sexta-feira, 27 de outubro de 2017

Bispos repudiam Portaria nº 1.129 do Ministério do Trabalho do Governo Federal


NOTA DA CNBB SOBRE O TRABALHO ESCRAVO
O Espírito do Senhor me ungiu para dar liberdade aos oprimidos” 
(cf. Lc 4, 18-19)

Reunido em Brasília-DF, nos dias 24 a 26 de outubro de 2017, o Conselho Permanente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil-CNBB manifesta seu veemente repúdio à Portaria 1129 do Ministério do Trabalho, publicada no Diário Oficial da União de 16/10/2017. Tal iniciativa elimina proteções legais contra o trabalho escravo arduamente conquistadas, restringindo-o apenas ao trabalho forçado com o cerceamento da liberdade de ir e vir. Permite, além disso a jornada exaustiva e condições degradantes, prejudicando assim a fiscalização, autuação, penalização e erradicação da escravidão por parte do Estado brasileiro.

Como nos recorda o Papa Francisco, “hoje, na sequência de uma evolução positiva da consciência da humanidade, a escravatura – delito de lesa-humanidade – foi formalmente abolida no mundo. O direito de cada pessoa não ser mantida em estado de escravidão ou servidão foi reconhecido, no direito internacional, como norma inderrogável” (Papa Francisco, Dia Mundial da Paz, 1º de janeiro de 2015). Infelizmente, esse flagelo continua sendo uma realidade inserida no tecido social. O trabalho escravo é um drama e não podemos fechar os olhos diante dessa realidade.

A desumana Portaria é um retrocesso que, na prática, faz fechar os olhos dos órgãos competentes do Governo Federal que têm a função de coibir e fiscalizar esse crime contra a humanidade e insere-se na perversa lógica financista que tem determinado os rumos do nosso país. Essa lógica desconsidera que “o dinheiro é para servir e não para governar” (Evangelii Gaudium, 58). O trabalho escravo é, hoje, uma moeda corrente que coloca o capital acima da pessoa humana, buscando o lucro sem limite (cf. Papa Francisco, Mensagem para o Dia Mundial do Migrante e do Refugiado, 2014).

CNBB: “É preciso vencer a tentação do desânimo”.


NOTA DA CNBB SOBRE O ATUAL MOMENTO POLÍTICO

Aprendei a fazer o bem, buscai o que é correto, 
defendei o direito do oprimido” (Is 1,17)
 
A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil-CNBB, através de seu Conselho Permanente, reunido em Brasília de 24 a 26 de outubro de 2017, manifesta, mais uma vez, sua apreensão e indignação com a grave realidade político-social vivida pelo País, afetando tanto a população quanto as instituições brasileiras.

Repudiamos a falta de ética, que há décadas, se instalou e continua instalada em instituições públicas, empresas, grupos sociais e na atuação de inúmeros políticos que, traindo a missão para a qual foram eleitos, jogam a atividade política no descrédito. A barganha na liberação de emendas parlamentares pelo Governo é uma afronta aos brasileiros. A retirada de indispensáveis recursos da saúde, da educação, dos programas sociais consolidados, do Sistema Único de Assistência Social (SUAS), do Programa de Cisternas no Nordeste, aprofunda o drama da pobreza de milhões de pessoas. O divórcio entre o mundo político e a sociedade brasileira é grave.

A apatia, o desencanto e o desinteresse pela política, que vemos crescer dia a dia no meio da população brasileira, inclusive nos movimentos sociais, têm sua raiz mais profunda em práticas políticas que comprometem a busca do bem comum, privilegiando interesses particulares. Tais práticas ferem a política e a esperança dos cidadãos que parecem não mais acreditar na força transformadora e renovadora do voto. É grave tirar a esperança de um povo. Urge ficar atentos, pois, situações como esta abrem espaço para salvadores da pátria, radicalismos e fundamentalismos que aumentam a crise e o sofrimento, especialmente dos mais pobres, além de ameaçar a democracia no País.

Mulher “possuída” destrói imagem de Nossa Senhora


Segundo informações da imprensa local, uma mulher de 48 anos entrou parecendo estar “possuída” na Catedral de Tampico, México, e violou várias imagens de santos. Com um pedaço de pau, ela também destruiu vários objetos da igreja, além de rasgar a tela da Virgem de Guadalupe. A imagem ficou destruída e a população do México ficou revoltada com o incidente.

Testemunhas explicaram que a mulher entrou na Catedral correndo e gritando: “Estamos errados!”. De acordo com as investigações, esta não é a primeira vez que a mulher comete um ataque como esse. Foram os fiéis que conseguiram detê-la e entregá-la para a polícia.

Horas depois do ataque, a imagem da Virgem de Guadalupe foi recolocada no lugar.

Mensagem sobre fundamentalismo e intolerância contra símbolos da fé


MENSAGEM DA CNBB
Vencer a intolerância e o fundamentalismo

E Deus viu tudo quanto havia feito, e era muito bom”  (Gn 1,31)

Os bispos do Conselho Permanente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil – CNBB, reunidos em Brasília de 24 a 26 de outubro de 2017, dirigem esta mensagem ao povo brasileiro, diante de recentes fatos que, em nome da arte e da cultura, desrespeitaram a sexualidade humana e vilipendiaram símbolos e sinais religiosos, dentre eles o crucifixo e a Eucaristia, tão caros à fé dos católicos.

Em toda sua história, a Igreja sempre valorizou a cultura e a arte, por revelarem a grandeza da pessoa humana, criada à imagem e semelhança de Deus, fazendo emergir a beleza que conduz ao divino. “A arte é como uma porta aberta para o infinito, para uma beleza e para uma verdade que vão mais além da vida quotidiana” (Bento XVI – 2011). O mundo no qual vivemos, ensina Paulo VI, precisa de beleza para não cair no desespero (Cf. Mensagem aos Artistas – 1965).

Reconhecemos que “para transmitir a mensagem que Cristo lhe confiou, a Igreja tem necessidade da arte” (São João Paulo II – Carta aos artistas 1999). Somos, por isso, agradecidos aos artistas pela infinidade de obras que enriquecem a cultura, animam o espírito e inspiram a fé. Merecem destaque a pintura, a música, a arquitetura, a escultura e tantas outras expressões artísticas que ressaltam a beleza da criação, do ser humano, da sexualidade, e o espírito religioso do povo brasileiro. Arte e fé, portanto, devem caminhar unidas, numa harmonia que respeita os valores e a sensibilidade de cada uma e de toda pessoa humana na sua cultura e nos seus valores.

Lamentavelmente, crescem em nosso meio o desrespeito e a intolerância que destroem esta harmonia, que deve marcar a relação da arte com a fé, da cultura com as religiões. Se, por um lado, a arte deve ser livre e criativa, por outro, os artistas e responsáveis pela promoção artística não podem desconsiderar os sentimentos de um povo ou de grupos que vivem valores, muitas vezes, revestidos de uma sacralidade inviolável. O desrespeito e a intolerância, por parte de artistas para com esses valores, fecham as portas ao diálogo, constroem muros e impedem a cultura do encontro. Preocupam, portanto, o nível e a abrangência destas intolerâncias que, demasiadamente alimentadas em redes sociais, têm levado pessoas e grupos a radicalismos que põem em risco o justo apreço pela arte, a autêntica liberdade, a sexualidade, os direitos humanos, a democracia do País.

Iraque: Enfrentamentos armados obrigam cristãos a fugir outra vez da Planície de Nínive


Centenas de cristãos iraquianos que estavam tentando reconstruir suas vidas na Planície de Nínive depois da expulsão do Estado Islâmico (ISIS) foram obrigados a fugir novamente de suas casas diante dos confrontos entre a milícia curda e o exército iraquiano.

Segundo informou o jornal iraquiano ‘Ankawa’, na tarde do dia 24 de outubro, ambos os lados se confrontaram nas aldeias de Bakofa e Teleskuf, também chamada Tesqopa.

Em Teleskuf, esses ataques deixaram dois mortos e vários feridos, incluindo crianças.
Uma fonte que deseja permanecer anônima disse à Fox News que, em Teleskuf, “um emissário do governo iraquiano disse aos habitantes da aldeia que tinham que evacuar antes de amanhecer” e que “o exército iraquiano e a milícia xiita disseram que expulsarão os Peshmerga (milícia curda) de manhã”.

Depois desta ordem, cerca de mil famílias cristãs foram embora. O jornal ‘Ankawa’ assinalou que em Bakofa também fugiram centenas de cristãos.

Como o israelita escrevia a história (Capítulo 2 – Parte 3/3)


Os antigos povos do Oriente, por muito elevado que fosse o seu grau de cultura, pouco prezavam a história... Era assaz generalizada a tese de que os séculos constituem ciclos fechados, os quais se repetem regulamente; acontecimentos já verificados no pretérito se reproduzirão em época futura; a sucessão dos tempos jamais conhecerá remate ou consumação final. Representavam esta concepção recorrendo à figura de uma serpente enrolada, cuja cabeça vem a morder a própria cauda (princípio e fim coincidem no mesmo ponto; todo o movimento que se registra entre os dois termos nada de novo acarreta!). Este circular contínuo e monótono da história era dito "o ritmo do yin e do yang", "a aspiração e a expiração de Brama", "a dança de Siva que produz e destrói sucessivamente os mundos", "a incessante alternância da Discórdia e da Amizade". 9

Em consequência, a tendência de muitos indivíduos era emancipar-se dos ciclos do mundo presente mediante a ascese, o esquecimento e o repúdio do corpo e do corpóreo, a fim de passarem a viver num mundo transcendente.

Isto explica que os antigos orientais pouco se tenham preocupado com historiografia, ou seja, com o relato contínuo e fiel das fases sucessivas da evolução humana. Quando o faziam, visavam apenas episódios restritos ou envolviam as narrativas dentro de concepções lendárias, mitológicas, de sorte que os relatos já não transmitiam a notícia de fatos ocorridos, mas eram, em grau maior ou menor, a expressão da fantasia popular ou de uma religiosidade politeísta, exuberante (nos diversos acervos de ruínas escavadas no Oriente até hoje, não se encontrou uma síntese histórica dos tempos antigos; apenas se descobriram elementos -, inscrições, documentos parciais - para se reconstituir a história da Assíria, do Egito, etc.).

Ora nesse ambiente o povo de Israel se distingue por ter cultivado a história, e o ter feito com esmero tal que só foi superado pelos gregos, mestres da historiografia ocidental. É o que reconhecem, não sem admiração, os críticos modernos racionalistas:

"Dentre todos os povos asiático-europeus, somente Israel e a Grécia possuem autêntica historiografia. Em Israel, que ocupa lugar privilegiado entre todos os povos civilizados do Oriente, a historiografia se originou em época tão remota que causa surpresa, e produziu logo de início obras de importância... Na Grécia surgiu mais tarde." 10

Com efeito, na literatura dos hebreus, que coincide com os escritos bíblicos, é delineada a história do povo em traços contínuos e de modo que pressupõe a pesquisa de fontes, a transcrição de documentos dos arquivos orientais... Quando é possível controlar as afirmações dos cronistas de Israel à luz de textos profanos, aqueles se comprovam fiéis à verdade, condizentes com o que referem outras fontes. 11 

A história de Israel assim descrita se desdobra uniformemente, sob a influência de uma ideologia monoteísta assaz forte para superar crises, aberrações, suscitadas entre os hebreus pela idolatria dos povos vizinhos. E como se explica que os rudes judeus, ultrapassando as categorias culturais do seu ambiente, tenham com tanto esmero cultivado a historiografia?

A razão do fenômeno está na religiosidade de Israel, inconfundível com a das outras nações do Oriente. Longe de professar que a sucessão dos tempos carece de sentido, os hebreus julgavam-na toda perpassada por um plano divino, que nela se vai atuando e tende à consumação no fim dos séculos; viam, pois, nos grandes acontecimentos da história comunicações, ora mais claras ora mais veladas, de Deus; o passado lhes aparecia qual mensagem divina a prenunciar realizações futuras ou a admoestar a melhor conduta de vida. 12 

Entende-se, pois, que, movidos por tal ideologia, os escritores de Israel se tenham preocupado com a redação de suas crônicas, dando-lhes côngruo desenvolvimento e realce.

Não seria justo, porém, afirmar-se apenas esta nota da historiografia em Israel. Outras observações se devem acrescentar à precedente, a fim de se poderem interpretar com exatidão as crônicas existentes na Sagrada Escritura. Tenham-se em vista, portanto, ainda os seguintes itens: 

São Gonçalo de Lagos


Este santo português nasceu em Lagos, no Algarve, por volta do ano de 1370. Tomou o hábito de Santo Agostinho no convento da Graça, em Lisboa, aos 20 anos.

Dedicou-se à uma vida de jejuns e de penitências enquanto aplicava-se às letras, aos estudos. Homem zeloso na vivência da Regra Religiosa, virtuoso e cheio de pureza, Gonçalo dedicou-se também à pregação chegando a ser superior de alguns mosteiros da sua Ordem.

O último mosteiro foi o de Torres Vedras, onde morreu em 1422, depois de exortar aos que viviam com ele no mosteiro à observância religiosa e à uma vida virtuosa.


Deus, fonte de todas as virtudes, que tornastes admirável o bem-aventurado São Gonçalo de Lagos na humildade de espírito, pureza de costumes e singular caridade, concedei-nos que, imitando na terra os seus exemplos, mereçamos com ele ser coroados no Céu. Por Nosso Senhor. Amém. 


São Gonçalo de Lagos, rogai por nós!

quinta-feira, 26 de outubro de 2017

A Sagrada Escritura e as Ciências Naturais (Capítulo 2 – Parte 2/3)


Importa agora abordar mais detidamente o problema particular que acaba de ser insinuado, a saber: embora a Bíblia seja a inerrante Palavra de Deus, entra por vezes em aparente conflito com as ciências da natureza. Como será isto possível? Antes do mais, observe-se que a finalidade em vista da qual Deus moveu os hagiógrafos a escrever, era estritamente religiosa: o Espírito Santo, pelos autores bíblicos, quis ensinar aos homens unicamente verdades que importem à salvação eterna, de modo nenhum temas que diríamos profanos ou científicos. Contudo, já que o homem procura a salvação dentro do cenário da natureza, a Sagrada Escritura também alude a conceitos de índole científica (física, astronômica, biológica, etc.).

Estas noções profanas na Bíblia servem de mero veículo; não são visadas em si, mas em função de proposições religiosas. Desta afirmação decorrem importantes consequências: às proposições religiosas da Sagrada Escritura cabe veracidade absoluta; quanto às referências de outra ordem, podem exprimir veracidade relativa, popular, pré-científica, a qual se distingue da veracidade científica, refletida técnica.

Ainda hoje na linguagem cotidiana se diz que "o sol nasce e se põe"; fala-se da baleia como "peixe", do morcego como "ave", etc. Estas expressões não deixam de ter fundamento objetivo, pois se baseiam na aparência que os fenômenos realmente apresentam.

Mesmo quando o homem de ciências se refere ao "nascer" e ao "pôr" do sol, todos sabem que não quer ensinar astronomia, mas se adapta ao modo de falar dos contemporâneos, sem os induzir em erro científico.

Ora o Espírito de Deus, ao inspirar os hagiógrafos, não julgou necessário revelar-lhes a estrutura do universo e dos seres vivos; permitiu, pois, que formulassem verdades religiosas mediante os conceitos de ciência que estavam em voga no seu povo. Tais noções, embora imperfeitas aos olhos do homem moderno, eram suficientes para designar o mundo visível e suas relações com Deus, como se propunha o hagiógrafo; servir-se de outra linguagem seria mesmo tornar a mensagem religiosa da Bíblia ininteligível aos seus destinatários durante muitos séculos.

O leitor contemporâneo, portanto, não tomará as alusões da Escritura como insinuação de teses físicas, cosmológicas, biológicas... Já que o Livro de Deus nada quer ensinar neste setor, não há choque entre o mesmo e a ciência humana quando se referem às criaturas materiais. Procedem, sim, de pontos de vista diversos: o cientista considera os elementos em si mesmos, refere-os às suas causas próximas e dá-se por satisfeito depois de ter tomado conhecimento da estrutura de cada ente corpóreo; não o interessa ir além disto (a menos que passe para os domínios da Filosofia e da Teologia).