segunda-feira, 2 de janeiro de 2017

Como uma só alma em dois corpos




Encontramo-nos em Atenas, como que arrastados pela corrente de um mesmo rio, que desde a fonte pátria nos tinha dispersado por diversas regiões (para onde éramos atraídos pelo afã de aprender), e que, de novo, como se nos tivéssemos posto de acordo, nos voltou a reunir, sem dúvida porque assim Deus o quis. 

Por aquele tempo, eu não só admirava o meu grande amigo Basílio, pela seriedade dos seus costumes e pela maturidade e prudência das suas palavras, mas tratava de persuadir a outros que ainda não o conheciam, para que tivessem a mesma admiração. Começou a ser tido em grande estima, até por aqueles que lhe levavam vantagem em fama e audiência. 

Que sucedeu então? Ele foi o único, entre todos os estudantes que se encontravam em Atenas, a ser dispensado da lei comum e o único a conseguir uma honra maior do que a que normalmente corresponde a um discípulo. 

Este foi o prelúdio da nossa amizade; este o incentivo da nossa intimidade; assim nos prendemos um ao outro pelo afeto mútuo. 

Com o andar do tempo, confessamos mutuamente as nossas intenções e compreendemos que o nosso mais profundo ideal era o amor da sabedoria; e desde então, éramos um para o outro o mais possível companheiros e amigos, sempre de acordo, aspirando aos mesmos bens e cultivando cada dia mais fervorosa e firmemente o nosso ideal comum. 

Movia-nos a mesma ânsia de saber; embora isto costume ocasionar profundas invejas, nós não tínhamos inveja; em contrapartida, tínhamos em grande apreço a emulação. Lutávamos entre nós, não para ver quem era o primeiro, mas para ver quem cedia ao outro a primazia; cada um de nós considerava como própria a glória do outro. 

Parecia que tínhamos uma só alma em dois corpos. E embora não se deva dar crédito àqueles que dizem que tudo se encontra em todas as coisas, no nosso caso podia afirmar-se que realmente cada um se encontrava no outro e com o outro. 

Uma só tarefa e um só objetivo havia para ambos: aspirar à virtude, viver para as esperanças futuras e comportar-nos de tal modo que, mesmo antes de ter partido desta vida, tivéssemos emigrado dela. Esse foi o ideal que nos propusemos, e assim tratávamos de orientar a nossa vida e as nossas ações, em atitude de docilidade aos mandamentos divinos, entusiasmando-nos mutuamente à prática da virtude; e, se não parecer demasiada arrogância, direi que éramos um para o outro a norma e a regra para discernir o bem do mal. 

E assim como outros têm sobrenomes recebidos de seus pais, ou adquiridos por si próprios, isto é, com a atividade e a orientação da sua vida, para nós o maior título de glória era sermos cristãos e como tal reconhecidos.


Dos Sermões de São Gregório de Nazianzo, bispo

(Oratio 43, in laudem Basilii Magni, 15. 16-17. 19-21: PG 36, 514-523) (Sec. IV)

Pode a alma sair do corpo e voltar?


Algumas pessoas narram certas experiências que teriam vivido, segundo as quais a sua alma teria deixado o corpo e viajado pelo espaço, de tal modo que a pessoa viu o seu corpo estando fora dele. Isto é real, pode acontecer?

Bem, a Igreja Católica diz que somos formados de duas realidades unidas: corpo e alma; cuja separação significa a morte da pessoa. O Catecismo da Igreja explica que: “A unidade da alma e do corpo é tão profunda que se deve considerar a alma como a “forma do corpo” (Concílio de Viena, 1312: DS 902); ou seja, é graças à alma espiritual que o corpo constituído de matéria é um corpo humano vivo; o espírito e a matéria no homem não são duas naturezas unidas, mas a união deles forma uma única natureza” (§365).

Portanto, se a alma deixar o corpo, a pessoa experimenta a morte. Se esta voltar ao corpo, será então um caso de milagre de ressurreição, como Jesus fez com Lázaro, a menina Talita,  o filho da viúva de Naim e outros casos.

Assim, não tem base teológica a afirmação de que algumas pessoas viveram a experiência de “sair do corpo”, e continuaram vivas. Isto pode ser devido a alguma sugestão ou algo que a ciência deva explicar. 

domingo, 1 de janeiro de 2017

Mark Zuckeberg diz não ser mais ateu e que a religião é “muito importante”.


Mark Zuckerberg, 32 anos fundador e CEO do Facebook, revelou no Natal em sua página no Facebook que ele não é mais ateu e que agora acha que a religião é “muito importante”.

Zuckerberg compartilhou suas novas idéias sobre religião em um comentário num post que fez sobre o Natal. “Feliz Natal”, ele postou em sua página, “e Feliz Hanukkah de Priscilla, Max, Besta e eu!”


O fundador do Facebook já havia se declarado publicamente como um ateu, e isso fez com que um dos seus seguidores o questionasse: “Mas você não é ateu?” Zuckerberg respondeu: “Não. Fui criado como judeu e depois passei por um período em questionei as coisas, mas agora acredito que a religião é muito importante.”


Ele não explicou mais sobre suas crenças religiosas. 

O efeito evangelizador do Ano Mariano


O ano de 2017 será uma oportunidade muito peculiar e rica para a Igreja Católica voltar seu olhar para o papel de Maria na obra redentora, na vida de Jesus e sua singularidade em meio ao nosso povo. O Brasil celebrará os 300 anos de encontro da pequenina imagem de Nossa Senhora da Conceição no Rio Paraíba do Sul e que acarretou numa grande devoção a Virgem de Aparecida. Em Portugal celebra-se os 100 anos da aparição de Nossa Senhora do Rosário em Fátima, considerado um grande acontecimento do século XX e marcado por um forte apelo à oração e à conversão.

Verdadeiramente é um tempo para celebrar, comemorar e louvar a Deus, mas sobretudo, aprender com ela a seguir Jesus Cristo (cf. Jo 2, 5) e assim assumir o papel de cristão.

Dentre os diversos aspectos evangelizadores presentes em Maria, passo a ressaltar alguns. Ela foi escolhida para uma grandiosa missão: ser a mãe do Filho de Deus, Jesus. Soube responder ao forte apelo que Deus fez e ainda faz: vem, segue-me e vai. Ela soube percorrer um caminho de fé com total confiança e entrega ao Senhor. Por Ele ela disse sim, por Ele ela permaneceu firme até o fim, para Ele ela soube direcionar toda sua vida para Deus. Por isso ela é modelo único para toda vocação, pois seu chamado foi alicerçado num amor indizível a doação aos planos de Deus.

Soube Maria exercer um papel congregador, juntamente com os apóstolos e outras mulheres, era assídua à oração (cf. At 2, 14). Assim, foi possível que o impulso missionário explodisse em Pentecostes. Ela surge como Mãe da Igreja que nasce impulsionada pelo Espírito, sem o qual nada por ser feito.

Maria é a “estrela da evangelização” (Evangelii Nuntiandi, 82), pois ela atrai muitos para seu Filho Jesus como ela mesmo um dia fora atraída de forma apaixonante para um projeto de vida e pelo desejo sincero de buscar a Deus. 

CNBB divulga Mensagem de Paz e Esperança para 2017


MENSAGEM DA CNBB POR OCASIÃO DO NOVO ANO
“Eu vos disse estas coisas para que, em mim, tenhais a paz” (Jo 16,33)

A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil-CNBB, por ocasião do início do Novo Ano e da comemoração do Dia Mundial da Paz, dirige a todos os brasileiros e brasileiras sua mensagem de Paz e Esperança.

Segundo a concepção bíblica, a Paz, dom de Deus, é fruto da justiça, do amor e da misericórdia; é o fundamento de uma ordem social duradoura e segura. A Esperança, por sua vez, alicerçada na fé, faz desejar o Reino dos Céus. Ela se expressa através do compromisso com a construção de uma nova vida e de um mundo novo. Sendo assim, iluminados pela fé em Cristo, somos chamados a caminhar na Esperança e a contribuir na construção da Paz.

Desejosos da Paz e fortalecidos pela Esperança, constatamos que o povo brasileiro é trabalhador, valoriza a honestidade, sonha com uma sociedade fraterna e solidária; fica indignado com as injustiças e manifesta perplexidade diante dos escândalos que assolam nosso país. 

Vivemos uma profunda crise ética. Sua face mais visível é a corrupção, com prejuízos inestimáveis para a Nação, principalmente para os mais pobres. Reiteramos o nosso repúdio a quaisquer formas de corrupção e reafirmamos a necessidade de continuar a combatê-la com rigor, respeitando-se sempre o ordenamento jurídico do Estado Democrático de Direito. 

Fruto da crise ética é o descrédito com a política partidária. Posturas que privilegiam interesses pessoais, partidários e coorporativos, em detrimento do bem-comum, debilitam o Estado e alimentam as injustiças sociais. Necessitamos de um novo modo de fazer política, a serviço do povo. A credibilidade da política exige o resgate da ética.  

Papa: "orfandade espiritual é um câncer que degrada a alma".


SANTA MISSA NA SOLENIDADE DE MARIA SANTÍSSIMA MÃE DE DEUS
50º DIA MUNDIAL DA PAZ


HOMILIA DO PAPA FRANCISCO
Basílica Vaticana
Domingo, 1° de janeiro de 2017



«Quanto a Maria, conservava todas estas coisas, ponderando-as no seu coração» (Lc 2, 19). Assim descreve Lucas a atitude com que Maria acolhe tudo aquilo que estava a viver naqueles dias. Longe de querer compreender ou dominar a situação, Maria é a mulher que sabe conservar, isto é, proteger, guardar no seu coração a passagem de Deus na vida do seu povo. Aprendeu a sentir a pulsação do coração do seu Filho, ainda Ele estava no seu ventre, ensinando-Lhe a descobrir, durante toda a vida, o palpitar de Deus na história. Aprendeu a ser mãe e, nesta aprendizagem, proporcionou a Jesus a bela experiência de saber-Se Filho. Em Maria, o Verbo eterno não só Se fez carne, mas aprendeu também a reconhecer a ternura maternal de Deus. Com Maria, o Deus-Menino aprendeu a ouvir os anseios, as angústias, as alegrias e as esperanças do povo da promessa. Com Ela, descobriu-Se a Si mesmo como Filho do santo povo fiel de Deus.

Nos Evangelhos, Maria aparece como mulher de poucas palavras, sem grandes discursos nem protagonismos, mas com um olhar atento que sabe guardar a vida e a missão do seu Filho e, consequentemente, de tudo o que Ele ama. Soube guardar os alvores da primeira comunidade cristã, aprendendo deste modo a ser mãe duma multidão. Aproximou-Se das mais diversas situações, para semear esperança. Acompanhou as cruzes, carregadas no silêncio do coração dos seus filhos. Muitas devoções, muitos santuários e capelas nos lugares mais remotos, muitas imagens espalhadas pelas casas lembram-nos esta grande verdade. Maria deu-nos o calor materno, que nos envolve no meio das dificuldades; o calor materno que não deixa, nada e ninguém, apagar no seio da Igreja a revolução da ternura inaugurada pelo seu Filho. Onde há uma mãe, há ternura. E Maria, com a sua maternidade, mostra-nos que a humildade e a ternura não são virtudes dos fracos, mas dos fortes; ensina-nos que não há necessidade de maltratar os outros para sentir-se importante (cf. Exort. ap. Evangelii gaudium, 288). E o santo povo fiel de Deus, desde sempre, A reconheceu e aclamou como a Santa Mãe de Deus.

Celebrar, no início de um novo ano, a maternidade de Maria como Mãe de Deus e nossa mãe significa avivar uma certeza que nos há de acompanhar no decorrer dos dias: somos um povo com uma Mãe, não somos órfãos.

As mães são o antídoto mais forte contra as nossas tendências individualistas e egoístas, contra os nossos isolamentos e apatias. Uma sociedade sem mães seria não apenas uma sociedade fria, mas também uma sociedade que perdeu o coração, que perdeu o «sabor de família». Uma sociedade sem mães seria uma sociedade sem piedade, com lugar apenas para o cálculo e a especulação. Com efeito as mães, mesmo nos momentos piores, sabem testemunhar a ternura, a dedicação incondicional, a força da esperança. Aprendi muito com as mães que, tendo os filhos na prisão ou estendidos numa cama de hospital ou subjugados pela escravidão da droga, esteja frio ou calor, faça chuva ou sol, não desistem e continuam a lutar para lhes dar o melhor; ou com as mães que, nos campos de refugiados ou até no meio da guerra, conseguem abraçar e sustentar, sem hesitação, o sofrimento dos seus filhos. Mães que dão, literalmente, a vida para que nenhum dos filhos se perca. Onde estiver a mãe, há unidade, há sentido de pertença: pertença de filhos. 

Primeiras Vésperas da Santa Mãe de Deus e o "Te Deum"


HOMILIA
Celebração das Primeiras Vésperas 
da Solenidade de Maria Santa Mãe de Deus

e Te Deum em ação de graças pelo ano passado
Basílica Vaticana
Sábado, 31 de dezembro de 2016


«Quando chegou a plenitude do tempo, Deus enviou seu Filho, nascido de uma mulher, nascido sob o domínio da Lei, para resgatar os que se encontravam sob o domínio da Lei, a fim de recebermos a adoção de filhos» (Gal 4, 4-5).

Hoje ressoam com uma força particular estas palavras de São Paulo, que, de forma breve e concisa, nos introduzem no plano que Deus tem para nós: quer que vivamos como filhos. Ecoa aqui toda a história da salvação: Aquele que não estava sujeito à Lei decidiu, por amor, deixar de lado qualquer tipo de privilégio (privus legis) e entrar pelo lugar menos esperado, a fim de nos libertar a nós que estávamos – nós, sim – sob a Lei. E a novidade é que decidiu fazê-lo na pequenez e fragilidade dum recém-nascido; decidiu aproximar-Se pessoalmente e, na sua carne, abraçar a nossa carne; na sua fraqueza, abraçar a nossa fraqueza; na sua pequenez, superar a nossa. Em Cristo, Deus não Se mascarou de homem, fez-Se homem e partilhou em tudo a nossa condição. Longe de se encerrar num estado de ideia ou essência abstrata, quis estar perto de todos aqueles que se sentem perdidos, mortificados, feridos, desanimados, abatidos e amedrontados; perto de todos aqueles que, na sua carne, carregam o peso do afastamento e da solidão, para que o pecado, a vergonha, as feridas, o desconforto, a exclusão não tenham a última palavra na vida dos seus filhos.

O presépio convida-nos a assumir esta lógica divina: não uma lógica centrada no privilégio, em favores, no compadrio; mas a lógica do encontro, da aproximação e da proximidade. O presépio convida-nos a abandonar a lógica feita de exceções para uns e exclusões para outros. O próprio Deus veio quebrar a cadeia do privilégio que gera sempre exclusão, para inaugurar a carícia da compaixão que gera a inclusão, que faz resplandecer em cada pessoa a dignidade para que foi criada. Um menino envolto em panos mostra-nos a força de Deus que interpela como dom, como oferta, como fermento e oportunidade para criar uma cultura do encontro.

Não podemos dar-nos ao luxo de ser ingênuos; sabemos que nos vem, de vários lados, a tentação de viver nesta lógica do privilégio que, ao separar, nos separa; ao excluir, nos exclui; ao confinar os sonhos e a vida de muitos dos nossos irmãos, nos confina. 

Palavra de Vida: “O amor de Cristo nos impele” (Cf. 2Cor 5,14-20)


“Ontem à noite fui jantar fora, com mamãe e uma amiga dela. Pedi o prato principal com ervilhas, para depois comer o doce de que eu mais gostava. Mas a mamãe não deixou. Eu estava querendo ficar emburrada, mas me lembrei que Jesus estava bem ali, com a mamãe, e então dei um sorriso”.

“Hoje, depois de um dia cansativo, voltei para casa. Comecei a ver televisão, mas meu irmão tirou de minhas mãos o controle remoto. Fiquei com muita raiva. Mas depois me acalmei e deixei que ele ficasse vendo a TV”.

“Hoje meu pai me disse uma coisa e eu lhe respondi mal. Quando olhei para ele, vi que não estava feliz. Então pedi desculpas e ele me perdoou”.

São experiências sobre a Palavra de Vida contadas por crianças da quinta série, de uma escola de Roma. Pode ser que essas experiências não tenham uma ligação imediata com a Palavra que estavam vivendo naquele momento, mas o fruto do Evangelho vivido é justamente este: o impulso a amar. Qualquer que seja a Palavra de Vida que nos propomos a viver, os efeitos são sempre os mesmos: ela muda a nossa vida, coloca em nosso coração o impulso de ficarmos atentos às necessidades dos outros, faz com que nos disponhamos a servir os irmãos e as irmãs. E não poderia ser diferente: acolher e viver a Palavra faz nascer Jesus em nós e nos leva a agir como Ele. É o que Paulo dá a entender aqui, quando escreve aos coríntios.

O que impulsionava o apóstolo a anunciar o Evangelho e a empenhar-se pela unidade das suas comunidades era a profunda experiência que ele tinha feito de Jesus. Tinha se sentido amado, salvo por Ele. Jesus tinha penetrado na sua vida a tal ponto, que nada nem ninguém poderia jamais separá-lo dele: não era mais Paulo que vivia, porque era Jesus que vivia nele. Imaginar que o Senhor o tinha amado até o ponto de dar a vida era algo que o fazia enlouquecer, não o deixava em paz e o impelia com força irresistível a fazer o mesmo, e com o mesmo amor.