quinta-feira, 18 de janeiro de 2018

Papa Francisco convoca a viver a unidade e superar todo tipo de violência no Chile


VIAGEM APOSTÓLICA DO PAPA FRANCISCO AO CHILE E PERU
(15-22 DE JANEIRO DE 2018)

MISSA PELO PROGRESSO DOS POVOS

HOMILIA DO SANTO PADRE

Temuco - Aeródromo de Maquehue
Quarta-feira, 17 de janeiro de 2018

«Mari, Mari [bom dia]».

«Küme tünngün ta niemün [A paz esteja convosco!]» (Lc 24, 36).

Dou graças a Deus por me permitir visitar esta parte linda do nosso continente, a Araucania: terra abençoada pelo Criador com a fertilidade de imensos campos verdes, com florestas cheias de imponentes araucarias – o quinto elogio de Gabriela Mistral a esta terra chilena[1]–, seus majestosos vulcões cobertos de neve, seus lagos e rios cheios de vida. Esta paisagem eleva-nos a Deus, sendo fácil ver a sua mão em cada criatura. Muitas gerações de homens e mulheres amaram, e amam, este solo com ciosa gratidão. E quero deter-me aqui para saudar de forma especial os membros do povo Mapuche, bem como os outros povos indígenas que vivem nestas terras do sul: Rapanui (Ilha de Páscoa), Aymara, Quechua e Atacama, e muitos outros.

Esta terra, se a virmos com olhos de turista, deixar-nos-á extasiados, mas depois continuaremos a nossa estrada como antes, recordando-nos das lindas paisagens que vimos; se, pelo contrário, nos aproximarmos do solo, ouvi-lo-emos cantar: «Arauco tem uma pena que não posso calar, são injustiças de séculos que todos veem aplicar».[2]

É neste contexto de ação de graças por esta terra e pelo seu povo, mas também de tristeza e dor, que celebramos a Eucaristia. E fazemo-lo neste aeródromo de Maquehue, onde se verificaram graves violações de direitos humanos. Oferecemos esta celebração por todas as pessoas que sofreram e foram mortas e pelas que diariamente carregam aos ombros o peso de tantas injustiças. E, lembrando estas coisas, fiquemos uns momentos em silêncio a pensar em tanto sofrimento e tanta injustiça. O sacrifício de Jesus na cruz está repleto de todo o pecado e do sofrimento dos nossos povos, um sofrimento a ser resgatado.

No Evangelho que ouvimos, Jesus pede ao Pai que «todos sejam um só» (Jo 17, 21). Numa hora crucial da sua vida, detém-Se a pedir a unidade. O seu coração sabe que uma das piores ameaças que atinge, e atingirá, o seu povo e toda a humanidade será a divisão e o conflito, a subjugação de uns pelos outros. Quantas lágrimas derramadas! Hoje queremos agarrar-nos a esta oração de Jesus, queremos entrar com Ele neste horto de dor, também com as nossas dores, para pedir ao Pai com Jesus: que também nós sejamos um só. Não permitais que nos vença o conflito nem a divisão.

Esta unidade, implorada por Jesus, é um dom que devemos pedir insistentemente pelo bem da nossa terra e seus filhos. E é necessário estar atento a eventuais tentações que possam aparecer e «contaminar pela raiz» este dom com que Deus nos quer presentear e com o qual nos convida a ser autênticos protagonistas da história. Quais são estas tentações? Uma é a dos falsos sinónimos.

Venezuela: a vida num país em colapso


A Venezuela, país com 30 milhões de habitantes, tem as maiores reservas de petróleo do mundo, mas vem sofrendo uma maciça e severa recessão econômica desde que os preços globais da commodity caíram drasticamente, há três anos.

O governo não publica dados relativos à inflação há mais de um ano. Mas o Fundo Monetário Internacional (FMI) previu uma taxa de 2.350% para 2018; e a Assembleia Nacional estimou em mais de 2.500% a de 2017.

Numa tentativa de amortecer o efeito da inflação, no fim de dezembro o governo venezuelano implementou o sexto aumento de salários e aposentadorias em um ano, elevando o salário mínimo em 40%.

De manhã, vê-se pessoas bem vestidas procurando restos no lixo antes de ir ao trabalho", diz Miguel Ángel Hernandez, um estudante de mestrado de 24 anos.

"Com um salário como o meu, as pessoas costumavam ser capazes de comprar carros e pagar uma parcela do financiamento da casa. Eu não consigo nem comprar um par novo de sapatos. Enfrentar essa realidade destrói as perspectivas de qualquer um", continua.

"A inflação está 'comendo' quase tudo", diz um advogado de 38 anos que trabalha numa agência pública e pediu anonimato. "Hoje em dia, eu vou ao supermercado para comprar xampu, e o preço de uma unidade é quase o que eu ganho em duas semanas. Ultimamente, tem havido racionamento de açúcar. Achei um saco, na semana passada, por 105 mil bolívares. Mas eu ganho só 650 mil bolívares por mês." 

Cristina Carbonell é uma advogada que trabalha na ProVene, uma organização que oferece conselhos legais de graça. Ela confirma que a vida cotidiana na capital se tornou um desafio.

"O número da nossa carteira de identidade determina em que dia da semana podemos ir ao supermercado. Mas de produtos básicos como leite, você compra apenas dois litros. Na semana passada, não tive água corrente por três dias. A escassez contínua tem causado surtos de fungos e sarna – e eu estou falando de Caracas", indigna-se. 

MEC homologa resolução que autoriza uso de nome social para transexuais


O Ministério da Educação (MEC) homologou nesta quarta-feira (17) resolução que autoriza o uso do nome social de travestis e transexuais nos registros escolares da educação básica. 

“Essa era uma antiga reivindicação do movimento LGBTI e que, na verdade, representa um princípio elementar do respeito às diferenças, do respeito à pessoa humana e ao mesmo tempo de um combate permanente do Ministério da Educação contra o preconceito, o bullying, que muitas vezes ocorrem nas escolas de todo o país”, disse o ministro da Educação, Mendonça Filho, que homologou a resolução. 

A resolução permite que estudantes maiores de dezoito anos solicitem o uso do seu nome social na matrícula em instituições de ensino. Os estudantes menores de idade devem ter a solicitação apresentada pelos pais ou representantes legais.  

Aborto, religião, erro médico: os temas polêmicos do Código Penal boliviano


Com 681 artigos, o novo Código de Sistema Penal da Bolívia, promulgado em 15 de dezembro de 2017, desencadeou uma onda de protestos em vários setores da sociedade civil boliviana. Além de conter artigos polêmicos, juristas apontam falhas na descrição da execução penal, deixando uma grande liberdade de interpretação para a Justiça e o Ministério Público, sem regras e prazos claros, o que pode ferir os direitos de ampla defesa e do devido processo legal.

Em paralisações, greves de fome e manifestações, juristas, médicos e especialistas de diversas áreas apontam incoerências e riscos para direitos fundamentais e para a democracia. Entenda alguns dos pontos polêmicos.

Criminalização do erro médico (artigo 205)

O artigo 205 criminaliza o erro médico, com prisão de 2 a 4 anos e multa, se a consequência da suposta negligência forem lesões graves, e de 3 a 6 anos, se a prática leva à morte. A comunidade médica acusa o governo de pretender resolver a profunda crise do sistema de saúde do país – carência de infraestrutura, equipamentos básicos, medicamentos e leitos – com medidas punitivas, sem propor uma melhoria ao problema real. A ambiguidade do texto desse artigo, com a consequente insegurança jurídica, levou a comunidade médica do país a permanecer mais de 40 dias de greve.

Aborto (artigo 157)

O parágrafo V do artigo 157 do novo Código penal boliviano permite o aborto até a 8ª. semana de gravidez, desde que a gestante seja estudante ou considerada incapaz civilmente (menor de idade ou com deficiência que exija o amparo de tutores legais). Até agora, o aborto na Bolívia era crime, não penalizado apenas em casos de estupro, incesto ou risco de vida da mãe.

Liberdade religiosa (artigo 88)

O artigo 88 determina a punição de prisão de 7 a 12 anos e reparação econômica (multa) à pessoa que, por si ou por terceiros, capte, transporte, translade, prive de liberdade, acolha ou receba pessoas para diversos fins. Entre eles, no número 11 está previsto o “recrutamento de pessoas para sua participação em organizações religiosas ou de culto”. 

Não só pastores evangélicos e católicos se levantam contra esse dispositivo. Juristas apontam os riscos para a liberdade religiosa já que, da forma como está escrito, só o fato de transportar pessoas para cultos religiosos já seria crime punível pelo artigo.  

O que diz a Bíblia sobre os refugiados?


Já são mais de 232 milhões de migrantes no mundo (o que poderia ser o quinto país mais povoado do planeta). Mais de 65 milhões são pessoas que foram forçadas a abandonar seus lares por causa de conflitos armados, pela violência generalizada ou por desastres naturais. Deste número, 21 milhões são refugiados, 38 milhões são migrantes internos e 3,2 milhões são pessoas que solicitam asilo em outros países.

O Mediterrâneo virou o maior cemitério mundial, onde somente em 2016 mais de 5 mil migrantes perderam a vida. A Síria é o país que gera o maior número de refugiados, seguida por: Afeganistão, Somália e Sudão do Sul.

No caderno especial em espanhol “Hijos e hijas de un peregrino – Hacia una teología das migraciones” (“Filhos e filhas de um peregrino, uma teologia das migrações”), Alberto Ares aprofunda as raízes bíblicas para iluminar a realidade dos refugiados.

Alberto Ares é um jesuíta espanhol pesquisador das migrações. Ele acompanha comunidades migrantes em várias partes do mundo. Atualmente, é delegado do Departamento Social dos jesuítas na Espanha e pesquisador associado ao Instituto de Estudos sobre Migrações da Universidade Pontifícia de Comillas, em Madri.

A Bíblia e os refugiados

Na Bíblia, é possível encontrar realidades de movimentos, experiências migratórias, de exílio, de acolhida e hospitalidade, em que se inserem as experiências fundadoras do povo eleito. Ares começa citando: “meu pai era um arameu prestes a morrer, que desceu ao Egito com um punhado de gente para ali viverem como forasteiros” (Deuteronômio 26,5).

O Novo Testamento, em que o próprio Jesus se apresenta como um migrante, “dá um destaque especial na acolhida e na fraternidade, no universalismo e na vida apostólica em movimento, que desbrava fronteiras”.

Ares lembra como o Antigo Testamento une doutrina e práxis sobre as migrações e as pessoas em movimento. Por um lado, juntamente com os órfãos e as viúvas, os migrantes constituem a trilogia típica do mundo dos marginalizados em Israel. Deus pede um tratamento digno e respeito e atenção especiais a essas pessoas. O autor relembra algumas citações bíblicas sobre os movimentos migratórios:

– “Meu pai era um arameu prestes a morrer, que desceu ao Egito com um punhado de gente para ali viverem como forasteiros” (Deuteronômio, 26);

– “Também não oprimirás o estrangeiro; pois vós conheceis o coração do estrangeiro, pois fostes estrangeiros na terra do Egito” (Êxodo 23:9);

– Não os oprimireis” (Levítico 19, 34);

– “Não os explorareis” (Deuteronômio 23,16);

– “Não violarás o direito do estrangeiro” (Deuteronômio 24,17);

– “Maldito o que viola o direito do estrangeiro” (Deuteronômio 27, 19);

– “Esteja ele entre vós como um compatriota, e tu o amarás como a ti mesmo” (Levítico 19,34); 

quarta-feira, 17 de janeiro de 2018

Temer pede apoio a pastores evangélicos para aprovar Reforma da Previdência


Nesta segunda-feira (15), o presidente Michel Temer recebeu o fundador da Igreja Mundial do Poder de Deus, apóstolo Valdemiro Santiago. O encontro fez parte de uma agenda política de Temer com lideranças evangélicas em busca de apoio pela Reforma da Previdência. As informações foram dadas pelo jornal Folha de S.Paulo.

O foco nos líderes evangélicos deve-se à capilaridade das denominações neopentecostais sobre a população de baixa renda, que, segundo análise interna do governo, concentra a maior parte da resistência às mudanças na aposentadoria.

No encontro, Temer teria explicado pontos da reforma ao apóstolo e solicitado apoio público. O encontro teria sido marcado pelo ministro da Secretaria de Governo, Carlos Marun. De acordo com a publicação, novos encontros devem acontecer nas próximas duas semanas. 

Além de ir a programas populares na TV para defender a proposta, ele também tem feito uma ofensiva junto ao público evangélico, por meio de seus líderes. Devem ser convidados ainda os pastores Samuel Ferreira, da Assembleia de Deus Brás, Silas Malafaia, do Ministério Vitória em Cristo, e Samuel Câmara, da Assembleia de Deus em Belém. A estratégia faz parte da ofensiva do governo em busca de apoio pela reforma.

Papa: não ao clericalismo e a mundos ideais que não tocam a vida de ninguém


VIAGEM APOSTÓLICA DO PAPA FRANCISCO AO CHILE E PERU
(15-22 DE JANEIRO DE 2018)
ENCONTRO COM OS BISPOS
DISCURSO DO SANTO PADRE
Santiago - Sacristia da Catedral
Terça-feira, 16 de janeiro de 2018


Queridos irmãos!

Agradeço as palavras que o presidente da Conferência Episcopal me dirigiu em nome de todos vós.

Em primeiro lugar, quero saudar D. Benardino Piñera Carvallo, que celebra, este ano, o seu sexagésimo aniversário de episcopado (é o bispo mais idoso do mundo, tanto na idade como nos anos de episcopado) e viveu quatro sessões do Concílio Vaticano II. Maravilhosa memória vivente!

Em breve, completar-se-á um ano da vossa visita ad limina; agora tocou a mim vir visitar-vos e fico feliz por este encontro acontecer depois de ter estado com o «mundo consagrado»; pois uma de nossas tarefas principais consiste precisamente em estar perto das nossas pessoas consagradas, dos nossos sacerdotes. Se o pastor se dispersa, também as ovelhas se dispersarão e ficarão à mercê de qualquer lobo. Irmãos, a paternidade do bispo com os seus sacerdotes, com o seu presbitério! Uma paternidade que não é paternalismo nem abuso de autoridade. Eis um dom que deveis pedir: estar perto dos vossos padres, com o estilo de São José. Uma paternidade que ajuda a crescer e a desenvolver os carismas que o Espírito quis derramar nos vossos respetivos presbitérios.
Sei que concordamos em demorar pouco tempo, porque, nos nossos colóquios das duas longas sessões da visita ad limina, já tocamos muitos temas. Por isso, nesta «saudação», gostaria de retomar qualquer ponto do encontro que tivemos em Roma e poder-se-ia resumir na frase seguinte: a consciência de ser povo, de ser povo de Deus.

Um dos problemas, que enfrentam atualmente as nossas sociedades, é o sentimento de orfandade, ou seja, sentir que não pertencem a ninguém. Este sentir «pós-moderno» pode penetrar em nós e no nosso clero; então começamos a pensar que não pertencemos a ninguém, esquecemo-nos que somos parte do santo povo fiel de Deus e que a Igreja não é, e nunca será, uma elite de pessoas consagradas, sacerdotes ou bispos. Não podemos sustentar a nossa vida, a nossa vocação ou ministério, sem esta consciência de ser povo. Esquecermo-nos disto – como afirmei à Comissão para a América Latina – «comporta vários riscos e deformações na nossa experiência, quer pessoal quer comunitária, do ministério que a Igreja nos confiou».[1] A falta de consciência de pertencer ao povo fiel de Deus como servidores, e não como patrões, pode-nos levar a uma das tentações que mais dano causa ao dinamismo missionário, que somos chamados a promover: o clericalismo, que é uma caricatura da vocação recebida.

A falta de consciência do facto que a missão é de toda a Igreja, e não do padre ou do bispo, limita o horizonte e – o que é pior – coarta todas as iniciativas que o Espírito pode suscitar no meio de nós. Digamo-lo claramente: os leigos não são os nossos servos, nem os nossos empregados. Não precisam de repetir, como «papagaios», o que dizemos. «O clericalismo longe de dar impulso às diferentes contribuições e propostas, apaga pouco a pouco o fogo profético do qual a Igreja inteira está chamada a dar testemunho no coração dos seus povos. O clericalismo esquece que a visibilidade e a sacramentalidade da Igreja pertencem a todo o povo fiel de Deus (cf. Lumen gentium, 9-14) e não só a poucos eleitos e iluminados».[2]