quarta-feira, 31 de dezembro de 2025

Mensagem do Papa Leão XIV para o Dia Mundial da Paz 2026

 


MENSAGEM
DO SANTO PADRE
LEÃO XIV
PARA O LIX DIA MUNDIAL DA PAZ
 
1 DE JANEIRO DE 2026
 
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A paz esteja com todos vós.
Rumo a uma paz desarmada e desarmante
 

“A paz esteja contigo!”. 

Esta antiga saudação, presente ainda hoje em muitas culturas, ganhou novo vigor nos lábios de Jesus ressuscitado na noite de Páscoa. «A paz esteja convosco!» ( Jo 20, 19.21) é a sua Palavra que não só deseja, mas realiza uma mudança definitiva naqueles que a acolhem e, consequentemente, em toda a realidade. Por isso, os sucessores dos Apóstolos exprimem todos os dias e em todo o mundo a revolução mais silenciosa: “A paz esteja convosco!”. Desde a noite da minha eleição como Bispo de Roma, quis inserir a minha saudação neste anúncio coral. E desejo reiterá-lo: esta é a paz do Cristo ressuscitado, uma paz desarmada e desarmante, humilde e perseverante. Ela provém de Deus, o Deus que nos ama a todos incondicionalmente. [1]
 
A paz de Cristo ressuscitado
 
Quem venceu a morte e derrubou as barreiras que separavam os seres humanos (cf. Ef 2, 14) foi o Bom Pastor que dá a vida pelo rebanho e tem muitas ovelhas que estão fora do seu redil (cf. Jo 10, 11.16): Cristo, nossa paz. A sua presença, o seu dom e a sua vitória reverberam na perseverança de muitas testemunhas, por meio das quais a obra de Deus continua no mundo, tornando-se ainda mais perceptível e luminosa na escuridão dos tempos.
 
Na verdade, o contraste entre as trevas e a luz não é apenas uma imagem bíblica para descrever o sofrimento do qual está a nascer um mundo novo: é uma experiência que nos atravessa e nos surpreende diante das provações que encontramos nas circunstâncias históricas em que vivemos. Ora, para não afundarmos na escuridão, é necessário ver a luz e acreditar nela. Trata-se de uma exigência que os discípulos de Jesus são chamados a viver de maneira única e privilegiada, mas que, de muitas maneiras, sabe abrir caminho no coração de cada ser humano. A paz existe, deseja habitar-nos, tem o poder suave de iluminar e alargar a inteligência, resiste à violência e a vence. A paz tem o sopro da eternidade: enquanto ao mal se ordena “basta!”, à paz se suplica “para sempre”. O Ressuscitado introduziu-nos neste horizonte. É neste sentir que vivem os promotores da paz que, no drama daquilo que o Papa Francisco definiu como “terceira guerra mundial em pedaços”, ainda resistem à contaminação das trevas, como sentinelas na noite.
 
Infelizmente, o contrário é possível, ou seja, esquecer a luz: assim, perde-se o realismo e se cede a uma representação parcial e distorcida do mundo, sob o sinal das trevas e do medo. Atualmente, não são poucos aqueles que chamam de realistas as narrativas privas de esperança, cegas à beleza dos outros e esquecidas da graça de Deus que sempre age nos corações humanos, por mais feridos que estejam pelo pecado. Santo Agostinho exortava os cristãos a estabelecerem uma amizade indissolúvel com a paz, para que, guardando-a no íntimo do próprio espírito, pudessem irradiar o calor luminoso ao seu redor. Dirigindo-se à sua comunidade, ele escreveu: «Se quereis atrair os outros para a paz, tende-a vós primeiro; sede vós, antes de tudo, firmes na paz. Para inflamar os outros, deveis ter dentro de vós a luz acesa». [2]
 
Queridos irmãos e irmãs, quer tenhamos o dom da fé, quer pareça que não o temos, abramo-nos à paz! Acolhamo-la e reconheçamo-la, em vez de a considerarmos distante e impossível. Antes de ser um objetivo, a paz é uma presença e um caminho. Mesmo que seja contestada dentro e fora de nós, como uma pequena chama ameaçada pela tempestade, guardemo-la sem esquecer os nomes e as histórias daqueles que a testemunharam. É um princípio que orienta e determina as nossas escolhas. Também nos lugares onde só restam escombros e onde o desespero parece inevitável, ainda hoje encontramos quem não esqueceu a paz. Do mesmo modo que, na noite de Páscoa, Jesus entrou no lugar onde se encontravam os discípulos assustados e desanimados, assim a paz de Cristo ressuscitado continua a atravessar portas e barreiras com as vozes e os rostos das suas testemunhas. É o dom que permite não esquecer o bem, reconhecê-lo como vencedor, escolhê-lo novamente e juntos.