segunda-feira, 9 de janeiro de 2017

O batismo de Cristo*


Cristo é iluminado no batismo, recebemos com ele a luz; Cristo é batizado, desçamos com ele às águas para com ele subirmos.

João batiza e Jesus se aproxima; talvez para santificar igualmente aquele que o batiza e, sem dúvida, para sepultar nas águas o velho Adão. Antes de nós, e por nossa causa, ele que é Espírito e carne santificou as águas do Jordão, para assim nos iniciar nos sacramentos mediante o Espírito e a água.

João reluta, Jesus insiste. Eu é que devo ser batizado por ti (cf. Mt 3,14), diz a lâmpada ao Sol, a voz à Palavra, o amigo ao Esposo, diz o maior entre todos os nascidos de mulher ao Primogênito de toda criatura, aquele que estremecera de alegria no seio materno ao que fora adorado no seio de sua Mãe, o que era e seria precursor ao que já tinha vindo e de novo há de vir. Eu é que devo ser batizado por ti. Podia ainda acrescentar: e por causa de ti. Pois sabia que ia receber o batismo de sangue ou que, como Pedro, não lhe seriam apenas lavados os pés.

Jesus sai das águas, elevando consigo o mundo que estava submerso, e vê abrirem-se os céus de par em par, que Adão tinha fechado para si e sua posteridade, assim como o paraíso lhe fora fechado por uma espada de fogo.

O Espírito, acorrendo àquele que lhe é igual, dá testemunho da sua divindade. Vem do céu uma voz, pois também vinha do céu aquele de quem se dava testemunho. E ao mostrar-se na forma corporal de uma pomba, o Espírito glorifica o corpo de Cristo, já que este, por sua união com a divindade, é o corpo de Deus. De modo semelhante, muitos séculos antes, uma pomba anunciara o fim do dilúvio.

Veneremos hoje o batismo de Cristo e celebremos dignamente esta festa.

Permanecei inteiramente puros e purificai-vos sempre mais. Nada agrada tanto a Deus quanto o arrependimento e a salvação do homem, para quem se destinam todas as suas palavras e mistérios. Sede como luzes no mundo, isto é, como uma força vivificante para os outros homens. Permanecendo como luzes perfeitas diante da grande luz, sereis inundados pelo esplendor dessa luz que brilha no céu e iluminados com maior pureza e fulgor pela Trindade. Dela acabastes de receber, embora não em plenitude, o único raio que procede da única Divindade, em Jesus Cristo, nosso Senhor, a quem pertencem a glória e o poder pelos séculos dos séculos. Amém.


Dos Sermões de São Gregório de Nazianzo, bispo
(Oratio in sancta Lumina, 14-16. 20:PG 36, 350-351. 354. 358-359) (Séc. IV)
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*Festa do Batismo do Senhor

A existência do demônio


Muitas pessoas se sentem desconfortáveis ou até mesmo amedrontadas quando o assunto é Satanás e seus demônios. Isso se deve, talvez, à ajuda prestada pela literatura e pelo cinema que, com suas representações, envolveu com um ar de mistério e temor a existência de entidades demoníacas e sua ação no mundo. Em alguns casos, vemos atitudes de total aversão ao tema, e em outros, uma curiosidade que vai da mais simples até a mais obsessiva.

Para os católicos, a existência do Diabo e seus demônios é uma verdade de fé. Isso significa que, para aqueles que aderem à Igreja Católica Apostólica Romana, crer na existência dos demônios não é uma opção. Trata-se de condição sine qua non, ou seja, não há um meio de se dizer católico sem se crer naquilo que a Igreja crê e ensina: que Satanás e seus anjos existem e atuam no mundo de modo a perder as almas. Diante disso não há o que temer, pois estudar e entender os seres demoníacos acaba sendo uma importante arma para evitar as suas ciladas.

Para tanto, o ponto de partida deste curso será a teologia dogmática e o ponto de chegada a teologia ascético-mística. O curso, no decorrer das aulas, abordará questões basilares tais como a existência do demônio e suas ações para perder as almas (da tentação até a possessão, passando por todos os níveis dos ataques diabólicos).

Jesus estava expulsando um demônio que era mudo.
Quando o demônio saiu, o mudo começou a falar,
e as multidões ficaram admiradas.

O Catecismo da Igreja Católica, no número 391, traz uma citação do IV Concílio de Latrão: "Com efeito, o Diabo e outros demônios foram por Deus criados bons em (sua) natureza mas se tornaram maus por sua própria iniciativa". Ora, eles foram criados bons por Deus, mas, livremente escolheram rejeitá-Lo. Assim, pecaram contra Deus de maneira irrevogável. Movidos pelo ódio e pela inveja agiram e continuam agindo para a perdição das almas dos homens. Até mesmo Jesus foi alvo de suas tentações. O Catecismo segue explicando:

A Escritura atesta a influência nefasta daquele que Jesus chama de "homicida desde o princípio" (Jo 8,44) e que até chegou a tentar desviar Jesus da missão recebida do Pai. "Para isto é que o Filho de Deus se manifestou: para desviar as obras do Diabo" (1Jo 3,9). A mais grave dessas obras, devido às suas consequências, foi a sedução mentirosa que induziu o homem a desobedecer a Deus. (CIC 394)

Os sinais que corroboram a crença perene da Igreja na existência de Satanás e seus demônios, podem ser verificados nos textos da Sagrada Escritura e nos documentos e escritos do Magistério e da Tradição. Embasada nestes três pilares, não há como negar que esta crença faz parte da essência da fé católica.

O Padre José Antonio Sayés Bermejo, um dos teólogos mais importantes da atualidade, com mais de quarenta obras publicadas de teologia e filosofia, escreveu o livro “O Demónio: realidade ou mito?", publicado pela Ed. Paulus, que servirá de guia para esta aula. Ele explica que o Antigo Testamento praticamente não fala da existência de Satanás e seus demônios, mas que o Novo Testamento apresenta uma explosão sobre o tema. Considerando-se os vocábulos que dizem respeito ao demônio, satanás, possessões, etc., o Novo Testamento apresenta cerca de 511 referências.

Como explicar essa desproporção entre o Antigo e o Novo Testamento? A pedagogia divina. No início da história da salvação, Deus estabelece com Abraão uma aliança e pede que não haja outros deuses além Dele (Ex 20,3). Com o passar do tempo, ensina ao povo de Israel que não existem outros deuses além Dele e, por meio dos profetas, inaugura a luta para livrar Israel da idolatria. 

Santo André Corsini


Nasceu no século XIV, dentro de uma família muito conhecida em Florença: a família Corsini. Nasceu no ano de 1302. Seus pais, Nicolau e Peregrina não podiam ter filhos, mas não desistiam, estavam sempre rezando nesta intenção até que veio esta graça e tiveram um filho. O nome: André.

Os pais fizeram de tudo para bem formá-lo. Com apenas 15 anos, ele dava tanto trabalho e decepções para seus pais que sua mãe chegou a desabafar: “Filho, você é, de fato, aquele lobo que eu sonhava”. Ele ficou assustado, não imaginava o quanto os caminhos errados e a vida de pecado que ele estava levando, ainda tão cedo, decepcionava tanto e feria a sua mãe. Mas a mãe completou o sonho: “Este lobo entrava numa igreja e se transformava em cordeiro”. André guardou aquilo no coração e, sem a mãe saber, no outro dia, ele entrou numa igreja. Aos pés de uma imagem de Nossa Senhora ele orava, orava e a graça aconteceu. Ele retomou seus valores, começou uma caminhada de conversão e falou para o provincial carmelita que queria entrar para a vida religiosa. Não se sabe, ao certo, se foi imediatamente ou fez um caminho vocacional, o fato é que entrou para a vida religiosa na obediência às regras, na vida de oração e penitência. Ele foi crescendo nessa liberdade, que é dom de Deus para o ser humano.

Santo André ia se colocando a serviço dos doentes, dos pobres, nos trabalhos tão simples como os da cozinha. Ele também saía para mendigar para as necessidades de sua comunidade. Passou humilhação, mas sempre centrado em Cristo.

Os santos foram e continuam a ser pessoas que comunicaram Cristo para o mundo. Mas Deus tinha mais para André. Ele ordenou-se padre e como tal continuava nesse testemunho de Cristo até que Nosso Senhor o escolheu para Bispo de Fiesoli. De início, ele não aceitou e fugiu para a Cartuxa de Florença e ficou escondido; ao ponto de as pessoas não saberem onde ele estava e escolher um outro para ser bispo, pela necessidade. Mas um anjo, uma criança apareceu no meio do povo indicando onde ele estava escondido. Apareceu também uma outra criança para ele dizendo-lhe que ele não devia temer, porque Deus estaria com ele e a Virgem Maria estaria presente em todos os momentos. Foi por essa confiança no amor de Deus que ele assumiu o episcopado e foi um santo bispo. Até que em 1373, no dia de Natal, Nossa Senhora apareceu para ele dizendo do seu falecimento que estava próximo. No dia da Epifania do Senhor, ele entrou para o céu.



Senhor, Vós dissestes que todos quanto trabalham pela paz seriam chamados filhos de Deus; por intercessão de Santo André Corsini, admirável homem de paz, concedei-nos a graça de trabalhar sem medo e sem desanimar pela justiça que dá aos homens a paz firme e verdadeira. Amém.

domingo, 8 de janeiro de 2017

Itália: Diocese afasta e investiga sacerdote acusado de organizar orgias


Sobre o caso do Pe. Andrea Contin, acusado de organizar orgias e prostituir 15 mulheres, a Diocese de Pádua (Itália) informou que o sacerdote foi afastado da paróquia onde trabalhava e se encontra sob uma investigação prévia.

Em um comunicado publicado no dia 29 de dezembro, a diocese italiana assinalou que os acontecimentos pelos quais o Pe. Contin é acusado “são muito graves e causam dor ao Bispo e à comunidade cristã”.

A diocese indicou que quando um sacerdote se comporta “em conflito com a moral cristã, a disciplina eclesiástica e a atividade ministerial”, a prática eclesiástica prevê uma verificação das informações “através de um procedimento canônico, que na fase preliminar é realizado com muita discrição, respeitando todas as pessoas envolvidas”. 

O Senhor deu a conhecer a salvação ao mundo inteiro*


Tendo a misericordiosa Providência de Deus decidido vir nos últimos tempos em socorro do mundo perdido, determinou salvar todos os povos em Cristo.

Esses povos formam a incontável descendência outrora prometida ao santo patriarca Abraão; descendência gerada não segundo a carne, mas pela fecundidade da fé, e por isso comparada à multidão das estrelas, para que o pai de todos os povos esperasse uma posteridade celeste e não terrestre.

Entrem, pois, todos os povos, entrem na família dos patriarcas, e recebam os filhos da promessa a benção da descendência de Abraão, à qual renunciaram os filhos segundo a carne. Que todos os povos, representados pelos três Magos, adorem o Criador do universo; e Deus não seja conhecido apenas na Judéia mas no mundo inteiro, a fim de que por toda parte o seu nome seja grande em Israel (Sl 75,2).

Portanto, amados filhos, instruídos nos mistérios da graça divina, celebremos com alegria espiritual o dia das nossas primícias e do primeiro chamado dos povos pagãos à fé, dando graças a Deus misericordioso que, conforme diz o Apóstolo, nos tornou capazes de participar da luz que é a herança dos santos; ele nos libertou do poder das trevas e nos recebeu no reino de seu amado Filho (Cl 1,12-13). Pois, como anunciou Isaías, o povo que andava na escuridão viu uma grande luz; para os que habitavam nas sombras da morte, uma luz resplandeceu (Is 9,1). E ainda referindo-se a eles, o mesmo profeta diz ao Senhor: Nações que não vos conheciam vos invocarão e povos que vos ignoravam acorrerão a vós (cf. Is 55,5).

Esse dia, Abraão viu e alegrou-se (Jo 8,56) ao saber que seus filhos segundo a fé seriam abençoados na sua descendência, que é Cristo, e ao prever que, por sua fé, seria pai de todos os povos. E deu glória a Deus, plenamente convencido de que Deus tem poder para cumprir o que prometeu (Rm 4,20-21).

Esse dia, também Davi cantou nos salmos, dizendo: As nações que criastes virão adorar, Senhor, e louvar vosso nome (Sl 85,9). E ainda: O Senhor fez conhecer a salvação, e às nações, sua justiça (Sl 97,2).

Como sabemos, tudo isso se realizou quando os três Magos, chamados de seu longínquo  país, foram conduzidos por uma estrela, para irem conhecer e adorar o Rei do céu e da terra. O serviço prestado por esta estrela nos convida a imitar sua obediência, isto é, servir com todas as forças essa graça que nos chama todos para Cristo.

Animados por esse desejo, amados filhos, deveis empenhar-vos em ser úteis uns aos outros, para que no reino de Deus, aonde se entra graças à integridade da fé e às boas obras, resplandeçais como filhos da luz. Por nosso Senhor Jesus Cristo, que vive e reina com o Pai e o Espírito Santo por todos os séculos dos séculos.


Dos Sermões de São Leão Magno, papa

(Sermo 3 in Epiphania Domini, 1-3.5: PL 54,240-244)            (Séc. V)

*Solenidade da Epifania do Senhor

Por que a maioria dos jovens deveria entrar no Seminário?


Quem deveria entrar num seminário? Somente os jovens que têm 100% de certeza de que vão ser padres? Ou será que todos os homens poderiam “tirar a prova” e passar um ano ou dois no seminário?

Quando os jovens em discernimento vocacional pensam na possibilidade de entrar no seminário, os amigos e parentes frequentemente lhes perguntam: “Mas você tem 100% de certeza do chamado ao sacerdócio?”. Muitos jovens lidam com a dúvida durante anos e nunca entram no seminário porque nunca chegam a estar absolutamente certos de que Deus os chama a este caminho.

Acontece que o seminário não precisa nem deve ser visto como uma “fábrica de sacerdotes”, na qual só entram jovens que não têm dúvida alguma nem medo nenhum e que, magicamente, saem ordenados padres no final de uma linha de produção.

É verdade que a razão de ser dos seminários é formar sacerdotes, mas também é verdade que a formação humana, intelectual e espiritual que um homem recebe no seminário o beneficiará pelo resto da vida em qualquer vocação a que Deus o chame.

Por isso é que eu digo que a maioria dos jovens deveria entrar no seminário, especialmente diante do tipo de “formação” confusa, desnorteada, relativista, leniente e permissivista que se recebe em grande parte das escolas e faculdades de hoje em dia.

Se é verdade que ainda existem muitos seminários igualmente desnorteados, desviados e lenientes, também é verdade que muitos outros seminários preservam um modelo de formação incomparavelmente superior ao proposto pela sociedade egocêntrica, materialista e incoerente em que vivemos.

Precisamos de mais homens capazes de liderança moral. Um bom seminário fornece com excelência a formação necessária para isso, mesmo quando grande parte dos seminaristas acaba descobrindo que o seu caminho não é de fato o sacerdócio – aliás, essa descoberta também é um fruto excelente, pois completa um caminho de discernimento que deixa as coisas bem mais claras na cabeça e no coração de quem o trilhou com abertura e generosidade.

Afirmo tudo isso como um homem que entrou no seminário logo após o ensino médio e que, atualmente, é casado e pai de cinco filhos.

Há quem me pergunte se eu me arrependo dos três anos que “perdi” no seminário quando, na verdade, Deus me chamava à vocação matrimonial.

Não me arrependo nem lamento de modo algum! 

sábado, 7 de janeiro de 2017

Homilética: Festa do Batismo do Senhor - Ano A: "O Batismo de Cristo e o nosso batismo".


A comemoração do Batismo de Nosso Senhor Jesus Cristo encerra com chave de ouro o Tempo do Natal. Grande festa para os católicos, porque é neste Batismo, como veremos, que está incluído o nosso e, portanto, o início da parti­cipação de cada um na vida sobrenatural, na vida de Deus. Adão fechou a seus descendentes as portas do Paraíso Celeste, mas Nosso Senhor Jesus Cristo, com a Encarnação, abriu-as outra vez, tornando possível aos homens, graças a seu divino auxílio e pro­teção, gozar do convívio com Ele, com o Pai e o Espírito Santo, com os Anjos e os Bem-aventurados por toda a eternidade. Tendo comentado em outras ocasiões1 os aspectos teológicos do Batis­mo do Senhor, analisemos agora este admirável mistério por uma perspectiva diversa, útil para nosso progresso espiritual.

Por que as Igrejas Ortodoxas não comemoram o Natal no dia 25 de dezembro?


Na verdade, os ortodoxos celebram SIM o Natal em 25 de dezembro, mas eles seguem um calendário diferente do “nosso” e a festividade cai no nosso dia 7 de janeiro.


Explicando de maneira simplificada: a Igreja Ortodoxa não aceitou a reforma do calendário promovida pelo Papa católico Gregório, em 1582. A reforma corrigiu a defasagem de 13 dias que havia entre a data do calendário e a data real da mudança das estações – equinócios e solstícios. Assim sendo, os ortodoxos continuam celebrando o Natal em 25 de dezembro, só que pelo calendário Juliano, criado por Júlio César em 45 a.C, enquanto nós adotamos a reforma católica e utilizamos o calendário Gregoriano.

Vale lembrar que a Igreja Ortodoxa é a religião de 41% dos russos, segundo o censo de 2012.


Ok. Entendemos já esta história dos calendários. Mas isso significa que os  russos utilizam um calendário diferente do nosso? Sim e não. O calendário da Federação Russa passou a seguir o modelo gregoriano após a Revolução de Outubro de 1917. No entanto, a Igreja Ortodoxa Russa não aceitou a reforma e até hoje utiliza o calendário juliano, que tem 13 dias de diferença com o calendário gregoriano.