sábado, 26 de janeiro de 2019

Cerimônia de acolhida: Papa pede que jovens digam ‘sim’, como Maria

VIAGEM APOSTÓLICA DO PAPA FRANCISCO
AO PANAMÁ POR OCASIÃO
DA 34ª JORNADA MUNDIAL DA JUVENTUDE
(23-28 DE JANEIRO DE 2019)

CERIMÔNIA DE ACOLHIMENTO E ABERTURA DA JMJ

DISCURSO DO SANTO PADRE

Campo Santa Maria la Antigua – Faixa Costera (Panamá)
Quinta-feira, 24 de janeiro de 2019



Queridos jovens, boa tarde!

Que bom é encontrar-nos de novo, e fazê-lo nesta terra que nos acolhe com tantas cores e tanto calor! Reunidos no Panamá, a Jornada Mundial da Juventude é mais uma vez uma festa, uma festa de alegria e esperança para toda a Igreja e, para o mundo, um grande testemunho de fé.

Lembro-me que, em Cracóvia, alguns perguntaram-me se estaria presente no Panamá, tendo-lhes respondido: «Eu, não sei; mas Pedro estará lá certamente. Pedro estará…» Alegra-me poder-vos dizer hoje: Pedro está convosco, para celebrar e renovar a fé e a esperança. Pedro e a Igreja caminham convosco e queremos dizer-vos que não tenhais medo, que prossigais com esta energia renovadora e esta inquietação constante que nos ajuda e impele a ser mais alegres, mais disponíveis, mais «testemunhas do Evangelho». Prossegui, não para criar uma Igreja paralela, um pouco mais «jovial» e «atrevida» numa modalidade para jovens, com alguns elementos decorativos, como se isso pudesse deixar-vos contentes. Pensar assim seria faltar ao respeito devido a vós e a tudo aquilo que o Espírito, por vosso intermédio, nos tem vindo a dizer.

Ao contrário, queremos descobrir e despertar, juntamente convosco, a novidade incessante e a juventude da Igreja, abrindo-nos sempre a esta graça do Espírito Santo que tantas vezes realiza um novo Pentecostes (cf. Sínodo dedicado aos jovens, Documento final, 27/X/2018, 60). Isto só é possível, se, como há pouco vivemos no Sínodo, soubermos caminhar escutando-nos e escutar completando-nos uns aos outros, se soubermos testemunhar anunciando o Senhor no serviço aos nossos irmãos; que, naturalmente, é sempre um serviço concreto. Não se trata dum serviço em banda desenhada: é um serviço concreto. Se começarmos a caminhar, jovens, sempre jovens como na história da América... Penso naqueles de vós que começaram primeiro a caminhar nesta Jornada: vós, jovens da juventude indígena, fostes os primeiros na América e os primeiros a caminhar neste encontro. Um grande aplauso, forte! E ainda vós, jovens descendentes de africanos: também vós fizestes o vosso encontro, antecipando-vos a nós. Outro aplauso!

Bem! Sei que, para chegar aqui, não foi fácil. Conheço os esforços, os sacrifícios que fizestes para poderdes participar nesta Jornada. Muitos dias de trabalho e dedicação, encontros de reflexão e oração, cuja recompensa é o próprio caminho. O discípulo não é apenas aquele que chega a um lugar, mas quem começa com decisão, quem não tem medo de arriscar e pôr-se a caminho. Se alguém se põe a caminhar, já é um discípulo. Se ficas parado, perdeste… Começar a caminhar, estar a caminho: esta é a alegria maior do discípulo. Vós não tendes medo de arriscar e caminhar. Se hoje podemos estar em festa, é porque esta festa já começou há muito tempo em cada comunidade.

Como ouvimos há pouco na apresentação e constatamos pelas bandeiras que desfilavam, vimos de culturas e povos distintos, falamos línguas diferentes, vestimos roupas diversas. Cada um dos nossos povos viveu histórias e circunstâncias distintas. Quantas coisas podem diferenciar-nos! Mas nada disso impediu de nos encontrarmos; tantas diferenças não impediram de nos encontrarmos e estarmos juntos, de nos alegrarmos juntos, de celebrarmos juntos, de confessarmos Jesus Cristo juntos. Nenhuma diferença nos deteve. Isto é possível, porque sabemos que há Alguém que nos une, que nos faz irmãos. Vós, queridos amigos, fizestes muitos sacrifícios para vos poderdes encontrar, tornando-vos assim verdadeiros mestres e artesãos da cultura do encontro. Com isso, tornastes-vos mestres e artesãos da cultura do encontro, que não é «Olá! Como estás? Adeus, até breve». Não, a cultura do encontro é aquela que nos faz caminhar juntos com as nossas diferenças, mas com amor, todos unidos no mesmo caminho. Vós, com os vossos gestos e atitudes, com as vossas perspetivas, desejos e sobretudo a vossa sensibilidade, desmentis e refutais certos discursos que se concentram e empenham em semear divisão, aqueles discursos que procuram excluir e expulsar quantos «não sejam como nós». Como dizemos em vários países da América: «Não são um GCU [gente como um (que eu conheço), gente como nós]. Vós desmentis isto. Todos são pessoas como nós, cada qual com as próprias diferenças. Assim é, porque tendes um olfato capaz de intuir que «o amor verdadeiro não anula as diferenças legítimas, mas harmoniza-as numa unidade superior» (Bento XVI, Homilia, 25/I/2006). Repito-o: «O amor verdadeiro não anula as diferenças legítimas, mas harmoniza-as numa unidade superior». Sabeis quem disse isto? Sabeis ou não? O Papa Bento XVI, que está a acompanhar-nos. Façamos-lhe um aplauso. Mandemos-lhe daqui uma saudação! Ele está a ver-nos na televisão. Uma saudação (todos, todos com as mãos) para o Papa Bento! Entretanto sabemos que o pai da mentira, o demónio, prefere sempre o contrário: um povo dividido e litigioso. Ele é o mestre da divisão e tem medo de um povo que aprenda a trabalhar em conjunto. E isto é um critério para distinguir as pessoas: os construtores de pontes e os construtores de muros. Os construtores de muros que, semeando medo, procuram dividir e amedrontar as pessoas. Mas vós quereis ser construtores de pontes. Que quereis ser? [os jovens respondem: «Construtores de pontes!»] Aprendestes bem, gostei!
Vós ensinais-nos que encontrar-se não significa mimetizar-se, pensar todos a mesma coisa, viver todos de forma igual fazendo e repetindo as mesmas coisas. Isto, fazem-no os papagaios. Encontrar-se significa saber fazer outra coisa: entrar na cultura do encontro é apelo e convite a termos a coragem de manter vivo e em conjunto um sonho comum. Entre nós, há tantas diferenças, falamos línguas diferentes. Todos nos vestimos de forma diferente, mas, por favor, procuremos ter um sonho em comum. Isto, podemos fazê-lo. E isto não nos aniquila, mas enriquece. Um sonho grande, um sonho capaz de envolver a todos. O sonho, pelo qual Jesus deu a vida na cruz e o Espírito Santo, no dia de Pentecostes, foi derramado e gravado a fogo no coração de cada homem e mulher, no coração de cada um, no deste, no daquele, no daqueloutro…, no meu, também no teu gravou-o com a esperança de aí encontrar espaço para crescer e desenvolver-Se. Um sonho, um sonho chamado Jesus, semeado pelo Pai: Deus como Ele, como o Pai, enviado pelo Pai com a confiança que crescerá e viverá em todo o coração. Um sonho concreto, que é uma Pessoa, que corre nas nossas veias, faz exultar e dançar de alegria o coração sempre que escutamos o mandamento que Jesus nos deu: «Que vos ameis uns aos outros; que vos ameis uns aos outros assim como Eu vos amei. Por isto é que todos conhecerão que sois meus discípulos». Como se chama o nosso sonho? [os jovens respondem: «Jesus!»] Não ouço… [repetem: «Jesus!»] Não ouço… Mais forte! [repetem mais forte: «Jesus!»].

Um santo destas terras – ouvi isto – um santo destas terras gostava de dizer: «O cristianismo não é um conjunto de verdades para se acreditar, nem de leis para se observar nem de proibições. O cristianismo, visto assim, seria muito repugnante. O cristianismo é uma Pessoa que me amou tanto, que deseja e pede o meu amor. O cristianismo é Cristo» (Santo Óscar Romero, Homilia, 6/XI/1977) Podemos repetir todos juntos? [juntamente com os jovens] O cristianismo é Cristo. Outra vez: O cristianismo é Cristo. Mais uma vez: É Cristo! É continuar o sonho pelo qual Ele deu a vida: amar com o mesmo amor com que Ele nos amou. Não nos amou a meias, não nos amou um pouco… Amou-nos totalmente, cumulou-nos de ternura, de amor; deu a sua vida.

Perguntemo-nos: O que é que nos mantém unidos? Por que é que estamos unidos? Que nos impele a encontrar-nos? Sabeis o que nos mantem unidos? É a certeza de saber que fomos amados com um amor cativante que não queremos nem podemos calar; um amor que nos desafia a responder da mesma maneira: com amor. O que nos impele é o amor de Cristo (cf. 2 Cor 5, 14).

Olhai! Um amor que une é um amor que não se impõe nem esmaga, um amor que não marginaliza nem obriga a estar calado nem silencia, um amor que não humilha nem subjuga. É o amor do Senhor: amor diário, discreto e respeitador, amor feito de liberdade e para a liberdade, amor que cura e eleva. É o amor do Senhor, que se entende mais de levantamentos que de quedas, de reconciliação que de proibições, de dar nova oportunidade que de condenar, de futuro que de passado. É o amor silencioso da mão estendida no serviço e na doação; é o amor que não se vangloria nem se pavoneia, é o amor humilde que se dá aos outros sempre com a mão estendida. Tal é o amor que nos une hoje.

Pergunto: acreditas tu neste amor? [respondem: «Sim!»] E faço outra pergunta: acreditas que este amor vale a pena? Uma vez Jesus, respondendo a uma pessoa que O interrogara, terminou dizendo: «Se acreditas que é assim, vai e faz o mesmo». Em nome de Jesus, eu digo-vos: Ide e fazei o mesmo. Não tenhais medo de amar, não tenhais medo deste amor concreto, deste amor que tem ternura, deste amor que é serviço, deste amor que dá a vida.

E esta foi a mesma pergunta e a chamada que recebeu Maria. O anjo perguntou-Lhe se queria trazer este sonho no seu ventre, se queria fazê-lo vida, fazê-lo carne. Maria tinha a idade de muitos de vós, a idade de tantas jovens como vós. Ela respondeu: «Eis a serva do Senhor, faça-se em Mim segundo a tua palavra» (Lc 1, 38). Fechemos nossos olhos, todos nós, e pensemos em Maria. Ela não era estúpida, sabia o que sentia o seu coração, sabia o que era o amor, e respondeu: «Eis a serva do Senhor, faça-se em Mim segundo a tua palavra». Nestes breves momentos de silêncio, em que Jesus diz a cada um – a este, àquele, àqueloutro –: «Estás disposto? Queres?» Pensa em Maria e responda: «Quero servir o Senhor. Faça-se em mim segundo a tua palavra». Maria soube dizer «sim». Teve a coragem de dar vida ao sonho de Deus. E o mesmo nos é pedido a nós hoje: queres encarnar com as tuas mãos, os teus pés, o teu olhar, o teu coração o sonho de Deus? Queres que seja o amor do Pai a abrir-te novos horizontes e levar-te por sendas nunca imaginadas nem pensadas, sonhadas ou esperadas, que alegrem e façam cantar e dançar o coração?

Temos a coragem de responder ao anjo, como Maria, «eis-nos aqui, somos os servos do Senhor, faça-se em nós…»? Agora não respondais; cada qual responda no seu coração. Há perguntas a que se responde apenas em silêncio.

Queridos jovens, esta Jornada não se revelará fonte de esperança por um documento final, uma mensagem consensual ou um programa a aplicar. Não será por isso. Aquilo que dará mais esperança neste encontro serão os vossos rostos e uma oração. Isto dará esperança... o rosto com que voltardes para casa, o coração transformado com que regressardes a casa, a oração que tiverdes aprendido a dizer com esse coração transformado. O que dará mais esperança neste encontro serão os vossos rostos, a vossa oração! E cada um regressará a casa com aquela força nova que se gera sempre que nos encontramos com os outros e com o Senhor, cheios do Espírito Santo para lembrar e manter vivo aquele sonho que nos faz irmãos e que somos convidados a não deixar congelar no coração do mundo: onde quer que nos encontremos, a fazer seja o que for, sempre poderemos olhar para o alto e dizer: «Senhor, ensinai-me a amar como Vós nos amastes». Quereis repeti-lo comigo? «Senhor, ensinai-me a amar como Vós nos amastes». [juntamente com os jovens] «Senhor, ensinai-me a amar como Vós nos amastes». Mais forte! Estais roucos? «Senhor, ensinai-me a amar como Vós nos amastes».

Pois bem! Dado que queremos ser bons e educados, não podemos terminar este primeiro encontro sem agradecer. Obrigado a todos aqueles que prepararam, com grande entusiasmo, esta Jornada Mundial da Juventude, tudo isto. Um grande obrigado! Obrigado por terem tido a coragem de construir e hospedar, por terem dito «sim» ao sonho de Deus que é ver os seus filhos reunidos. Obrigado ao Arcebispo D. Ulloa e todos os seus colaboradores por terem ajudado a fazer com que hoje o Panamá não seja apenas um canal que une mares, mas também canal onde o sonho de Deus continua a encontrar pequenos canais para crescer e multiplicar-se irradiando-se por todos os cantos da terra.

Amigos – amigos e amigas –, que Jesus vos abençoe! Vo-lo desejo com todo o coração. Que Santa Maria la Antigua vos acompanhe e proteja, para podermos dizer, sem medo, como Ela: «Eis-me aqui. Faça-se em mim».

Obrigado!
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Santa Sé

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