quarta-feira, 5 de outubro de 2016

Todos podem usar o solidéu?


Ainda é possível ver o início do atual movimento litúrgico. Apesar de sabermos e não duvidarmos que é comum uma crise – onde também está inserida a Liturgia – após um Concílio, é inegável que o pontificado de Bento XVI impulsionou as pessoas de boa vontade a redescobrir que a Liturgia não é nossa, mas de Deus, e por isso, possuindo regras próprias e justificadas, só nos cabe desapegarmos de nossos conceitos e nos deixarmos abrir à maravilha que a fidelidade litúrgica propicia.

E então, como dizíamos, ainda é recente o movimento litúrgico “beneditino”. Principalmente desde o fim de 2007, quando Mons. Guido Marini começou a chefiar o Escritório das Celebrações Litúrgicas Pontifícias, reapareceram no vestuário eclesiástico e litúrgico barretes, tabarros, alvas e sobrepelizes com renda, casulas romanas, orientação “versus Deum” na Missa, altares com 6 (e 7, com o Bispo) castiçais etc. Claro que havia lugares, embora contados, que mantinham esses costumes mesmo durante os difíceis e preconceituosos anos pós-Vaticano II. Isto acontecia porque neles se percebia que o último Concílio não quis romper com a tradição de 19 séculos precedentes, quem fiz fazê-lo foram muitos que tiveram o poder para convencer e, de certo modo, conseguiram. Mas, passados alguns anos, a ignorância deu lugar à inteligência e tudo isto coincidiu – repetimos – com o zelo do pontificado de Bento XVI.

Contudo, há um problema: alguns passaram a se enganar que o renascimento litúrgico na Igreja deveria lançar mão a tudo que aparentasse um conservadorismo, mas, na verdade, acabou se tratando de uma confusão das coisas. Para ser mais claro: passaram a usar o que não deveria ou como não deveriam. E um exemplo disto é o solidéu dentro das celebrações litúrgicas, sobre o qual nos deteremos a seguir.

Santa Maria Faustina Kowalska


A misericórdia divina revelou-se manifestamente na vida desta bem-aventurada, que nasceu no dia 25 de agosto de 1905, em Glogowiec, na Polônia Central. Faustina foi a terceira de dez filhos de um casal pobre. Por isso, após dois anos de estudos, teve de aplicar-se ao trabalho para ajudar a família.

Com dezoito anos, a jovem Faustina disse à sua mãe que desejava ser religiosa, mas os pais disseram-lhe que nem pensasse nisso. A partir disso, deixou-se arrastar para diversões mundanas até que, numa tarde de 1924, teve uma visão de Jesus Cristo flagelado que lhe dizia: “Até quando te aguentarei? Até quando me serás infiel?”

Faustina partiu então para Varsóvia e ingressou no Convento das Irmãs de Nossa Senhora da Misericórdia no dia 1 de agosto de 1925. No convento tomou o nome de Maria Faustina, ao qual ela acrescentou “do Santíssimo Sacramento”, tendo em vista seu grande amor a Jesus presente no Sacrário. Trabalhou em diversas casas da congregação. Amante do sacrifício, sempre obediente às suas superioras, trabalhou na cozinha, no quintal, na portaria. Sempre alegre, serena, humilde, submissa à vontade de Deus.

Santa Faustina teve muitas experiências místicas onde Jesus, através de suas aparições, foi recordando à humilde religiosa o grande mistério da Misericórdia Divina. Um dos seus confessores, Padre Sopocko, exigiu de Santa Faustina que ela escrevesse as suas vivências em um diário espiritual. Desta forma, não por vontade própria, mas por exigência de seu confessor, ela deixou a descrição das suas vivências místicas, que ocupa algumas centenas de páginas.

Santa Faustina sofreu muito por causa da tuberculose que a atacou. Os dez últimos anos de sua vida foram particularmente atrozes. No dia 5 de outubro de 1938 sussurrou à irmã enfermeira: “Hoje o Senhor me receberá”. E assim aconteceu.

Beatificada a 18 de abril de 1993 pelo Papa João Paulo II, Santa Faustina, a “Apóstola da Divina Misericórdia”, foi canonizada pelo mesmo Sumo Pontífice no dia 30 de abril de 2000.


Ajudai-me, Senhor, para que a minha língua seja misericordiosa, de modo que eu nunca fale mal dos meus irmãos; que eu tenha para cada um deles uma palavra de conforto e de perdão. Ajudai-me, Senhor, para que as minhas mãos sejam misericordiosas e transbordantes de boas obras, nem se cansem jamais de fazer o bem aos outros, enquanto, aceite para mim as tarefas mais difíceis e penosas. Ajudai-me, Senhora, para que sejam misericordiosos também os meus pés, para que levem sem descanso ajuda aos meus irmãos, vencendo a fadiga e o cansaço; o meu repouso esteja no serviço ao próximo. Ajudai-me, Senhor, para que o meu coração seja misericordioso e se torne sensível a todos os sofrimentos do próximo; ninguém recebe uma recusa do meu coração. Que eu conviva sinceramente mesmo com aqueles que abusam de minha bondade. Quanto a mim, me encerro no Coração Misericordiosíssimo de Jesus, silenciando aos outros o quanto tenho que sofrer. Vós mesmo mandais que eu me exercite em três graus da misericórdia; primeiro: Ato de misericórdia, de qualquer gênero que seja; segundo: Palavra de misericórdia – se não puder com a ação, então com a palavra; terceiro: Oração. Se não puder demonstrar a misericórdia com a ação nem com a palavra, sempre a posso com a oração. A minha oração pode atingir até onde não posso estar fisicamente. Ó meu Jesus, transformai-me em Vós, porque Vós tudo podeis”.

Santa Faustina, rogai por nós!

São Benedito


São Benedito nasceu perto de Messina, na ilha da Sicília, Itália, no ano de 1526. Benedito significa abençoado. Seus pais foram escravos vindos da Etiópia para a Sicília. Era filho de Cristovão Manasceri e de Diana Larcan. O casal não queria ter filhos para não gerarem mais escravos. O senhor deles, sabendo disso, prometeu que, se eles tivessem um filho, daria a ele a liberdade. Assim, eles tiveram Benedito. E, como prometido, ele foi libertado pelo seu senhor ainda menino.

Benedito foi educado por seus pais na fé cristã. Quando menino, cuidava das ovelhas e sempre aproveitava para rezar o Rosário, ensinado por sua mãe.

Quando tinha 20 anos foi insultado por causa de sua raça. Porém, com muita calma e paciência suportou tudo. Vendo isso, o líder dos eremitas franciscanos, Frei Jerônimo Lanza, convidou-o para fazer parte da congregação. São Benedito aceitou prontamente, vendeu tudo o que tinha e se tornou um eremita franciscano, ficando com eles por volta de 5 anos.

O Papa Pio IV, desejando unificar a ordem franciscana, ordenou aos eremitas que se juntassem a qualquer ordem religiosa. Benedito foi para o mosteiro da Sicília, um convento em Santa Maria de Jesus. Era o convento dos franciscanos capuchinhos. Benedito entrou como irmão leigo, assumindo uma função tida como secundária: a de cozinheiro. Benedito, porém, fez da cozinha um santuário de oração e fervor. Vivia sempre alegre e com muita mansidão, conquistando a todos com sua comida saborosa e sua simpatia.

Foi transferido depois para o convento de Sant’Ana di Giuliana, ficando por 4 anos. Depois retornou para o convento de Santa Maria de Jesus, permanecendo ali até sua morte.

Por causa de sua vida exemplar, trabalho, oração e ajuda a todos, Frei Benedito tornou-se um líder natural. Em 1578 foi convidado para ser o Guardião, (superior) do mosteiro, cargo que aceitou depois de muita relutância. Apesar de ser analfabeto, administrou o mosteiro com grande sucesso, seguindo com rigor os preceitos de São Francisco. Organizou os noviços, foi caridoso os padres, era o primeiro a dar exemplo nas orações e no trabalho.

Os teólogos vinham de longe para conversar com São Benedito e aprender com ele. Frei Benedito tinha o dom da sabedoria e o dom da ciência. E, apesar de sua condição de analfabeto, ensinava a todos.

Mandava os porteiros não dispensarem nenhum pobre sem antes dar-lhes alimento e ajuda, mesmo na dificuldade do mosteiro. Quando termina seu mandato como superior, ele volta com alegria para o seu ofício de cozinheiro.

Todos queriam ver e tocar em São Benedito, por causa de sua fama de santidade, palavras, milagres e orações. Os escravos simpatizavam muito com ele, por ser negro, pobre e com grandes virtudes. Em torno do seu nome surgiram numerosas irmandades. São Benedito é um dos Santos mais populares no Brasil, com inúmeras paróquias por todos os lugares inspiradas em seu modelo de humildade e caridade.

Grande é o numero de milagres de São Benedito, inclusive a ressurreição de dois meninos, a cura de vários cegos e surdos, a multiplicação de peixes e pães, e vários outros milagres. Alguns milagres de multiplicação de alimentos aconteceram na cozinha de São Benedito. Por isso, ele é tido carinhosamente pelo povo como o Santo Protetor da cozinha, dos cozinheiros, contra a fome e a falta de alimentos.

Um dia Frei Benedito profetizou que quando morresse teria que ser enterrado às pressas para evitar problemas para seus irmãos. Depois disso, ficou gravemente doente e faleceu no dia 4 de abril de 1589, aos 65 anos de idade. E a profecia se cumpriu: quando ele faleceu uma multidão invadiu o mosteiro para vê-lo, conseguir algum objeto seu ou um pedaço de sua roupa de monge para terem como relíquia do santo pobre e humilde, causando problemas para o convento.

Na hora de sua morte ele disse com muita alegria: Jesus! Jesus! Minha mãe, doce Maria! Meu Pai São Francisco! E morreu em paz. Seu corpo foi transladado para a igreja e exalava suave perfume. Exumado posteriormente, estava intacto, (incorrupto). Em 1611 seu corpo foi colocado em uma urna de cristal na igreja de Santa Maria em Palermo para visitação e permanece até os dias de hoje.

São Benedito foi canonizado em 24 de maio de 1807, pelo Papa Pio Vll. É representado com o menino Jesus nos braços por que fora visto várias vezes com um lindo bebê nos braços quando estava em profunda oração. Por orientação da CNBB, no Brasil a festa de São Bendito é comemorada no dia 5 de outubro.


Glorioso São Benedito, grande confessor da fé, com toda a confiança venho implorar a vossa valiosa proteção. Vós, a quem Deus enriqueceu com dons celestes, consegui-me as graças que ardentemente desejo, para maior glória de Deus. Confortai o meu coração nos desalentos. Fortificai minha vontade para cumprir bem os meus deveres. Sede o meu companheiro nas horas de solidão e desconforto. Assisti-me e guiai-me na vida e na hora da minha morte, para que eu possa bendizer a Deus nesse mundo e gozá-lo na eternidade. Com Jesus Cristo, a quem tanto amastes. Assim seja, amém.

terça-feira, 4 de outubro de 2016

Papa fala sobre homossexuais, transexuais e ideologia de gênero em coletiva de imprensa


Durante a coletiva de imprensa no domingo, 2 de outubro, como costuma fazer na volta das suas viagens internacionais, o Papa Francisco respondeu a uma pergunta a respeito do acompanhamento às pessoas transexuais.

A seguir, a pergunta do jornalista e a resposta completa do Santo Padre na qual também fala acerca da ideologia de gênero:

Josh McElwee, do National Catholic Reporter: Obrigado Santo Padre. Nesse mesmo discurso de ontem na Geórgia, falou como em muitos outros países, da teoria de gênero, dizendo que é a grande inimiga e uma ameaça contra o matrimônio. Mas eu gostaria de perguntar o que diria a uma pessoa que sofreu por anos com sua sexualidade? Se realmente sente que é um problema biológico que seu aspecto físico não corresponde ao que ele ou ela considera sua identidade sexual. O senhor, como pastor e ministro, como acompanharia a estas pessoas?

Papa Francisco: “Antes de tudo, acompanhei na minha vida de sacerdote, de bispo e até de Papa pessoas com tendência e também com prática homossexual. Eu as acompanhei e aproximei do Senhor, alguns não podiam, mas acompanhei e nunca abandonei ninguém, que isto fique claro.

As pessoas devem ser acompanhadas como as acompanha Jesus. Quando uma pessoa tem essa condição e chega diante de Jesus, o Senhor não lhe dirá: Vai embora porque você é homossexual! Não!

Eu me referi sobre a maldade que se faz hoje com a doutrinação da teoria de gênero.

Um pai francês me contou que falava na mesa com os filhos – católicos eles e a esposa, católicos não tão comprometidos, mas católicos – e perguntou ao menino de 10 anos: ‘O que quer ser quando crescer? ’ ‘Uma menina’.

O pai notou que o livro da escola ensinava a teoria de gênero e isso vai contra as coisas naturais. Uma coisa é a pessoa ter essa tendência, essa opção, e também quem muda de sexo. Outra coisa é ensinar nas escolas esta linha para mudar a mentalidade. Isso eu chamo de colonizações ideológicas. 

Nova tecnologia revela conteúdos de antigos manuscritos bíblicos


Pela primeira vez depois de vários séculos será possível ler um manuscrito antigo da Bíblia, graças a uma tecnologia de análise computacional que consegue reconstruir um texto claro a partir de um material ilegível e danificado.

“Este trabalho abre uma nova janela através da qual podemos olhar para trás no tempo, mediante a leitura de materiais que supostamente estavam perdidos por causa da deterioração e da decomposição”, explicou Brent Seales, professor de ciências da computação da Universidade de Kentucky (Estados Unidos).

“Há tantos outros materiais únicos e emocionantes que ainda podem revelar seus segredos, estamos apenas começando a descobrir o que poderia estar no seu conteúdo”, acrescentou Seales, segundo a Universidade de Kentucky.

Seales e a sua equipe desenvolveram um escâner digital de alta resolução que poderá “desenvolver virtualmente” um antigo pergaminho de pele de animal severamente danificado, que contém um texto escrito com tinta. Este aparelho pode produzir um texto legível e claro a partir de um pergaminho envolvido e apesar do dano que possa ter tido.

A análise de um pergaminho revelou 35 linhas de um texto proveniente dos dois primeiros capítulos de uma versão do livro de Levítico.

O manuscrito tem pelo menos 1.500 anos de antiguidade e foi achado em uma escavação arqueológica em 1970, na sinagoga de ‘En Gedi’, em Israel. O pergaminho sofreu queimaduras graves em algum momento e era previamente indecifrável.

“O descobrimento do texto em pergaminho de ‘En Gedi’ nos deixou absolutamente surpreendidos; estávamos seguros de que ia ser um disparo na escuridão, mas as tecnologias mais avançadas trouxeram este tesouro cultural de volta à vida”, afirmou Pnina Shor, diretora do projeto digital ‘Os manuscritos do Mar Morto’, da Autoridade de Antiguidades de Israel. 

Papa Francisco autoriza início do processo de beatificação do Pe. Jacques Hamel


O Papa Francisco autorizou o início do processo de beatificação do sacerdote francês Pe. Jacques Hamel, assassinado enquanto celebrava Missa na sua igreja no dia 26 de julho, homicídio cometido por dois terroristas do Estado Islâmico.

Em um comunicado oficial publicado no domingo, 2 de outubro, pela Arquidiocese de Rouen, à qual o sacerdote pertencia, destacaram que o Arcebispo Dominique Lebrun “foi informado pela Congregação romana das Causas dos Santos que o Papa Francisco dispensou a espera de 5 anos exigidos habitualmente antes de iniciar a investigação oficial em vistas à beatificação”.

Normalmente, o tempo de espera para começar uma causa de beatificação são 5 anos depois da morte do servo de Deus. Os casos mais conhecidos desta dispensa nos últimos anos foram o da Madre Teresa de Calcutá e o de São João Paulo II.

“Em agradecimento ao Papa por este gesto excepcional, o Arcebispo de Rouen decide neste dia reabrir a igreja de Saint-Etienne-du-Rouvray”, onde o Pe. Hamel foi assassinado, pois o templo permanecia fechado desde o dia deste acontecimento lamentável.

O anúncio do Arcebispo foi realizado alguns dias depois da Missa celebrada pelo Santo Padre na capela da Casa Santa Marta, na qual o Prelado esteve acompanhado por um grupo de fiéis de Rouen para recordar o Pe. Hamel.

Nessa homilia, o Papa Francisco disse que o sacerdote falecido “é um mártir! E os mártires são beatos – devemos rezar para ele!”.

Do mesmo modo, o Pontífice ressaltou durante a celebração: “Que esse exemplo de coragem, mas também de martírio da própria vida, de esvaziar a si mesmo para ajudar os outros, de fazer fraternidade entre os homens, ajude todos nós a ir avante sem medo”. 

Homilética: 28º Domingo do Tempo Comum - Ano C: "Justificados pela fé".



A liturgia do 28º domingo do tempo comum nos apresenta um tema bem caro ao evangelista Lucas e muito esquecido em nossa sociedade: a gratidão. Em nossos dias de individualismo e de egocentrismo exacerbado, por causa do mito do bem-estar e da idolatria do mercado, a gratidão brilha como uma luz nas trevas.

Vivemos num mundo em que a vida humana transformou-se num grande comércio onde tudo se compra e tudo se paga… É a época do descartável! Diante dessa realidade, muitos perderam o valor da gratuidade e da gratidão. “Obrigado” é uma palavra tão simples, mas tão esquecida por muitos! No Evangelho (Lc. 17, 11-19) Jesus cura dez leprosos, mas apenas um volta para agradecer.

Com freqüência, temos melhor memória para as nossas necessidades e carências do que para os nossos bens. Vivemos pendentes daquilo que nos falta, e reparamos pouco naquilo que temos, e talvez seja por isso que ficamos aquém no nosso agradecimento. Pensamos que temos pleno direito ao que possuímos e esquecemo-nos do que diz Santo Agostinho: “Nada é nosso, a não ser o pecado que possuímos. Pois que tens tu que não tenhas recebido? (1Cor 4, 7).”

Toda a nossa vida deve ser uma contínua ação de graças. Lembrai-vos das maravilhas que Ele fez, exorta o salmista. O samaritano, através do seu mal, pôde conhecer Jesus Cristo e por ser agradecido conquistou a sua amizade e o incomparável dom da fé: …Tua fé te salvou. Ou seja, a fé salva!

Martinho Lutero foi um sacerdote agostiniano alemão que viveu no século XVI, homem de grande inteligência e de uma fina sensibilidade. Atormentado pelos seus escrúpulos de consciência e sentindo-se oprimido pelas normas da religião, passou por uma experiência que mudaria a sua vida. Leu Rm 1,17: “o justo viverá da fé”. Lutero entendeu que bastaria a fé, somente a fé, para salvar-se; as obras não contariam para nada nesse processo de salvação. A partir daquele momento, seria clássico o tripé luterano: Sola fides! Sola gratia! Sola Scriptura! A tradução é fácil: Somente a fé! Somente a graça! Somente a Bíblia! Com exclusão das obras, do esforço ascético e da Tradição da Igreja. Logicamente, a partir daquele momento, Lutero já não se sentia ligado à autoridade da Igreja Católica para interpretar a Sagrada Escritura. Curiosamente, parece que Lutero não leu muito bem o seguinte capítulo da Carta aos Romanos que, entre outras coisas, nos diz que Deus “retribuirá a cada um segundo as suas obras” (Rm 2,6), nem tampouco o que escreveu o mesmo Apóstolo aos gálatas: que a fé “opera pela caridade” (Gl 5,6).

Enfim, o Concilio de Trento teve que tratar dessa questão e fê-lo magistralmente no ano 1547. O fruto daquela Sessão VI do Concilio foi o valiosíssimo Decreto sobre a justificação. É interessante observar que, desde o começo, o Concilio não se preocupou em dar uma interpretação imediata a uma passagem concreta, como poderia ser Rm 1,17, mas primeiramente quis conhecer profundamente o que significa ser justificado, ser justo, o que quer dizer “justificação”. Depois de deixar claro até que ponto chegou o drama do ser humano – pecador, imundo, separado de Deus, com uma vontade e uma liberdade enfermas, incapaz de salvar-se a si mesmo –, nos explica que a salvação nos vem de Jesus Cristo. Ele nos salvou, mas cada de um nós tem que deixar-se lavar pelo seu sangue purificador. Finalmente, o Concilio nos diz que a justificação não é somente remissão dos pecados, mas também santificação e renovação do homem interior pela voluntária recepção da graças e dos dons. E qual é o papel da fé na justificação já que a Escritura afirma que o somos justificados pela fé (cfr. Rm 1,17; 3,28)? O Concilio interpreta essas palavras da Escritura com outras: “sem fé é impossível agradar a Deus, pois para se achegar a ele é necessário que se creia primeiro que ele existe e que recompensa os que o procuram” (Hb 11,6). Ser justificado pela fé, ser salvado e santificado pela fé, significa que para ser justo diante de Deus é preciso antes crer que ele existe e que é a causa da nossa santificação. Com efeito, como estar inserido em Cristo se não cremos nele e se não permitimos, livremente, que ele entre nas nossas vidas? Deus é muito cortês, se nós não permitimos que ele entre na nossa casa, ele não entrará, mas continuará insistindo.

“Levanta-te a tua fé te salvou” (Lc 17,10). Abracemos cada vez mais a salvação doada por Cristo a cada um de nós, mas não nos esqueçamos de que é importante voltar para agradecer com obras e na verdade. Aquele samaritano, que antes era leproso como os outros, quis percorrer o caminho de volta para agradecer a Jesus pessoalmente prostrando-se aos seus pés. A sua fé foi acompanhada por umas quantas obras que mereceram um elogio e uma exclamação de Jesus: “Não se achou senão este estrangeiro que voltasse para agradecer a Deus?!” (Lc 17,18). Agradeçamos ao Senhor “opere et veritate”, com obras e na verdade, pois, salvados em Cristo Jesus, “esforçai-vos quanto possível por unir à vossa fé a virtude, à virtude a ciência, à ciência a temperança, à temperança a paciência, à paciência a piedade, à piedade o amor fraterno, e ao amor fraterno a caridade. (…) Portanto, irmãos, cuidai cada vez mais em assegurar a vossa vocação e eleição” (2 Pd 1,5-10). Sim, a nossa fé nos salvou, mas é preciso continuar cuidando – por uma vida santa – essa salvação para que aumente em nós e para que um dia seja eterna e vejamos, face a face, a Deus Pai e Filho e Espírito Santo.

Uma carta de mais de mil anos dá testemunho: os cristãos são a alma do mundo


Durante muitos e longos séculos, um elegante manuscrito composto em grego permaneceu ignorado no mais abissal dos silêncios. O texto, de origens até hoje misteriosas, só foi encontrado, e por acaso, no longínquo ano de 1436, em Constantinopla, junto com vários outros manuscritos endereçados a um certo “Diogneto”.

Se não há certeza sobre o seu autor, sabe-se que o destinatário do escrito era um pagão culto, interessado em saber mais sobre o cristianismo, aquela nova religião que se espalhava com força e vigor pelo Império Romano e que chamava a atenção do mundo pela coragem com que os seus seguidores enfrentavam os suplícios de uma vida de perseguições e pelo amor intenso com que amavam a Deus e uns aos outros.
 
O documento que passou para a posteridade como "a Carta a Diogneto" descreve quem eram e como viviam os cristãos dos primeiros séculos. Trata-se, para grande parte dos estudiosos, da “joia mais preciosa da literatura cristã primitiva”.
 
Confira a seguir os seus parágrafos V e VI, que compõem o trecho mais célebre deste tesouro da história cristã:

 
“Os cristãos não se distinguem dos outros homens nem por sua terra, nem por sua língua, nem por seus costumes. Eles não moram em cidades separadas, nem falam línguas estranhas, nem têm qualquer modo especial de viver. Sua doutrina não foi inventada por eles, nem se deve ao talento e à especulação de homens curiosos; eles não professam, como outros, nenhum ensinamento humano. Pelo contrário: mesmo vivendo em cidades gregas e bárbaras, conforme a sorte de cada um, e adaptando-se aos costumes de cada lugar quanto à roupa, ao alimento e a todo o resto, eles testemunham um modo de vida admirável e, sem dúvida, paradoxal.
 
Vivem na sua pátria, mas como se fossem forasteiros; participam de tudo como cristãos, e suportam tudo como estrangeiros. Toda pátria estrangeira é sua pátria, e cada pátria é para eles estrangeira. Casam-se como todos e geram filhos, mas não abandonam os recém-nascidos. Compartilham a mesa, mas não o leito; vivem na carne, mas não vivem segundo a carne; moram na terra, mas têm a sua cidadania no céu; obedecem às leis estabelecidas, mas, com a sua vida, superam todas as leis; amam a todos e são perseguidos por todos; são desconhecidos e, ainda assim, condenados; são assassinados, e, deste modo, recebem a vida; são pobres, mas enriquecem a muitos; carecem de tudo, mas têm abundância de tudo; são desprezados e, no desprezo, recebem a glória; são amaldiçoados, mas, depois, proclamados justos; são injuriados e, no entanto, bendizem; são maltratados e, apesar disso, prestam tributo; fazem o bem e são punidos como malfeitores; são condenados, mas se alegram como se recebessem a vida. Os judeus os combatem como estrangeiros; os gregos os perseguem; e quem os odeia não sabe dizer o motivo desse ódio.