Tragédia emocional: assim a psicoterapeuta Dra. Maria Clara Jost define a
experiência de quem sofreu um abuso.
Trata-se de uma avalanche interior que leva à
desconstrução do “eu”, um sofrimento profundo que, porém, é possível ser
superado. Dra. Maria Clara tem um escritório em Belo Horizonte (MG) e entre
seus pacientes já teve vítimas de abusos por parte de clérigos:
A experiência do abuso sexual, que pode estar
presente em todas as esferas sociais, geralmente acontece com as pessoas mais
próximas à vítima, quer dizer, aquela pessoa que elas mais confia ou mais
confiava, e é um sofrimento profundo. Um sofrimento que provoca uma
desagregação interior, que se estende para todas as áreas de vida da pessoa.
Quais são as consequências psicológicas mais
visíveis?
Eu chamo isso de tragédia emocional, porque o abuso
sexual destrói toda a configuração da pessoa sobre si mesma. É uma destruição
passível de ser reconfigurada, mas há uma alteração na maneira da pessoa pensar
sobre si mesma, então vai gerando sentimento de baixa autoestima, um sentimento
de ser alguém desprezível, inútil, às vezes a pessoa fala de si mesma como sendo
um lixo, não amável, uma pessoa ruim. Às vezes provoca sentimento de culpa, que
é muito diferente de culpa, mas a pessoa tem sentimento de que ela seria menos
merecedora de amor. Então nasce um sentimento de insegurança, que tende a se
estender por toda a vida da pessoa se não houver uma interferência neste
processo.