sexta-feira, 20 de novembro de 2020

"Querides alunes" - Militância, ideologia e ignorância

“A realidade está definida com palavras. Portanto, quem controla as palavras controla a realidade.” – Antonio Gramsci

Nos últimos meses tem feito barulho uma nova loucura moderna que militantes ideólogos estão se esforçando para fazer soar como algo natural, bom e justo: o suposto uso do gênero neutro/linguagem neutra para uma linguagem dita inclusiva e não sexista.

Segundo a perspectiva desses militantes, a língua portuguesa seria machista por usar um “gênero masculino” para generalizar a linguagem e fazer referência seja ao sexo masculino, seja ao sexo feminino. Esse uso machista seria um impedimento não apenas do reconhecimento do papel da mulher na sociedade, mas também uma exclusão às diferentes percepções de “identidade de gênero” – que, na verdade, é uma ideologia; infelizmente, o espaço de nossa discussão impede um aprofundamento sobre a ideologia de gênero.

Ainda mais recentemente, ganhou destaque a notícia de que o Colégio Franco-Brasileiro passaria a adotar uma linguagem neutra. Nas palavras da direção pedagógica, em nota divulgada, “a neutralização de gênero gramatical consiste em um conjunto de operações linguísticas voltadas tanto ao enfrentamento do machismo e do sexismo no discurso quanto à inclusão de pessoas não identificadas com o sistema binário de gênero.”


Premissas, ações, justificativas: tudo está errado na decisão do Colégio Franco-Brasileiro – decisão que, sejamos justos, não é exclusiva deles – e precisa ser devidamente exposta e combatida. Comentamos a seguir, utilizando trechos da própria nota, os motivos segundo os quais a decisão do colégio é catastrófica, antinatural, esquizofrênica e ignorante, fruto imediato de uma militância desconectada da realidade.

a) “nosso compromisso com a promoção do respeito à diversidade e da valorização das diferenças no ambiente escolar”

O único compromisso aqui existente por parte da direção da escola é com a militância ideológica e a promoção de uma agenda política. Respeito à diversidade e valorização das diferenças são apenas nomes falsos para a ideologia de gênero propriamente dita, já combatida e rejeitada em todas as instâncias políticas, jurídicas e sociais. É em nome dessa suposta valorização que ações político-ideológicas são tomadas, como a construção de banheiros em que meninos e meninas estão juntos, a criação de leis com base no sexo e a segregação e criação de fissuras na relação social entre homens e mulheres. O caso do uso do “querides alunes” por parte da escola é somente mais uma face da militância de grupos de esquerda que tenta, através da linguagem, transformar e modificar a realidade para fazê-la se encaixar em seus propósitos.

b) “A neutralização de gênero gramatical consiste em um conjunto de operações linguísticas voltadas tanto ao enfrentamento do machismo e do sexismo no discurso quanto à inclusão de pessoas não identificadas com o sistema binário de gênero.”

Falso. Em primeiro lugar, é necessário dizer que NÃO EXISTE DESINÊNCIA DE GÊNERO MASCULINO NA LÍNGUA PORTUGUESA. Existe apenas a desinência feminina, usada em oposição a palavras que fazem referência a objetos, seres e pessoas masculinos. Isso quer dizer que quando falamos “menino”, não temos esse “o” como uma desinência masculina, mas temos uma ausência de desinência, um marcador de desinência inexistente. Apenas quando falamos menina é que o “a” se configura como uma desinência de gênero feminino. Dito de outra forma, o masculino não é marcado gramaticalmente, mas apenas o feminino.

Essa confusão – que, na maioria dos casos é intencional, embora também possa ser fruto de ignorância – acontece pelo fato de a maioria das palavras masculinas serem terminadas em “o” e a maioria das palavras femininas serem terminadas em “a”. Sucede, porém, que isso não é regra absoluta, como nos casos “a modelo”, “a foto”, “a moto” e muitos outros. Fosse essa marcação de gênero gramatical uma correspondência imediata do sexo, não existiriam o motorista nem o poeta. Trata-se de uma confusão entre o gênero gramatical de uma palavra e o seu sexo (perceba que aqui não falamos em gênero) ou representação no caso dos objetos.

A explicação para esse fenômeno está no latim, língua que possuía os gêneros masculino, feminino e neutro marcados gramaticalmente. Na evolução histórica da língua, por diversas circunstâncias, o masculino e o neutro, em geral, se fundiram. É por isso que quando se fala em alunos, em uma sala composta por homens e mulheres, não se está fazendo referência apenas aos homens, mas a todos.

Imigrante invade Missa em Portugal, fala contra cristãos e manda padre calar a boca


Imigrante invade Missa em Portugal, fala contra cristãos e manda padre calar a boca. O surreal episódio aconteceu neste domingo, 15 de novembro. A celebração estava sendo transmitida ao vivo pelo Facebook da igreja da Sagrada Família, no município de Entroncamento.

Por volta das 9h30, o invasor cruzou a igreja, caminhou livremente até o presbitério, ocupou o lugar do paroquiano que cantava o salmo no ambão e começou a declarar ao microfone:

“Vocês têm de sair de África. Não queremos cristianismo em África. Queremos construir a nossa África”.

O padre celebrante tentou interpelar o intruso, mas o homem ordenou rudemente ao sacerdote:

“Cala a boca!”

O celebrante buscou então um telefone celular na sacristia e chamou a polícia. Enquanto isso, a paróquia desligou o microfone, mas o invasor continuou falando em alta voz durante mais alguns instantes. Depois saiu tranquilamente porta afora.

Quando a polícia chegou, o homem já estava na rua em frente à igreja. Veículos de comunicação de Portugal informaram que o Comando Distrital de Santarém/Esquadra do Entroncamento divulgou nota sobre o ocorrido. Segundo essa nota, o próprio invasor comunicou aos policiais que tinha interrompido a celebração da Missa, pediu “muitas desculpas” e “justificou” o fato alegando ter “ingerido bebidas alcoólicas”. O comunicado da polícia acrescenta que o homem foi “identificado e encaminhado ao seu domicílio”.

Palavra de Vida: “Felizes os que choram, porque serão consolados” (Mt 5,4)


Quem é que nunca chorou na sua vida? Quem é que nunca conheceu pessoas cujo sofrimento transparecia através das lágrimas? Então nos dias de hoje, em que os meios de comunicação nos trazem a casa imagens de todo o mundo, corremos até o risco de nos habituarmos, de endurecer o coração diante das torrentes de sofrimento que ameaçam arrastar-nos.

Jesus também chorou (1) e conheceu o pranto do seu povo, vítima de ocupação estrangeira. Eram muitos os doentes, os pobres, viúvas, órfãos, marginalizados, pecadores que vinham ter com Ele para escutar a sua Palavra redentora e serem curados, no corpo e na alma.

No evangelho de Mateus, Jesus é o Messias que cumpre as promessas que Deus fez a Israel e, por isso, anuncia:

“Felizes os que choram, porque serão consolados”

Jesus não fica indiferente perante as nossas tribulações e ocupa-se pessoalmente a curar o nosso coração da dureza do egoísmo, a preencher a nossa solidão, a dar vigor à nossa ação.

Assim diz Chiara Lubich, no seu comentário a esta Palavra do Evangelho: «[…] Jesus, com estas suas palavras, não quer levar quem está infeliz à simples resignação, prometendo uma recompensa futura. Ele pensa também no presente. De facto, o Seu Reino, mesmo se ainda não de maneira definitiva, já está aqui. Está presente em Jesus que, ressuscitando de uma morte sofrida na maior das tribulações, venceu a morte. Está presente também em nós, no nosso coração de cristãos: Deus está em nós. A Santíssima Trindade fez em nós a Sua morada. Então, a bem-aventurança anunciada por Jesus, pode verificar-se já, desde agora. […] Os sofrimentos podem permanecer, mas há um novo vigor que nos ajuda a enfrentar as provas da vida e a ajudar os outros nas suas penas, a superá-las, a vê-las como Ele as viu e aceitou: como meio de redenção» (2).

quinta-feira, 12 de novembro de 2020

Mensagem do Papa Francisco para o Dia Mundial dos Pobres 2020

 

MENSAGEM DO SANTO PADRE FRANCISCO

PARA O IV DIA MUNDIAL DOS POBRES

XXXIII DOMINGO DO TEMPO COMUM
(15 DE NOVEMBRO DE 2020)

 

«Estende a tua mão ao pobre» (Sir 7, 32)

 

«Estende a tua mão ao pobre» (Sir 7, 32): a sabedoria antiga dispôs estas palavras como um código sacro que se deve seguir na vida. Hoje ressoam com toda a densidade do seu significado para nos ajudar, também a nós, a concentrar o olhar no essencial e superar as barreiras da indiferença. A pobreza assume sempre rostos diferentes, que exigem atenção a cada condição particular: em cada uma destas, podemos encontrar o Senhor Jesus, que revelou estar presente nos seus irmãos mais frágeis (cf. Mt 25, 40).

1. Tomemos nas mãos o Ben-Sirá, um dos livros do Antigo Testamento. Nele encontramos as palavras dum mestre da sabedoria que viveu cerca de duzentos anos antes de Cristo. Andava à procura da sabedoria que torna os homens melhores e capazes de perscrutar profundamente as vicissitudes da vida. E fê-lo num período de dura prova para o povo de Israel, um tempo de dor, luto e miséria por causa da dominação de potências estrangeiras. Sendo um homem de grande fé, enraizado nas tradições dos pais, o seu primeiro pensamento foi dirigir-se a Deus para Lhe pedir o dom da sabedoria. E o Senhor não lhe deixou faltar a sua ajuda.

Desde as primeiras páginas do livro, Ben-Sirá propõe os seus conselhos sobre muitas situações concretas da vida, sendo a pobreza uma delas. Insiste que, na contrariedade, é preciso ter confiança em Deus: «Não te perturbes no tempo do infortúnio. Conserva-te unido a Ele e não te separes, para teres bom êxito no teu momento derradeiro. Aceita tudo o que te acontecer e tem paciência nas vicissitudes da tua humilhação, porque no fogo se prova o ouro, e os eleitos de Deus no cadinho da humilhação. Nas doenças e na pobreza, confia n’Ele. Confia em Deus e Ele te salvará, endireita os teus caminhos e espera n’Ele. Vós que temeis o Senhor, esperai na sua misericórdia, e não vos afasteis, para não cairdes» (2, 2-7).

2. Página a página, descobrimos um precioso compêndio de sugestões sobre o modo de agir à luz duma relação íntima com Deus, criador e amante da criação, justo e providente para com todos os seus filhos. Mas, a constante referência a Deus não impede de olhar para o homem concreto; pelo contrário, as duas realidades estão intimamente conexas.

Demonstra-o claramente o texto donde se tirou o título desta Mensagem (cf. 7, 29-36). São inseparáveis a oração a Deus e a solidariedade com os pobres e os enfermos. Para celebrar um culto agradável ao Senhor, é preciso reconhecer que toda a pessoa, mesmo a mais indigente e desprezada, traz gravada em si mesma a imagem de Deus. De tal consciência deriva o dom da bênção divina, atraída pela generosidade praticada para com os pobres. Por isso, o tempo que se deve dedicar à oração não pode tornar-se jamais um álibi para descuidar o próximo em dificuldade. É verdade o contrário: a bênção do Senhor desce sobre nós e a oração alcança o seu objetivo, quando são acompanhadas pelo serviço dos pobres.

3. Como permanece atual, também para nós, este ensinamento! Na realidade, a Palavra de Deus ultrapassa o espaço, o tempo, as religiões e as culturas. A generosidade que apoia o vulnerável, consola o aflito, mitiga os sofrimentos, devolve dignidade a quem dela está privado, é condição para uma vida plenamente humana. A opção de prestar atenção aos pobres, às suas muitas e variadas carências, não pode ser condicionada pelo tempo disponível ou por interesses privados, nem por projetos pastorais ou sociais desencarnados. Não se pode sufocar a força da graça de Deus pela tendência narcisista de se colocar sempre a si mesmo no primeiro lugar.

Manter o olhar voltado para o pobre é difícil, mas tão necessário para imprimir a justa direção à nossa vida pessoal e social. Não se trata de gastar muitas palavras, mas antes de comprometer concretamente a vida, impelidos pela caridade divina. Todos os anos, com o Dia Mundial dos Pobres, volto a esta realidade fundamental para a vida da Igreja, porque os pobres estão e sempre estarão connosco (cf. Jo 12, 8) para nos ajudar a acolher a companhia de Cristo na existência do dia a dia.

4. O encontro com uma pessoa em condições de pobreza não cessa de nos provocar e questionar. Como podemos contribuir para eliminar ou pelo menos aliviar a sua marginalização e o seu sofrimento? Como podemos ajudá-la na sua pobreza espiritual? A comunidade cristã é chamada a coenvolver-se nesta experiência de partilha, ciente de que não é lícito delegá-la a outros. E, para servir de apoio aos pobres, é fundamental viver pessoalmente a pobreza evangélica. Não podemos sentir-nos tranquilos, quando um membro da família humana é relegado para a retaguarda, reduzindo-se a uma sombra. O clamor silencioso de tantos pobres deve encontrar o povo de Deus na vanguarda, sempre e em toda parte, para lhes dar voz, defendê-los e solidarizar-se com eles face a tanta hipocrisia e tantas promessas não cumpridas, e para os convidar a participar na vida da comunidade.

É verdade que a Igreja não tem soluções globais a propor, mas oferece, com a graça de Cristo, o seu testemunho e gestos de partilha. Além disso, sente-se obrigada a apresentar os pedidos de quantos não têm o necessário para viver. Lembrar a todos o grande valor do bem comum é, para o povo cristão, um compromisso vital, que se concretiza na tentativa de não esquecer nenhum daqueles cuja humanidade é violada nas suas necessidades fundamentais.

5. Estender a mão leva a descobrir, antes de tudo a quem o faz, que dentro de nós existe a capacidade de realizar gestos que dão sentido à vida. Quantas mãos estendidas se veem todos os dias! Infelizmente, sucede sempre com maior frequência que a pressa faz cair num turbilhão de indiferença, a tal ponto que se deixa de reconhecer todo o bem que se realiza diariamente no silêncio e com grande generosidade. Assim, só quando acontecem factos que transtornam o curso da nossa vida é que os olhos se tornam capazes de vislumbrar a bondade dos santos «ao pé da porta», «daqueles que vivem perto de nós e são um reflexo da presença de Deus» (Francisco, Exort. ap. Gaudete et exsultate, 7), mas dos quais ninguém fala. As más notícias abundam de tal modo nas páginas dos jornais, nos sites da internet e nos visores da televisão, que faz pensar que o mal reine soberano. Mas não é assim. Certamente não faltam a malvadez e a violência, a prepotência e a corrupção, mas a vida está tecida por atos de respeito e generosidade que não só compensam o mal, mas impelem a ultrapassá-lo permanecendo cheios de esperança.

6. Estender a mão é um sinal: um sinal que apela imediatamente à proximidade, à solidariedade, ao amor. Nestes meses, em que o mundo inteiro foi dominado por um vírus que trouxe dor e morte, desconforto e perplexidade, pudemos ver tantas mãos estendidas! A mão estendida do médico que se preocupa de cada paciente, procurando encontrar o remédio certo. A mão estendida da enfermeira e do enfermeiro que permanece, muito para além dos seus horários de trabalho, a cuidar dos doentes. A mão estendida de quem trabalha na administração e providencia os meios para salvar o maior número possível de vidas. A mão estendida do farmacêutico exposto a inúmeros pedidos num arriscado contacto com as pessoas. A mão estendida do sacerdote que, com o coração partido, continua a abençoar. A mão estendida do voluntário que socorre quem mora na rua e a quantos, embora possuindo um teto, não têm nada para comer. A mão estendida de homens e mulheres que trabalham para prestar serviços essenciais e segurança. E poderíamos enumerar ainda outras mãos estendidas, até compor uma ladainha de obras de bem. Todas estas mãos desafiaram o contágio e o medo, a fim de dar apoio e consolação.

7. Esta pandemia chegou de improviso e apanhou-nos impreparados, deixando uma grande sensação de desorientamento e impotência. Mas, a mão estendida ao pobre não chegou de improviso. Antes, dá testemunho de como nos preparamos para reconhecer o pobre a fim de o apoiar no tempo da necessidade. Não nos improvisamos instrumentos de misericórdia. Requer-se um treino diário, que parte da consciência de quanto nós próprios, em primeiro lugar, precisamos duma mão estendida em nosso favor.

Este período que estamos a viver colocou em crise muitas certezas. Sentimo-nos mais pobres e mais vulneráveis, porque experimentamos a sensação da limitação e a restrição da liberdade. A perda do emprego, dos afetos mais queridos, como a falta das relações interpessoais habituais, abriu subitamente horizontes que já não estávamos acostumados a observar. As nossas riquezas espirituais e materiais foram postas em questão e descobrimo-nos amedrontados. Fechados no silêncio das nossas casas, descobrimos como é importante a simplicidade e o manter os olhos fixos no essencial. Amadureceu em nós a exigência duma nova fraternidade, capaz de ajuda recíproca e estima mútua. Este é um tempo favorável para «voltar a sentir que precisamos uns dos outros, que temos uma responsabilidade para com os outros e o mundo (...). Vivemos já muito tempo na degradação moral, baldando-nos à ética, à bondade, à fé, à honestidade (...). Uma tal destruição de todo o fundamento da vida social acaba por colocar-nos uns contra os outros na defesa dos próprios interesses, provoca o despertar de novas formas de violência e crueldade e impede o desenvolvimento duma verdadeira cultura do cuidado do meio ambiente» (Francisco, Carta enc. Laudato si’, 229). Enfim, as graves crises económicas, financeiras e políticas não cessarão enquanto permitirmos que permaneça em letargo a responsabilidade que cada um deve sentir para com o próximo e toda a pessoa.

terça-feira, 10 de novembro de 2020

O Relatório sobre McCarrick, página dolorosa da qual a Igreja aprende


Uma leitura do dossiê publicado pela Secretaria de Estado, com os documentos e os testemunhos que contam o caso do ex-cardeal arcebispo de Washington demitido do estado clerical.

No momento da nomeação do arcebispo para Washington Theodore McCarrick, no ano 2000, a Santa Sé agiu baseada em informações parciais e incompletas. Verificaram-se, infelizmente, omissões e desconsiderações, foram feitas escolhas que se demonstraram erradas, mesmo porque, durante as verificações na época solicitadas por Roma, nem sempre as pessoas interrogadas contaram tudo o que sabiam. Até 2017 nenhuma acusação fundamentada jamais disse respeito a abusos ou assédios contra menores: assim que chegou a primeira denúncia de uma vítima menor na época dos fatos, o Papa Francisco agiu de modo rápido e decidido em relação ao ancião cardeal já retirado da condução da arquidiocese desde 2006, primeiro, tirando-lhe a púrpura e, depois, demitindo-o do estado clerical. É o que emerge do Relatório sobre o conhecimento institucional e o processo decisório da Santa em relação a Theodore Edgar McCarrick (de 1930 a 2017) publicado pela Secretaria de Estado.
 
Uma resposta pontual

O Relatório em si, por sua extensão e por seus conteúdos, responde de modo pontual àquele compromisso, assumido na época pelo Papa Francisco, de investigar cabalmente o caso McCarrick, e de publicar os resultados das investigações. O Relatório representa também um ato de solicitude e cuidado pastoral do Papa para com a comunidade católica estadunidense, ferida e desorientada pelo fato de McCarrick ter conseguido alcançar posições tão elevadas na hierarquia. A investigação realizada nestes dois anos, teve início no final do verão de 2018, durante semanas de notável tensão, culminadas no discurso do ex-núncio apostólico em Washington Carlo Maria Viganò, que através de uma operação midiática internacional, chegou a pedir publicamente a renúncia do atual Pontífice.

A ausência de acusações de abusos contra menores até 2017

A força do Relatório está certamente na sua inteireza, mas também na visão de conjunto que oferece. E da visão de conjunto aparecem alguns pontos nodais os quais é importante tomar em consideração. O primeiro diz respeito aos erros cometidos, que já levaram à aprovação de novas normas na Igreja, para evitar que a história se repita. Um segundo elemento diz respeito à ausência, até 2017, de acusações fundamentadas concernentes a abusos contra menores cometidos por McCarrick. É verdade que nos anos Noventa algumas cartas anônimas que tinham chegado a cardeais e à nunciatura de Washington acenaram a isso, mas sem fornecer indícios, nomes, circunstâncias: foram, infelizmente, consideradas não críveis, precisamente porque faltavam elementos concretos. De fato, a primeira acusação fundamentada que envolva menores é de três anos atrás, que levou à imediata abertura de um processo canônico, concluído com as duas sucessivas decisões do Papa Francisco, o qual, primeiro, tirou a púrpura do cardeal emérito e, em seguida, o demitiu do estado clerical. Deve-se reconhecer às pessoas que se apresentaram para denunciar McCarrick, durante toda a realização do processo canônico, o mérito de ter permitido que a verdade viesse à luz e a gratidão por terem feito isso, superando a dor da recordação do que tinham sofrido.

A averiguação antes da viagem do Papa

Resulta do Relatório que tanto no momento da primeira candidatura ao episcopado (1977) quanto no momento das nomeações a Metuchen (1981) e depois a Newask (1986), nenhuma das pessoas consultadas para obter informações forneceu indicações negativas sobre a conduta moral de Theodore McCarrick. Uma primeira “verificação” informal sobre algumas acusações concernentes à conduta do então arcebispo de Newark em relação a seminaristas e sacerdotes da sua arquidiocese, foi feita na metade dos anos Noventa, antes da viagem de João Paulo II à cidade estadunidense. Foi o cardeal-arcebispo de Nova York, John O’Connor, quem a fez: pediu informações a outros bispos estadunidenses e depois concluiu que não havia “impedimentos” à visita papal à cidade da qual McCarrick era, naquele momento, o pastor.

A carta do cardeal O’Connor

Um ponto crucial do caso é certamente representado pela nomeação a arcebispo de Washington. Durante os meses em que se levanta a hipótese de uma transferência de McCarrick a uma das sedes tradicionalmente cardinalícias dos EUA, diante de vários e qualificados pareceres favoráveis, registra-se o parecer negativo da cardeal O’Connor. Embora reconhecendo não ter informações diretas, o purpurado explicava, numa carta de 28 de outubro de 1999 endereçada ao núncio apostólico, considerar um erro a nomeação de McCarrick a um novo encargo: de fato, haveria o risco de um grave escândalo, devido a rumores de que o arcebispo tinha no passado partilhado a cama com jovens adultos na canônica, e com seminaristas numa casa na praia.

A primeira decisão de João Paulo II

É importante ressaltar, a esse propósito, a decisão inicialmente tomada por João Paulo II. Efetivamente, o Pontífice pediu ao núncio que verificasse o fundamento dessas acusações. A investigação escrita, também desta vez, não levou a nenhuma prova concreta: de fato, três dos quatro bispos de New Jersey consultados forneceram informações definidas no Relatório “não precisas e incompletas”. O Papa, que no entanto conhecia McCarrick desde 1976 por tê-lo encontrado durante uma viagem que fez aos EUA acolheu a proposta lançada pelo então núncio apostólico nos EUA Gabriel Montalvo, e do então prefeito da Congregação para os Bispos Giovanni Battista Re, de abandonar a candidatura. Mesmo diante da ausência de fundamentados, não se deveria correr o risco, transferindo o prelado para Washington, de que as acusações, consideradas desprovidas de consistência, pudessem voltar à tona provocando desconcerto e escândalo. McCarrick parecia, portanto, destinado a permanecer em Newark.

A carta de McCarrick ao Papa

Um fato novo veio a mudar radicalmente o curso dos eventos. O próprio McCarrick, após ter evidentemente tomado conhecimento de sua candidatura e das reservas mantidas em relação a ele, em 6 de agosto de 2000 escreveu ao então ao secretário particular do Pontífice polonês, o bispo Stanislaw Dziwisz. Proclamou-se inocente e jurou “jamais ter tido relações sexuais com pessoa alguma, homem ou mulher, jovem ou idoso, clérigo ou leigo”. João Paulo II leu a carta. Convenceu-se de que o arcebispo estadunidense dissesse a verdade, e que os “rumores” negativos fossem, propriamente, apenas rumores, infundados ou, em todo caso, não-provados. Foi o próprio Papa, mediante indicações precisas dadas ao então Secretário de Estado Angelo Sodano, a estabelecer que McCarrick fosse novamente inserido na lista dos candidatos. E foi ele por fim a escolhê-lo para a sede de Washington. Segundo alguns testemunhos citados no Relatório, pode ajudar a compreender o contexto deste período também a experiências pessoal vivida pelo então arcebispo Wojtyla na Polônia: durante anos viu o uso instrumental de falsas acusações por parte do regime para descreditar sacerdotes e prelados.

segunda-feira, 9 de novembro de 2020

O que os católicos devem esperar caso Joe Biden seja eleito presidente dos EUA

Mesmo ainda sem o término da contagem de votos, a mídia anunciou que o democrata Joe Biden será o novo presidente dos Estados Unidos. Esta decisão ainda não é oficial e o cenário ainda pode mudar… Mas caso o fato se concretize, o que nós, como católicos, podemos esperar do seu eventual governo?
Joe Biden é batizado na Igreja Católica e durante a campanha presidencial, ele insistiu que sua política pessoal mantêm-se alinhada com o ensinamento católico. Mas será que é mesmo?
Em um vídeo, ele afirmou: “Olha, tenho a grande vantagem da minha fé, a doutrina social católica e meus pontos de vista políticos coincidem”.
No entanto, estas afirmações contrastam com sua postura de apoio ao aborto financiado pelo Estado, sua oposição a várias proteções legais para a liberdade religiosa e sua posição favorável à ideologia de gênero.
A questão do aborto
A plataforma do Partido Democrata respalda o “direito ao aborto” financiado pelos contribuintes durante toda a gravidez e pede especificamente a revogação da emenda Hyde, que proíbe o uso de fundos dos contribuintes para abortos eletivos.
Por algum tempo em sua carreira política, Joe Biden apoiou a emenda Hyde, mas mudou de ideia recentemente. Sua vice, Kamala Harris, pode ter tido um papel fundamental para esta mudança de ideia.

EUA: padre negou comunhão a presidenciável que prometeu financiar aborto


O site de notícias SCNow, do Estado norte-americano da Carolina do Sul, informou que um sacerdote local, o pe. Robert Morey, negou a comunhão a Joe Biden, pré-candidato à presidência do país pelo Partido Democrata. Biden já foi vice-presidente durante os dois mandatos de Barack Obama e hoje é um dos favoritos, em seu partido, para disputar a presidência com Donald Trump nas eleições do ano que vem.

O político participou de um evento organizado pela Planned Parenthood, o maior conglomerado de clínicas de aborto do planeta, acusado de irregularidades gravíssimas por ex-funcionários e até mesmo de vender ilegalmente órgãos e partes de corpos de bebês abortados.

No evento em questão, Biden prometeu revogar importantes medidas de Trump relacionadas com o aborto nos Estados Unidos. Enquanto Trump cortou financiamentos à Planned Parenthood, Biden afirmou que, se eleito, aumentará a verba destinada à rede abortista.

É por causa do seu público apoio ao aborto que Joe Biden não pode receber o Santíssimo Corpo de Nosso Senhor. E foi por isso que, no último dia 27 de outubro, um domingo, o pe. Robert Morey, pároco da igreja de Santo Antônio, em Charleston, lhe negou a comunhão, aplicando o cânon 915 do Código de Direito Canônico, que determina que a Santíssima Eucaristia não pode ser dada a pessoas excomungadas, ou que estejam sob investigação para eventual excomunhão, ou que optem deliberadamente por viver em pecado mortal.

Em nota enviada à Catholic News Agency (CNA) no dia 28 de outubro, o pe. Morey afirma:

“Lamentavelmente, no domingo passado, tive que negar a Sagrada Comunhão ao ex-vice presidente Joe Biden. A Sagrada Comunhão significa que somos um só com Deus, entre nós e com a Igreja. Os nossos atos deveriam refletir essa unidade. Qualquer figura pública que defenda o aborto se exclui dos ensinamentos da Igreja. Como sacerdote, é minha responsabilidade ensinar às almas confiadas aos meus cuidados, inclusive nas situações mais dificeis. Continuarei rezando pelo Sr. Biden”.

Covid na Itália: novas restrições não afetam abertura de igrejas


O governo da Itália renovou suas restrições por causa da Covid-19, pois os casos estão aumentando em todo o país. Mas desta vez as normas permitirão que as igrejas permaneçam abertas para orações e missas.

De fato, esse anúncio da Conferência Episcopal Italiana vem depois que o Papa Francisco ordenou o fechamento temporário dos Museus Vaticanos. Também voltou a ser fechada a audiência geral semanal do Papa com os peregrinos.

Catholic News Service relata que a Itália instituiu um toque de recolher todas as noites das 22h até as 5h, o que está previsto para durar até 3 de dezembro. No entanto, esse toque de recolher pode se estender dependendo do estado da pandemia nas próximas semanas. O toque de recolher foi acompanhado pelo fechamento total de museus, cinemas e academias, além da transferência de alunos do ensino médio de volta às aulas virtuais.