa salvação para que aumente em nós e para que um dia seja eterna e vejamos, face a face, a Deus Pai e Filho e Espírito Santo.

Uma carta de mais de mil anos dá testemunho: os cristãos são a alma do mundo


Durante muitos e longos séculos, um elegante manuscrito composto em grego permaneceu ignorado no mais abissal dos silêncios. O texto, de origens até hoje misteriosas, só foi encontrado, e por acaso, no longínquo ano de 1436, em Constantinopla, junto com vários outros manuscritos endereçados a um certo “Diogneto”.

Se não há certeza sobre o seu autor, sabe-se que o destinatário do escrito era um pagão culto, interessado em saber mais sobre o cristianismo, aquela nova religião que se espalhava com força e vigor pelo Império Romano e que chamava a atenção do mundo pela coragem com que os seus seguidores enfrentavam os suplícios de uma vida de perseguições e pelo amor intenso com que amavam a Deus e uns aos outros.
 
O documento que passou para a posteridade como "a Carta a Diogneto" descreve quem eram e como viviam os cristãos dos primeiros séculos. Trata-se, para grande parte dos estudiosos, da “joia mais preciosa da literatura cristã primitiva”.
 
Confira a seguir os seus parágrafos V e VI, que compõem o trecho mais célebre deste tesouro da história cristã:

 
“Os cristãos não se distinguem dos outros homens nem por sua terra, nem por sua língua, nem por seus costumes. Eles não moram em cidades separadas, nem falam línguas estranhas, nem têm qualquer modo especial de viver. Sua doutrina não foi inventada por eles, nem se deve ao talento e à especulação de homens curiosos; eles não professam, como outros, nenhum ensinamento humano. Pelo contrário: mesmo vivendo em cidades gregas e bárbaras, conforme a sorte de cada um, e adaptando-se aos costumes de cada lugar quanto à roupa, ao alimento e a todo o resto, eles testemunham um modo de vida admirável e, sem dúvida, paradoxal.
 
Vivem na sua pátria, mas como se fossem forasteiros; participam de tudo como cristãos, e suportam tudo como estrangeiros. Toda pátria estrangeira é sua pátria, e cada pátria é para eles estrangeira. Casam-se como todos e geram filhos, mas não abandonam os recém-nascidos. Compartilham a mesa, mas não o leito; vivem na carne, mas não vivem segundo a carne; moram na terra, mas têm a sua cidadania no céu; obedecem às leis estabelecidas, mas, com a sua vida, superam todas as leis; amam a todos e são perseguidos por todos; são desconhecidos e, ainda assim, condenados; são assassinados, e, deste modo, recebem a vida; são pobres, mas enriquecem a muitos; carecem de tudo, mas têm abundância de tudo; são desprezados e, no desprezo, recebem a glória; são amaldiçoados, mas, depois, proclamados justos; são injuriados e, no entanto, bendizem; são maltratados e, apesar disso, prestam tributo; fazem o bem e são punidos como malfeitores; são condenados, mas se alegram como se recebessem a vida. Os judeus os combatem como estrangeiros; os gregos os perseguem; e quem os odeia não sabe dizer o motivo desse ódio.
 

Devemos ser simples, humildes e puros


O Pai altíssimo, pelo seu arcanjo São Gabriel, anunciou à santa e gloriosa Virgem Maria que o seu Verbo, tão santo, digno e glorioso, ia descer do Céu. Do seio de Maria tomou Ele a carne verdadeira da nossa humanidade e fragilidade. Sendo Ele mais rico que tudo, quis no entanto escolher a pobreza com sua Mãe bem-aventurada. E ao aproximar-se a sua paixão celebrou a Páscoa com os discípulos. Depois rezou ao Pai, dizendo: Pai, se é possível, afaste-se de mim este cálice. 

Submeteu todavia a sua vontade à vontade do Pai. Ora, a vontade do Pai foi esta: que seu Filho bendito e glorioso, que Ele nos tinha dado e que por nós nascera, Se oferecesse pelo seu próprio sangue como sacrifício e hóstia no altar da cruz, não por Si mesmo – Ele tinha criado todas as coisas – mas pelos nossos pecados, deixando-nos o exemplo para seguirmos os seus passos. E quer que todos sejamos salvos por Ele e que O recebamos de coração puro e corpo casto. 

Como são felizes e abençoados os que amam o Senhor e praticam o que o mesmo Senhor diz no Evangelho: Amarás o Senhor teu Deus, com todo o teu coração e com toda a tua alma, e ao teu próximo como a ti mesmo. Amemos portanto a Deus e adoremo-l’O de coração puro e alma simples, porque é isso o que Ele deseja acima de tudo, quando afirma: Os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e verdade. Por conseguinte, todos os que O adoram devem adorá-l’O em espírito e verdade. Dia e noite elevemos para Ele os nossos louvores e preces, dizendo: Pai nosso, que estais no Céu, porque é preciso orar sempre e não desfalecer. 

Além disso, façamos frutos dignos de penitência. Amemos o próximo como a nós mesmos. Sejamos caridosos e humildes e dêmos esmola, porque a esmola lava as almas da imundície do pecado. Na verdade, os homens perdem tudo o que deixam neste mundo, mas levam consigo o preço da sua caridade e das esmolas que fizeram, e por elas receberão do Senhor recompensa e digna remuneração. 

Não devemos ser sábios e prudentes segundo a carne, mas procuremos antes ser simples, humildes e puros. Nunca devemos desejar estar acima dos outros, mas devemos antes ser servos e súbditos de toda a criatura humana por amor de Deus. E sobre todos aqueles que assim procederem e perseverarem até ao fim, repousará o Espírito do Senhor, que neles fará sua habitação e morada, e serão filhos do Pai celeste, cujas obras imitam; eles são esposos, irmãos e mães de Nosso Senhor Jesus Cristo.


Da Carta de São Francisco de Assis a todos os fiéis
(Opuscula, ed. Quaracchi, 1949, 87-94) (Sec. XIII)

A Igreja Católica e o Tabagismo: Uma revisão histórica.


O presente texto visa mostrar como através dos anos a Igreja tratou com a questão do tabaco. Entenda-se aqui que Igreja tratou através dos anos com o Tabaco puro provindo diretamente da planta, e não do cigarro industrializado como conhecemos hoje, com dezenas de substancias nocivas a saúde e viciantes.

O tabaco in natura por assim dizer, por si só, não causa vícios e não é um substancia ilícita, portanto não é “pecado” sua utilização, contudo não é algo que simplesmente pode ser usado por qualquer um indiscrimidamente, seu uso requer cuidado.

Será tratado aqui as 3 formas de consumo do tabaco: cheirar (pó de fumo ou rapé), mascar (a folha processada) e o fumo direto.

EX FUMO DARE LUCEM

Na época, logo após os exploradores espanhóis conhecerem o tabaco por meio das viagens de Colombo, fumando ou cheirando como os nativos do Novo Mundo faziam - traziam consigo algo de um ar de diabrura porque os nativos viam nele uma conexão com espíritos invisíveis. Para alguns membros mais sinceros do clero missionário, as coroas de sua fumaça e sua ação sobre os espíritos daqueles que se embebiam, eram uma espécie de imitação sacramental dos sacramentos da Igreja, estabelecida no Novo Mundo de antemão pelo Diabo, a fim de impedir a sua evangelização.

Por volta de 1575, sínodos provinciais no Novo Mundo já tiveram que lidar com o fato de que os índios, convertendo-se ao catolicismo, trouxeram a prática de fumar em igrejas durante a liturgia -  fumaça do tabaco, em suas tradições, evocavam os espíritos. Eles ofereciam sua fumaça como incenso, ou misturado em outro incenso. Autoridades eclesiásticas mexicanas proibiram o fumo em Igrejas nas Américas.

As autoridades da Igreja no México e Peru definiram a disciplina eclesiástica para a Nova Espanha e outras partes da América. Em 1583, um sínodo em Lima declarou: “É proibido, sob pena de condenação eterna para os sacerdotes, administrar os sacramentos, tanto levando a fumaça do sayri, ou tabaco, na boca, quanto o pó de tabaco no nariz , até mesmo sob o pretexto de remédio, antes do serviço da missa." em 1588, o colégio de cardeais, em Roma aprovou a proibição que se aplicava para as colônias espanholas na América. (A prática voltou na década de 1980, entre alguns americanos católicos índios, com a queima do tabaco e erva antes da Missa como o seu modo de sincretismo entre as crenças indígenas americanas e liturgia católica).

Mas a questão não se limitou às Américas. O uso do tabaco: fumar, cheirar e mastigar, muito rapidamente se espalhou por todo o Velho Mundo também. E se espalhando entre ambos leigos e clérigos. A matéria era confusa: Não faltaram pessoas que abominavam o uso do tabaco como insalubre, sujo, viciante, e até mesmo pecaminoso; mas também houve muitas pessoas que apontavam para os seus benefícios, seus efeitos calmantes, os grandes e pequenos prazeres em seu uso, sua capacidade de fomentar a sociabilidade (talvez para uma esperada paz das nações, uma irmandade internacional da fumaça), e mesmo (no caso de rapé nasal) a sua eficácia médica como uma maneira de limpar as cavidades através da indução de uma purga cefálica.

No entanto, a questão do uso de tabaco na igreja rapidamente surgiu na Europa, tal como tinha acontecido na Nova Espanha, e que tinha a ver com a questão de sacrilégio durante a missa. Num domingo, em Nápoles, um padre enquanto celebrava a Missa deu uma pitada de  rapé nasal logo depois de receber a Sagrada Comunhão. Parece que ele não era um cheirador experiente porque ele caiu em um acesso de espirros, que o levou a vomitar o Santíssimo Sacramento no altar na frente de sua congregação horrorizada. 

Como o uso do tabaco se espalhou através do clero católico da Europa, a Igreja focou em sua intrusão na igreja. O que foi anatematizado não era o seu uso em si, mas sim o seu uso antes ou durante a liturgia. E, especialmente, pelo clero, que eram esperados para manter a pureza absoluta e limpeza do altar, dos paramentos litúrgicos, e das mãos que consagrariam a hóstia. O tabaco não fumaçava igual o incenso.

O Papa Urbano VIII, em 30 de janeiro de 1642 emitiu uma bula Cum Ecclesiae, em que ele respondeu as denúncias do decano da Catedral de Sevilha, ao declarar que qualquer um que usasse tabaco pela boca ou nariz, tanto em peças inteiras, desfiado, em pó, quanto fumado em um cachimbo, nas igrejas da Diocese de Sevilha, receberia a pena de excomunhão latae sententiae.

A razão para a proibição, explicou, era proteger a missa e as igrejas de contaminação. Em Sevilha, o mau hábito de usar o tabaco tinha aumentado tanto, disse ele, que homens e mulheres, clérigos e leigos, “tanto enquanto eles estavam realizando os seus serviços no coro e no altar, quanto enquanto eles estavam ouvindo a missa e os ofícios divinos, [que] não eram, ao mesmo tempo, e com grande irreverência, tendo tabaco; e com excrementos fétidos mancham o altar, lugares santos, pavimentos e calçadas das igrejas daquela diocese.” Alguns padres, aparentemente, tinham ido tão longe a ponto de colocar as suas caixas de rapé no altar enquanto eles estavam rezando a missa.

Mais tarde, em Roma, um panfleto provocador apareceu como um comentário sobre a Bula: "Contra folium quod vento rapitur ostendis potentiam tuam, et stipulam siccam persequeris." (“Queres, então, assustar uma folha levada pelo vento, ou perseguir uma folha ressequida?” Jó 13, 25 ).

Esta proibição gerou uma grande quantidade de lendas urbana (Urbano?) ao longo dos séculos, agravada por boatos corrompidos e falsamente atribuidos. Alguns relataram isso como uma proibição mundial sobre o uso de tabaco, alguns atribuíram ao papa errado ou deram a data errada, e alguns chegaram mesmo a dizer que o papa proibiu o uso do tabaco, porque ele bizarramente acreditava que o espirros que rapé causavam se assemelhava  a êxtase sexual, que era inapropriado na igreja. (Hey, senhor papa! Mantenha seus rosários longe de nosso nariz!) Ultimamente, a lenda tornou-se tão deturpada e desgastada que o pobre Papa Urbano VIII foi acusado de insanidade de tentar proibir espirros.

Em 1650, oito anos após a bula de Urbano VIII, Inocêncio X decretou a mesma pena para o uso do tabaco nas capelas, na sacristia ou no pórtico da Arquibasílica de São João de Latrão, ou na de São Pedro, em Roma, a razão foi que ele tinha gastado muito tempo, talento e dinheiro embelezando-as, instalando mármores preciosos no chão e ornamentando as capelas com baixos-relevos, e ele não queria que eles fossem manchados com suco de tabaco e fumaça. Inocêncio XI depois reiterou a bula.

Por volta de 1685, alguns teólogos estavam debatendo se as bulas de Urbano VIII e Inocêncio X poderiam ser implicitamente entendidas como aplicáveis a Igreja Universal, e, em caso afirmativo, eles se perguntaram como se aplicava a todas as propriedades da igreja (não apenas o santuário e sacristia; alguns se perguntaram se a reitoria estava incluído).

Embora Bento XIII (que usava pó de fumo) reforçou a necessidade de manter o tabaco longe do altar e do tabernáculo, em 1725, ele revogou a pena de excomunhão por fumar na Igreja de São Pedro, porque ele reconheceu que os freqüentadores da igreja eram freqüentemente saiam da Missa por um tempo para pegar um cigarro ou pó de fumo, e ele decidiu que era melhor para eles ficaram por dentro e não interromper ou perturbar a liturgia ou perder parte dela.

Será que o uso do tabaco quebrava o jejum antes da comunhão? Afonso Ligório (usava pó de fumo), em seu manual de instruções para os confessores, considerou que “o tabaco tomado pelo nariz não quebra o jejum, mesmo que uma parte dele desça para o estômago.” Nem “o fumante um cigarro quebra”, nem mesmo o tabaco mastigado ou “mascado pelos dentes, fazendo suco que é cuspido”. Outros de tempo acordado, esclarecendo que, se uma quantidade significativa de tabaco mascado foi engolido, o jejum foi quebrado.

São Francisco de Assis


Francisco nasceu em Assis, na Úmbria (Itália) em 1182. Jovem orgulhoso, vaidoso e rico, que se tornou o mais italiano dos santos e o mais santo dos italianos. Com 24 anos, renunciou a toda riqueza para desposar a “Senhora Pobreza”.

Aconteceu que Francisco foi para a guerra como cavaleiro, mas doente ouviu e obedeceu a voz do Patrão que lhe dizia: “Francisco, a quem é melhor servir, ao amo ou ao criado?”. Ele respondeu que ao amo. “Porque, então, transformas o amo em criado?”, replicou a voz. No início de sua conversão, foi como peregrino a Roma, vivendo como eremita e na solidão, quando recebeu a ordem do Santo Cristo na igrejinha de São Damião: “Vai restaurar minha igreja, que está em ruínas”.

Partindo em missão de paz e bem, seguiu com perfeita alegria o Cristo pobre, casto e obediente. No campo de Assis havia uma ermida de Nossa Senhora chamada Porciúncula. Este foi o lugar predileto de Francisco e dos seus companheiros, pois na Primavera do ano de 1200 já não estava só; tinham-se unido a ele alguns valentes que pediam também esmola, trabalhavam no campo, pregavam, visitavam e consolavam os doentes. A partir daí, Francisco dedica-se a viagens missionárias: Roma, Chipre, Egito, Síria… Peregrinando até aos Lugares Santos. Quando voltou à Itália, em 1220, encontrou a Fraternidade dividida. Parte dos Frades não compreendia a simplicidade do Evangelho.

Em 1223, foi a Roma e obteve a aprovação mais solene da Regra, como ato culminante da sua vida. Na última etapa de sua vida, recebeu no Monte Alverne os estigmas de Cristo, em 1224.

Já enfraquecido por tanta penitência e cego por chorar pelo amor que não é amado, São Francisco de Assis, na igreja de São Damião, encontra-se rodeado pelos seus filhos espirituais e assim, recita ao mundo o cântico das criaturas. O seráfico pai, São Francisco de Assis, retira-se então para a Porciúncula, onde morre deitado nas humildes cinzas a 3 de outubro de 1226. Passados dois anos incompletos, a 16 de julho de 1228, o Pobrezinho de Assis era canonizado por Gregório IX.

São Francisco de Assis, rogai por nós!


Glorioso São Francisco, Santo da simplicidade, do amor e da alegria. No céu contemplais as perfeições infinitas de Deus. Lançai sobre nós o vosso olhar cheio de bondade. Socorrei-nos em nossas necessidades espirituais e corporais. Rogai ao nosso Pai e Criador que nos conceda as graças que pedimos por vossa intercessão, vós que sempre fostes tão amigo dele. E inflamai o nosso coração de amor sempre maior a Deus e aos nossos irmãos, principalmente os mais necessitados. Meu Amado São Chiquinho, coloque suas mãos sobre este Anjo (nome do animal) que precisa de ti! Sabedora do seu Amor atendei ao nosso pedido. São Francisco de Assis, rogai por nós. Amém.

segunda-feira, 3 de outubro de 2016

França mobiliza caças para preparar batalha de Mossul contra EI


Aviões de combate decolaram nesta sexta-feira do porta-aviões francês Charles de Gaulle como parte dos preparativos da coalizão internacional para a reconquista de Mossul, último reduto do grupo extremista Estado Islâmico (EI) no Iraque.

O Estado Islâmico conquistou em 2014 amplas zonas do território iraquiano ao norte e a oeste da capital Bagdá. Mossul, a segunda cidade do Iraque, se converteu em seu principal reduto.

As tropas iraquianas, que conseguiram reconquistar grandes partes destes territórios nos últimos dois anos, se preparam para retomar esta cidade do norte do país, com o apoio da coalizão internacional, que mobiliza cada vez mais meios antes do início desta batalha chave.

O navio de guerra francês é um dos meios colocados a serviço desta coalizão.

Oito caças do tipo Rafale decolaram nesta sexta-feira pela manhã do navio mobilizado no Mediterrâneo oriental, constatou um jornalista da AFP. 

Não foi comunicado nenhum detalhe sobre o objetivo da missão. Estas aeronaves podem realizar bombardeios ou trabalhos de reconhecimento no Iraque ou na Síria.

“Não é o início da batalha de Mossul, é o prosseguimento das operações de apoio que fornecemos no âmbito da coalizão (…). Em breve começará a ação maior, mas não hoje”, declarou nesta sexta-feira o ministro francês da Defesa, Jean-Yves Le Drian. 

Papa no Encontro Inter-religioso: "Somos chamados a construir juntos um futuro de paz"


VIAGEM APOSTÓLICA DO PAPA FRANCISCO
 À GEÓRGIA E AO AZERBAIJÃO 
(30 DE SETEMBRO - 2 DE OUTUBRO DE 2016)


ENCONTRO INTER-RELIGIOSO COM O
CHEFE DOS MUÇULMANOS DO CÁUCASO
E COM OS REPRESENTANTES DAS COMUNIDADES

RELIGIOSAS DO PAÍS

DISCURSO DO SANTO PADRE
Mesquita Heydar Aliyev - Baku
Domingo, 2 de outubro de 2016



Considero uma bênção encontrarmo-nos aqui juntos. Desejo agradecer ao Presidente do Conselho dos Muçulmanos do Cáucaso, que nos acolhe com a sua habitual cortesia, e aos Chefes religiosos locais da Igreja Ortodoxa Russa e das Comunidades Judaicas. É um grande sinal encontrarmo-nos, em fraterna amizade, neste lugar de oração; um sinal que manifesta aquela harmonia que as religiões, em conjunto, podem construir, a partir das relações pessoais e da boa vontade dos responsáveis. Prova disto mesmo é, por exemplo, a ajuda concreta que o Presidente do Conselho dos Muçulmanos garantiu em várias ocasiões à comunidade católica, e os sábios conselhos que partilha, em espírito de família, com ela; são de sublinhar também o vínculo estupendo que une os católicos à comunidade ortodoxa, manifestado numa fraternidade concreta e num carinho diário que são um exemplo para todos, e a amizade cordial com a comunidade judaica.

Desta concórdia beneficia o Azerbaijão, que se distingue pelo acolhimento e a hospitalidade, dons que pude experimentar neste dia memorável e pelo qual lhes estou muito grato. Aqui deseja-se guardar o grande património das religiões e, ao mesmo tempo, procura-se uma abertura maior e frutuosa: o próprio catolicismo, por exemplo, encontra lugar e harmonia entre outras religiões muito mais numerosas; um sinal concreto que mostra como não seja a contraposição mas a colaboração que ajuda a construir sociedades melhores e pacíficas. Este nosso ajuntamento está em continuidade também com os numerosos encontros que se realizam em Baku para promover o diálogo e a multiculturalidade. Ao abrir as portas ao acolhimento e à integração, abrem-se as portas do coração de cada um e as portas da esperança para todos. Confio que este país, «porta entre o Oriente e o Ocidente» [João Paulo II, Discurso na cerimônia de boas-vindas, Baku, 22 de maio de 2002: Insegnamenti XXV/1 (2002), 838], cultive sempre a sua vocação de abertura e encontro, condições indispensáveis para construir sólidas pontes de paz e um futuro digno do ser humano.

A fraternidade e a partilha que desejamos incrementar não serão apreciadas por aqueles que querem salientar divisões, reacender tensões e enriquecer à custa de conflitos e contrastes; mas são imploradas e esperadas por quem deseja o bem comum, e sobretudo são agradáveis a Deus, Compassivo e Misericordioso, que quer os filhos e filhas da única família humana unidos e sempre em diálogo entre si. Assim escreveu um grande poeta, filho desta terra: «Se és humano, mistura-te com os humanos, porque os homens sentem-se bem uns com os outros» (Nizami Ganjavi, O livro de Alexandre I, sobre o próprio estado e o passar do tempo). Abrir-se aos outros não empobrece, mas enriquece, porque nos ajuda a ser mais humanos: a reconhecer-se parte ativa dum todo maior e a interpretar a vida como um dom para os outros; a ter como alvo não os próprios interesses, mas o bem da humanidade; a agir sem idealismos nem intervencionismos, sem realizar interferências prejudiciais nem ações forçadas, mas sempre no respeito das dinâmicas históricas, das culturas e das tradições religiosas.

As próprias religiões têm uma grande tarefa: acompanhar os homens em busca do sentido da vida, ajudando-os a compreender que as limitadas capacidades do ser humano e os bens deste mundo nunca se devem tornar absolutos. O mesmo Nizami escreveu: «Não te estabeleças solidamente sobre as tuas forças, enquanto não encontrares morada no céu! Os frutos do mundo não são eternos; não adores o que perece!» (Leylā e Majnūn, Morte de Majnūn no túmulo de Leylā). As religiões são chamadas a fazer-nos compreender que o centro do homem está fora dele, que tendemos para o Outro infinito e para o outro que está próximo de nós. Aí o homem é chamado a encaminhar a vida rumo ao amor mais sublime e, simultaneamente, mais concreto: este não pode deixar de estar no cume de toda a aspiração autenticamente religiosa; porque – diz ainda o poeta – «amor é aquilo que nunca muda, amor é aquilo que não tem fim» (Ibid., Desespero de Majnūn).

A religião é, pois, uma necessidade para o ser humano realizar o seu fim, uma bússola a fim de o orientar para o bem e afastá-lo do mal, que sempre jaz deitado à porta do seu coração (cf. Gn 4, 7). Neste sentido, as religiões têm uma tarefa educativa: ajudar a tirar fora do homem o seu melhor. E nós, como guias, temos uma grande responsabilidade que é dar respostas autênticas à busca do homem, hoje frequentemente perdido nos paradoxos vertiginosos do nosso tempo. De facto vemos como nos nossos dias, por um lado, avança o niilismo daqueles que não acreditam em nada mais senão nos seus próprios interesses, benefícios e lucros, daqueles que jogam fora a vida acomodando-se ao ditado «se Deus não existe, tudo é permitido» (cf. F. M. Dostoievski, Os irmãos Karamazov, XI, 4.8.9); por outro lado, emergem cada vez mais as reações rígidas e fundamentalistas daqueles que, com a violência da palavra e dos gestos, querem impor atitudes extremas e radicalizadas, as mais distantes do Deus vivo.