sexta-feira, 21 de dezembro de 2018

A Pena de Morte e o Papa: progresso ou rotura?


Para mim, simples leigo há muito atraído pela teologia e gostando de compreender a fé católica que professo, a primordial questão é a do alcance, naquela frase, do significado da palavra inadmissível.

No passado dia 2 (de agosto), foi publicado no site do Vaticano [1] uma nova redação do nº 2267 do Catecismo da Igreja Católica, que trata da pena de morte, assim como uma carta endereçada aos bispos com esclarecimentos a respeito do mesmo assunto, aprovada pelo Papa e subscrita pelo Cardeal Ladaria, Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé — o departamento que tem por missão tutelar, conforme a designação indica, justamente pela ortodoxia da doutrina da fé e da moral católicas. No terceiro parágrafo da nova redação conclui-se assim:

“Por isso a Igreja ensina, à luz do Evangelho, que «a pena de morte é inadmissível, porque atenta contra a inviolabilidade e dignidade da pessoa»[1], e empenha-se com determinação a favor da sua abolição em todo o mundo”.

Sendo que a nota [1] que ali aparece remete para um Discurso aos participantes no encontro promovido pelo Conselho Pontifício para a Promoção da Nova Evangelização, proferido pelo Papa a 11 de Outubro de 2017, o qual mais à frente citarei.

Esta nova redação – nova relativamente à da edição típica latina de 1997 – logo atiçou inúmeras polêmicas interpretativas, expostas sobretudo nos meios digitais internacionais. Polêmicas essas que já tinham sido ateadas na sequência do referido discurso de Outubro de 2017; e até já antecipadas pelo livro By Man Shall His Blood Be Shed: A Catholic Defense of Capital Punishment, de Edward Feser e Joseph Bessette, editado pela editora Ignatius dos Estados Unidos, em Maio de 2017.

A polêmica centra-se na questão de saber se a nova redação desejada pelo Papa Francisco, é apenas mais um progresso ou desenvolvimento da doutrina católica de sempre que admite a moralidade da pena de morte em si mesma, independentemente do facto de aquela constar ou não da legislação penal e da sua aplicação concreta; ou, ao contrário, se estamos perante uma rotura ou corrupção da doutrina. É sobre isto que aqui me debruço, sendo que me parece fundamental ainda antes recuar ao século V para ir beber a um tratado escrito por um santo monge.

Vejamos:por mais vivo e verdadeiro que se considere serem a Tradição, a Sagrada Escritura e o Magistério dos sucessores dos apóstolos (ou seja, o ensino do Papa sozinho; ou o do bispos em comunhão com ele), também é muito exato e verdadeiro o que São Vicente de Lérins – um monge que morreu algures antes do ano 450 – afirmou num seu tratado que ficou conhecido pelo nome de Commonitorium, sobre os critérios como a doutrina deve ou pode progredir (do latim profectus) ao longo do tempo, sem se corromper ou desdizer-se [2].

Neste contexto, vale a pena lembrar aos católicos – e outros interessados – que estes mesmos critérios do documento do monge de Lérins (assim como as passagens referidas no final, na nota 2), são referência de diversos documentos do mais alto Magistério da Igreja [3]. Este facto observável, constitui um indubitável reconhecimento, por parte das mesmas instâncias do Magistério da Igreja, da autoridade daquele tratado de São Vicente de Lérins.

Já mais contemporaneamente – como exemplo mais recente – permito-me transcrever aqui, apenas os seguintes três excertos em que isso se pode notar.

Do discurso de João XXIII, ao inaugurar o Concílio Vaticano II, dia 11 de Outubro de 1962, as seguintes palavras apontam claramente para a doutrina exposta por São Vicente no Commonitorium, nomeadamente para o capítulo XXIII, versículo 3 (itálico meu):

«4. A finalidade principal deste Concílio não é, portanto, a discussão de um ou outro tema da doutrina fundamental da Igreja, repetindo e proclamando o ensino dos Padres e dos Teólogos antigos e modernos, que se supõe sempre bem presente e familiar ao nosso espírito. 5. Para isto, não havia necessidade de um Concílio. Mas da renovada, serena e tranquila adesão a todo o ensino da Igreja, na sua integridade e exatidão, como ainda brilha nas Atas Conciliares desde Trento até ao Vaticano I, o espírito cristão, católico e apostólico do mundo inteiro espera um progresso na penetração doutrinal e na formação das consciências; é necessário que esta doutrina certa e imutável, que deve ser fielmente respeitada, seja aprofundada e exposta de forma a responder às exigências do nosso tempo. Uma coisa é a substância do «depositum fidei», isto é, as verdades contidas na nossa doutrina, e outra é a formulação com que são enunciadas, conservando-lhes, contudo, o mesmo sentido e o mesmo alcance.»

E daquele mesmo Concílio, leia-se esta passagem (do nº 62) da Constituição pastoral Gaudium et Spes, de 7 de Dezembro de 1965, onde a mesma alusão ao Commonitorium é óbvia (itálicos meus):

«62. Ainda que a Igreja muito tem contribuído para o progresso cultural, mostra, contudo, a experiência que, devido a causas contingentes, a harmonia da cultura com a doutrina nem sempre se realiza sem dificuldades.

Tais dificuldades não são necessariamente danosas para a vida da fé; antes, podem levar o espírito a uma compreensão mais exata e mais profunda da mesma fé. Efetivamente, as recentes investigações e descobertas das ciências, da história e da filosofia, levantam novos problemas, que implicam consequências também para a vida e exigem dos teólogos novos estudos. Além disso, os teólogos são convidados a buscar constantemente, de acordo com os métodos e exigências próprias do conhecimento teológico, a forma mais adequada de comunicar a doutrina aos homens do seu tempo; porque uma coisa é o depósito da fé ou as suas verdades, outra o modo como elas se enunciam, sempre, porém, com o mesmo sentido e significado (12) [4]. Na atividade pastoral, conheçam-se e apliquem-se suficientemente, não apenas os princípios teológicos, mas também os dados das ciências profanas, principalmente da psicologia e sociologia, para que assim os fiéis sejam conduzidos a uma vida de fé mais pura e adulta.»

Por fim: também o Santo Padre Francisco, já citou aquele tratado de São Vicente de Lérins, designadamente o capítulo XXIII, versículos 1 e 9 – ainda que, infelizmente, de forma incompleta, como se pode constatar pela comparação com os originais [5]. Foi justamente no discurso que proferiu aos participantes no encontro por ocasião do XXV aniversário do Catecismo da Igreja Católica, dia 11 de Outubro de 2017, em que aludiu à necessidade de mudar o texto do Catecismo, no que respeita à pena de morte. Disse então o Papa:

[…] «Aqui não estamos perante qualquer contradição com a doutrina do passado, porque a defesa da dignidade da vida humana desde o primeiro instante da concepção até à morte natural sempre encontrou, no ensinamento da Igreja, a sua voz coerente e autorizada. O desenvolvimento harmônico da doutrina, porém, requer que se abandone tomadas de posição em defesa de argumentos que agora se apresentem decididamente contrários à nova compreensão da verdade cristã. Aliás, como já recordava São Vicente de Lérins, «talvez alguém pergunte: Não haverá progresso algum dos conhecimentos religiosos na Igreja de Cristo? Há, sem dúvida, e muito grande. Com efeito, quem será tão malévolo para com a humanidade e tão inimigo de Deus que pretenda impedir este progresso?» (Commonitorium,  23.1: PL50, 667). Por isso é necessário reiterar que, por muito grave que possa ter sido o delito cometido, a pena de morte é inadmissível, porque atenta contra a inviolabilidade e dignidade da pessoa.» (na transcrição que aqui faço deste parágrafo o itálico e sublinhado é meu).

«”A Igreja, na sua doutrina, vida e culto, perpetua e transmite a todas as gerações tudo aquilo que ela é e tudo quanto acredita” (Conc. Ecum. Vat. II, Const. dogm. Dei Verbum, 8). No Concílio, os Padres não podiam encontrar afirmação sintética mais feliz para expressar a natureza e missão da Igreja. Não só na “doutrina”, mas também na “vida” e no “culto”, é oferecida aos crentes a capacidade de ser Povo de Deus. Com uma sequência evolutiva de verbos, a Constituição dogmática sobre a Divina Revelação exprime a dinâmica resultante do processo: «esta Tradição progride (…), cresce (…), tende continuamente para a plenitude da verdade divina, até que nela se realizem as palavras de Deus» (ibid.). (itálico conforme está na versão original portuguesa do Vaticano).

«A Tradição é uma realidade viva; e somente uma visão parcial pode conceber o “depósito da fé” como algo de estático. A Palavra de Deus não pode ser conservada em naftalina, como se se tratasse de uma velha coberta que é preciso proteger da traça! Não. A Palavra de Deus é uma realidade dinâmica, sempre viva, que progride e cresce, porque tende para uma perfeição que os homens não podem deter. Esta lei do progresso – segundo a fórmula feliz de São Vicente de Lérins: « annis consolidetur, dilatetur tempore, sublimetur aetate – fortalece-se com o decorrer dos anos, cresce com o andar dos tempos, desenvolve-se através das idades» ( Commonitorium, 23.9: PL50, 668) – pertence à condição peculiar da verdade revelada, enquanto transmitida pela Igreja, e não significa de modo algum uma mudança de doutrina.» (itálico conforme está na versão original portuguesa do Vaticano).

Como se vê – para além das duas citações do Commonitorium –– a frase sublinhada no primeiro parágrafo, é exatamente a mesma que agora o Papa entendeu usar na nova redação do nº 2267 do Catecismo.

Papa Francisco confirma compromisso da Igreja para erradicar os abusos


O Papa Francisco aproveitou o tradicional encontro de felicitações natalinas aos cardeais e superiores da Cúria Romana para confirmar o sério compromisso da Igreja para erradicar o mal dos abusos.

Na audiência realizada nesta sexta-feira, 21 de dezembro, na sala Clementina do Vaticano, o Santo Padre assegurou que, “desde há vários anos que a Igreja está seriamente empenhada em erradicar o mal dos abusos, que clama por justiça ao Senhor, a Deus que nunca esquece o sofrimento vivido por muitos menores por causa de clérigos e pessoas consagradas: abusos de poder, abusos de consciência e abusos sexuais”, indicou.

Assim, o Papa insistiu que diante destes “abomínios” está claro que a Igreja “não poupará esforços fazendo tudo o que for necessário para entregar à justiça toda a pessoa que tenha cometido tais delitos” e reforçou que “a Igreja não procurará jamais dissimular ou subestimar qualquer um destes casos”.

O Pontífice reconheceu que “é inegável que no passado alguns responsáveis, por irreflexão, incredulidade, falta de preparação, inexperiência ou por superficialidade espiritual e humana, trataram muitos casos sem a devida seriedade e prontidão. Isto nunca mais deve acontecer. Esta é a opção e a decisão de toda a Igreja”, ressaltou.

Sobre a próxima reunião no Vaticano com os presidentes das conferências episcopais do mundo, que acontecerá de 21 a 24 de fevereiro, o Santo Padre anunciou que a Igreja “reiterará a sua firme vontade de prosseguir, com toda a sua força, pelo caminho da purificação”, assim como, “valendo-se também da ajuda dos peritos, questionar-se-á como proteger as crianças; como evitar tais calamidades, como tratar e reintegrar as vítimas; como reforçar a formação nos seminários. Procurar-se-á transformar os erros cometidos em oportunidades para erradicar este flagelo não só do corpo da Igreja, mas também do seio da sociedade”.

Além disso, o Papa afirmou que, “se esta calamidade gravíssima chegou a enredar alguns ministros consagrados, perguntamo-nos quão profunda poderá ser ela nas nossas sociedades e nas nossas famílias?”. Por isso, assegurou que “a Igreja não se limitará a curar-se, mas procurará enfrentar este mal que causa a morte lenta de tantas pessoas a nível moral, psicológico e humano”.

Do mesmo modo, o Papa Francisco agradeceu “sinceramente aos operadores dos mass media que foram honestos e objetivos e que procuraram desmascarar estes lobos e dar voz às vítimas. Mesmo que se tratasse de um único caso de abuso – que de per si já constitui uma monstruosidade –, a Igreja pede que não seja silenciado, mas o tragam objetivamente à luz, porque o maior escândalo nesta matéria é o de encobrir a verdade”, insistiu.

“Por favor, ajudemos a Santa Mãe Igreja na sua tarefa difícil que é reconhecer os casos verdadeiros distinguindo-os dos falsos, as acusações das calúnias, os rancores das insinuações, os boatos das difamações”, pediu. Já aos que abusam dos menores, o Papa exortou: “Convertei-vos, entregai-vos à justiça humana e preparai-vos para a justiça divina”.

Enquanto isso, o Santo Padre sublinhou que “a Esposa de Cristo prossegue a sua peregrinação entre alegrias e aflições, entre sucessos e dificuldades, externas e internas”.

Entre as aflições, recordou os migrantes “forçados a deixar a pátria sob risco de vida – encontram a morte, ou quantos sobrevivem, mas acham as portas fechadas e os seus irmãos em humanidade apenas preocupados com ganhos políticos e com o poder”, assinalou.

O Papa também lembrou as crianças que morrem todos os dias por falta de água, alimentos e remédios, os que sofrem violência, as guerras e as pessoas que “são sistematicamente torturadas ainda hoje, em várias partes do mundo, nos comissariados da polícia, nas prisões e nos campos de refugiados”.

Também recordou os cristãos perseguidos e disse que, na verdade, é “uma nova era de mártires”.

“Quantos cristãos vivem ainda hoje, em tantas partes do mundo, sob o peso da perseguição, marginalização, discriminação e injustiça! Mas continuam corajosamente a abraçar a morte, para não renegar a Cristo. Ainda hoje, como é difícil viver livremente a fé em muitas partes do mundo, onde faltam a liberdade religiosa e a liberdade de consciência”, exclamou.

Nesse sentido, o Pontífice recordou “o exemplo heroico dos mártires e de inúmeros bons samaritanos, ou seja, de jovens, famílias, movimentos sciocaritativos e de voluntariado e tantos fiéis e consagrados”.

Mensagem do Papa para o Dia Mundial da Paz 2019: "A boa política está ao serviço da paz".


MENSAGEM DO SANTO PADRE
FRANCISCO
PARA A CELEBRAÇÃO DO
52º DIA MUNDIAL DA PAZ 

1° DE JANEIRO DE 2019

A BOA POLÍTICA ESTÁ AO SERVIÇO DA PAZ

1. «A paz esteja nesta casa!»

Jesus, ao enviar em missão os seus discípulos, disse-lhes: «Em qualquer casa em que entrardes, dizei primeiro: “A paz esteja nesta casa!” E, se lá houver um homem de paz, sobre ele repousará a vossa paz; se não, voltará para vós» (Lc 10, 5-6).

Oferecer a paz está no coração da missão dos discípulos de Cristo. E esta oferta é feita a todos os homens e mulheres que, no meio dos dramas e violências da história humana, esperam na paz.[1] A «casa», de que fala Jesus, é cada família, cada comunidade, cada país, cada continente, na sua singularidade e história; antes de mais nada, é cada pessoa, sem distinção nem discriminação alguma. E é também a nossa «casa comum»: o planeta onde Deus nos colocou a morar e do qual somos chamados a cuidar com solicitude.

Eis, pois, os meus votos no início do novo ano: «A paz esteja nesta casa!»

2. O desafio da boa política

A paz parece-se com a esperança de que fala o poeta Carlos Péguy;[2] é como uma flor frágil, que procura desabrochar por entre as pedras da violência. Como sabemos, a busca do poder a todo o custo leva a abusos e injustiças. A política é um meio fundamental para construir a cidadania e as obras do homem, mas, quando aqueles que a exercem não a vivem como serviço à coletividade humana, pode tornar-se instrumento de opressão, marginalização e até destruição.

«Se alguém quiser ser o primeiro – diz Jesus – há de ser o último de todos e o servo de todos» (Mc 9, 35). Como assinalava o Papa São Paulo VI, «tomar a sério a política, nos seus diversos níveis – local, regional, nacional e mundial – é afirmar o dever do homem, de todos os homens, de reconhecerem a realidade concreta e o valor da liberdade de escolha que lhes é proporcionada, para procurarem realizar juntos o bem da cidade, da nação e da humanidade».[3]

Com efeito, a função e a responsabilidade política constituem um desafio permanente para todos aqueles que recebem o mandato de servir o seu país, proteger as pessoas que habitam nele e trabalhar para criar as condições dum futuro digno e justo. Se for implementada no respeito fundamental pela vida, a liberdade e a dignidade das pessoas, a política pode tornar-se verdadeiramente uma forma eminente de caridade.

Papa reafirma que pena de morte é "inadmissível" mas que legítima defesa deve ser "necessária e medida".


O Papa Francisco recebeu em audiência, nesta segunda-feira, 17, no Vaticano, uma delegação da Comissão Internacional contra a Pena de Morte. Francisco agradeceu aos membros do organismo pelo trabalho que realizam em prol da abolição universal da morte como castigo. O Papa recordou o seu discurso proferido no Congresso dos Estados Unidos, em setembro de 2015, no qual reiterou o compromisso da Igreja com a causa da abolição da pena de morte.

“A certeza de que a vida de cada pessoa é sagrada e que a dignidade humana deve ser protegida sem exceções, levou-me desde o início de meu ministério a trabalhar em diferentes níveis pela abolição universal da pena de morte”, frisou o Pontífice. O Santo Padre recordou que compartilhou algumas ideias sobre o tema na carta à Associação Internacional de Direito Penal e à Associação Latino-Americana de Direito Penal e Criminologia, em 30 de maio de 2014.

“Nos séculos passados, quando não tínhamos os instrumentos de que dispomos hoje para a tutela da sociedade e ainda não se tinha alcançado o nível atual de desenvolvimento dos direitos humanos, o recurso à pena de morte se apresentava em algumas ocasiões como uma consequência lógica e justa. Inclusive o Estado Pontifício recorreu a essa forma desumana de castigo, ignorando a primazia da misericórdia sobre a justiça”, afirmou.

Francisco lembrou a nova redação do Catecismo da Igreja Católica: “Ele [Catecismo da Igreja Católica] assume a nossa responsabilidade sobre o passado e reconhece que a aceitação dessa forma de punição foi consequência de uma mentalidade da época, mais legalista que cristã, que sacralizou o valor das leis carentes de humanidade e misericórdia. A Igreja não podia permanecer numa posição neutra diante das exigências atuais de reafirmação da dignidade da pessoa. A reforma do texto do Catecismo no ponto relativo à pena de morte não conota nenhuma contradição com o ensinamento do passado, porque a Igreja sempre defendeu a dignidade da vida humana”, sublinhou.

O Pontífice continuou: “Contudo, o desenvolvimento harmonioso da doutrina impõe a necessidade de refletir no Catecismo que, apesar da gravidade do delito cometido, a Igreja ensina, à luz do Evangelho, que a pena de morte é sempre inadmissível porque atenta contra a inviolabilidade e a dignidade da pessoa. Da mesma forma, o Magistério da Igreja entende que as penas perpétuas, que retiram a possibilidade de uma redenção moral e existencial, em favor dos condenados e da comunidade, são uma forma de pena de morte disfarçada. Deus é Pai que sempre espera o retorno do filho que, sabendo que errou, pede perdão e inicia uma nova vida. Ninguém pode ser privado de sua vida ou da esperança de sua redenção e reconciliação com a comunidade”, disse ainda.

Francisco sublinhou que como aconteceu no coração da Igreja, é necessário que um compromisso semelhante seja assumido pelas nações. “O direito soberano de todos os países de definir seu sistema jurídico não pode ser exercido em contradição com suas obrigações perante o direito internacional, nem pode representar um obstáculo ao reconhecimento universal da dignidade humana. As resoluções da Organização das Nações Unidas sobre a moratória do uso da pena de morte, que visam suspender a aplicação da pena de morte nos países membros, são um caminho que deve ser percorrido”, disse ele.

O Papa convidou todos os Estados que não aboliram a pena de morte a não aplicá-la. Aos Estados que continuam aplicando a pena de morte, pediu-lhes para que adotem uma moratória tendo em vista a abolição dessa forma cruel de punição. “Entendo que para alcançar a abolição, que é o objetivo dessa causa, em certos contextos pode ser necessário passar por processos políticos complexos. A suspensão de execuções e a redução de delitos puníveis com a pena de morte, bem como a proibição dessa forma de castigo para menores, mulheres grávidas ou pessoas com deficiências mentais ou intelectuais, são objetivos mínimos aos quais os líderes de todo o mundo devem se comprometer”, frisou.

Como fez em ocasiões anteriores, o Papa chamou a atenção para as execuções extrajudiciais, sumárias ou arbitrárias, que são um fenômeno recorrente em países com ou sem pena de morte. “São homicídios deliberados cometidos por agentes do Estado, que muitas vezes passam como resultado de confrontos com supostos criminosos ou são apresentados como consequências não intencionais do uso razoável, necessário e proporcional da força para proteger os cidadãos”.

terça-feira, 18 de dezembro de 2018

Depois de acordo com China, dois bispos clandestinos renunciam a pedido do Vaticano


Dois bispos clandestinos na China concordaram em retirar-se em favor dos bispos da Associação Patriótica Católica Chinesa, depois do acordo provisório assinado entre a Santa Sé e o governo chinês.

AsiaNews informou em 13 de dezembro que o Bispo de Mindong, Dom Vincent Guo Xijin, aceitou se tornar Bispo Auxiliar e que a diocese será assumida por Dom Vincent Zhan Silu.

O acordo foi realizado em uma reunião no Diaoyutai State Guesthouse em Beijing, no qual esteve presente o Arcebispo Claudio Maria Celli, Presidente Emérito do Pontifício Conselho para as Comunicações Sociais.

Na mesma reunião, Dom Celli anunciou que o Bispo Peter Zhuang Jianjian, de Shantou, será substituído por Dom Joseph Huang Bingzhang.

Os bispos Zhan e Huang foram excomungados, mas se reconciliaram com a Santa Sé como parte do acordo anunciado em 22 de setembro entre a Santa Sé e a República Popular da China.

Vaticano pede uma resposta completa e comunitária frente a abusos contra menores


O Vaticano pede “uma resposta completa e comunitária” frente ao escândalo dos abusos a menores, porque, enquanto esta não se der, “não só não conseguiremos curar as vítimas/sobreviventes dos abusos, mas a credibilidade da Igreja para levar adiante a missão de Cristo estará em perigo em todo o mundo”.

A Comissão Organizadora do Encontro de Presidentes das Conferências Episcopais para “A proteção de menores na Igreja” enviou uma carta aos participantes da reunião que acontecerá de 21 a 24 de fevereiro de 2019. No texto, a Santa Sé sublinha que “o primeiro passo deve ser o de reconhecer a verdade do que aconteceu”.

“Por esta razão, exortamos todos os presidentes das Conferências Episcopais para buscarem e encontrarem as vítimas sobreviventes aos abusos sexuais por parte do clero em seus respectivos países, antes do encontro em Roma, para realmente entender o sofrimento que suportaram", assinala.

Na missiva são recolhidas algumas frases do Papa Francisco retiradas da Carta ao Povo de Deus, de agosto de 2018, publicada “em resposta à crise de abusos a qual a Igreja enfrenta”. Em seu texto, o Pontífice advertiu que “os abusados pelos clérigos também sofrem danos quando ‘negligenciamos e abandonamos os pequenos’”.

“E assim, ‘se no passado a omissão pôde tornar-se uma forma de resposta, hoje queremos que seja a solidariedade, entendida no seu sentido mais profundo e desafiador, a tornar-se o nosso modo de fazer a história do presente e do futuro’”.

Arquidiocese convoca à solidariedade após incêndio atingir 600 casas em Manaus


Um incêndio de grandes proporções afetou cerca de 600 casas no bairro Educandos, em Manaus (AM), na noite de segunda-feira, 17 de dezembro, e após o ocorrido, a Arquidiocese local convocou os fiéis e paróquias a se unirem em solidariedade aos atingidos.

O incêndio teve início por volta das 21h na região que possui muitas casas de madeira. Segundo o Corpo de Bombeiros, teria sido causado pela explosão de uma panela de pressão em uma das casas e, devido ao vento forte, as chamas logo se alastraram.

De acordo com a corporação, foram mobilizados 100 bombeiros e 14 caminhões, e mais de 100 mil litros de água foram usados para combater o incêndio.

Não há registros de mortes, mas quatro pessoas ficaram feridas e foram encaminhadas a hospitais da região.

quarta-feira, 12 de dezembro de 2018

Atirador de Campinas é filho de filiado do PT e odiava a Igreja Católica


Na última terça-feira (11), dentro da Catedral Metropolitana de Campinas, Euler Fernando Grandolpho, 49 anos, matou cinco pessoas e feriu outras duas com tiros antes de se suicidar. O assassino foi descrito como tendo um perfil estranho.

Euler, que não trabalhava desde 2014, morava com seu pai em um condomínio de classe média, em Valinhos, cidade próxima a Campinas, no interior de São Paulo. Sua mãe morreu há alguns anos atrás.

O assassino era filho de um filiado histórico do Partido dos Trabalhadores (PT). Segundo informações do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o pai de Euler, Eder Salatti Grandolpho, é filiado ao PT desde o dia 10 de junho de 1995, ou seja, há 23 anos.

  
De acordo com Rita, ex-namorada do assassino, Euler era um jovem normal e correto, o único ponto fora da curva era o seu ódio profundo pela Igreja Católica, pois o pai, cristão fervoroso, passava muito tempo fora de casa, fazendo trabalho voluntário na Igreja. “Ele dizia que o pai ficava sempre enfiado dentro da igreja ‘ajudando pobre’, (mas) que ‘dentro de casa não varre um chão’”.


Apesar de demonstrar ódio pela religião, a ex-namorada disse que nunca imaginou que Euler “fosse atingir essa dimensão, não sei o que aconteceu nesse meio tempo”. A última vez que ela o viu foi em 2004.