Neste Domingo a Igreja nos faz proclamar a glória da Trindade Santa, o
Deus uno e trino que é amor e deu-se a nós e nos salvou por amor! Na Liturgia,
no correr do ano, é o Mistério e a história do nosso Deus conosco que
celebramos, contemplamos e experimentamos na nossa vida!
Mas, o que nos revela essa história de Deus, do Pai que nos enviou o
Filho na força do Espírito Santo? Revela-nos que o Deus uno e único, o Santo
Deus de Israel é, ao mesmo tempo e de modo misterioso e impenetrável, uma
eterna e perfeita Comunidade de amor! Ele é um só! Ele é comunidade de amor!
Absolutamente Um e absolutamente comunidade! Eis o Mistério que nem no céu
poderemos esquadrinhar! Não é a toa que, na primeira leitura de hoje o Senhor
se revela se escondendo na noite e na nuvem: “Ainda era noite… e o Senhor
desceu na nuvem e permaneceu com Moisés”. Eis! Nosso Deus se faz próximo, desce
até nós por amor, mas não podemos compreendê-lo, domá-lo, domesticá-lo! Ele se
revela como amor puro e generoso: seu nome é Amor e Misericórdia: “Senhor,
Senhor! Deus misericordiosos e clemente, paciente, rico em bondade e fiel…”,
mas para experimentá-lo, para caminhar com ele, e preciso a atitude de Moisés:
“ele curvou-se até o chão, prostrado por terra… E disse: ‘Senhor, acolhe-nos
como propriedade tua’”. Nosso Deus nos ama, nosso Deus faz-se próximo, mas
jamais será nosso parceiro, nosso amiguinho, nosso coleguinha, que pode por nós
ser subornado e com o qual podemos negociar! Não! Ele é Deus! O seu nome é
Eternidade, o seu nome é Infinitude, o seu nome é Amor! Ele é Deus!
E, no entanto, ele quis caminhar conosco, veio a nós e revelou-se no
Mistério da sua intimidade. Que coisa: um Deus que nos procura e quer nos unir
a ele. Como dizia Santa Teresa: “Juntais aquela que não é com a Plenitude
acabada: sem acabar, acabais; sem ter que amar, amais, e engrandeceis nosso
nada!” Ele, gratuitamente, deu-se a nós, para nos salvar, fazendo-nos viver com
ele, participando da sua vida: por isso o Pai entregou ao mundo o seu Filho
amado: para viver conosco, sonhar conosco, sofrer e morrer conosco e, assim,
dá-nos sua vitória e seu céu: “Deus, o Pai, amou tanto o mundo, que entregou o
seu Filho unigênito, para que não morra quem nele crer, mas tenha a vida
eterna. Pois Deus não enviou o seu Filho para condenar o mundo, mas que o mundo
seja salvo por ele”. No Filho único, Jesus, o Pai mostrou o seu rosto, o Pai
mostrou sua bondade, o Pai mostrou o seu amo. Jesus mesmo disse: “Quem me vê,
vê o Pai. Eu e o Pai somos uma só coisa! (Jo 14,9s). Mas, não bastava para Deus
viver no nosso meio, entre nós! Ele quis viver em nós, dentro de nós, sendo
mais íntimo de nós que nós mesmos! Por isso, o Filho Jesus, Deus entre nós,
Deus conosco, após sua morte e ressurreição, deu-nos o seu Espírito Santo, que
ele mesmo recebera do Pai: “Porque sois filhos, Deus, o Pai, enviou aos vossos
corações o Espírito do seu Filho, que clama: Abbá, Pai! (Gl 4,6). Deus foi
grande para conosco! Foi bom demais! Não só nos revelou coisas, mas revelou-se
a si mesmo. Ele, no mais íntimo de si, sem deixar de ser um só, é Pai, eterno
Amante, é Filho, eterno Amado, é Espírito, eterno Amor! E não somente
revelou-se a nós como é, mas deu-se a nós: o Pai, pelo Filho, no Espírito
deu-nos a própria vida divina! Deus veio a nós, quis fazer história na nossa
história, quis viver a nossa vida para nos elevar à vida dele, vida feliz, vida
plena, vida eterna!
É nessa fé que vivemos, é na vida desse Deus uno e trino que fomos
batizados. Aquele amor eterno entre o Pai, o Filho e o Espírito, é o amor que
nos invade e que devemos viver entre nós! A Trindade não é uma teoria para os
doutores em teologia. Ela é uma realidade concreta que deve invadir a nossa
vida e a vida da Igreja: “Amemo-nos uns aos outros, pois o amor é de Deus e
todo aquele que ama nasceu de Deus e conhece a Deus. Aquele que não ama não
conhece a Deus, porque Deus é amor!” (1Jo 4,7-8). Porque somos cristãos,
nascidos nas águas batismais, em nome da Trindade, nossa vida deve ser vida e
comunhão de amor: “a graça do Senhor Jesus Cristo, o amor de Deus Pai e a
comunhão do Espírito Santo estejam com todos vós!” Estas palavras de São Paulo
revela o que nós somos, o que devemos ser, o que devemos testemunhar diante do
mundo: uma comunidade que nasceu do amor, vive no ninho do Deus de amor e
caminha para o Deus de amor. Por isso o Apóstolo recomenda-nos: “Alegrai-vos,
cultivai a concórdia, vivei em paz, saudai-vos com o ósculo santo!”
Caríssimos, crer e experimentar que Deus é uno e trino é viver no amor
que nos faz uma só coisa no Filho Jesus e nos conserva respeitosos das diferenças
e diversidades entre nós. Uma comunidade que não seja unida e respeitosa das
diferenças de dons, carismas, ministérios e sensibilidades, não é uma
comunidade realmente nascida da Trindade, que vive o mistério da Trindade e
caminha para a Trindade. Nunca esqueçamos: vimos do Pai pelo Filho no Espírito;
caminhamos, peregrinos, para o Pai, pelo Filho no Espírito. A Trindade é nosso
berço, nosso ninho e nosso destino. Contemplá-la e adorá-la é viver o amor.
Como dizia Santo Agostinho: viste o amor, viste a Trindade. “Bendito seja Deus
Pai, bendito seja o Filho unigênito, bendito seja o Espírito Santo! Deus foi
misericordioso para conosco!” A ele, a glória pelos séculos. Amém.