sexta-feira, 1 de fevereiro de 2019

Próxima JMJ será em Portugal!


A próxima Jornada Mundial da Juventude (JMJ) já tem confirmada a sua próxima sede, conforme foi anunciado pelo presidente do Dicastério para os Leigos, a Família e a Vida, Cardeal Kevin Farrell, neste domingo, 27 de janeiro. Será em Lisboa, Portugal, em 2022.

“A próxima Jornada Mundial da Juventude será em Portugal”, assim o Cardeal Farrel fez o anúncio mais aguardado dos últimos dias, ao final da Missa de encerramento da Jornada Mundial da Juventude (JMJ) Panamá 2019, no Campo São João Paulo II, o que foi acompanhado com alegria por parte dos peregrinos portugueses, que fizeram grande festa no Panamá.

Em sua saudação ao final da Santa Missa, o Papa Francisco afirmou:  Já foi anunciado o local da próxima Jornada Mundial da Juventude.  Peço-vos para não deixar resfriar o que vivestes nestes dias. Regressai às vossas paróquias e comunidades, às vossas famílias e aos vossos amigos, e transmiti esta experiência, para que outros possam vibrar com a força e o sonho que tendes em vós. Com Maria, continuai a dizer «sim» ao sonho que Deus semeou em vós”.

A próxima Jornada Mundial da Juventude (JMJ) já tem confirmada a sua próxima sede, conforme foi anunciado pelo presidente do Dicastério para os Leigos, a Família e a Vida, Cardeal Kevin Farrell, neste domingo, 27 de janeiro. Será em Lisboa, Portugal, em 2022.

"Tomara que Maduro escute o Papa e abandone o poder na Venezuela", diz Cardeal


O Arcebispo Emérito de Caracas, Cardeal Jorge Urosa, expressou a esperança de que o presidente Nicolás Maduro atenda ao apelo do Papa Francisco e abandone o poder na Venezuela, por causa da grave crise política e humanitária causada pelo regime atual.

"Tomara que Maduro, que é citado sempre pelas palavras do Papa, atenda a estes apelos e abandone o poder, porque a sua gestão foi bastante prejudicial para o povo venezuelano", disse o Cardeal Urosa em declarações ao grupo ACI.

"Os bispos venezuelanos sentimos o apoio constante do Santo Padre em nossa posição crítica diante do governo", acrescentou o Cardeal.

A bordo do avião que o levou do Panamá a Roma depois da Jornada Mundial da Juventude (JMJ), Francisco expressou que está assombrado com o "derramamento de sangue" na Venezuela e pediu que governo e oposição cheguem a uma solução justa e pacífica para a crise.

"O que mais me assombra? O derramamento de sangue. E aí também peço grandeza para ajudar aos que podem ajudar a resolver o problema", afirmou o Santo Padre.

As declarações do Papa foram feitas depois que foram registrados 40 mortos nos recentes protestos contra a repressão do governo de Nicolás Maduro.

Além disso, no domingo, 27 de janeiro, após rezar o Ângelus no Lar O Bom Samaritano, no Panamá, o Papa também expressou preocupação com o povo venezuelano e pediu "ao Senhor que se busque e se obtenha uma solução justa e pacífica para superar a crise, respeitando os direitos humanos e desejando exclusivamente o bem de todos os habitantes do país. Convido-vos a rezar pondo a Venezuela sob o amparo de Nossa Senhora de Coromoto, Padroeira da Venezuela".

Sobre isso, o Cardeal Urosa indicou ao Grupo ACI que "as numerosas mensagens do Santo Padre Francisco sobre o conflito sócio-político na Venezuela, e a mensagem no Panamá, vão na linha de promover uma solução pacífica e promover a defesa dos direitos humanos e evitar o sofrimento do povo".

"E nós agradecemos essa preocupação constante do Papa Francisco. Eu acho que é uma mensagem muito boa", acrescentou o Arcebispo Emérito.

Jovem diz ter achado Eucaristia no chão após encerramento da JMJ


Marvin Sy é um jovem peregrino das Filipinas que participou da Jornada Mundial da Juventude realizada neste mês no Panamá. Em seu perfil no Facebook, ele relatou que, após a Santa Missa de encerramento da jornada, celebrada em campo aberto, encontrou no chão uma hóstia que, muito provavelmente, estava consagrada. Nesse caso, tratava-se da Santíssima Eucaristia e não mais de uma simples hóstia.

O jovem manifesta preocupação com o descuido e pede dos ministros extraordinários da Comunhão mais atenção para que se garanta ao Corpo de Cristo a adoração que lhe é devida.

Venezuela: Grupo armado, pró-Maduro, invade Missa com crianças de Primeira Comunhão

 
O Conselho dos Leigos da Igreja de Nossa Senhora de Guadalupe, em Maracaibo (Venezuela), informou que, no domingo, 27 de janeiro, grupos armados ligados ao governo de Nicolás Maduro invadiram o templo durante a celebração de uma Missa com crianças que se preparam para receber a Primeira Comunhão e profanaram o Santíssimo.O Conselho dos Leigos da Igreja de Nossa Senhora de Guadalupe, em Maracaibo (Venezuela), informou que, no domingo, 27 de janeiro, grupos armados ligados ao governo de Nicolás Maduro invadiram o templo durante a celebração de uma Missa com crianças que se preparam para receber a Primeira Comunhão e profanaram o Santíssimo.

De acordo com ACI Digital, o jornalista Lenin Danieri divulgou em seu Twitter que tudo começou no momento em que uma reunião aberta estava sendo realizada na quadra atrás da igreja, "quando grupos de funcionários da prefeitura (assim foram identificados) ameaçaram e atiraram contra os presentes. Eles entraram no templo achando que estavam seguros".

O conselho de leigos da igreja Nossa Senhora de Guadalupe denunciou que os grupos armados ligados ao governo "entraram com paus, armas de guerra e até mesmo com granada, algo nunca visto nos 60 anos de existência da nossa paróquia".

sábado, 26 de janeiro de 2019

Reflexão do Papa Francisco na Via-sacra da JMJ 2019


VIAGEM APOSTÓLICA DO PAPA FRANCISCO
AO PANAMÁ POR OCASIÃO
DA 34ª JORNADA MUNDIAL DA JUVENTUDE
(23-28 DE JANEIRO DE 2019)

VIA-SACRA COM OS JOVENS
DISCURSO DO SANTO PADRE

Campo Santa Maria la Antigua – Faixa Costera (Panamá)
Sexta-feira, 25 de janeiro de 2019

Queridos jovens
de todo o mundo!

Caminhar com Jesus será sempre uma graça e um risco.

Uma graça, porque nos compromete a viver na fé e a conhecê-Lo, penetrando nas profundezas do seu coração, compreendendo a força da sua palavra.

Um risco, porque, em Jesus, as suas palavras, os seus gestos, as suas ações contrastam com o espírito do mundo, a ambição humana, as propostas duma cultura do descarte e da falta de amor.

Há uma certeza que enche de esperança esta via-sacra: Jesus percorreu-a com amor; e viveu-a também a Virgem Gloriosa, Ela que, desde o início da Igreja, quis sustentar com a sua ternura o caminho da evangelização.

Senhor, Pai de misericórdia, nesta Faixa Costeira, juntamente com tantos jovens vindos de todo o mundo, acabamos de acompanhar o vosso Filho no caminho da cruz; caminho esse, que Ele quis percorrer por nós, para nos mostrar quanto Vós nos amais e como estais envolvido na nossa vida.

O caminho de Jesus para o Calvário é um caminho de sofrimento e solidão que continua nos nossos dias. Ele caminha e sofre em tantos rostos que padecem a indiferença satisfeita e anestesiante da nossa sociedade, sociedade que consome e que se consome, que ignora e se ignora na dor dos seus irmãos.

Também nós, vossos amigos, Senhor, nos deixamos levar pela apatia e o imobilismo. Tantas vezes nos derrotou e paralisou o conformismo. Foi difícil reconhecer-Vos no irmão sofredor: desviamos o olhar, para não ver; refugiamo-nos no barulho, para não ouvir; tapamos a boca, para não gritar.

Sempre a mesma tentação. É mais fácil e «remunerador» ser amigo nas vitórias e na glória, no sucesso e no aplauso; é mais fácil estar próximo a quem é considerado popular e vencedor.

Como é fácil cair na cultura do bullying, do assédio, da intimidação, do encarniçamento sobre quem é fraco!

Para Vós, Senhor, não é assim! Na cruz, identificastes-Vos com todo o sofrimento, com quem se sente esquecido.

Para Vós, Senhor, não é assim, porque quisestes abraçar todos aqueles que muitas vezes consideramos não dignos de um abraço, uma carícia, uma bênção; ou, pior ainda, nem nos damos conta de que precisam disso, ignoramo-los.

Para Vós, Senhor, não é assim! Na cruz, unistes-Vos à via-sacra de cada jovem, de cada situação para a transformar numa via de ressurreição.

Cerimônia de acolhida: Papa pede que jovens digam ‘sim’, como Maria

VIAGEM APOSTÓLICA DO PAPA FRANCISCO
AO PANAMÁ POR OCASIÃO
DA 34ª JORNADA MUNDIAL DA JUVENTUDE
(23-28 DE JANEIRO DE 2019)

CERIMÔNIA DE ACOLHIMENTO E ABERTURA DA JMJ

DISCURSO DO SANTO PADRE

Campo Santa Maria la Antigua – Faixa Costera (Panamá)
Quinta-feira, 24 de janeiro de 2019



Queridos jovens, boa tarde!

Que bom é encontrar-nos de novo, e fazê-lo nesta terra que nos acolhe com tantas cores e tanto calor! Reunidos no Panamá, a Jornada Mundial da Juventude é mais uma vez uma festa, uma festa de alegria e esperança para toda a Igreja e, para o mundo, um grande testemunho de fé.

Lembro-me que, em Cracóvia, alguns perguntaram-me se estaria presente no Panamá, tendo-lhes respondido: «Eu, não sei; mas Pedro estará lá certamente. Pedro estará…» Alegra-me poder-vos dizer hoje: Pedro está convosco, para celebrar e renovar a fé e a esperança. Pedro e a Igreja caminham convosco e queremos dizer-vos que não tenhais medo, que prossigais com esta energia renovadora e esta inquietação constante que nos ajuda e impele a ser mais alegres, mais disponíveis, mais «testemunhas do Evangelho». Prossegui, não para criar uma Igreja paralela, um pouco mais «jovial» e «atrevida» numa modalidade para jovens, com alguns elementos decorativos, como se isso pudesse deixar-vos contentes. Pensar assim seria faltar ao respeito devido a vós e a tudo aquilo que o Espírito, por vosso intermédio, nos tem vindo a dizer.

Ao contrário, queremos descobrir e despertar, juntamente convosco, a novidade incessante e a juventude da Igreja, abrindo-nos sempre a esta graça do Espírito Santo que tantas vezes realiza um novo Pentecostes (cf. Sínodo dedicado aos jovens, Documento final, 27/X/2018, 60). Isto só é possível, se, como há pouco vivemos no Sínodo, soubermos caminhar escutando-nos e escutar completando-nos uns aos outros, se soubermos testemunhar anunciando o Senhor no serviço aos nossos irmãos; que, naturalmente, é sempre um serviço concreto. Não se trata dum serviço em banda desenhada: é um serviço concreto. Se começarmos a caminhar, jovens, sempre jovens como na história da América... Penso naqueles de vós que começaram primeiro a caminhar nesta Jornada: vós, jovens da juventude indígena, fostes os primeiros na América e os primeiros a caminhar neste encontro. Um grande aplauso, forte! E ainda vós, jovens descendentes de africanos: também vós fizestes o vosso encontro, antecipando-vos a nós. Outro aplauso!

Bem! Sei que, para chegar aqui, não foi fácil. Conheço os esforços, os sacrifícios que fizestes para poderdes participar nesta Jornada. Muitos dias de trabalho e dedicação, encontros de reflexão e oração, cuja recompensa é o próprio caminho. O discípulo não é apenas aquele que chega a um lugar, mas quem começa com decisão, quem não tem medo de arriscar e pôr-se a caminho. Se alguém se põe a caminhar, já é um discípulo. Se ficas parado, perdeste… Começar a caminhar, estar a caminho: esta é a alegria maior do discípulo. Vós não tendes medo de arriscar e caminhar. Se hoje podemos estar em festa, é porque esta festa já começou há muito tempo em cada comunidade.

Como ouvimos há pouco na apresentação e constatamos pelas bandeiras que desfilavam, vimos de culturas e povos distintos, falamos línguas diferentes, vestimos roupas diversas. Cada um dos nossos povos viveu histórias e circunstâncias distintas. Quantas coisas podem diferenciar-nos! Mas nada disso impediu de nos encontrarmos; tantas diferenças não impediram de nos encontrarmos e estarmos juntos, de nos alegrarmos juntos, de celebrarmos juntos, de confessarmos Jesus Cristo juntos. Nenhuma diferença nos deteve. Isto é possível, porque sabemos que há Alguém que nos une, que nos faz irmãos. Vós, queridos amigos, fizestes muitos sacrifícios para vos poderdes encontrar, tornando-vos assim verdadeiros mestres e artesãos da cultura do encontro. Com isso, tornastes-vos mestres e artesãos da cultura do encontro, que não é «Olá! Como estás? Adeus, até breve». Não, a cultura do encontro é aquela que nos faz caminhar juntos com as nossas diferenças, mas com amor, todos unidos no mesmo caminho. Vós, com os vossos gestos e atitudes, com as vossas perspetivas, desejos e sobretudo a vossa sensibilidade, desmentis e refutais certos discursos que se concentram e empenham em semear divisão, aqueles discursos que procuram excluir e expulsar quantos «não sejam como nós». Como dizemos em vários países da América: «Não são um GCU [gente como um (que eu conheço), gente como nós]. Vós desmentis isto. Todos são pessoas como nós, cada qual com as próprias diferenças. Assim é, porque tendes um olfato capaz de intuir que «o amor verdadeiro não anula as diferenças legítimas, mas harmoniza-as numa unidade superior» (Bento XVI, Homilia, 25/I/2006). Repito-o: «O amor verdadeiro não anula as diferenças legítimas, mas harmoniza-as numa unidade superior». Sabeis quem disse isto? Sabeis ou não? O Papa Bento XVI, que está a acompanhar-nos. Façamos-lhe um aplauso. Mandemos-lhe daqui uma saudação! Ele está a ver-nos na televisão. Uma saudação (todos, todos com as mãos) para o Papa Bento! Entretanto sabemos que o pai da mentira, o demónio, prefere sempre o contrário: um povo dividido e litigioso. Ele é o mestre da divisão e tem medo de um povo que aprenda a trabalhar em conjunto. E isto é um critério para distinguir as pessoas: os construtores de pontes e os construtores de muros. Os construtores de muros que, semeando medo, procuram dividir e amedrontar as pessoas. Mas vós quereis ser construtores de pontes. Que quereis ser? [os jovens respondem: «Construtores de pontes!»] Aprendestes bem, gostei!

Na viagem ao Panamá, Papa se reúne com bispos da América Central

 
 VIAGEM APOSTÓLICA DO PAPA FRANCISCO
 AO PANAMÁ POR OCASIÃO
DA 34ª JORNADA MUNDIAL DA JUVENTUDE
(23-28 DE JANEIRO DE 2019)


ENCONTRO COM OS BISPOS DA AMÉRICA CENTRAL (SEDAC)

DISCURSO DO SANTO PADRE

Igreja de São Francisco de Assis (Panamá)
Quinta-feira, 24 de janeiro de 2019


Amados irmãos!

Agradeço ao Arcebispo de São Salvador, D. José Luis Escobar Alas, as palavras de boas-vindas que me dirigiu em nome de todos os presentes, entre os quais tenho a alegria de ver um amigo das nossas traquinices juvenis. Sinto-me feliz por poder encontrar-vos e partilhar, de forma mais familiar e direta, os vossos anseios, projetos e sonhos de pastores a quem o Senhor confiou o cuidado do seu povo santo. Obrigado pela receção fraterna.

Encontrar-me convosco oferece-me também a oportunidade de poder abraçar e sentir-me mais próximo dos vossos povos, poder fazer meus os seus anseios e também os seus desânimos, mas sobretudo aquela fé corajosa que sabe animar a esperança e provocar a caridade. Obrigado por me permitirdes aproximar desta fé provada, mas simples do rosto pobre do vosso povo, que sabe que «Deus está presente, não dorme; está ativo, observa e ajuda» (São Óscar Romero, Homilia, 16/XII/1979).

Este encontro recorda-nos um acontecimento eclesial de grande relevância. Os pastores desta região foram os primeiros a criar na América um organismo de comunhão e participação que deu, e continua a dar, abundantes frutos. Refiro-me ao Secretariado Episcopal da América Central, o SEDAC: um espaço de comunhão, discernimento e empenho que nutre, revitaliza e enriquece as vossas Igrejas. Pastores que souberam progredir, dando um sinal que, longe de ser um elemento apenas programático, indicou como o futuro da América Central – e de qualquer outra região no mundo – passa necessariamente pela lucidez e capacidade que se possui para ampliar a visão, unir esforços num trabalho paciente e generoso de escuta, compreensão, dedicação e empenho, e poder assim discernir os novos horizontes para onde nos está a conduzir o Espírito (cf. Francisco, Exort. ap. Evangelii gaudium, 235).[1]

Nestes setenta e cinco anos passados desde a sua fundação, o SEDAC procurou partilhar as alegrias e tristezas, as lutas e esperanças dos povos da América Central, cuja história se forjou entrelaçando-se com a história do vosso povo. Muitos homens e mulheres, sacerdotes, consagrados, consagradas e leigos ofereceram a vida até ao derramamento do próprio sangue, para manter viva a voz profética da Igreja contra a injustiça, o empobrecimento de tantas pessoas e o abuso do poder. Lembro-me, quando era jovem sacerdote, que o nome de alguns de vós era tido por suspeito, como se fosse uma palavra feia, mas a vossa constância indicou-nos a estrada. Obrigado! Recordais-nos que «quem deseja verdadeiramente dar glória a Deus com a sua vida, quem realmente se quer santificar para que a sua existência glorifique o Santo, é chamado a obstinar-se, gastar-se e cansar-se procurando viver as obras de misericórdia» (Francisco, Exort. ap. Gaudete et exsultate, 107). E fazê-lo, não como esmola, mas como vocação.

Entre tais frutos proféticos da Igreja na América Central, apraz-me destacar a figura de São Óscar Romero, que tive o privilégio de canonizar recentemente no contexto do Sínodo dos Bispos sobre os jovens. A sua vida e magistério são fonte de inspiração para as nossas Igrejas e particularmente para nós, bispos. Também o nome dele se considerava como uma palavra feia: suspeito, excomungado nas bisbilhotices privadas de muitos Bispos.

O lema que escolheu para o brasão episcopal, e campeia na lápide da sua sepultura, expressa claramente o seu princípio inspirador e a realidade da sua vida de pastor: «Sentir com a Igreja». Uma bússola que marcou a sua vida na fidelidade, mesmo nos momentos mais turbulentos.

Este é um legado que pode tornar-se testemunho ativo e vivificante para nós, chamados por nossa vez ao martírio pela entrega diária ao serviço dos nossos povos; e, sobre tal legado, gostaria de me basear nesta reflexão: «sentir com a Igreja» é a reflexão que desejo partilhar convosco, uma reflexão sobre a figura de Romero. Sei que, entre nós, há pessoas que o conheceram pessoalmente – como o cardeal Rosa Chávez… O cardeal Quarracino dizia quer era candidato ao Prémio Nobel para a fidelidade! – de modo que, se me equivocar em alguma observação, Eminência, pode-me corrigir. Não faz mal! Invocar a figura de Romero significa invocar a santidade e o caráter profético que vive no DNA das vossas Igrejas particulares.

sexta-feira, 25 de janeiro de 2019

Papa sobre o Panamá: “Uma terra de convocação e de sonho”


VIAGEM DO PAPA FRANCISCO AO PANAMÁ – JMJ 2019
Encontro com as autoridades, com o corpo diplomático
e com os representantes da sociedade civil
Palácio Bolívar – Cidade do Panamá
Quinta-feira, 24 de janeiro de 2019

Senhor Presidente,
Distintas autoridades,
Senhoras e Senhores!

Agradeço-lhe, Senhor Presidente, as suas palavras de boas-vindas e o amável convite para visitar esta nação. Na sua pessoa, desejo saudar e agradecer a todo o povo panamense que, de Darién até Chiriqui e Bocas del Toro, fez um esforço incalculável para acolher tantos jovens vindos dos quatro cantos do mundo. Obrigado por nos terdes aberto as portas de casa.

Começo a minha peregrinação neste local histórico, para onde Simón Bolívar – afirmava que, «se o mundo tivesse de escolher a sua capital, para este augusto destino seria assinalado o istmo do Panamá» – convocou os líderes do seu tempo a fim de forjar o sonho da unificação da Pátria Grande. Uma convocação que nos ajuda a compreender que os nossos povos são capazes de criar, forjar e sobretudo sonhar uma pátria grande que saiba e possa acolher, respeitar e abraçar a riqueza multicultural de cada povo e cultura. Na esteira desta inspiração, podemos contemplar o Panamá como uma terra de convocação e de sonho.

1. Terra de convocação

Assim o manifestou o Congresso Anfictiónico e o mesmo manifesta também hoje a chegada de milhares de jovens que trazem consigo o desejo e a vontade de se encontrar e celebrar.

O vosso país, pela sua localização privilegiada, constitui um ponto estratégico não só para a região, mas também para o mundo inteiro. Ponte entre os oceanos e terra natural de encontros, o Panamá (o país mais estreito de todo o continente americano) é símbolo da sustentabilidade que nasce da capacidade de criar vínculos e alianças. Esta capacidade configura o coração do povo panamense.

Cada um de vós ocupa um lugar especial na construção da nação e é chamado a assegurar que a mesma possa cumprir a sua vocação de terra de convocação e de encontros; isto requer decisão, empenho e trabalho diário para que todos os habitantes deste território tenham a oportunidade de se sentir atores do destino próprio, das suas famílias e de toda a nação. É impossível conceber o futuro duma sociedade sem a participação ativa – e não apenas nominal – de cada um dos seus membros, para que a dignidade seja reconhecida e garantida através do acesso a uma instrução de qualidade e à promoção dum trabalho digno. Estas duas realidades juntas são capazes de ajudar a reconhecer e valorizar a genialidade e o dinamismo criativo deste povo, e ao mesmo tempo são o melhor antídoto contra qualquer tipo de tutela que pretenda limitar a liberdade e subjugue ou transcure a dignidade dos cidadãos, especialmente dos mais pobres.

A genialidade desta terra é configurada pela riqueza dos seus povos nativos: Bribri, Buglé, Emberá, Kuna, Nasoteribe, Ngäbe e Waunana, que muito nos têm a dizer e lembrar a partir da sua cultura e visão de mundo: para eles, a minha saudação e o meu reconhecimento. Ser terra de convocação requer celebrar, reconhecer e escutar o que é específico de cada um destes povos e de todos os homens e mulheres que compõem a fisionomia panamense e saber tecer um futuro aberto à esperança, porque só se é capaz de defender o bem comum acima dos interesses de poucos ou ao serviço de poucos, quando existe a firme decisão de partilhar com justiça os próprios bens.

Com a sua alegria e entusiasmo, com a sua liberdade, sensibilidade e capacidade crítica, as novas gerações exigem dos adultos, especialmente de todos aqueles que detêm um papel de liderança na vida pública, que tenham uma conduta conforme à dignidade e autoridade de que estão revestidos e que lhes foi confiada. É um convite a viver com austeridade e transparência, na responsabilidade concreta pelos outros e pelo mundo; uma conduta que demonstre que o serviço público é sinónimo de honestidade e justiça contrapondo-se a qualquer forma de corrupção. Os jovens exigem um empenhamento, em que todos – a começar por quantos se dizem cristãos – tenham a ousadia de construir «uma vida política verdadeiramente humana» (Conc. Ecum. Vat. II, Const. past. Gaudium et spes, 73), que coloque a pessoa no centro como coração de tudo; e isto impele a criar uma cultura de maior transparência entre os governos, o setor privado e toda a população, como recita esta bela oração que fazeis pela pátria: «Dai-nos o pão de cada dia: que o possamos comer na nossa casa e com a saúde digna de seres humanos».