Novos detalhes foram revelados sobre o caso do arcebispo de Belém do Pará, dom Alberto Taveira Corrêa, investigado por suposto abuso sexual cometido contra ex-seminaristas na capital paraense. Quatro vítimas contaram que o arcebispo usou de seu poder eclesiástico para investidas sexuais não consentidas em encontros privados. Dom Alberto é alvo de investigação da Polícia Civil, feita a pedido do Ministério Público, além de investigação do próprio Vaticano. Religiosos, padres e entidades, como a Renovação Carismática Católica (RCC) prestam solidariedade a dom Alberto.
Os depoimentos de quatro ex-seminaristas foram exibidos na noite desse domingo no programa Fantástico, da TV Globo. As vítimas tinham entre 15 e 18 anos entre 2010 e 2014, quando aconteceram os abusos. O arcebispo tinha encontros privados com pretendentes a padre no palácio episcopal.
“Quando ele me tocou, na minha parte íntima, disse que aquilo ali era normal, coisa do homem. Mas, assim, eu não via maldade, porque confiei muito, por ele ser uma autoridade, também não tinha experiência. Mas aquilo foi se tornando já permanente e já mais agressivo. Ele já me recebia na porta e já ia logo pegando”, conta o ex-seminarista.
Após a produção da reportagem, a equipe procurou opiniões a respeito do caso dentre lideranças da Igreja Católica. Os padres Marcelo Rossi e Fábio de Melo prestaram solidariedade a dom Alberto Correia.
“Dom Alberto já me amparou muitas vezes. Eu gostaria que as minhas orações e o meu carinho fizessem o mesmo por ele, neste momento”, disse o padre Fábio de Melo ao Fantástico. “Nessa hora de combate, estamos juntos em oração”, declarou o padre Marcelo Rossi. Por conta das declarações, os padres foram alvo de críticas nas redes sociais na noite de domingo e nesta segunda-feira.
Padres pediram investigação
Dois padres de Belém registraram o depoimento dos quatro ex-seminaristas em junho de 2019 e escreveram uma carta ao Bispo Emérito de Marajó (PA), Dom José Azcona, conhecido por sua luta contra o abuso sexual de crianças e adolescentes. Na carta, ambos pedem a investigação dos relatos.
Além da Polícia Civil, o caso também foi levado à Nunciatura Apostólica de Brasília, representação diplomática da Santa Sé. Um representante do Vaticano veio ao país para apurar as denúncias.
A Nunciatura Apostólica afirmou que caberia à Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) comentar as denúncias, mas o órgão afirmou que não foi informado oficialmente do caso.
Na semana passada, 37 entidades civis e de direitos humanos assinaram um manifesto pedindo o afastamento do arcebispo de seu cargo até o fim das investigações.
O Arcebispo recebeu a solidariedade de ex-seminaristas e padres, como Marcelo Rossi e Fabio de Melo.
Roberto Lauria, advogado de Dom Alberto, afirmou que o religioso está à disposição para depoimento na Polícia Civil ou no Ministério Público:
— Todo católico paraense conhece a lisura, a honestidade, a honradez com que se porta Dom Alberto. (...) que doou meio século de vida à Igreja Católica, passando por 3 estados e o DF, coordenando seminários, ordenando como padre mais de 200 seminaristas — afirmou. — Os denunciantes não são quatro pessoas isoladas.
São um grupo de pessoas, que têm um profundo recalque, um profundo sentimento de vingança por Dom Alberto e, por que tem esse sentimento? Justamente, pela grande característica da gestão de Dom Alberto, que era uma gestão austera. Pessoas foram afastadas do seminário por comportamento incompatível com a vida religiosa.
Dom Alberto Taveira Corrêa é assessor eclesiástico da Renovação Carismática Católica (RCC) e autor de diversos livros sobre a espiritualidade carismática e sobre a igreja. O arcebispo participou em 2019 do Sínodo da Amazônia.