domingo, 26 de fevereiro de 2017

Freira que negou a virgindade de Maria se encontra com ator pornô


Um vídeo com a religiosa dominicana Lucía Caram e o ator de filmes pornográficos Ignacio Jordà González, mais conhecido como "Nacho Vidal", tornou-se viral nas redes sociais e gerou polêmica.

Esta não é a primeira vez que a Irmã Lucía Caram gera controvérsias. Há algumas semanas, participou do programa 'Chester in love', do jornalista Risto Mejide, de Cuatro Televisión, assegurando que a Virgem Maria e São José tinham relações sexuais.

Desta vez, no diálogo com Vidal, a dominicana argentina disse que "durante muito tempo a Igreja se dedicou a apedrejar aqueles que não viviam de acordo com as normas".

"Tivemos suficiente religião para nos odiar, para criar normas e estruturas, mas não para nos amar", assinalou Caram, que atualmente vive em Manresa, Barcelona (Espanha), disse.


O vídeo no qual a religiosa aparece conversando com Vidal faz parte da campanha "Invulnerables” (invulneráveis), promovida, entre outras instituições, pela Fundação Rosa Oriol, liderada por Caram.

A página de Facebook Siroko, que publicou o vídeo do diálogo entre a religiosa e o ator pornô, ofereceu pagar à campanha 10 centavos de euro (aproximadamente 10 centavos de dólar) por cada pessoa que compartilhe o vídeo.

"O nosso objetivo é a invulnerabilidade", disse a Irmã Lucía no vídeo e assinalou que "falamos de crianças pobres (...) estão humilhadas, são pessoas que vivem na rua".

Depois que Vidal lhe disse que tem um filho transexual, que se sente mulher, a religiosa dominicana recordou: "uma amiga minha me explicou que o seu filho era transexual e me disse: 'vou levá-lo ao psicólogo’. Mas eu pensei: 'Você é quem precisa ir a um psicólogo para aceitá-lo'".

Um homem simples e reto, temente a Deus


Há um gênero de simplicidade que melhor se deverá chamar ignorância; é a simplicidade daqueles que não sabem sequer o que é a retidão; e porque não se elevam até à virtude da retidão, esses perdem a inocência da verdadeira simplicidade: sem a prudência que a retidão exige, a sua simplicidade deixa de ser verdadeira inocência. É por isso que São Paulo exortava os discípulos com estas palavras: Quero que sejais prudentes para o bem e simples para o mal. E ainda: Não sejais crianças na maneira de julgar, mas sede crianças na ausência de malícia. É por isso também que a própria Verdade ordena aos seus discípulos: Sede prudentes como as serpentes e simples como as pombas. Na sua advertência junta as duas coisas de modo inseparável, para que a astúcia da serpente complemente a simplicidade da pomba e, por sua vez, a simplicidade da pomba modere a astúcia da serpente. Foi por isso que o Espírito Santo manifestou aos homens a sua presença não só em figura de pomba, mas também sob a forma de fogo: na pomba está representada a simplicidade, e no fogo o zelo. Esta sua manifestação em figura de pomba e de fogo contém um duplo ensinamento: os que estão cheios do Espírito Santo de tal modo devem proceder com mansidão e simplicidade que não deixem de se inflamar de zelo pela retidão contra as culpas dos delinquentes. 

Simples e reto, temente a Deus e afastado do mal.

Todo aquele que anseia pela pátria eterna vive com simplicidade e retidão: simples nas suas obras, reto na sua fé; simples na prática do bem cá na terra, reto na aspiração interior pelos bens celestes. De fato, há pessoas a quem lhes falta a simplicidade no bem que realizam, porque buscam a retribuição material e não a espiritual. Por isso, com razão dizia o Sábio: Ai do homem que vai por dois caminhos! Vai por dois caminhos o homem pecador, quando as suas obras parecem ser de Deus, mas as suas intenções são do mundo. Bem se diz de Jó: Temente a Deus e afastado do mal, porque a santa Igreja dos eleitos inicia o seu caminho de simplicidade e retidão pelo temor, mas leva-o à perfeição pelo amor. Afasta-se radicalmente do mal aquele que, por amor de Deus, detesta o pecado. Mas quando pratica o bem apenas por temor, ainda não se afastou totalmente do mal; e nisto não evita o pecado, porque queria pecar, se o pudesse fazer impunemente. Por isso, quando se diz que Jó temia a Deus, justamente se afirma que se afastava do mal: quando o amor segue o temor, é eliminada toda a culpa na consciência pelo firme propósito da vontade.


Do Comentário de São Gregório Magno, papa, sobre o livro de Jó
(Lib. 1, 2.36: PL 75, 529-530.543-544) (Sec. VI)

“Ao Santíssimo e DiVIníssimo” ou “ao Santíssimo e DiGníssimo” Sacramento?


Durante a Adoração Eucarística, ao ouvir “Graças e louvores sejam dados a todo momento", como você responde?

É frequente ouvir fiéis responderem “Ao Santíssimo e DIGNÍSSIMO Sacramento“, enquanto outros respondem “Ao Santíssimo e DIVINÍSSIMO Sacramento”.

Qual é a forma correta?

A forma correta é “Diviníssimo”.

A palavra “digníssimo” não implica, em si, nenhuma heresia. É apenas o superlativo de “digno” – e Deus é digno de toda adoração; aliás, só Ele é digno de adoração.

No entanto, o termo “digníssimo” também pode ser aplicado a qualquer um de nós, humanos, já que toda pessoa humana é dotada de dignidade intrínseca – e a dignidade humana é absoluta, não relativa, porque advém da nossa própria natureza de seres inteligentes dotados de alma imortal, criada e remida por Deus. Sim, é isso mesmo – e não se trata de falta de humildade: a dignidade humana é absoluta! Ela não depende do nosso comportamento nem dos nossos méritos (e por isso não há falta de humildade alguma em reconhecer a dignidade intrínseca de toda pessoa humana; pelo contrário, seria profundamente ingrato não reconhecermos esse dom de Deus). Mas é crucial entender a diferença entre a nossa essência e o que fazemos com a nossa existência: como pessoas, todos somos intrinsecamente dignos por natureza; já os nossos atos particulares, que dependem da nossa vontade e do nosso livre arbítrio, esses sim podem ser muito indignos e, portanto, contrariar a nossa dignidade intrínseca de pessoas. Em síntese: somos sempre absolutamente dignos como pessoas humanas, e toda pessoa humana deve ter a sua dignidade absoluta reconhecida e honrada; mas podemos agir indignamente, contrariando assim a nossa própria dignidade, e os nossos atos indignos devem ser corrigidos. 

sábado, 25 de fevereiro de 2017

Aparecida no carnaval – O apocalipse não aconteceu!


No enredo chamado “Aparecida – a rainha do Brasil: 300 anos de amor e fé no coração do povo brasileiro”, a Vila Maria mostrou os vários milagres atribuídos a ela e a devoção dos seguidores.

Em vista do tricentenário do encontro da imagem de Nossa Senhora Aparecida no rio Paraíba, a escola de samba Unidos da Vila Maria resolveu homenagear Nossa Senhora. A escola desfilou sem nudez e cantando “Aos teus pés vou me curvar, Senhora de Aparecida. A prece de amor que nos uniu. Salve a rainha do Brasil”.

Os que acompanham o Fides Press sabem que não tocamos no assunto. A primeira vista poderia parecer uma covardia tremenda diante das autoridades eclesiásticas, mas para os redatores o problema não era uma questão de submissão mas de compreensão do problema.

Quando ouvimos a primeira vez que uma escola de samba homenagearia Nossa Senhora Aparecida, ficamos perplexos. Todos imaginamos o que todo mundo conhece: Vai ter nudez e macumba. Virgem Santa! A notícia que nos causou espanto, foi nos consumindo ao saber que as autoridades da igreja do Brasil pareciam dar sua benção ao evento. De graça? Quais seriam as contra-partidas para uma festa tão profana?

Dom Odilo, bispo da arquidiocese de São Paulo, onde aconteceria o evento, explicou as razões pelas quais não se opunha ao evento. 

Setenta mil homens com o terço nas mãos


É surpreendente! Se me dissessem isso há 20 anos, não acreditaria. De alguns anos para cá, o número de homens que vão aderindo à prática milenar da oração do Terço, na Igreja católica, cresce quase assustadoramente. Porém, quando se fala de Terço dos Homens, não se pode imaginar apenas uma oração de certa forma rápida, como nas modalidades anteriores. Eles se reúnem uma hora por semana, geralmente à noite, após o horário de trabalho, e rezam o Terço com cânticos bíblicos, numa expressiva meditação sobre os principais mistérios da vida de Cristo. Alimentam-se da Palavra de Deus, vivem e revivem momentos de espiritualidade e fraternidade, ao contemplar os principais momentos da vida e obra de Cristo, enquanto louvam Maria, a Mãe do Salvador.  O Terço é uma oração mariana e marcadamente cristológica.  

Sábado passado, 18 de fevereiro, reuniram-se no Santuário de Aparecida setenta mil peregrinos na IX Romaria Nacional do Terço dos Homens, vindos de quase todos os Estados da Federação. Foi emocionante escutar a vibração de vozes masculinas que rezavam e cantavam durante a Missa, na parte da manhã e na Oração do Rosário, à tarde. Testemunhos impressionantes foram relatados. Os cânticos da Missa ficaram a cargo dos Homens do Terço das cidades de Pará de Minas, Diocese de Divinópolis, e de Arcos, Diocese de Luz - MG.

Neste Ano Mariano o lema da peregrinação foi “Homens do Terço, é preciso lançar as redes”, por estar sendo celebrado o tricentenário do encontro da imagem de Nossa Senhora Aparecida, por três pescadores, nas águas do Rio Paraíba do Sul, após o qual a pesca foi abundante. Tal fato extraordinário foi sempre relacionado à pesca milagrosa realizada pelos Apóstolos, depois da qual ouviram dos lábios de Cristo esta promessa e este mandato: “Farei de vós pescadores de homens” (cf Lc 5,10-11).  Repetido dezenas de vezes, na IX Romaria a Aparecida, como meta a ser atingida, tal lema revela a força missionária evangelizadora existente no movimento. 

Calcula-se que haja, hoje, mais de um milhão de homens rezando o Terço em todo o território nacional todas as semanas, em grupos paroquiais e grande parte com a prática pessoal cotidiana. Se considerarmos que cada homem traz atrás de si a sua família, este número representa muito mais que se imagina no que diz respeito à propagação da fé no povo brasileiro. De fato, a oração do Terço, nas modalidades referidas, tem despertado para a prática religiosa muitas pessoas espiritualmente adormecidas ou que antes andavam em caminhos não condizentes com os princípios da Igreja ou dela tenham se afastado, tomando agora o caminho de volta.  

Carnaval: curtição e pegação?

Como aproveitar esta festa popular sem se esquecer dos valores cristãos

Está se aproximando a festa que talvez os brasileiros mais esperem durante todo o ano: o Carnaval. Este é, depois do futebol, o sobrenome do Brasil pelo mundo. E já tem gente por aí postando nas redes sociais os preparativos para cair na folia. Mas, e aí? Como nós devemos curtir esta festa sem esquecermos nossos princípios e valores?

Antes de qualquer coisa, é preciso termos em mente que as comemorações carnavalescas foram sofrendo mudanças. Esses festejos eram pagãos e serviam para celebrar grandes colheitas e principalmente louvar divindades. É provável que as mais importantes festas ancestrais do Carnaval tenham sido as “saturnais”, realizadas na Roma antiga em exaltação a Saturno, deus da agricultura.

Na época dessa celebração, as escolas fechavam, os escravos eram soltos e os romanos dançavam pelas ruas. Com o tempo a Igreja Católica incorporou esta celebração que marca os dias que antecedem a Quaresma. Ao fim do carnaval a “carne se vai” e começa o tempo de jejum. Na Europa também as pessoas se fantasiavam a fim de poderem cair na gandaia e não serem reconhecidos, assim poderiam fazer o que quisessem e não pagar por possíveis delitos.

Cada país celebra o carnaval de uma forma particular de acordo com as suas próprias tradições. Aqui no Brasil isto se tornou algo gigantesco e talvez seja a festa mais esperada pelas pessoas.

Entretanto, existe um embate muito forte acerca destas comemorações carnavalescas e a precaução religiosa diante da forma como se comemora. Talvez porque o carnaval mais “visado” por todos é aquele que tem pessoas de corpo expostos e, por vezes, desnudos e isto ataca de alguma forma os princípios cristãos. Enfim, há sempre uma discussão entre religiosos e foliões sobre a forma de curtir o momento. 

Aproximai-vos de Deus e ficareis luminosos


Suave, diz o Eclesiastes, é esta luz e extremamente bom, para nossos olhos penetrantes, é contemplar o sol esplêndido. Pois sem a luz o mundo não teria beleza, a vida não seria vida. Por isto, já de antemão, o grande contemplador de Deus, Moisés, disse: E Deus viu a luz e declarou-a boa. Porém é conveniente para nós pensar naquela grande, verdadeira e eterna luz que ilumina a todo homem que vem a este mundo, quer dizer, Cristo, salvador e redentor do mundo, que, feito homem, quis assumir ao máximo a condição humana. Dele fala o profeta Davi: Cantai a Deus, salmodiai a seu nome, preparai o caminho para aquele que se dirige para o ocaso; Senhor é seu nome; e exultai em sua presença.

Suave declarou o Sábio ser a luz e prenunciou ser bom ver com seus olhos o sol da glória, aquele sol que no tempo da divina encarnação disse: Eu sou a luz do mundo; quem me segue não caminha nas trevas, mas terá a luz da vida. E outra vez: Este o juízo: a luz veio ao mundo. Desta maneira, pela luz do sol, gozo de nossos olhos corporais, anunciou o Sol da justiça espiritual, tão suave àqueles que foram encontrados dignos de conhecê-lo. Viam-no com seus próprios olhos, com ele viviam e conversavam, como um homem qualquer, embora não fosse um qualquer. Era, de fato, verdadeiro Deus que deu vista aos cegos, fez os coxos andar, os surdos ouvir, limpou os leprosos, aos mortos devolveu a vida.

Todavia, mesmo agora é realmente delicioso vê-lo com olhos espirituais e contemplar demoradamente sua simples e divina beleza. Além disso, é delicioso, pela união e comunicação com ele, tornar-se luminoso, ter o espírito banhado de doçura e revestido de santidade, adquirir o entendimento e vibrar de uma alegria divina que se estenda a todos os dias da presente vida. O sábio Eclesiastes bem o indicou quando disse: Por muitos anos que viva o homem, em todos eles se alegrará. É evidente que o Autor de toda alegria o é para os que veem o Sol de justiça. Dele disse o profeta Davi: Exultem diante da face de Deus, gozem na alegria; e também: Exultai, ó justos, no Senhor; aos retos convém o louvor.



Do Comentário sobre o Eclesiastes, de São Gregório de Agrigento, bispo (Lib. 10, 2:PG98,1138-1139)  (Séc.VI)

Um ser vivo espiritual pervertido e perversor


Tentador falacioso e fatal do primeiro pecado, o demônio continua hoje agindo com aleivosa astúcia. Ele é o inimigo oculto que semeia erros e desventuras na história humana. Quais são, atualmente, as maiores dificuldades da Igreja? Não vos cause espanto nossa resposta, como simplista ou mesmo como supersticiosa e irreal: uma das maiores necessidades é a defesa contra aquele mal que denominamos demônio. [...]

Realidade terrível, misteriosa e assustadora

“Atualmente, quais são as maiores necessidades da Igreja? Não deveis considerar a nossa resposta simplista, ou até supersticiosa e irreal: uma das maiores necessidades é a defesa daquele mal, a que chamamos Demônio”. Antes de esclarecermos o nosso pensamento, convidamos o vosso a abrir-se à luz da fé sobre a visão da vida humana, visão que, deste observatório, se alarga imensamente e penetra em singulares profundidades. E, para dizer a verdade, o quadro que somos convidados a contemplar com realismo global é muito lindo. É o quadro da criação, a obra de Deus, que o próprio Deus, como espelho exterior da sua sabedoria e do Seu poder, admirou na sua beleza substancial (cf. Gn 1, 10 ss.). Além disso, é muito interessante o quadro da história dramática da humanidade, da qual emerge a da redenção, a de Cristo, da nossa salvação, com os seus magníficos tesouros de revelação, de profecia, de santidade, de vida elevada a nível sobrenatural, de promessas eternas (cf. Ef 1, 10). Se soubermos contemplar este quadro, não poderemos deixar de ficar encantados (Santo Agostinho, Solilóquios); tudo tem um sentido, tudo tem um fim, tudo tem uma ordem e tudo deixa entrever uma Presença-Transcendência, um Pensamento, uma Vida e, finalmente, um Amor, de tal modo que o universo, por aquilo que é e por aquilo que não é, se apresenta como uma preparação entusiasmante e inebriante para alguma coisa ainda mais bela e mais perfeita (cf. 1Cor 2, 9; Rm 8, 19-23). A visão cristã do cosmo e da vida é, portanto, triunfalmente otimista; e esta visão justifica a nossa alegria e o nosso reconhecimento pela vida, motivo por que, celebrando a glória de Deus, cantamos a nossa felicidade.

Ensinamento Bíblico

Esta visão, porém, é completa, é exata? Não nos importamos, porventura com as deficiências que se encontram no mundo, com o comportamento anormal das coisas em relação à nossa existência, com a dor, com a morte, com a maldade, com a crueldade, com o pecado, numa palavra, com o mal? E não vemos quanto mal existe no mundo especialmente quanto à moral, ou seja, contra o homem e, simultaneamente, embora de modo diverso, contra Deus? Não constitui isto um triste espetáculo, um mistério inexplicável? E não somos nós, exatamente nós, cultores do Verbo, os cantores do Bem, nós crentes, os mais sensíveis, os mais perturbados, perante a observação e a prática do mal? Encontramo-lo no reino da natureza, onde muitas das suas manifestações, segundo nos parece, denunciam a desordem. Depois, encontramo-lo no âmbito humano, onde se manifestam a fraqueza, a fragilidade, a dor, a morte, e ainda coisas piores; observa-se uma dupla lei contrastante, que, por um lado, quereria o bem, e, por outro, se inclina para o mal, tormento este que São Paulo põe em humilde evidência para demonstrar a necessidade e a felicidade de uma graça salvadora, ou seja, da salvação trazida por Cristo (Rm 7); já o poeta pagão Ovídio tinha denunciado este conflito interior no próprio coração do homem: “Video meliora proboque, deteriora sequor” (Ovídio Met.7, 19). Encontramos o pecado, perversão da liberdade humana e causa profunda da morte, porque é um afastamento de Deus, fonte da vida (cf. Rm 5, 12) e, também, a ocasião e o efeito de uma intervenção, em nós e no nosso mundo, de um agente obscuro e inimigo, o Demônio. O mal já não é apenas uma deficiência, mas uma eficiência, um ser vivo, espiritual, pervertido e perversor. Trata-se de uma realidade terrível, misteriosa e medonha. Sai do âmbito dos ensinamentos bíblicos e eclesiásticos quem se recusa a reconhecer a existência desta realidade; ou melhor, quem faz dela um princípio em si mesmo, como se não tivesse, como todas as criaturas, origem em Deus, ou a explica como uma pseudo-realidade, como uma personificação conceitual e fantástica das causas desconhecidas das nossas desgraças.  O problema do mal, visto na sua complexidade em relação à nossa racionalidade, torna-se uma obsessão. Constituí a maior dificuldade para a nossa compreensão religiosa do cosmo. Foi por isso que Santo Agostinho penou durante vários anos: “Quaerebam unde malum, et non erat exitus”, procurava de onde vinha o mal e não encontrava a explicação (Confissões, VII,5 ss).  Vejamos, então, a importância que adquire a advertência do mal para a nossa justa concepção; é o próprio Cristo quem nos faz sentir esta importância. Primeiro, no desenvolvimento da história, haverá quem não recorde a página, tão densa de significado, da tríplice tentação? E ainda, em muitos episódios evangélicos, nos quais o Demônio se encontra com o Senhor e aparece nos seus ensinamentos (cf. Mt 1, 43)? E como não haveríamos de recordar que Jesus Cristo, referindo-se três vezes ao Demônio como seu adversário, o qualifica como “príncipe deste mundo” (Jo 12, 31; 14, 30; 16, 11)? E a ameaça desta nociva presença é indicada em muitas passagens do Novo Testamento. São Paulo chama-lhe “deus deste mundo” (2Cor 4, 4) e previne-nos contra as lutas ocultas, que nós cristãos devemos travar não só com o Demônio, mas com a sua tremenda pluralidade: “Revesti-vos da armadura de Deus para que possais resistir às ciladas do Demônio. Porque nós não temos de lutar (só) contra a carne e o sangue, mas contra os Principados, contra os Dominadores deste mundo tenebroso, contra os Espíritos malignos espalhados pelos ares” (Ef 6, 11-12). Diversas passagens do Evangelho dizem-nos que não se trata de um só demônio, mas de muitos (cf. Lc 11, 21; Mc 5, 9), um dos quais é o principal: Satanás, que significa o adversário, o inimigo; e, ao lado dele, estão muitos outros, todos criaturas de Deus, mas decaídas, porque rebeldes e condenadas; constituem um mundo misterioso transformado por um drama muito infeliz, do qual conhecemos pouco (cf. DS 800).