Recebi um e-mail de uma pessoa me perguntando:
“São Jorge, qual a verdadeira história dele, é um santo mesmo? Da Igreja Católica ou de macumba? Nunca me senti bem em relação a ele, pois já vi sua imagem em lugares nada cristãos… Poderia me esclarecer, por favor?”
A Igreja não tem dúvida de que São Jorge existiu e é Santo; tanto assim que sua memória é celebrada no Calendário litúrgico no dia 23 de abril. São Jorge foi mártir; a Igreja possui os “Atos do seu martírio” e sua “Paixão”, que foi considerada apócrifa pelo Decreto Gelasiano do século VI. Mas não se pode negar de maneira simplista uma tradição tão universal como veremos: a Igreja do Oriente o chama de “grande mártir” e todos os calendários cristãos incluíram-no no elenco dos seus santos.
São Jorge é considerado um dos “oito santos auxiliadores” (8 de agosto). Já no século IV o grande imperador romano Constantino, que se converteu ao cristianismo em 313, construiu uma igreja em sua honra. No século V já havia cerca de 40 igrejas em sua honra no Egito. Em toda a Europa multiplicaram as suas igrejas. Em 1222, o Concílio Regional de Oxford na Inglaterra estabeleceu uma festa em sua honra, e nos primeiros anos do século XV, o arcebispo de Cantuária na Inglaterra ordenou que esta festa fosse celebrada com tanta celebridade como o Natal. No ano de 1330, o rei católico Eduardo III da Inglaterra já tinha fundado a Ordem dos Cavaleiros de São Jorge.
São Jorge, além de haver dado nome a cidades e povoados, foi proclamado padroeiro de muitas cidades como Gênova, Ravena, Roma, de regiões inteiras espanholas, de Portugal, da Lituânia e da Inglaterra, com a solene confirmação, para esta última, do Papa Bento XIV.
O culto de São Jorge começou desde os primeiros anos da Igreja em Lida, na Palestina, onde o mártir foi decapitado e sepultado no início do século IV. Seu túmulo era alvo de peregrinações na época das Cruzadas, no século XII, quando o sultão muçulmano Saladino destruiu a igreja construída em sua honra.
A conhecida imagem de São Jorge como cavaleiro que luta contra o dragão, difundida na Idade Média, é parte de uma lenda contada em suas muitas narrativas de sua paixão.
Diz a lenda que um horrível dragão saía de vez em quando de um lago perto de Silena, na Líbia, e se atirava contra os muros da cidade fazendo morrer muita gente com seu hálito mortal, sendo que os exércitos não conseguiam exterminá-los. Então, o povo, para se livrar desse perigo lhe ofereciam jovens vítimas, escolhidas por sorteio. Só que num desses sorteios, à filha do rei foi sorteada para ser oferecida em comida ao monstro. Desesperado, o rei, que nada pôde fazer para evitar isso, acompanhou-a em prantos até às margens do lago. Mas, de repente apareceu um corajoso cavaleiro vindo da Capadócia. Era são Jorge, que marchou com seu cavalo em direção ao dragão e atravessou-o com sua lança. Outra lenda diz que ele amansou o dragão como um cordeiro manso, que a jovem levou preso numa corrente, até dentro dos muros da cidade, entre a admiração de todos os habitantes que se fechavam em casa, cheios de pavor. O misterioso cavaleiro lhes assegurou, gritando-lhes que tinha vindo, em nome de Cristo para vencer o dragão. Eles deviam converter-se e ser batizados.
Continua a narração dizendo que o tribuno e cavaleiro Jorge fez ao povo idólatra da cidade um belo sermão, após o qual o rei e seus súditos se converteram e pediram o batismo. O rei lhe teria oferecida muito dinheiro, mas Jorge teria partido sem nada levar, mandando o rei distribuir o dinheiro aos pobres.
É claro que isso é uma lenda na qual não somos obrigados a acreditar; mas é preciso entender o valor subjetivo das lendas religiosas sobre os santos. O povo as criava e divulgava para enaltecer a grandeza do santo, de maneira parabólica e fantasiosa; mas nela há um fundo de verdade. É um estilo de literatura, fantasiosa sim, mas que não pode ser desprezada de todo.
Muitos artistas e escultores famosos pintaram e esculpiram imagens do Santo: Rafael, Donatelo, Carpaccio, etc.
Segundo a tradição São Jorge foi condenado à morte por ter renegado aos deuses do império, o que muito acontecia com os cristãos. Ele foi torturado, mas parecida de que era de ferro, não se queixava. Diz a tradição que diante de sua coragem e de sua fé, a própria mulher do imperador se converteu, e que muitos cristãos, diante dos carrascos, encontraram a força de dar o testemunho a Cristo com o próprio martírio. Por fim, também são Jorge inclinou a cabeça sobre uma coluna e uma espada super afiada pôs fim à sua jovem vida.
Como houve muitos cristãos que morreram mártires nesses tempos da perseguição romana, nada impede que um deles tenha sido o cavaleiro e tribuno militar Jorge.
Prof. Felipe Aquino
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