sábado, 25 de fevereiro de 2017

Aparecida no carnaval – O apocalipse não aconteceu!


No enredo chamado “Aparecida – a rainha do Brasil: 300 anos de amor e fé no coração do povo brasileiro”, a Vila Maria mostrou os vários milagres atribuídos a ela e a devoção dos seguidores.

Em vista do tricentenário do encontro da imagem de Nossa Senhora Aparecida no rio Paraíba, a escola de samba Unidos da Vila Maria resolveu homenagear Nossa Senhora. A escola desfilou sem nudez e cantando “Aos teus pés vou me curvar, Senhora de Aparecida. A prece de amor que nos uniu. Salve a rainha do Brasil”.

Os que acompanham o Fides Press sabem que não tocamos no assunto. A primeira vista poderia parecer uma covardia tremenda diante das autoridades eclesiásticas, mas para os redatores o problema não era uma questão de submissão mas de compreensão do problema.

Quando ouvimos a primeira vez que uma escola de samba homenagearia Nossa Senhora Aparecida, ficamos perplexos. Todos imaginamos o que todo mundo conhece: Vai ter nudez e macumba. Virgem Santa! A notícia que nos causou espanto, foi nos consumindo ao saber que as autoridades da igreja do Brasil pareciam dar sua benção ao evento. De graça? Quais seriam as contra-partidas para uma festa tão profana?

Dom Odilo, bispo da arquidiocese de São Paulo, onde aconteceria o evento, explicou as razões pelas quais não se opunha ao evento. 

No dia 25 de março de 2015, fui procurado pelos representantes da citada escola de samba (Unidos da Vila Maria). Em vista do 3º centenário do encontro da imagem sagrada nas águas do rio Paraíba do Sul, achavam que seria a ocasião propícia para apresentar o tema de Aparecida num enredo do carnaval de 2017, como um tributo a Nossa Senhora Aparecida. Indaguei sobre o formato da proposta que apresentavam e, desde logo, procurei verificar se era algo sério, que não desrespeitasse minimamente a Mãe de Jesus, ou debochasse da fé do povo católico.

Obtive todas a explicações que desejava e lhes informei que era necessário refletir e que a “autorização” pedida não dependia apenas do arcebispo de São Paulo. Eles, desde logo, se dispuseram a aceitar todas as orientações de nossa parte. Mais ainda: pediram uma supervisão, da parte da Igreja, para os preparativos da homenagem…. Participam do Conselho, além do Arcebispo de Aparecida e do Presidente da CNBB, vários outros arcebispos do Brasil e também o Reitor da Basílica. O pedido da “Vila Maria” foi exposto na reunião de 27 de março de 2015.

O Conselho, por unanimidade, deu parecer favorável à iniciativa, mas recomendou que fossem observados alguns critérios:

1. Respeito à imagem de Nossa Senhora Aparecida, à fé e à religiosidade do povo católico;

2. Fidelidade aos fatos históricos;

3. Apresentação da genuína piedade mariana católica, sem sincretismos;

4. Decoro no desfile da escola, sem exposição de nudez;

5. Supervisão dos preparativos pelo Santuário de Aparecida e pela Arquidiocese de São Paulo.

Que fique claro: Existia uma escola de samba que se submetia as regras impostas pela igreja e tinha a possibilidade de que outra o fizesse do jeito que bem entendesse. Coube o cardeal escolher entre uma coisa ou outra. Muito bem, o cardeal de São Paulo impôs cinco regras que paralisariam qualquer tipo de ataque direto a imagem da Virgem Aparecida.


Em entrevista à rádio Vaticana, O cardeal Scherer lembrou que do ponto de vista legal não há muito o que ser feiro.

“Nós não somos donos da história de Nossa Senhora Aparecida. Podemos zelar sob a imagem de Nossa Senhora Aparecida que alias também é tombada pelo patrimônio e assim por diante. Zelar pela imagem de Nossa Senhora Aparecida. Agora, a história de Nossa Senhora Aparecida – e é isso que vai ser apresentado no carnaval – mais do que tudo, a história de Nossa Senhora Aparecida, nós não somos disso. Portanto, qualquer um pode fazer um filme, escrever um livro, fazer uma novela, fazer um samba enredo, fazer um desfile de carnaval, seja lá o que for.”

Problema resolvido? Na verdade, não.  Não foi gratuitamente que os opositores gritaram que a imagem seria profanada. Por mais justas que as regras sejam, elas são criticáveis, no mínimo, pelo risco. Não esqueçamos que lá era o ambiente de devassidão moral e, se por um lado, o desfile contasse contra si apenas as batidas fortes da bateria, por outro, era um ambiente inapropriado para se por o sagrado. Isso é um fato. Mesmo que moralmente justificadas, freiras adequadamente vestidas e piedosamente dispostas, poderiam ser criticadas por rezar dentro de um cabaré. Afinal, caberia a uma religiosa estar lá? Tendo em vista este problema o cardeal disse:

“Sua Mãe Santíssima não iria com Ele a esses locais? E Jesus não entrou na casa de publicanos e pecadores, escandalizando fariseus e mestres da Lei? E não permitiu que uma mulher, conhecida de todos como pecadora, banhasse seus pés com as lágrimas, os beijasse e ungisse com perfume? E os católicos não poderiam honrar o nome de Deus, professar sua fé e prestar homenagem a Nossa Senhora também no sambódromo?”

Saindo das torcidas, vemos que os dois lados tem razões para defender suas teses. Por isso não tomamos partido neste caso. Não é uma situação fácil de resolver. Não se trata de ser relativista. Sim, o carnaval é a festa da devassidão moral. E se conseguíssemos finalmente desvincular o mal moral objetivo, mesmo que por um breve tempo, não caberia tentar? Esta resposta cabe a você, leitor.
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FidesPress

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