No enredo chamado “Aparecida – a rainha
do Brasil: 300 anos de amor e fé no coração do povo brasileiro”, a Vila Maria
mostrou os vários milagres atribuídos a ela e a devoção dos seguidores.
Em vista do tricentenário do encontro da
imagem de Nossa Senhora Aparecida no rio Paraíba, a escola de samba Unidos da
Vila Maria resolveu homenagear Nossa Senhora. A escola desfilou sem nudez e
cantando “Aos teus pés vou me curvar, Senhora de Aparecida. A prece de amor que
nos uniu. Salve a rainha do Brasil”.
Os que acompanham o Fides Press sabem
que não tocamos no assunto. A primeira vista poderia parecer uma covardia
tremenda diante das autoridades eclesiásticas, mas para os redatores o problema
não era uma questão de submissão mas de compreensão do problema.
Quando
ouvimos a primeira vez que uma escola de samba homenagearia Nossa Senhora
Aparecida, ficamos perplexos. Todos imaginamos o que todo mundo conhece: Vai
ter nudez e macumba. Virgem Santa! A notícia que nos causou espanto, foi nos
consumindo ao saber que as autoridades da igreja do Brasil pareciam dar sua
benção ao evento. De graça? Quais seriam as contra-partidas para uma festa tão
profana?
Dom Odilo, bispo da arquidiocese de São Paulo, onde aconteceria o
evento, explicou as razões pelas quais não se
opunha ao evento.
No dia
25 de março de 2015, fui procurado pelos representantes da citada escola de
samba (Unidos da Vila Maria). Em vista do 3º centenário do encontro da imagem
sagrada nas águas do rio Paraíba do Sul, achavam que seria a ocasião propícia
para apresentar o tema de Aparecida num enredo do carnaval de 2017, como um
tributo a Nossa Senhora Aparecida. Indaguei sobre o formato da proposta que
apresentavam e, desde logo, procurei verificar se era algo sério, que não
desrespeitasse minimamente a Mãe de Jesus, ou debochasse da fé do povo
católico.
Obtive todas a explicações que desejava e lhes informei que era
necessário refletir e que a “autorização” pedida não dependia apenas do
arcebispo de São Paulo. Eles, desde logo, se dispuseram a aceitar todas as
orientações de nossa parte. Mais ainda: pediram uma supervisão, da parte da
Igreja, para os preparativos da homenagem…. Participam do Conselho, além
do Arcebispo de Aparecida e do Presidente da CNBB, vários outros arcebispos do
Brasil e também o Reitor da Basílica. O pedido da “Vila Maria” foi exposto na
reunião de 27 de março de 2015.
O Conselho, por unanimidade, deu parecer favorável à iniciativa,
mas recomendou que fossem observados alguns critérios:
1. Respeito à imagem de Nossa Senhora
Aparecida, à fé e à religiosidade do povo católico;
2.
Fidelidade aos fatos históricos;
3.
Apresentação da genuína piedade mariana católica, sem sincretismos;
4.
Decoro no desfile da escola, sem exposição de nudez;
5.
Supervisão dos preparativos pelo Santuário de Aparecida e pela Arquidiocese de
São Paulo.
Que fique claro: Existia uma escola de samba que se submetia as
regras impostas pela igreja e tinha a possibilidade de que outra o fizesse do
jeito que bem entendesse. Coube o cardeal escolher entre uma coisa ou outra.
Muito bem, o cardeal de São Paulo impôs cinco regras que paralisariam qualquer
tipo de ataque direto a imagem da Virgem Aparecida.
Em entrevista à rádio Vaticana, O cardeal Scherer lembrou que do
ponto de vista legal não há muito o que ser feiro.
“Nós não somos donos da história de Nossa Senhora Aparecida.
Podemos zelar sob a imagem de Nossa Senhora Aparecida que alias também é
tombada pelo patrimônio e assim por diante. Zelar pela imagem de Nossa Senhora
Aparecida. Agora, a história de Nossa Senhora Aparecida – e é isso que vai ser
apresentado no carnaval – mais do que tudo, a história de Nossa Senhora
Aparecida, nós não somos disso. Portanto, qualquer um pode fazer um filme,
escrever um livro, fazer uma novela, fazer um samba enredo, fazer um desfile de
carnaval, seja lá o que for.”
Problema resolvido? Na verdade, não. Não foi
gratuitamente que os opositores gritaram que a imagem seria profanada. Por mais
justas que as regras sejam, elas são criticáveis, no mínimo, pelo risco. Não
esqueçamos que lá era o ambiente de devassidão moral e, se por um lado, o
desfile contasse contra si apenas as batidas fortes da bateria, por outro, era
um ambiente inapropriado para se por o sagrado. Isso é um fato. Mesmo que
moralmente justificadas, freiras adequadamente vestidas e piedosamente
dispostas, poderiam ser criticadas por rezar dentro de um cabaré. Afinal,
caberia a uma religiosa estar lá? Tendo em vista este problema o cardeal disse:
“Sua Mãe Santíssima não iria com Ele a esses locais? E Jesus não
entrou na casa de publicanos e pecadores, escandalizando fariseus e mestres da
Lei? E não permitiu que uma mulher, conhecida de todos como pecadora, banhasse
seus pés com as lágrimas, os beijasse e ungisse com perfume? E os católicos não
poderiam honrar o nome de Deus, professar sua fé e prestar homenagem a Nossa
Senhora também no sambódromo?”
Saindo das torcidas, vemos que os dois lados tem razões para
defender suas teses. Por isso não tomamos partido neste caso. Não é uma
situação fácil de resolver. Não se trata de ser relativista. Sim, o carnaval é
a festa da devassidão moral. E se conseguíssemos finalmente desvincular o mal
moral objetivo, mesmo que por um breve tempo, não caberia tentar? Esta resposta
cabe a você, leitor.
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FidesPress
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