sexta-feira, 1 de dezembro de 2017

Bangladesh: Papa denuncia «grave crise» dos refugiados vindos de Mianmar


VIAGEM APOSTÓLICA DO PAPA FRANCISCO A MYANMAR E BANGLADESH
(26 DE NOVEMBRO - 2 DE DEZEMBRO DE 2017)

ENCONTRO COM AS AUTORIDADES, 
COM A SOCIEDADE CIVIL E COM O CORPO DIPLOMÁTICO

DISCURSO DO SANTO PADRE

Palácio Presidencial (Daca)
Quinta-feira, 30 de novembro de 2017


Senhor Presidente,
Ilustres Autoridades de Estado e Civis,
Vossa Eminência, amados Irmãos no Episcopado,
Distintos membros do Corpo Diplomático,
Senhoras e Senhores!

No início da minha presença no Bangladesh, quero agradecer-lhe, Senhor Presidente, o amável convite para visitar esta nação e as suas deferentes palavras de boas-vindas. Seguindo as pegadas de dois dos meus Predecessores, o Papa Paulo VI e o Papa João Paulo II, estou aqui para rezar com os meus irmãos e irmãs católicos e oferecer-lhes uma mensagem de estima e encorajamento. O Bangladesh é um Estado jovem e todavia ocupou sempre um lugar especial no coração dos Papas, que desde o princípio expressaram solidariedade ao seu povo, procurando acompanhá-lo na superação das dificuldades iniciais e apoiando-o na tarefa exigente da construção da nação e do seu desenvolvimento. Agradeço a oportunidade de me dirigir a esta assembleia, que reúne homens e mulheres com responsabilidades especiais na tarefa de dar forma ao futuro da sociedade do Bangladesh.

Durante o voo para chegar aqui, foi-me lembrado que o Bangladesh – «Golden Bengal» – é uma nação interligada por uma vasta rede fluvial e por vias navegáveis, grandes e pequenas. Creio que esta beleza natural é emblemática da vossa particular identidade como povo. O Bangladesh é uma nação que se esforça por alcançar uma unidade de linguagem e cultura com o respeito pelas diferentes tradições e comunidades, que fluem como inúmeros ribeiros vindo enriquecer o grande curso da vida política e social do país.

No mundo de hoje, nenhuma comunidade, nação ou Estado pode sobreviver e progredir no isolamento. Como membros da única família humana, precisamos uns dos outros e estamos dependentes uns dos outros. O Presidente Sheikh Mujibur Rahma compreendeu e procurou incorporar este princípio na Constituição Nacional. Imaginou uma sociedade moderna, pluralista e inclusiva, onde cada pessoa e cada comunidade pudesse viver em liberdade, paz e segurança, respeitando a inata dignidade e igualdade de direitos de todos. O futuro desta jovem democracia e a saúde da sua vida política dependem essencialmente da fidelidade a esta visão fundadora. Com efeito, só através dum diálogo sincero e do respeito pelas legítimas diversidades é que um povo pode reconciliar as divisões, superar perspetivas unilaterais e reconhecer a validade de pontos de vista divergentes. Uma vez que o diálogo autêntico aposta no futuro, ele constrói unidade ao serviço do bem comum e está atento às necessidades de todos os cidadãos, especialmente dos pobres, dos desfavorecidos e daqueles que não têm voz.

Nos meses passados, pôde-se observar de maneira bem tangível o espírito de generosidade e solidariedade – sinais caraterísticos da sociedade do Bangladesh – no seu ímpeto humanitário a favor dos refugiados chegados em massa do Estado de Rakhine, proporcionando-lhes abrigo temporário e provisões para as necessidades primárias da vida. Isto foi conseguido à custa de não pouco sacrifício; e foi realizado também sob o olhar do mundo inteiro. Nenhum de nós pode deixar de estar consciente da gravidade da situação, do custo imenso exigido de sofrimentos humanos e das precárias condições de vida de tantos dos nossos irmãos e irmãs, a maioria dos quais são mulheres e crianças amontoados nos campos de refugiados. É necessário que a comunidade internacional implemente medidas resolutivas face a esta grave crise, não só trabalhando por resolver as questões políticas que levaram à massiva deslocação de pessoas, mas também prestando imediata assistência material ao Bangladesh no seu esforço por responder eficazmente às urgentes carências humanas.

Ativistas LGBTs criam presépio gay com “dois Josés”


O conflito de ativistas LGBT com grupos conservadores por causa do uso de símbolos religiosos é antigo. Em quase todo o mundo é assim. Alegando liberdade de expressão, as pessoas aparentemente querem “desconstruir” e “problematizar” tudo o que for possível.

Nos Estados Unidos, a frase “Jesus tinha dois pais” já foi usada muitas vezes como argumento de alguns ativistas para falar sobre o casamento gay. A ideia implícita é que se tratavam de Deus e José.

Contudo, na última semana esse argumento passou a designar uma blasfêmia que está sendo imposta por Cameron Esposito, um comediante que apresenta um programa na internet sobre o movimento LGBT.

Após ele publicar uma imagem no Twitter de dois homens com túnicas rosas olhando para o menino Jesus no que chamou de “presépio gay”, várias pessoas começaram a fazer campanha por mais imagens como essa na frente das casas.

O post viralizou, recebendo mais de 3.300 retweets e chegando a 22.000 “curtidas”. Rapidamente surgiram outras imagens de “presépio gay” no Twitter, o que irritou os cristãos.

Sites conservadores como o Bretibart e o Daily Wire teceram pesadas críticas.

Papa celebra missa histórica para multidão em Myanmar


VIAGEM APOSTÓLICA DO PAPA FRANCISCO A MYANMAR E BANGLADESH
(26 DE NOVEMBRO - 2 DE DEZEMBRO DE 2017)

SANTA MISSA COM OS JOVENS DE MYANMAR

HOMILIA DO SANTO PADRE

Saint Mary's Cathedral (Yangon)
Quinta-feira, 30 de novembro de 2017


Quando já se aproxima do fim a minha visita à vossa linda terra, uno-me convosco para agradecer a Deus pelas muitas graças que recebemos nestes dias. Contemplando-vos a vós, jovens do Myanmar, e a todos aqueles que nos acompanham fora desta catedral, quero partilhar uma frase da primeira Leitura de hoje que ressoa dentro de mim. Tirada do profeta Isaías, é retomada por São Paulo na sua carta à jovem comunidade cristã de Roma. Escutemos uma vez mais estas palavras: «Que bem-vindos são os pés dos que anunciam as boas-novas!» (Rm 10, 15; cf. Is 52, 7)

Queridos jovens do Myanmar, veio-me a vontade de aplicar a vós estas palavras depois de ter ouvido as vossas vozes hoje enquanto cantáveis. Sim, bem-vindos são os vossos pés, e é bom e encorajador ver-vos, porque nos anunciais «uma boa-nova», a boa-nova da vossa juventude, da vossa fé e do vosso entusiasmo. Claro, vós sois uma boa-nova, porque sois sinais concretos da fé da Igreja em Jesus Cristo, que nos traz uma alegria e uma esperança que jamais terão fim.

Alguns se interrogam como é possível falar de boas-novas quando tantos sofrem ao nosso redor. Onde estão as boas-novas, quando tanta injustiça, pobreza e miséria estende a sua sombra sobre nós e o nosso mundo? Contudo gostaria que deste lugar partisse uma mensagem muito clara. Gostaria que as pessoas soubessem que vós, homens e mulheres jovens do Myanmar, não tendes medo de acreditar na boa-nova da misericórdia de Deus, porque essa boa-nova tem um nome e um rosto: Jesus Cristo. Como mensageiros desta boa-nova, estais prontos a anunciar uma palavra de esperança à Igreja, ao vosso país, ao mundo inteiro. Estais prontos a anunciar a boa-nova aos irmãos e irmãs que sofrem e precisam das vossas orações e da vossa solidariedade, mas também da vossa paixão pelos direitos humanos, pela justiça e pelo crescimento daquilo que Jesus dá: amor e paz.

Mas gostaria também de vos propor um desafio. Ouvistes com atenção a primeira Leitura? Nela, São Paulo repete três vezes a palavra «sem». É uma palavra pequena, mas que nos faz pensar sobre o nosso lugar no projeto de Deus. De facto, Paulo formula três perguntas que eu gostaria de colocar, pessoalmente, a cada um de vós. A primeira: «Como hão de acreditar sem terem ouvido falar d’Ele?» A segunda: «Como hão de ouvir falar, sem um mensageiro que O anuncie?» A terceira: «Como há de um mensageiro anunciar, sem ser enviado?» (cf. Rm 10, 14-15).

Gostaria que todos vós pensásseis profundamente nestas três questões. Mas não tenhais medo! Como pai (talvez fosse melhor dizer avô!) benévolo, não quero deixar-vos sozinhos perante tais perguntas. Permiti oferecer-vos alguns pensamentos que vos possam guiar no caminho da fé e ajudar-vos a discernir aquilo que o Senhor está a pedir-vos.

A primeira pergunta de São Paulo é: «Como hão de acreditar sem terem ouvido falar d’Ele?». O nosso mundo está cheio de tantos ruídos e distrações que podem sufocar a voz de Deus. Para que outros sejam chamados a ouvir falar d’Ele e a crer n’Ele, precisam de O encontrar em pessoas que sejam autênticas, pessoas que sabem como ouvir. Certamente é o que vós quereis ser. Mas só o Senhor pode ajudar-vos a ser genuínos. Por isso falai com Ele na oração. Aprendei a ouvir a sua voz, falando serenamente com Ele no íntimo do vosso coração.

Mas falai também com os Santos, com os nossos amigos no Céu que vos podem inspirar. Como Santo André, que hoje festejamos. Era um simples pescador e tornou-se um grande mártir, uma testemunha do amor de Jesus. Mas, antes de se tornar um mártir, cometeu os seus erros e precisou de ser paciente, aprendendo gradualmente como ser um verdadeiro discípulo de Cristo. Também vós não tenhais medo de aprender com os vossos erros! Possam os Santos guiar-vos até Jesus, ensinando-vos a colocar as vossas vidas nas mãos d’Ele. Sabeis que Jesus é cheio de misericórdia. Então partilhai com Ele tudo o que tendes no coração: os medos e as preocupações, os sonhos e as esperanças. Cultivai a vida interior, como faríeis com um jardim ou um campo. Isso requer tempo, requer paciência. Mas como um agricultor sabe esperar o crescimento da seara, assim também a vós, se tiverdes paciência, o Senhor concederá a graça de produzir muito fruto, um fruto que depois podereis partilhar com os outros.

Papa aos bispos de Myanmar: cura, acompanhamento e profecia


VIAGEM APOSTÓLICA DO PAPA FRANCISCO A MYANMAR E BANGLADESH
(26 DE NOVEMBRO - 2 DE DEZEMBRO DE 2017)

ENCONTRO COM OS BISPOS DE MYANMAR

DISCURSO DO SANTO PADRE

Complexo da Catedral de St. Mary (Yangon)
Quarta-feira, 29 de novembro de 2017

Eminência, 
queridos Irmãos Bispos!

Hoje foi, para todos nós, um dia sobrecarregado mas de grande alegria! De manhã, celebramos a Eucaristia juntamente com os fiéis vindos de todo o país e, de tarde, encontramos os líderes da comunidade maioritária budista. Gostaria que o nosso encontro, nesta noite, fosse um momento de serena gratidão por estas bênçãos e de tranquila reflexão sobre as alegrias e os desafios do vosso ministério de pastores do rebanho de Cristo neste país. Agradeço a D. Félix [Lian Khen Thang] as palavras de saudação que me dirigiu em vosso nome; a todos vos abraço com grande afeto no Senhor.

Desejo agrupar os meus pensamentos à volta de três palavras: cura, acompanhamento e profecia.

A primeira, cura. O Evangelho, que pregamos, é sobretudo uma mensagem de cura, reconciliação e paz. Por meio do sangue de Cristo na cruz, Deus reconciliou consigo o mundo e enviou-nos para ser mensageiros daquela graça sanadora, graça de cura. Aqui no Myanmar, esta mensagem tem uma ressonância especial, pois o país está empenhado em superar divisões profundamente radicadas e construir a unidade nacional. O vosso rebanho traz os sinais deste conflito e gerou valorosas testemunhas da fé e das tradições antigas; assim, para vós, a pregação do Evangelho não deve ser apenas uma fonte de consolação e fortaleza, mas também um apelo a favorecer a unidade, a caridade e a cura na vida do povo. A unidade, que partilhamos e celebramos, nasce da diversidade (não esqueçamos isto: nasce da diversidade); valoriza as diferenças entre as pessoas como fonte de mútuo enriquecimento e de crescimento; convida-as a reencontrarem-se umas com as outras, numa cultura do encontro e da solidariedade.

Que o Senhor vos conceda, no vosso ministério episcopal, experimentar constantemente a sua guia e ajuda no compromisso de favorecer a cura e a comunhão em todos os níveis da vida da Igreja, de modo que o santo Povo de Deus, o vosso rebanho, possa, através do seu exemplo de perdão e amor reconciliador, ser sal e luz para os corações que anelam por aquela paz que o mundo não lhes pode dar. A comunidade católica no Myanmar pode-se orgulhar do seu testemunho profético de amor a Deus e ao próximo, que se traduz no compromisso a favor dos pobres, daqueles que estão privados de direitos e sobretudo, nestes tempos, a favor dos inúmeros desalojados que, por assim dizer, jazem feridos na beira da estrada. Peço-vos que transmitais a minha gratidão a todos aqueles que, como o Bom Samaritano, trabalham com generosidade para levar o bálsamo da cura a eles e ao próximo que passa necessidade, sem olhar a religião nem etnia.

O vosso ministério de cura encontra uma expressão particular no empenho pelo diálogo ecuménico e a colaboração inter-religiosa. Rezo para que produzam abundantes frutos, na reconciliação da vida do país, os vossos incessantes esforços por construir pontes de diálogo e vos unir aos seguidores doutras religiões tecendo relações de paz. A conferência inter-religiosa de paz, realizada em Rangum na primavera passada, foi um testemunho importante, aos olhos do mundo, da determinação das religiões a viver em paz e rejeitar qualquer ato de violência e de ódio perpetrado em nome da religião.

E, neste ministério de cura, lembrai-vos que a Igreja é um «hospital de campo». Curar, curar feridas, curar as almas, curar. A vossa primeira missão é esta: curar, curar os feridos.

Homilética: 3º Domingo do Tempo do Advento - Ano A: "Um convite à alegria".


Este terceiro domingo do Advento tem um tema predominante: a alegria provocada pela vinda do Senhor. Por isso, a cor rosa, que pode ser usada como um roxo atenuado. Alegrai-vos (Gaudete!) – convida-nos a liturgia, inspirando-se nas palavras do Apóstolo: “Alegrai-vos sempre no Senhor. De novo eu vos digo: alegrai-vos! O Senhor está perto!” (Fl 4,4s).

Mas, pensando bem: há motivos para alegria verdadeira, profunda, responsável? Ante as lutas e fardos da vida, podemos realmente alegrar-nos? Antes as feridas e machucaduras do nosso coração, é possível uma alegria duradoura e verdadeira? Ante as desacertos e desvios do mundo, é realmente possível este gáudio a que nos convida a Igreja, com as palavras de São Paulo? E, no entanto, o convite é insistente: Alegrai-vos!

Contudo, antes do convite à alegria, ao júbilo, à exultação, permiti-me um outro convite: pensemos na vida de frente, como ela é, para cada um de nós e para os outros. Faço este convite porque somente assim nossa alegria poderá ser realista e verdadeira. Não esqueçamos que há também uma alegria boba, tola, tonta, irresponsável, que brota da superficialidade ou da ilusão… Não é dessa que falamos aqui…

Pois bem! A nossa vida – a minha, a sua! – gostaríamos que ela fosse como quiséramos, gostaríamos de controlá-la, de garantir que tudo saísse bem para nós e para os nossos, para os nossos e para todos… E, no entanto, constatamos com pesar que não temos em nossas mãos a nossa existência. Que duras as palavras de Jeremias profeta: “Eu sei, Senhor, que não pertence ao homem o seu caminho, que não é dado ao homem, que caminha, dirigir os seus passos” (10,23). O mundo não é como gostaríamos, os nossos caros não são e não vivem como esperávamos e nós mesmos tampouco vivemos a vida que sonhamos… Nosso mundo anda estressado, as pessoas sentem-se sozinhas, meio como que perdidas, ante uma crise generalizada de valores e de sentido… Que caminho seguir? Que rumo tomar? Que valores são valores realmente ou, ao invés, mera ilusão? Conservamos ou destruímos o sentido sagrado do matrimônio e da família? O Governo Lula começa a dar os primeiros passos para legalizar o assassinato de crianças no útero materno – vamos concordar? Vamos ainda votar nos deputados e senadores de Alagoas que votarem a favor desse crime pagão? Vamos reeleger esse presidente, caso ele aprove esse crime hediondo? Castidade, honestidade, respeito pela vida, moralidade, são ainda valores? A vida é, deveras, estressante… E o Senhor nos exorta: Alegrai-vos! E neste Domingo de Advento, a Igreja insiste: Alegrai-vos! Alegrai-vos no Senhor! O cristão não tem direito ao desânimo, ao desespero, ao derrotismo… Alegrai-vos! E alegrai-vos sempre! Mas, alegrai-vos no Senhor! E por quê? Porque ele está perto! Não nos deixa nunca: ele vem sempre como Emanuel – Deus conosco!

Pensemos nas palavras tão consoladoras das leituras deste hoje! São para a terra deserta do coração do mundo e para o nosso: “Alegre-se a terra que era deserta e intransitável, exulte a solidão e cresça como um lírio. Germine e exulte de alegria e louvores! Seus habitantes verão a glória do Senhor, a majestade do nosso Deus!” Que cristão, que homem ou mulher de boa vontade não lamentam a situação atual da humanidade? Quem não sente na vida a tentação de fraquejar, e a mordida do desencanto? Quem, às vezes, não pergunta onde Deus está, que parece tão distante e ausente? Escutai: “Fortalecei as mãos enfraquecidas e firmai os joelhos debilitados. Dizei às pessoas deprimidas: ‘Criai ânimo, não tenhais medo! Vede, é o vosso Deus: ele vem para vos salvar!’” É esta a esperança do santo Advento: a esperança num Deus que não nos esquece, não nos desilude, não nos deixa sozinhos… um Deus que vem ao nosso encontro no Santo Messias esperado! O profeta Isaías promete: “Então se abrirão os olhos dos cegos e se descerrarão os ouvidos dos surdos. O coxo saltará como um cervo e se desatará a língua dos mudos”. E o que o profeta promete, o Senhor Jesus vem realizar: “Ide contar a João o que estais ouvindo e vendo: os cegos recuperam a vista, os paralíticos andam, os leprosos são curados, os surdos ouvem, os mortos ressuscitam e os pobre são evangelizados!” Eis aqui o motivo da nossa alegria: a certeza da fé em Jesus Cristo: ele é a presença pessoal de Deus entre nós, ele é aquele que cura nossas feridas, sustenta-nos na fraqueza, enche de doce presença o nosso coração solitário! Confiemos ao Senhor o mundo, a nossa vida, os nossos problemas, as coisas que nos preocupam. Lutemos e confiemos; lutemos e enchamos o coração de esperança no Senhor! A salvação que ele trouxe haverá de se manifestar um dia: “A Vinda do Senhor esta próxima” – diz-nos São Tiago!

As grandes tentações para o cristão de hoje são a falta de entusiasmo e de esperança, um cansaço ante a paganização do mundo e a teimosia humana… A conseqüência, é a falta de uma alegria verdadeira. Procuram-se cristãos alegres, cristãos convictos, cristãos radicais! Precisam-se urgentemente de cristãos apaixonados, cristãos de verdade, cristãos que creiam no que acreditam! Afinal, somente há alegria duradoura e profunda somente quando se encontra o sentido da existência, e este sentido nos é oferecido pelo Cristo; unicamente em Cristo!

Esperemos nele: na sua palavra, no seu juízo, na sua graça! Ele não nos esqueceu, ele não está ausente do mundo e da nossa vida! Recordemos a forte exortação de São Tiago: “Ficai firmes até à Vinda do Senhor! Ficai firmes e fortalecei vossos corações, porque a Vinda do Senhor está próxima! Irmãos, tomai como modelo de sofrimento e firmeza os profetas que falaram em nome do Senhor!”

O Advento não somente nos prepara para a celebração da primeira vinda do Senhor no Natal, mas nos convida a reconhecer suas vindas na nossa vida e a esperar com ânsia e compromisso sua Vinda final! Caminhemos, caríssimos, na alegria de quem espera com certeza: “Alegrai-vos sempre no Senhor! O Senhor está perto!”

quinta-feira, 30 de novembro de 2017

Myanmar: Discurso do Papa no encontro com o Conselho Supremo Budista


VIAGEM APOSTÓLICA DO PAPA FRANCISCO A MYANMAR E BANGLADESH
(26 DE NOVEMBRO - 2 DE DEZEMBRO DE 2017)

ENCONTRO COM O CONSELHO SUPREMO SHANGA DOS MONGES BUDISTAS

DISCURSO DO SANTO PADRE 
À COMISSÃO ESTATAL SANGHA MAHA NAYAKA

Kaba Aye Center (Yangon)
Quarta-feira, 29 de novembro de 2017


Sinto grande alegria por estar convosco. Agradeço ao Ven. Bhaddanta Kumarabhivamsa, Presidente da Comissão Estatal Sangha Maha Nayaka, as suas palavras de boas-vindas e os seus esforços na organização da minha visita aqui hoje. Ao saudar-vos a todos, permiti-me manifestar particular apreço pela presença de Sua Excelência Thura Aung Ko, Ministro dos Assuntos Religiosos e da Cultura.

O nosso encontro é uma ocasião importante para renovar e fortalecer os laços de amizade e respeito entre budistas e católicos. É também uma oportunidade para afirmar o nosso empenho pela paz, o respeito da dignidade humana e a justiça para todo o homem e mulher. E não é só no Myanmar, mas em todo o mundo, que as pessoas precisam deste testemunho comum dos líderes religiosos. Com efeito, quando falamos a uma só voz afirmando o valor perene da justiça, da paz e da dignidade fundamental de todo o ser humano, oferecemos uma palavra de esperança. Ajudamos os budistas, os católicos e todas as pessoas a lutarem por uma maior harmonia nas suas comunidades.

Em cada idade, a humanidade experimenta injustiças, momentos de conflito e desigualdade entre as pessoas. No nosso tempo, porém, estas dificuldades parecem ser particularmente graves. Embora a sociedade tenha conseguido um grande progresso tecnológico e, em todo o mundo, as pessoas estejam cada vez mais conscientes da sua humanidade e destino comuns, as feridas dos conflitos, da pobreza e da opressão persistem e criam novas divisões. A estes desafios, não devemos jamais resignar-nos. Pois sabemos, com base nas nossas respetivas tradições espirituais, que existe realmente um caminho para avançar, há um caminho que leva à cura, à mútua compreensão e respeito; um caminho baseado na compaixão e no amor.

Quero expressar a minha estima a todos aqueles que vivem, no Myanmar, segundo as tradições religiosas do Budismo. Através dos ensinamentos de Buda e do testemunho zeloso de tantos monges e monjas, o povo desta terra foi formado nos valores da paciência, tolerância e respeito pela vida, bem como numa espiritualidade solícita e profundamente respeitadora do meio ambiente. Como sabemos, estes valores são essenciais para um desenvolvimento integral da sociedade, a começar pela unidade mais pequena e mais essencial que é a família para depois se estender à rede de relações que nos põem em estreita conexão – relações essas radicadas na cultura, na pertença étnica e nacional, e, em última análise, na pertença à humanidade comum. Numa verdadeira cultura do encontro, estes valores podem fortalecer as nossas comunidades e ajudar o conjunto da sociedade a irradiar a tão necessária luz.

O grande desafio dos nossos dias é ajudar as pessoas a abrir-se ao transcendente; ser capazes de olhar-se dentro em profundidade, conhecendo-se de tal modo a si mesmas que sintam a sua interconexão com todas as pessoas; dar-se conta de que não podemos permanecer isolados uns dos outros. Se devemos estar unidos, como é nosso propósito, ocorre superar todas as formas de incompreensão, intolerância, preconceito e ódio. Como podemos consegui-lo? As palavras de Buda oferecem a cada um de nós uma guia: «Vence o rancor com o não-rancor, vence o malvado com a bondade, vence o avarento com a generosidade, vence o mentiroso com a verdade» (Dhammapada, XVII, 223). Sentimentos semelhantes se expressam nesta oração atribuída a São Francisco de Assis: «Senhor, fazei-me instrumento da vossa paz. Onde houver ódio fazei que eu leve o amor, onde houver ofensa que eu leve o perdão, (...) onde houver trevas que eu leve a luz, e onde houver tristeza que eu leve a alegria».

Papa preside Missa em Myanmar: só o perdão cura as feridas da violência


VIAGEM APOSTÓLICA DO PAPA FRANCISCO A MYANMAR E BANGLADESH
(26 DE NOVEMBRO - 2 DE DEZEMBRO DE 2017)

SANTA MISSA

HOMILIA DO SANTO PADRE

Kyaikkasan Ground (Yangon)
Quarta-feira, 29 de novembro de 2017


Amados irmãos e irmãs!

Há muito tempo que anelava por este momento da minha vinda ao país. Muitos de vós viestes de longe e de áreas montanhosas remotas, e não poucos mesmo a pé. Eu vim como peregrino para vos ouvir e aprender de vós, e para vos oferecer algumas palavras de esperança e consolação.

A primeira leitura de hoje, do livro de Daniel, ajuda-nos a ver como era limitada a sabedoria do rei Baltasar e dos seus videntes. Sabiam como louvar «os deuses de ouro, de prata, de bronze, de ferro, de madeira e de pedra» (Dn 5, 4), mas não possuíam a sabedoria para louvar a Deus em cujas mãos está a nossa vida e a nossa respiração. Ao contrário, Daniel tinha a sabedoria do Senhor e era capaz de interpretar os seus grandes mistérios.

O intérprete definitivo dos mistérios de Deus é Jesus. Ele é a sabedoria de Deus em pessoa (cf. 1 Cor 1, 24). Jesus não nos ensinou a sua sabedoria com longos discursos ou por meio de grandes demonstrações de poder político ou terreno, mas com a oferta da sua vida na cruz. Às vezes, podemos cair na armadilha de confiar na nossa própria sabedoria, mas a verdade é que facilmente perdemos o sentido da direção. Então é necessário lembrar-nos de que dispomos, à nossa frente, duma bússola segura: o Senhor crucificado. Na cruz, encontramos a sabedoria, que pode guiar a nossa vida com a luz que provém de Deus.

E da cruz vem também a cura. Lá, Jesus ofereceu as suas feridas ao Pai por nós: mediante as suas feridas, somos curados (cf. 1 Pd 2, 4). Que nunca nos falte a sabedoria de encontrar, nas feridas de Cristo, a fonte de toda a cura! Sei que muitos no Myanmar carregam as feridas da violência, quer visíveis quer invisíveis. A tentação é responder a estas lesões com uma sabedoria mundana que, como a do rei na primeira leitura, está profundamente deturpada. Pensamos que a cura possa vir do rancor e da vingança. Mas o caminho da vingança não é o caminho de Jesus.

O caminho de Jesus é radicalmente diferente. Quando o ódio e a rejeição O conduziram à paixão e à morte, Ele respondeu com o perdão e a compaixão. No Evangelho de hoje, o Senhor diz-nos que, à sua semelhança, podemos também deparar-nos com a rejeição e tantos obstáculos, mas nessa ocasião dar-nos-á uma sabedoria a que ninguém pode resistir (cf. Lc 21, 15). Aqui Ele fala do Espírito Santo, por Quem o amor de Deus foi derramado nos nossos corações (cf. Rm 5, 5). Com o dom do Espírito, Jesus torna cada um de nós capaz de ser sinal da sua sabedoria, que triunfa sobre a sabedoria deste mundo, e da sua misericórdia, que dá alívio mesmo às feridas mais dolorosas.

Na véspera da sua paixão, Jesus deu-Se aos Apóstolos sob as espécies do pão e do vinho. No dom da Eucaristia, com os olhos da fé, não só reconhecemos o dom do seu corpo e sangue, mas aprendemos também a encontrar repouso nas suas feridas, sendo nelas purificados de todos os nossos pecados e extravios. Buscando refúgio nas feridas de Cristo, possais vós, queridos irmãos e irmãs, experimentar o bálsamo salutar da misericórdia do Pai e encontrar a força de o levar aos outros, ungindo cada uma das suas feridas e dolorosas lembranças. Deste modo, sereis testemunhas fiéis da reconciliação e da paz que Deus quer que reine em cada coração humano e em todas as comunidades.

O futuro de Myanmar deve ser a paz, diz Papa às autoridades do país


VIAGEM APOSTÓLICA DO PAPA FRANCISCO A MYANMAR E BANGLADESH
(26 DE NOVEMBRO - 2 DE DEZEMBRO DE 2017)

ENCONTRO COM AS AUTORIDADES GOVERNAMENTAIS, 
COM A SOCIEDADE CIVIL E COM O CORPO DIPLOMÁTICO

DISCURSO DO SANTO PADRE

Centro Internacional de Congressos (Nay Pyi Taw)
Terça-feira, 28 de novembro de 2017


Senhora Conselheira de Estado,
Ilustres membros do Governo e Autoridades Civis,
Senhor Cardeal, Veneráveis Irmãos no Episcopado,
Distintos membros do Corpo Diplomático,
Senhoras e Senhores!

Expresso vivo reconhecimento pelo amável convite para visitar o Myanmar e agradeço à Senhora Conselheira de Estado as suas cordiais palavras.

Estou muito grato a todos aqueles que trabalharam incansavelmente para tornar possível esta visita. Venho sobretudo para rezar com a pequena mas fervorosa comunidade católica da nação, para a confirmar na fé e encorajá-la no esforço de contribuir para o bem da nação. Motivo de contentamento é o facto de a minha visita se realizar depois do estabelecimento formal das relações diplomáticas entre o Myanmar e a Santa Sé. Apraz-me ver esta decisão como sinal do empenho da nação em prosseguir o diálogo e a cooperação construtiva dentro da comunidade internacional alargada, bem como em renovar o tecido da sociedade civil.

Gostaria também que a minha visita pudesse atingir toda a população do Myanmar e oferecer uma palavra de encorajamento a todos aqueles que estão a trabalhar para construir uma ordem social justa, reconciliada e inclusiva. O Myanmar foi abençoado com o dom duma beleza extraordinária e numerosos recursos naturais, mas o maior tesouro dele é, sem dúvida, o seu povo, que sofreu muito e continua a sofrer por causa de conflitos civis e hostilidades que duraram muito tempo e criaram profundas divisões. Uma vez que agora a nação está a trabalhar por restaurar a paz, a cura destas feridas não pode deixar de ser uma prioridade política e espiritual fundamental. Só posso expressar apreço pelos esforços do Governo em enfrentar este desafio, em particular através da Conferência de Paz de Panglong, que reúne os representantes dos vários grupos numa tentativa para pôr fim à violência, criar confiança e garantir o respeito pelos direitos de quantos consideram esta terra como a sua casa.

Com efeito, o árduo processo de construção da paz e reconciliação nacional só pode avançar através do compromisso com a justiça e do respeito pelos direitos humanos. A sabedoria dos antigos definiu a justiça como a vontade de reconhecer a cada um aquilo que lhe é devido, enquanto os antigos profetas a consideraram como o fundamento da paz verdadeira e duradoura. Estas intuições, confirmadas pela trágica experiência de duas guerras mundiais, levaram à criação das Nações Unidas e à Declaração Universal dos Direitos Humanos como base dos esforços da comunidade internacional para promover a justiça, a paz e o progresso humano em todo o mundo e para resolver os conflitos através do diálogo, e não com o uso da força. Neste sentido, a presença do Corpo Diplomático entre nós testemunha não só o lugar que o Myanmar ocupa entre as nações, mas também o compromisso do país em manter e perseguir estes princípios fundamentais. O futuro do Myanmar deve ser a paz, uma paz fundada no respeito pela dignidade e os direitos de cada membro da sociedade, no respeito por cada grupo étnico e sua identidade, no respeito pelo Estado de Direito e uma ordem democrática que permita a cada um dos indivíduos e a todos os grupos – sem excluir nenhum – oferecer a sua legítima contribuição para o bem comum.