segunda-feira, 22 de janeiro de 2018

Papa no Ângelus: “O coração não se pode maquiar”.


VIAGEM APOSTÓLICA DO PAPA FRANCISCO AO CHILE E PERU
(15-22 DE JANEIRO DE 2018)

PAPA FRANCISCO

ANGELUS

Lima - Praça das Armas
Domingo, 21 de janeiro de 2018

Aos jovens, antes do «Angelus»

Queridos jovens!

Estou feliz por me poder encontrar convosco. Para mim, estes encontros são sempre muito importantes, mas mais ainda neste ano em que nos preparamos para o Sínodo sobre os jovens. Os vossos rostos, as vossas aspirações, a vossa vida são importantes para a Igreja: devemos dar-lhes a importância que merecem e ter a coragem que demonstraram muitos jovens desta terra que não tiveram medo de amar e gastar a sua vida por Jesus.

Queridos amigos, tendes tantos exemplos! Penso em São Martinho de Porres. Nada impediu aquele jovem de realizar os seus sonhos, nada o impediu de gastar a sua vida pelos outros, nada o impediu de amar; e fê-lo porque tinha experimentado que o Senhor o amara primeiro. Assim como era: mulato e a braços com muitas privações. Aos olhos humanos, concretamente dos seus amigos, parecia destinado a «perder», mas ele soube fazer algo que se tornaria o segredo da sua vida: ter confiança. Ter confiança no Senhor que o amava. E sabeis porquê? Porque o Senhor confiara nele primeiro; como confia em cada um de vós e nunca Se cansará de ter confiança. A cada um de nós, o Senhor entrega uma missão qualquer, e a resposta é ter confiança n’Ele. Agora cada um de vós pense no seu coração: Que missão me entregou o Senhor? Que coisa me entregou o Senhor? Cada qual pense: Que missão tenho no meu coração, que me foi entregue pelo Senhor?

Poder-me-íeis dizer: mas há momentos em que se torna muito difícil! Compreendo-vos. Nesses momentos, podem vir pensamentos negativos, sentir que há muitas situações que nos caem em cima e parece que ficamos «fora dos [jogos] mundiais»; parece que nos estão a vencer. Mas não é assim! Mesmo nos momentos em que já tenha chegado a eliminação, devemos continuar a ter confiança.

Há momentos em que podeis pensar que ficareis sem poder realizar os desejos da vossa vida, os vossos sonhos. Todos passamos por situações como estas. Nesses momentos em que parece apagar-se a fé, não vos esqueçais que Jesus está ao vosso lado. Não vos deis por vencidos, não percais a esperança! Não vos esqueçais dos Santos, que nos acompanham do céu; recorrei a eles, rezai e não vos canseis de pedir a sua intercessão. São os Santos de ontem, mas também os de hoje: esta terra tem muitos, porque é uma terra «cumulada de santidade». O Perú é uma terra «cumulada de santidade». Buscai a ajuda e o conselho de pessoas que sabeis serem boas para vos aconselhar, porque os seus rostos manifestam alegria e paz. Fazei-vos acompanhar por elas e, assim, avançai pelo caminho da vida.

Mas há outra coisa: Jesus quer ver-vos em movimento; quer ver-te levar por diante os teus ideais e que te decidas a seguir as suas instruções. Ele levar-vos-á pelo caminho das Bem-aventuranças: um caminho nada fácil mas apaixonante, é um caminho que não se pode percorrer sozinho, é preciso percorrê-lo em grupo onde cada um pode colaborar com o melhor de si mesmo. Jesus conta contigo, como fez, há muito tempo, com Santa Rosa de Lima, São Toríbio, São João Macías, São Francisco Solano e muitos outros. E hoje pergunta-te, como a eles: estás disposto, estás disposta a segui-Lo? [respondem: sim!] Hoje, amanhã, estás disposto, estás disposta a segui-Lo? [respondem: sim!] E daqui a uma semana? [respondem: sim!] Não o digas tão seguro, não o digas tão segura de ti. Olhai! Se quereis estar dispostos a segui-Lo, pedi-Lhe que vos prepare o coração para estar dispostos a segui-Lo. É claro? [respondem: sim!]

Peru: Encontro do Papa com religiosas de vida contemplativa em Lima


VIAGEM APOSTÓLICA DO PAPA FRANCISCO AO CHILE E PERU
(15-22 DE JANEIRO DE 2018)

HORA MÉDIA COM AS RELIGIOSAS CONTEMPLATIVAS

HOMILIA DO SANTO PADRE

Lima - Santuário do Senhor dos Milagres
Domingo, 21 de janeiro de 2018


Queridas irmãs dos vários mosteiros de vida contemplativa!

Que bom é encontrarmo-nos aqui, neste Santuário do Senhor dos Milagres, muito visitado pelos peruanos para Lhe pedir a sua graça e mostrar-nos a sua proximidade e a sua misericórdia! Ele é «farol que guia, que nos ilumina com o seu amor divino». Ao ver-vos aqui, assaltou-me um mau pensamento: que tenhais aproveitado para sair um pouco do convento e dar um pequeno passeio! Obrigado à Madre Soledad pelas suas palavras de boas-vindas, e a todas vós que, «no silêncio do claustro, caminhais sempre ao meu lado». E, porque mo pede o coração, deixai-me enviar daqui uma saudação aos meus quatro Carmelos de Buenos Aires. Quero colocá-los também a eles diante do Senhor dos Milagres, porque me acompanharam no meu ministério naquela diocese, e desejo que estejam aqui para que o Senhor as abençoe. Não sentis ciúmes, pois não? [respondem: Não!]

Ouvimos as palavras de São Paulo, lembrando-nos que recebemos o espírito filial, que nos torna filhos de Deus (cf. Rm 8, 15-16). Nestas poucas palavras, se condensa a riqueza de cada vocação cristã: a alegria de nos sabermos filhos. Esta é a experiência que sustenta a nossa vida; esta quer ser sempre uma resposta agradecida a tão grande amor divino. Como é importante renovar, dia a dia, esta alegria! Sobretudo nos momentos em que a alegria parece ter desaparecido, a alma está enevoada ou há coisas que não se compreendem, peçamo-la novamente repetindo: «Sou filha, sou filha de Deus».

Um caminho privilegiado que tendes para renovar esta certeza é a vida de oração, oração comunitária e pessoal. A oração é o núcleo da vossa vida consagrada, da vossa vida contemplativa e é o modo de cultivar a experiência de amor que sustenta a nossa fé. E, como justamente dizia a Madre Soledad, é uma oração sempre missionária. Não é uma oração que embate no muro do convento e volta para trás, não! É uma oração que sai e parte…

A oração missionária é uma oração que consegue unir-se aos irmãos nas mais variadas circunstâncias em que se encontrem, pedindo que não lhes falte o amor e a esperança. Assim o dizia Santa Teresinha do Menino Jesus: «Compreendi que só o amor fazia atuar os membros da Igreja e que, se o amor viesse a extinguir-se, nem os apóstolos continuariam a anunciar o Evangelho nem os mártires a derramar o seu sangue; compreendi que o amor encerra em si todas as vocações, que o amor é tudo e que abrange todos os tempos e lugares, numa palavra, que o amor é eterno (…): no coração da Igreja, minha Mãe, eu serei o amor».[1]Que cada uma de vós possa dizer isto! Se alguma se sente um pouco «fraca» e se apagou nela o fogo do amor, peça-o, peça-o! Poder amar é um presente de Deus.

Ser o amor! É saber assistir o sofrimento de tantos irmãos, dizendo com o Salmista: «Na minha angústia, clamei ao Senhor. O Senhor escutou-me e pôs-me a salvo» (Sal 118/117, 5). Assim, a vossa vida na clausura consegue ter um alcance missionário e universal e «um papel fundamental na vida da Igreja. Rezai e intercedei por tantos irmãos e irmãs presos, migrantes, refugiados e perseguidos, por tantas famílias feridas, pelas pessoas sem trabalho, pelos pobres, os doentes, as vítimas das várias dependências… limitando-me a citar algumas situações que se tornam, de dia para dia, mais urgentes. Sois como aqueles amigos que trouxeram o paralítico à presença do Senhor, para que o curasse (cf. Mc 2, 1-12). [Não tinham vergonha; eram “desavergonhados”, mas no bom sentido. Não tiveram vergonha de abrir um buraco no teto e fazer descer o paralítico. Sede “desavergonhadas”, não vos envergonheis de fazer, através da oração, com que a miséria dos homens se aproxime do poder de Deus. Esta é a vossa oração]. Através da oração, dia e noite, aproximais do Senhor a vida de tantos irmãos e irmãs que, por variadas situações, não O podem alcançar para experimentar a sua misericórdia sanadora, enquanto Ele os espera para lhes conceder a graça. Com a vossa oração, podeis curar as chagas de tantos irmãos».[2]

Por isso mesmo podemos afirmar que a vida de clausura não algema nem restringe o coração; antes, alarga-o. Ai da religiosa que tem o coração restringido! Por favor, procurai um remédio. Não se pode ser uma religiosa contemplativa com o coração restringido. Que volte a respirar, que volte a ser um coração grande! Além disso, as religiosas com este coração restringido são religiosas que perderam a fecundidade e não são mães; lamentam-se de tudo, vivem amarguradas, sempre à procura de qualquer bagatela para se lamentar. A Santa Madre [Teresa de Jesus] dizia: «Ai da monja que diz: “Fizeram-me uma injustiça sem motivo!”». No convento, não há lugar para as «colecionadoras de injustiças»; mas apenas para aquelas que abrem o coração e sabem carregar a cruz, a cruz fecunda, a cruz do amor, a cruz que dá vida.

No Peru, Papa presta homenagem à ‘Virgem de la Puerta’


VIAGEM APOSTÓLICA DO PAPA FRANCISCO AO CHILE E PERU
(15-22 DE JANEIRO DE 2018)

CELEBRAÇÃO MARIANA - VIRGEM DA PORTA

HOMILIA DO SANTO PADRE

Trujillo - Praça das Armas
Sábado, 20 de janeiro de 2018

Queridos irmãos e irmãs!

Agradeço a D. Héctor Miguel as suas palavras de boas-vindas, em nome de todo o Povo de Deus que peregrina nestas terras.

Nesta linda e histórica praça de Trujillo, que soube suscitar sonhos de liberdade em todos os peruanos, congregamo-nos hoje para encontrar-nos com a «Mamita de Otuzco [Mãezinha de Otuzco]». Tenho conhecimento dos muitos quilómetros que tantos de vós fizestes para estar aqui hoje, reunidos sob o olhar da Mãe. Assim, esta praça transforma-se num santuário a céu aberto no qual todos queremos deixar-nos olhar pela Mãe, pelo seu olhar materno e amável. Mãe que conhece o coração dos peruanos do norte e de tantos outros lugares; viu as suas lágrimas, os seus sorrisos, as suas aspirações. Nesta praça, queremos fazer tesouro da memória dum povo que sabe que Maria é Mãe e não abandona os seus filhos.

A casa veste-se de festa duma maneira especial. Acompanham-nos as imagens vindas dos diferentes cantos desta região. Juntamente com a querida Imaculada Virgem da Porta de Otuzco, saúdo e dou as boas-vindas à Santíssima Cruz de Chalpón de Chiclayo, ao Senhor Prisioneiro de Ayabaca, à Virgem das Mercês de Paita, ao Deus Menino do Milagre de Eten, à Virgem das Dores de Cajamarca, à Virgem da Assunção de Cutervo, à Imaculada Conceição de Chota, a Nossa Senhora de Alta Graça de Huamachuco, a São Toríbio de Mogrovejo de Tayabamba (Huamachuco), à Virgem Assunta de Chachapoyas, à Virgem da Assunção de Usquil, à Virgem do Socorro de Huanchoco, e às Relíquias dos Mártires Conventuais de Chimbote.

Cada comunidade, cada cantinho desta terra, vem acompanhado pelo rosto dum Santo, pelo amor a Jesus Cristo e à sua Mãe. E pensar que, onde há uma comunidade, onde há vida e corações palpitando ansiosos por encontrar motivos de esperança, motivos para o canto, para a dança, para uma vida digna..., lá está o Senhor, lá encontramos sua Mãe e também o exemplo de muitos Santos que nos ajudam a permanecer alegres na esperança.

Convosco dou graças pela delicadeza do nosso Deus. Ele procura aproximar-Se de cada um segundo a modalidade em que O pode acolher e, assim, nascem as mais diferentes invocações. Expressam o desejo que tem o nosso Deus de estar perto de cada coração, porque a linguagem do amor de Deus sempre se pronuncia «em dialeto», não conhece outra forma de o fazer. Além disso é motivo de esperança ver como a Mãe assume os traços dos filhos, as vestes, o dialeto dos seus, para os tornar participantes da sua bênção. Maria será sempre uma Mãe mestiça, porque no seu coração encontram lugar todas as raças, porque o amor procura todos os meios para amar e ser amado. Todas estas imagens recordam-nos a ternura com que Deus quer estar perto de cada aldeia, de cada família, de ti, de mim, de todos.

Sei do amor que tendes à Imaculada Virgem da Porta de Otuzco, que hoje, juntamente convosco, desejo proclamar Virgem da Porta, «Mãe da Misericórdia e da Esperança».

Virgem querida, que, nos séculos passados, demonstrou o seu amor pelos filhos desta terra, quando, colocada por cima duma porta, os defendeu e protegeu das ameaças que os afligiam, suscitando o amor de todos os peruanos até aos nossos dias.

No Peru, Papa se encontra com religiosos e sacerdotes


VIAGEM APOSTÓLICA DO PAPA FRANCISCO AO CHILE E PERU
(15-22 DE JANEIRO DE 2018)

ENCONTRO COM SACERDOTES E CONSAGRADOS

DISCURSO DO SANTO PADRE

Trujillo - Colégio Seminário dos SS. Carlos e Marcelo
Sábado, 20 de janeiro de 2018

Queridos irmãos e irmãs,
Boa tarde!

[grande aplauso] Visto os aplausos aparecerem habitualmente no fim, isto significa que já acabou, podendo ir-me embora… [gritam: Não!] Agradeço as palavras que D. José Antonio Eguren Anselmi, Arcebispo de Piura, me dirigiu em nome de todos os presentes.

Encontrar-me convosco, conhecer-vos, escutar-vos e manifestar o amor ao Senhor e à missão que nos deu, é importante. Sei que fizestes um grande esforço para estar aqui. Obrigado!

Acolhe-nos este Colégio-Seminário, um dos primeiros a ser fundados na América Latina para a formação de tantas gerações de evangelizadores. Estar aqui convosco é sentir que nos encontramos num desses «berços» que geraram tantos missionários. E não esqueço que esta terra viu morrer, quando andava em missão (não sentado atrás duma escrivaninha), São Toríbio de Mogrovejo, Patrono do Episcopado Latino-Americano. E tudo isto nos leva a olhar para as nossas raízes, para o que nos sustenta no curso do tempo, nos sustenta no curso da história para crescer rumo ao Alto e dar fruto. As raízes. Sem raízes, não há flores, não há frutos. Dizia um poeta que, tudo aquilo que a árvore tem de florido, provém da parte dela que está debaixo da terra, das raízes. As nossas vocações sempre terão esta dupla dimensão: raízes na terra e coração no céu. Não esqueçais isto. Quando falta uma das duas, algo começa a correr mal e a nossa vida pouco a pouco definha (cf. Lc 13, 6-9), como definha uma árvore que não tem raízes. E digo-vos que custa muito ver um bispo, um sacerdote, uma freira «definhados». E sinto ainda mais pena, quando vejo seminaristas «definhados». Trata-se duma coisa muito séria. A Igreja é boa, a Igreja é mãe e, se virdes que não estais a conseguir, por favor falai enquanto é tempo, antes que seja tarde demais, antes de vos aperceber que já não tendes raízes e estais definhando; é que, assim, ainda há tempo para vos pordes a salvo, pois Jesus veio para isto: para salvar. E, se nos chamou, foi para salvar...

Apraz-me salientar que a nossa fé, a nossa vocação é rica de memória, a dimensão deuteronómica da vida. Rica de memória, porque sabe reconhecer que nem a vida, nem a fé, nem a Igreja começaram com o nascimento de qualquer um de nós: a memória olha para o passado a fim de encontrar a seiva que, ao longo dos séculos, irrigou o coração dos discípulos e, assim, reconhece a passagem de Deus pela vida do seu povo. Memória da promessa que Ele fez aos nossos pais e que, perdurando viva no meio de nós, é causa da nossa alegria e nos faz cantar: «O Senhor fez por nós grandes coisas; por isso exultamos de alegria» (Sal 126/125, 3).

Gostaria de partilhar convosco algumas virtudes ou, se preferirdes, algumas dimensões deste ser ricos de memória. Quando afirmo apreciar um bispo… um sacerdote… um seminarista que seja rico de memória, que quero dizer com isto? Eis o que agora quero partilhar convosco.

1. Uma dimensão é a consciência feliz de si. É preciso não ser inconsciente a respeito de si mesmo; mas dar-se conta do que sucede, ter uma consciência feliz de si.

O Evangelho, que ouvimos (cf. Jo 1, 35-42), habitualmente lemo-lo em chave vocacional, pelo que nos detemos no encontro dos discípulos com Jesus. Preferiria, porém, fixar-me em João Batista. Estava com dois dos seus discípulos e, quando viu Jesus passar, disse-lhes: «Eis o Cordeiro de Deus» (Jo 1, 36). Ao ouvirem isto, que aconteceu? Deixaram João Batista e foram com o outro (cf. 1, 37). Isto é surpreendente! Estiveram com João, sabiam que era um homem bom; antes, o maior dentre os nascidos de mulher, como Jesus o define (cf. Mt 11, 11), mas não era aquele que devia vir. Também João esperava outro maior do que ele. João sabia claramente que não era o Messias, mas simplesmente aquele que O anunciava. João era o homem rico de memória da promessa e da sua própria história. Era famoso, gozava de grande reputação, todos vinham ser batizados por ele, ouviam-no com respeito. As pessoas até pensavam que fosse o Messias, mas ele era rico de memória da história própria e não se deixou enganar pelo incenso da vaidade.

João manifesta a consciência do discípulo que sabe que não é, nem nunca será o Messias, mas apenas um chamado a indicar a passagem do Senhor pela vida do seu povo. Impressiona-me como Deus permite que isso seja levado às extremas consequências: morre simplesmente decapitado numa cela. Nós, consagrados, não estamos chamados a suplantar o Senhor, nem com as nossas obras, nem com as nossas missões, nem com as intermináveis atividades que temos de fazer. Quando digo «consagrados» englobo a todos: bispos, sacerdotes, consagrados e consagradas e seminaristas. Simplesmente nos é pedido para trabalhar com o Senhor, lado a lado, mas sem nunca esquecer que não ocupamos o seu lugar. E isto não nos faz esmorecer na tarefa evangelizadora; antes, pelo contrário, impele-nos, exige-nos que trabalhemos, lembrando que somos discípulos do único Mestre. O discípulo sabe que secunda, e sempre secundará, o Mestre. E esta é a fonte da nossa alegria, a consciência feliz de si.

Faz-nos bem saber que não somos o Messias! Liberta de nos crermos muito importantes, muito ocupados (é típico ouvir em algumas regiões: «Não, a essa paróquia não vás, porque o padre está sempre muito ocupado»). João Batista sabia que a sua missão era indicar a estrada, iniciar processos, abrir espaços, anunciar que o portador do Espírito de Deus era Outro. Ser ricos de memória liberta-nos da tentação dos messianismos, de me crer o Messias.

Esta tentação combate-se de muitas maneiras, incluindo com o riso. De um religioso, que eu muito prezava (um jesuíta, um jesuíta holandês, que morreu no ano passado), dizia-se que tinha um sentido de humorismo tal que era capaz de rir de tudo o que acontecia, de si mesmo e até da sombra própria. Consciência feliz. Aprender a rir-se de si mesmo dá-nos a capacidade espiritual de estar diante do Senhor com os nossos próprios limites, erros e pecados, mas também com os próprios sucessos, e com a alegria de saber que Ele está ao nosso lado. Um bom teste espiritual é interrogarmo-nos sobre a capacidade que temos de rir de nós mesmos. Dos outros, é fácil rir – não é verdade? – «esfolá-los vivos»; mas rir de nós mesmos não é fácil. O riso salva-nos do neopelagianismo «autorreferencial e prometeico de quem, no fundo, só confia nas suas próprias forças e se sente superior aos outros».[1]Ri. Ride em comunidade, mas não da comunidade nem dos outros! Tenhamos cuidado com as pessoas tão «importantes», que se esqueceram como se faz na vida para sorrir. «Sim, padre, mas não tem um remédio, algo para...?». Olha! Tenho duas «pastilhas» que ajudam muitíssimo. Uma: fala com Jesus, com Nossa Senhora na oração e pede a graça da alegria, da alegria na situação real. A segunda pastilha: podes tomá-la várias vezes por dia, se precisares, mas uma vez é suficiente: ver-te ao espelho... Olha-te ao espelho: «Aquele sou eu?! Aquela sou eu?! [e dá uma risada]». Verás que te faz rir. Isto não é narcisismo; antes, é o contrário: o espelho, neste caso, serve de cura.

Concluindo, a primeira coisa é a consciência feliz de si mesmo.

O que é a Ideologia de Gênero?


Eis que o inimigo não dá descanso mesmo! Não foi atoa que Jesus ordenou aos discípulos que estes se mantivessem vigilantes e constantes na fé e na oração. Muitos trabalham com “unhas e dentes” para mais uma vez, tentar inserir a Ideologia de Gênero na educação brasileira. Neste artigo, vamos demonstrar os interesses por detrás da inserção dessa terminologia nos Planos educacionais, bem como as consequências advindas da inclusão desta nomenclatura entre as metas.

Iniciamos com uma breve explicação sobre o que é ideologia de gênero. Este termo foi utilizado pela primeira vez na Conferência de Pequim em 1995. Segundo esta concepção, as pessoas nascem sem um sexo definido (o que é contraditório uma vez que desde a visualização em aparelhos de ultrassom é possível identificar o sexo do bebê), e portanto, o ser homem e o ser mulher são meras construções sociais que se dignam a perpetuar e desigualdade entre homens e mulheres. Segundo os ativistas dessa ideologia, é necessário que a sociedade se abra para as novas formas de família e que as crianças sejam educadas desde a mais tenra idade neste conceito.

Não se trata apenas de uma questão religiosa, mas sobretudo de fatores de ordem biológica e filosófica. É loucura acreditar que as pessoas nascem sem um sexo definido, uma vez que é possível diferenciar homens e mulheres através de aspectos físicos, hormonais e comportamentais que portanto, são atributos biológicos que não podem ser negados. Uma mulher que por exemplo, resolveu tornar-se homem poderá até mutilar-se, mudar o cabelo, tomar hormônios e alterar seu comportamento, mas nunca chegará a ser um homem de forma completa uma vez que lhe faltarão determinados atributos, por exemplo: uma lésbica não pode implantar um pênis e sentir a mesma coisa que um homem nas suas relações sexuais, também não poderá eliminar os vários hormônios típicos de uma mulher, da mesma maneira, um homem jamais conseguirá implantar certos órgãos reprodutivos internos: trompas, ovários e os hormônios femininos necessários à reprodução da vida. Este ideologia é uma verdadeira ilusão que nega totalmente os fatores básicos da ordem biológica natural. 

Perú: "Maria é Mãe e não abandona os seus filhos", disse o Papa


VIAGEM APOSTÓLICA DO PAPA FRANCISCO AO CHILE E PERU
(15-22 DE JANEIRO DE 2018)

SANTA MISSA

HOMILIA DO SANTO PADRE

Trujillo - Esplanada litorânea de Huanchaco
Sábado, 20 de janeiro de 2018

Estas terras têm sabor a Evangelho. Todo o ambiente que nos rodeia, tendo como pano de fundo este mar imenso, ajuda-nos a compreender melhor a experiência que os apóstolos viveram com Jesus e que também nós, hoje, somos chamados a viver. Gostei de saber que viestes de diferentes lugares do norte peruano para celebrar esta alegria do Evangelho.

Os discípulos de ontem, como muitos de vós hoje, ganhavam a vida com a pesca. Saíam em barcos, como alguns de vós continuam a fazer nos «cavalinhos de totora» [pequenas embarcações monoposto construídas com uma planta chamada totora]; e tanto eles como vós com o mesmo fim: ganhar o pão de cada dia. A isto se destinam muitas das nossas canseiras diárias: poder levar por diante as nossas famílias e dar-lhes aquilo que as ajudará a construir um futuro melhor.

Esta «lagoa com peixes dourados», como a quiseram chamar, tem sido fonte de vida e bênção para muitas gerações. Ao longo do tempo soube nutrir sonhos e esperanças.

Vós, como os apóstolos, conheceis a força da natureza e tendes experimentado as suas estocadas. Como eles enfrentaram a tempestade no mar, assim a vós coube enfrentar a dura estocada do «Niño costiero», cujas dolorosas consequências ainda se fazem sentir em tantas famílias, especialmente naquelas que ainda não puderam reconstruir as suas casas. Foi por isso também que quis vir e rezar aqui convosco.

Trazemos para esta Eucaristia, também aquele momento tão difícil que interpela e muitas vezes põe em dúvida a nossa fé. Queremos unir-nos a Jesus. Ele conhece o sofrimento e as provações; passou por todos os sofrimentos para nos poder acompanhar nos nossos. Na cruz, Jesus quer estar perto de cada situação dolorosa para nos dar a mão e ajudar a levantar. Porque Ele entrou na nossa história, quis compartilhar o nosso caminho e tocar as nossas feridas. Não temos um Deus alheio àquilo que sentimos e sofremos; pelo contrário, no meio da dor, dá-nos a sua mão.

Estas sacudidelas põem em discussão e em jogo o valor do nosso espírito e das nossas atitudes mais elementares. Então damo-nos conta de quanto é importante não estar sozinhos, mas unidos, cheios daquela unidade que é fruto do Espírito Santo.

Que aconteceu às virgens do Evangelho (cf. Mt 25, 1-13), que ouvimos? De repente, ouvem um grito que as acorda e põe em movimento. Algumas deram-se conta de não ter o azeite necessário para iluminar a estrada na escuridão, enquanto outras encheram as suas lâmpadas e puderam encontrar e iluminar a estrada que as levava ao esposo. No momento indicado, cada uma mostrou de que enchera a sua vida.

O mesmo acontece connosco. Em certas circunstâncias, compreendemos com que enchemos a nossa vida. Como é importante encher as nossas vidas com aquele azeite que permite acender as nossas lâmpadas nas múltiplas situações de escuridão e encontrar a estrada para avançar!

No Perú, Papa pede defesa da esperança e luta contra a corrupção


VIAGEM APOSTÓLICA DO PAPA FRANCISCO AO CHILE E PERU
(15-22 DE JANEIRO DE 2018)

ENCONTRO COM AS AUTORIDADES, 
A SOCIEDADE CIVIL E O CORPO DIPLOMÁTICO

DISCURSO DO SANTO PADRE

Lima - Pátio de Honra do Palácio do Governo
Sexta-feira, 19 de janeiro de 2018

Senhor Presidente,
Membros do Governo e do Corpo Diplomático,
Distintas Autoridades
Representantes da sociedade civil,
Senhores e senhoras todos!

Ao chegar a esta casa histórica, dou graças a Deus pela oportunidade que me concedeu de pisar, uma vez mais, solo peruano. Gostaria que as minhas palavras fossem de saudação e agradecimento para cada um dos filhos e filhas deste povo que soube conservar e enriquecer, no decurso dos tempos, a sua sabedoria ancestral que é, sem dúvida alguma, um dos seus principais patrimónios.

Obrigado, Senhor Presidente Pedro Pablo Kuczynski, pelo convite a visitar o país e pelas palavras de boas-vindas que me dirigiu em nome de todo o seu povo.

Venho ao Perú, sob o lema «unidos pela esperança». Deixai que vos diga que olhar esta terra é, de por si, um motivo de esperança.

Parte do vosso território é formado pela Amazônia, que visitei esta manhã e que, na sua totalidade, constitui a maior floresta tropical e o sistema fluvial mais extenso do planeta. Este «pulmão», como houveram por bem chamá-la, é uma das áreas de grande biodiversidade no mundo, porque abriga as espécies mais variadas.

Possuís uma pluralidade cultural muito rica e cada vez mais interativa, que constitui a alma deste povo. Alma marcada por valores ancestrais como são a hospitalidade, a estima do outro, o respeito e a gratidão pela mãe-terra e a criatividade para novos projetos, bem como a responsabilidade comunitária pelo progresso de todos que se faz solidariedade, tantas vezes demonstrada nas várias catástrofes experimentadas.

Neste contexto, gostaria de salientar os jovens, que são o presente mais vital que esta sociedade possui. Com o seu dinamismo e entusiasmo, prometem e convidam a sonhar um futuro de esperança que nasce do encontro entre o cúmulo da sabedoria ancestral e os novos olhos com que nos presenteia a juventude.

Congratulo-me também com um fato histórico: saber que a esperança nesta terra tem um rosto de santidade. O Perú gerou Santos que abriram caminhos de fé para todo o continente americano; Santos como – para nomear apenas um – Martinho de Porres, filho de duas culturas, mostrou a força e a riqueza que nascem nas pessoas quando colocam o amor no centro da sua vida. E poderia continuar longamente esta lista material e ideal de razões de esperança. O Perú é terra de esperança, que convida e desafia para a unidade de todo o seu povo. Este povo tem a responsabilidade de permanecer unido, para, entre outras coisas, defender precisamente todos estes motivos de esperança.

Sobre esta esperança, estende-se uma sombra, levanta-se uma ameaça. «Nunca a humanidade – escrevi na carta encíclica Laudato si’ – teve tanto poder sobre si mesma, e nada garante que o utilizará bem, sobretudo se se considera a maneira como o está a fazer».[1] Isto manifesta-se claramente no modo como estamos a despojar a terra dos recursos naturais, sem os quais nenhuma forma de vida é possível. A perda de florestas e bosques supõe não só o desaparecimento de espécies, que poderiam inclusive significar no futuro recursos extremamente importantes, mas também a perda de relações vitais que acabam por alterar todo o ecossistema.[2]

Perú: Papa se encontra com as crianças


VIAGEM APOSTÓLICA DO PAPA FRANCISCO AO CHILE E PERU
(15-22 DE JANEIRO DE 2018)

ENCONTRO NO LAR «O PRINCIPEZINHO»

DISCURSO DO SANTO PADRE

Puerto Maldonado - Hogar Principito
Sexta-feira, 19 de janeiro de 2018

Amados irmãos e irmãs,
Queridos meninos e meninas!

Muito obrigado por esta linda receção e pelas palavras de boas-vindas. Ver-vos cantar e dançar enche-me de alegria.

Quando me referiram a existência deste Lar «O Principezinho» e da Fundação Apronia, pensei que não podia partir de Puerto Maldonado, sem vos saudar. Quisestes congregar-vos, vindos de diferentes casas, neste lindo Lar «O Principezinho». Obrigado pelos esforços que fizestes para estar aqui hoje.

Acabamos de celebrar o Natal. Enterneceu-nos o coração a imagem do Menino Jesus. Ele é o nosso tesouro, e vós meninos, sendo o seu reflexo, sois também o nosso tesouro, o tesouro de todos nós, o tesouro mais precioso de que devemos cuidar. Perdoai as vezes que nós, grandes, não o fazemos ou não vos damos a importância que vós mereceis. Quando fordes grandes, não vos esqueçais disto. O vosso olhar, a vossa vida requerem um compromisso e esforços sempre maiores para não ficarmos cegos ou indiferentes perante tantas outras crianças que sofrem e passam necessidade. Não há dúvida, vós sois o tesouro mais precioso de que devemos cuidar.

Queridos meninos do Lar «O Principezinho» e jovens dos outros centros de acolhimento! Às vezes, alguns de vós sentem-se tristes à noite, tendes saudade do pai ou da mãe que não estão convosco, e sei também que há feridas que doem muito. Dirsey, foste corajoso, ao partilhá-lo connosco. E dizias-me: «que a minha mensagem seja luz de esperança». Mas deixa-me dizer-te uma coisa: a tua vida, as tuas palavras e as de vós todos são luz de esperança. Quero agradecer-vos o vosso testemunho. Obrigado porque sois luz de esperança para todos nós.

Alegra-me ver que tendes um lar onde sois acolhidos, onde vos ajudam, com carinho e amizade, a descobrir que Deus vos segura nas suas mãos e coloca sonhos no vosso coração. É belo isto.

Como é belo o vosso testemunho de jovens que passastes por esta estrada, que ontem vos enchestes de amor nesta casa e hoje pudestes construir o vosso próprio futuro! Sois para todos nós o sinal das potencialidades imensas que cada pessoa tem. Para estes meninos e meninas, vós sois o melhor exemplo a seguir, a esperança de que também eles hão de conseguir. Todos nós precisamos de modelos para imitar; as crianças precisam de olhar em frente e encontrar modelos positivos: «quero ser – sentem e dizem – como ele, quero ser como ela». Tudo o que vós, jovens, puderdes fazer, como vir estar com eles, jogar, passar o tempo, é importante. Sede para eles, como dizia o «Principezinho», as estrelinhas que iluminam a noite.[1]