Poucos dias após a renúncia de Bento
XVI e a eleição do Papa Francisco, o seriado "Evidências", produzido
pela TV Novo Tempo (ligada à igreja Adventista, contando com o apoio cultural
da sua Casa Publicadora Brasileira [30:18]), dedicou todo um programa à
"História do Papado"[0], apresentado e narrado pelo "teólogo e
arqueólogo" Rodrigo Silva [00:34 / 30:13] que, segundo afirmava, pretendia
"contar um pouco da história dos Papas" [01:27], expondo as coisas
segundo "fatos históricos, bíblicos e proféticos" [27:27].
Conforme este mesmo apresentador, o
objetivo de "Evidências" é "a procura de fatos que comprovem a
veracidade da Bíblia Sagrada" [00:36], e que neste programa da série
viriam a ser respondidas as seguintes questões [01:34]:
• Como surgiu o Papado?
• Pedro foi o primeiro dos Papas?
• O Papa é a besta do Apocalipse?
Muito embora os créditos apresentados
no final do programa não digam quem foi o responsável pelo roteiro final,
considerando-se o simples fato de o programa ser produzido para uma emissora
protestante, não era difícil de "adivinhar" quais respostas seriam dadas
para as perguntas acima - uma vez que diversas igrejas protestantes
não-adventistas também responderiam da mesma maneira ou de uma maneira muito
semelhante...
Na verdade, o programa acabou sendo um
resumo de todo ensinamento antipapal promovido pela profetiza-fundadora do
Adventismo do 7o Dia, sra. Ellen Gould White, detalhados nos livros da sua
autoria ou nos de seus seguidores[1].
Porém, o fato é que, ao final do
programa, o próprio apresentador - que se revelou "ex-católico"
[28:12] -, recomenda-nos a desconfiar de tudo o que foi dito ali: "Não
confiem prontamente no que estou dizendo. Isto mesmo! Essas informações que
você recebeu foram dadas para que você investigue por si mesmo os fatos e
conclua a respeito do que está por trás do maior sistema eclesiástico do
mundo" [27:40].
Portanto, atendamos ao seu pedido e
investiguemos cuidadosamente, apoiando-nos em fontes bíblicas e históricas,
deixando de lado as pseudo-profecias e preconceitos anticatólicos da fundadora
do Adventismo do 7o Dia[2] e dos líderes da denominação.
1. ARGUMENTOS
CORRETOS NO INÍCIO DO PROGRAMA
Apesar de demonstrar uma posição
nitidamente anticatólica no decorrer de todo programa (claramente inspirada nas
diretrizes do sectarismo adventista), o apresentador tem toda a razão ao fazer
as afirmações abaixo, com as quais nós, católicos, certamente concordamos e
reconhecemos como válidas:
1º) "Nada é mais infernal no mundo
do que o ódio entre os seres humanos e nada é pior do que o ódio em nome de
Deus. E olha que os maus exemplos, infelizmente, podem ser vistos em todos os
lados. Ninguém está excluído: vemos crentes desrespeitando imagens e ícones
católicos; às vezes párocos impedindo reuniões evangélicas no bairro de sua
paróquia. Enfim, qualquer desrespeito à crença do outro é algo abominável"
[01:50].
Sim, o fundamentalismo religioso é
capaz de cegar e de promover atitudes ilegítimas como legítimas. Não ao
fundamentalismo!
2º) "Nós, que nos dizemos
religiosos, devemos acima de tudo aprender a discordar com classe e respeito;
e, juntamente com isso, ter claro se nossas convicções religiosas são de fato baseadas
em elementos concretos ou em crendice, tradição ou achismo" [02:19].
É verdade, mas devemos ainda basear as
nossas discordâncias em pontos sólidos da Palavra de Deus, da história etc., e
só não argumentar por argumentar...
3º) "Respeito não significa
silêncio ou a concórdia em tudo o que o outro diz (...) Investiguem os fatos e
vejam a procedência ou não daquilo que vamos dizer aqui" [02:24].
Isto é o ideal, mas na prática nem
todos podem fazê-lo, infelizmente. Por isso os "formadores de
opinião" devem ter um cuidado maior ao expor qualquer coisa a alguém.
4º) "A versão Tradicional do
Catolicismo afirma que o Apóstolo Pedro teria sido o 1º Papa. Logo, a História
do Papado (...) teria começado no momento em que Cristo confere a Pedro as
chaves do Reino, dizendo: 'Tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha
Igreja' - Mateus, capítulo 16, verso 18" [03:04].
É exatamente isso. Pedro foi o 1º Papa.
Por consequência, todos os demais Papas, legitimamente eleitos, foram, são e
sempre serão sucessores de São Pedro, único a quem Cristo confiou as chaves do
Reino dos Céus.
Nestes pontos, é o que cabe observar...
2. ARGUMENTOS FALSOS
OU EQUIVOCADOS
Embora o programa tenha até começado
bem nos seus três primeiros minutos, uma série de erros e preconceitos típicos
do Adventismo do 7º Dia passaram então a desfilar pela tela, os quais
passaremos a abordar a partir de agora.
Primeiramente, o apresentador disse:
"Vou dar agora os argumentos comumente usados para dizer que Pedro seria o
1º Papa e também por que discordo deles" [03:28]. Porém, ao apresentar os
argumentos católicos, seguiu aqui uma ordem que não facilita a compreensão do
telespectador e que nem de perto demonstra a extensão do "problema":
a) Pedro é o mais citado nos Evangelhos
[03:35]
b) Cristo muda o nome de Simão para
Pedro [04:37]
c) Pedro é citado em 1o lugar na lista
dos Apóstolos [05:20]
d) A frase "Tu es Petrus"
[06:09]
Ora, se o programa pretendesse mesmo
apresentar imparcialmente aos seus telespectadores (adventistas ou não) o que a
Igreja Católica realmente ensina acerca do Papado (passando depois a refutar
essa doutrina, como é do seu direito) deveria, ao menos, seguir aquela ordem
lógica crescente da argumentação católica ou, melhor ainda, deveria ao menos
partir daquele ponto de origem que o próprio apresentador havia mencionado aos
03 minutos e 04 segundos de programa: Mateus 16,18!!!
Deste modo, nesta refutação,
abordaremos cada um dos contra-argumentos do programa vistos dentro da ordem de
argumentação católica, o que facilitará a compreensão da legitimidade e
autenticidade da instituição do Papado e demonstrará a falta de consistência da
contra-argumentação adventista:
a) Cristo muda o nome de Simão para Pedro
Querendo apresentar a doutrina católica
sobre o Papado, o programa afirmou que o Catolicismo ensina que a mudança do
nome de Simão para Pedro feita por Jesus "é um fato excepcionalmente
importante para indicar que Pedro deveria ser o líder dos demais Apóstolos"
[04:49].
É ponto pacífico, portanto, que Jesus
de fato alterou o nome de Simão, filho de Jonas, para Pedro. Apesar disso, o
programa contra-argumentou que tal mudança não teria importância, pois era algo
quase que corriqueiro e desprezível. Isto porque:
1º) Jesus também alterara os nomes de
Tiago e de João, os filhos de Zebedeu, aos quais chamou de
"Boanerges" (cf. Marcos 3,17) [05:04].
"Boanerges" significa, em
aramaico, "filhos do trovão". É muito provavelmente uma referência
tácita ao episódio narrado por Lucas 9,51-56, em que estes irmãos, indignados
pela falta de acolhida da parte dos samaritanos, perguntaram a Jesus:
"Senhor, queres que digamos que o fogo caia do céu e os consuma?"
(isto é, o mesmo castigo que o profeta Elias infligira aos seus adversários,
cf. 2Reis 1,10-12).
Pois bem. Aqui, não ocorre alteração de
nomes, já que mesmo depois ambos continuam sendo chamados pelos seus
respectivos nomes originais, ou seja: Tiago e João; constitui mais um apelido
do que um acréscimo ou substituição de prenomes. Simão, ao contrário, teve o
seu prenome alterado de fato. Uma vez alterado, passa a ser chamado de
"Pedro" ou "Simão Pedro" (na língua grega do Novo
Testamento) ou "Cefas" (na língua aramaica original de Jesus). Em
suma: o novo nome Pedro/Cefas é acrescentado e até substitui o antigo nome
"Simão".
2º) Mudar o nome de alguém seria
"apenas colocar um apelido carinhoso e não colocar alguém à frente do
grupo" [05:14].
Podemos dizer que o apelido
"Boanerges" dado por Cristo a Tiago e João, filhos de Zebedeu, realmente
pode se tratar de um "apelido carinhoso", eis que baseado em um
"episódio interessante" protagonizado por esses irmãos (cf. Marcos
3,17), como dissemos acima.
O mesmo, porém, não se aplica a
Pedro... Com Pedro ocorre algo semelhante ao que ocorreu com Abrão e Jacó, que
tiveram seus nome alterados respectivamente para Abraão e Israel, sendo
identificados pelos judeus como seus primeiros patriarcas (e, portanto,
líderes). Assim:
• Em Gênesis 17,15, Deus altera o nome
de Abrão para Abraão, tornando-o "Pai de uma multidão de nações".
• Em Gênesis 32,29, o Anjo do Senhor,
porta-voz de Deus, altera o nome de Jacó para Israel, tornando-o "Pai da
nação de Israel".
É certo, portanto, que na cultura
hebraica, nomes e mudanças de nomes nos dizem algo permanente sobre o caráter e
a nova vocação do nomeado. Deste modo, bem escreve Steve Ray:
- "A mudança do nome de Simão é significativa. Porém, ainda mais importante
é aquilo que foi mudado. Um judeu perceberia imediatamente o que a maioria dos
leitores [ocidentais] não consegue notar. O nome 'Pedro' é a versão portuguesa
da palavra grega que significa 'pedra'. Jesus falava aramaico e a palavra
empregada para atribuir o novo nome a Simão foi a palavra aramaica 'keffa', que
também significa 'pedra'. É por isso que Simão é chamado de 'Cefas' em certas
passagens do Novo Testamento (p.ex. João 1,42; 1Coríntios 15,5; Gálatas 1,18).
Ninguém fôra chamado 'pedra' anteriormente, a não ser Deus e... Abraão. Abraão
é referido como a pedra da qual os judeus saíram (cf. Isaías 51,1). No entanto,
Deus é o único a ser chamado 'pedra'. Pedro agora compartilha este nome. O que
pensaria um judeu ao ver que é outorgado semelhante nome a um simples homem? Na
mesma passagem encontramos outro exemplo surpreendente da necessidade de se
conhecer o espírito judaico da Bíblia. Encontra-se na frase de Mateus 16,19,
que menciona as 'chaves do Reino'. Em parte, devido à falta de conhecimento da
cultura judaica, esta passagem é entendida frequentemente da forma incompleta,
reduzindo-se o conceito das 'chaves do Reino' simplesmente à pregação, por
parte de Pedro, durante o Pentecostes (outra palavra desconhecida fora da
religião judaica), 'abrindo com as chaves as portas dos céus'. Muitos
protestantes cometem este erro ao tentar compreender esta passagem sem contar
com o benefício de um 'antecedente judaico'. O que representavam as 'chaves'
para os judeus que realmente ouviram a Palavra de Deus? Qual interpretação
daria um judeu da imagem das chaves que o Rei Jesus entregou a Pedro? Os
fariseus memorizavam grandes partes do Antigo Testamento, se é que não
memorizavam todo o 'Tanakh'. O judeu de conhecimento médio conhecia
profundamente as Escrituras. Quando Jesus disse a Pedro que ele receberia as
'chaves do Reino dos céus', os judeus imediatamente recordariam Isaías 22 e o
despacho monárquico do Mordomo Real que administrava a casa do Rei"[3].
Não existe, assim, a mínima
possibilidade de a mudança do nome de Pedro ser tão somente "um apelido
curioso", como diz o programa: de fato a mudança de nome aponta o caráter
e a vocação de Pedro para exercer a liderança máxima da Igreja, o que ocorre
efetivamente quando Jesus lhe confere a tarefa de confirmar os seus irmãos na
fé (cf. Lucas 22,31-32) e, após a Sua ressurreição, confiar-lhe todo o seu
rebanho e não apenas uma parte (cf. João 21,15-17).
b) "Tu es Petrus"
Após a leitura da passagem de Mateus 16,16-19,
o programa explicou que, conforme a doutrina católica, a pedra sobre a qual
Jesus edificaria a Sua Igreja é Pedro [06:18] e que ocorre aqui um trocadilho
entre as palavras gregas "Pedro (Petros)" e "pedra (petra)"
[07:11].
Isto é correto: a Igreja Católica
ensina isso mesmo. Contudo, o programa contra-argumentou que:
1º) Não é possível saber ao certo o
jogo de palavras que foram usadas originalmente por Cristo, já que Ele falava
em aramaico [07:29].
Pois bem: o programa reconhece que
Jesus falava em aramaico e empregou aqui um "jogo de palavras"; isto
são dois pontos pacíficos. Logo, devemos buscar no idioma aramaico a resposta
para a questão do jogo de palavras usadas por Jesus, pois foi isto o que Ele
fez de fato.
Existe uma antiquíssima versão aramaica
da Bíblia chamada Peshitta, adotada pelas grejas orientais católicas e
ortodoxas da Síria, onde podemos ler, na própria língua de Jesus, as palavras
que Ele empregou nesse exato trecho de Mateus 16,18:
Observe-se, na tradução para o inglês
(oferecida pela imagem acima), a dupla ocorrência da palavra "Keppa"
e o fato de não haver qualquer diferença na grafia dessa palavra em aramaico. A
primeira ocorrência significa o nome próprio "Pedro" (Petros, em grego);
a segunda, o objeto "pedra" (petra, em grego). Como vemos, o jogo de
palavras de Cristo usa o mesmo termo-base "Keppa", tornando o
trocadilho perfeito na expressão: "Tu és Pedro (keppa) e sobre essa pedra
(keppa) edificarei a minha Igreja".
Então como facilmente percebemos, neste
caso não há a mínima diferença no aramaico entre os gêneros masculino
("Pedro") e feminino ("pedra"); ambas as palavras são
grafadas do mesmo modo: "keppa".
2º) Existiria uma "grande
diferença etimológica no Novo Testamento" entre as palavras gregas
"petros" e "petra": "'petros' refere-se a um
pedregulho, uma pedrinha qualquer" enquanto que "'petra' é uma rocha
sólida" [07:43].
A observação do programa até poderia
ser relevante se não fossem três fatos:
a)
Como
já foi dito e como bem reconheceu o programa na contra-argumentação anterior,
Jesus falava em aramaico. Com efeito, em sua língua original Jesus empregou por
duas vezes a palavra "keppa" para se referir a Pedro e à pedra sobre
a qual Ele edificaria a sua Igreja. Se Cristo quisesse mesmo chamar Simão de
"pequena pedra" (="Pedrinho") em aramaico o teria feito
usando a palavra aramaica "evna" e não "keppa"...
b)
Há
diversas notícias nos escritos dos primitivos Padres e Escritores da Igreja[4]
que nos dão notícia de que o Evangelho de Mateus foi escrito originalmente na
língua falada pelos judeus (=aramaico) e não em grego, de modo que certamente
foi empregada a palavra aramaica "keppa" e não as palavras gregas
"petros/petra"; estas duas palavras só foram usadas quando esse
Evangelho foi traduzido para o grego que, ao contrário do aramaico, faz
diferenciação entre os gêneros masculino e feminino (como também ocorre em
outras línguas, como no inglês, no espanhol e até mesmo no português); daí,
então, a necessidade do grego empregar "petros" para
"Pedro" e "petra" para "pedra", para que a
ortografia não demande em erro de gênero.
c)
"Como sabem os conhecedores de grego (mesmo os não católicos), as
palavras 'petros' e 'petra' eram sinônimos no grego do primeiro século. Elas
significaram 'pequena pedra' e 'grande rocha' em uma velha poesia grega,
séculos antes da vinda de Cristo, mas esta distinção já havia desaparecido no
tempo em que o Evangelho de São Mateus foi traduzido para o grego. A diferença
de significados existe apenas no grego ático, mas o Novo Testamento foi escrito
em grego 'koiné', um dialeto totalmente diferente. E, no grego koiné, tanto
'petros' quanto 'petra' significam 'rocha'. Se Jesus quisesse chamar Simão de
'pedrinha', usaria o termo [grego] 'lithos'. (para a admissão deste fato por um
estudioso protestante, veja-se D. Carson, "The expositors Bible
Commentary". Grand Rapids: Zondervan, 1984, Frank E. Gaebelein, ed., 8:
368)"[5].
3º) Jesus não teria dito: "Sobre
ti, Pedro, edificarei a minha Igreja", mas sim: "Sobre essa pedra
edificarei a minha Igreja" [07:59].
Repare-se, porém, que Jesus também não
disse: "Sobre Mim mesmo, edificarei a minha Igreja"; ou: "Pedro,
sobre a tua confissão de fé, edificarei a minha Igreja"... E por que não
falou nada disso e nem mesmo "Sobre ti, Pedro, edificarei a minha
Igreja"?
Primeiro, porque senão seria perdido o
trocadilho, o jogo de palavras.
Segundo, porque era desnecessário
explicitar ainda mais o que por si só já estava tão claro:
a)
Jesus
se dirige a todos os seus Apóstolos e pergunta-lhes: "Quem vós dizeis que
Eu sou?"
> Aqui Jesus aponta para si mesmo.
b)
Apenas
Simão, filho de Jonas, responde: "Tu és o Cristo, o Filho do Deus
vivo"
> Aqui Pedro aponta para Jesus.
c)
A
partir de então, Jesus se dirigirá sempre e somente para Pedro:
1ª frase) Bem-aventurado és TU, Simão, filho de Jonas (...)
2ª frase) Pois também eu TE digo:
3ª frase) TU és 'KEFFA' (='Pedro', 'pedra'; e não: 'Evna', 'Pedrinho', 'pequena pedra')
4ª frase) e sobre ESSA 'KEFFA' (='pedra') edificarei a minha Igreja (...);
5ª frase) e eu TE darei as chaves do Reino dos Céus;
6ª frase) e tudo o que TU ligares na terra será ligado nos céus;
7ª frase) e tudo o que TU desligares na terra será desligado nos céus.
Deste modo, nestas 7 frases de Cristo
dirigidas diretamente a Pedro, porque tão somente a 4ª frase destoaria de todo
o conjunto, para apontar para o próprio Cristo (como afirmam alguns
protestantes) ou para fazer referência à confissão de fé de Pedro (como afirmam
outros protestantes)? Não! Ela também deve apontar para Pedro tal como as
demais 6 frases desse conjunto!
Terceiro, vemos nos Evangelhos que
diversos outros personagens confessaram o mesmo que Pedro e, mesmo assim, Jesus
não lhes atribuiu absolutamente nada em relação à Sua Igreja: Natanael fez sua
confissão de fé antes de Pedro (cf. João 1,49); os outros Onze discípulos
também O confessaram antes de Pedro (cf. Mateus 14,33); o ladrão crucificado
com Jesus reconheceu que Ele era o Cristo (cf. Lucas 23,42); Marta idem (João
11,27)... Logo, ao se dirigir a "KEFFA" e prometer "edificar
sobre 'ESSA KEFFA'", Jesus só podia estar se referindo a Pedro, de modo
que não pode haver nenhuma dúvida: Pedro é a pedra sobre a qual o próprio Jesus
edificará a sua Igreja.
Muito a propósito, assim traduz (e
interpreta!) a Bíblia protestante denominada "The Living Bible" a
passagem de João 1,42:
- "Mas tu serás chamado Pedro, a pedra"
(="but you shall be called Peter, the rock").
4º) Posteriormente, o próprio Pedro
(talvez recordando-se desse evento em Cesareia de Felipe), teria se referido
aos crentes como sendo um edifício de pedras que vive alicerçadas sobre a Pedra
viva que é Cristo Jesus e não ele, Pedro (cf. 1Pedro 2,1-10); e que Paulo
seguiria o mesmo caminho (cf. 1Coríntios 3,11) [08:26].
Isso é uma "meia-verdade",
pois lemos em 1Pedro 2,4-5:
- "Também vós
sois PEDRAS vivas, que entram na construção de um edifício espiritual".
Ocorre que aqui, Pedro está escrevendo
diretamente em grego e emprega exatamente a palavra "lithos", ou
seja, literalmente "pedras pequenas". Isto significa que cada crente
é como uma pequena pedra que entra numa obra e que, associados uns aos outros,
constituem todo um edifício (neste caso, o edifício espiritual, que é a
Igreja). Aqui, Pedro não chama os crentes de "petras" em grego, porque
as "petras", em grego, certamente são maiores, já que são empregadas
para as fundações da obra. Logo, Cristo constituiu Pedro como primeira pedra da
sua Igreja (Cristo pôs a primeira Pedra, sobre a qual edificará a sua Igreja,
sendo Ele mesmo, Jesus, o Fundador e Pedra Angular que mantém tudo de pé).
No tocante a 1Coríntios 3,11, diz que
"ninguém pode pôr outro alicerce além daquele que foi colocado: Jesus
Cristo". Ocorre que quem resolveu empregar Pedro nas fundações e edificar
a Igreja sobre ele foi o próprio Cristo e não outros homens, de modo que este
versículo não pode ser aplicado contra Pedro.
Na verdade, o grande problema da
comunidade de Corinto era a sua frequente tendência ao divisionismo: uns diziam
que seguiam a Cristo, outros que seguiam Apolo, outros Paulo, outros Cefas como
lemos nos versículos 3 e 4 desse mesmo capítulo. Paulo então está ensinando
aqui que a doutrina da Fé, embora transmitida pessoalmente por ele e por outras
lideranças da Igreja, só podem estar apoiadas em Cristo (isto é: são
cristocêntricas), pois somente Este redimiu a todos (versículo 5).
Basta então ler os 15 primeiros
capítulos dos Atos dos Apóstolos e as duas pequenas Cartas de Pedro para
constatar que é exatamente isto que este Apóstolo (e os Papas, seus sucessores)
faz: transmite a doutrina da salvação fundamentando-se sempre no próprio Cristo
Jesus.
5º) Em nenhum momento Cristo teria dito
aos demais Apóstolos que Pedro seria o seu líder; pelo contrário, Cristo teria
afirmado a igualdade hierárquica entre os Doze [08:58].
Com base em tudo o que dissemos acima,
vemos que é totalmente desnecessário encontrarmos uma referência expressa de
Cristo aos demais Apóstolos comunicando a supremacia de Pedro (e se existisse
essa referência, o que diriam os protestantes? Que estaria faltando o registro
da autenticação e o reconhecimento da firma no Tabelionato de Títulos e
Documentos?).
Ademais, não se confunde
"igualdade pastoral" com "igualdade jurisdicional".
Pastoralmente, todos os Bispos do mundo têm os mesmos múnus do Papa (que é o
Bispo de Roma): ensinar, governar e santificar o seu rebanho. Porém, a
jurisdição do Papa cobre Roma e toda a Igreja universal (já que Cristo
confiou-lhe as chaves do Reino e todo o Seu rebanho, tendo ele ainda o dever de
confirmar todos os seus irmãos na fé), enquanto que a jurisdição dos demais
Bispos restringe-se às suas respectivas dioceses.
Ora, a liderança de Pedro sobre toda a
Igreja é notoriamente inquestionável:
• Foi o único Apóstolo a ter o seu nome
alterado para "pedra", conectando-o também a Abraão,
"pedra" (cf. Isaías 51,1).
• Foi o único Apóstolo a receber de Jesus as chaves do Reino dos céus.
• Foi o único Apóstolo a receber o ônus
de confirmar os seus irmãos na fé.
• Foi o único Apóstolo a presidir a
eleição de Matias para ocupar o lugar de Judas Iscariotes, determinando assim o
início da praxe da sucessão apostólica (Atos 1,15-26).
• Foi o Apóstolo que proferiu a 1ª
pregação pública da Doutrina Cristã em ambiente fechado no dia de Pentecostes
(Atos 2,14-40).
• Foi o Apóstolo que proferiu a 1ª
pregação pública da Doutrina Cristã em ambiente aberto junto ao Pórtico de
Salomão (Atos 3,12-26).
• Foi o Apóstolo que conheceu a 1ª
causa jurídica da Igreja, julgando com a máxima autoridade e irrecorribilidade,
a fraude de Ananias e sua esposa Safira (Atos 5,1-11).
• Foi o Apóstolo que realizou a 1a
visita apostólica fora do ambiente judaico (Atos 9,32-43).
• Foi o Apóstolo que decidiu pela
recepção dos gentios na Igreja (Atos 10,1-48).
• Foi o Apóstolo que sozinho e por
autoridade pessoal, definiu o 1o dogma da Igreja, permitindo solenemente o
ingresso dos gentios na Igreja, sem a necessidade da circuncisão (Atos
15,7-11). etc.
Tanto Pedro possui uma posição ímpar na
Igreja, que os outros "grandes" Apóstolos, que entram em relação com
ele, dispensam-lhe sempre uma posição de grande reverência: Paulo (Gálatas
1,8), João (João 21,15-17), Tiago (durante o Concílio de Jerusalém, Atos 15)
etc.
d)
A
lista dos Apóstolos
Afirmou o programa que os teólogos
católicos ensinam que "sempre que os nomes dos Doze Apóstolos são
mencionados, o de Pedro vem em primeiro lugar" e que Pedro também chega a
ser citado até em uma expressão coletiva: "Pedro e os que o
acompanhavam" (cf. Marcos 1,36) [05:28].
Mas se por um lado o programa
reconheceu que de fato Pedro exerceu certa liderança sobre o grupo [05:47], por
outro contra-argumentou apenas que tal liderança se teria dado por pouco tempo,
pois assim que a Igreja primitiva se organizou, o 1o líder efetivo dela foi
Tiago e não Pedro (cf. Atos 12,17; 15,12; Gálatas 1,18-19) [05:54].
De fato, na lista dos Apóstolos, Pedro
é sempre citado em primeiro lugar, em todos os casos. Em Mateus 10,2, Pedro é
até mesmo qualificado como "o primeiro":
- "Eis os nomes
dos doze Apóstolos: O PRIMEIRO, Simão, chamado Pedro".
Isso por si só já é capaz de demonstrar
a sua liderança no grupo, até porque Pedro não foi o primeiro discípulo a ser
chamado por Jesus... Os dois primeiros a serem chamados foram André e, muito
provavelmente, João Evangelista, ambos discípulos de João Batista (cf. João
1,37-40).
Quanto à liderança de Tiago, devemos
observar, em 1o lugar, que a "futura" Igreja recebeu de Cristo uma
missão universal (daí a sua catolicidade):
- "Toda autoridade sobre o céu e sobre a terra me foi entregue. Ide,
portanto, e fazei que todas as nações se tornem discípulos" (Mateus 28,18-19).
- "Ide por todo o mundo, proclamai o Evangelho a toda criatura" (Mateus 16,15).
- "Recebereis uma força, a do Espírito Santo, que descerá sobre vós; e
sereis minhas testemunhas em Jerusalém, em toda a Judeia e a Samaria, e até os
confins da terra" (Atos 1,8).
No entanto, a totalidade do rebanho de
Cristo foi por Ele mesmo confiado, após a Sua ressurreição, tão somente a
Pedro:
- "Tendo eles comido, Jesus perguntou a Simão Pedro: Simão, filho de João,
amas-me mais do que estes? Respondeu ele: Sim, Senhor, tu sabes que te amo.
Disse-lhe Jesus: Apascenta os meus cordeiros. Perguntou-lhe outra vez: Simão,
filho de João, amas-me? Respondeu-lhe: Sim, Senhor, tu sabes que te amo.
Disse-lhe Jesus: Apascenta os meus cordeiros. Perguntou-lhe pela terceira vez:
Simão, filho de João, amas-me? Pedro entristeceu-se porque lhe perguntou pela
terceira vez: Amas-me?, e respondeu-lhe: Senhor, sabes tudo, tu sabes que te
amo. Disse-lhe Jesus: Apascenta as minhas ovelhas" (João 21,15-18).
Com efeito, a igreja de Jerusalém, não
constitui em sentido próprio a Igreja Universal, Católica, mas apenas uma
fração dela (=Diocese), de modo que a liderança de Tiago é apenas local - por
óbvia concessão do líder universal, Pedro. Podemos observar isso claramente
observando a condução do chamado "Concílio de Jerusalém" (cf. Atos
15):
Após a apresentação do problema que
dividia as comunidades cristãs fora de Jerusalém (versículos 1 a 5), Pedro,
mais uma vez manifesta a sua liderança DEFININDO este dogma (o 1o da Igreja
Cristã): "Cremos que seremos (=os judeus) salvos pela graça do Senhor
Jesus Cristo [e não pela circuncisão], como eles (=os gentios) também"
(versículo 11). E o versículo 12 aponta categoricamente: "Então TODA A MULTIDÃO
SE CALOU".
Portanto, Pedro DECIDIU o Concílio,
permitindo o ingresso dos gentios na Igreja sem a necessidade de circuncisão. O
líder da igreja local, Tiago, só vai tomar a palavra APÓS Pedro ter procedido a
DEFINIÇÃO, para meramente propor uma prática pastoral que visava implementar a
definição doutrinária de Pedro. Tiago, portanto, apenas explicita pastoralmente
aquela definição de Pedro.
Note-se, ainda, que Pedro não precisou
pedir a palavra aos demais participantes do Concílio: bastou se levantar e
todos passaram a ouvi-lo diligentemente, sem interrompê-lo (versículo 7);
enquanto que Tiago, ao contrário, precisou pedir vênia para que fosse ouvido
(versículo 13). Isto bem demonstra quem era o líder da Igreja universal, quem
era o chefe do Colégio Apostólico...
e)
Pedro
é o mais citado nos Evangelhos
O programa reconheceu também que Pedro
é o mais citado nos Evangelhos, sendo citado pelos evangelistas cerca de 171
vezes [03:40] e que "o temperamento expansivo e a energia de Pedro" o
colocou em destaque, tendo sido com certeza um dos líderes da Igreja [04:10].
Apesar disso, contra-argumentou que:
1º) Se for considerado todo o Novo
Testamento, Paulo é o Apóstolo mais citado [03:46], querendo com isto afirmar
implicitamente que se o argumento católico fosse correto, Paulo teria sido o 1º
Papa e não Pedro.
O argumento católico quer chamar a
atenção para a liderança e importância inequívoca de Pedro no período anterior
à Ascenção do Senhor. Foi exatamente neste período, coberto apenas pelos
Evangelhos, que Cristo:
i)
prometeu
edificar a Sua Igreja sobre Pedro (Mateus 16,16-19);
ii)
ordenou
que Pedro, após sua efetiva conversão, confirmasse os seus irmãos na fé (o que
inclui, certamente, os demais Apóstolos; cf. Lucas 22,31-32).
iii)
confiou-lhe
de direito e de fato todo o seu rebanho (João 21,15-17).
Temos aí então, nesse pequeno período,
as bases da Igreja, da qual São Paulo não participa. Daí a importância da
argumentação teológica ser crescente e não desordenada como fez o programa,
neste episódio contra o Papado.
De outro modo, São Paulo (chamado por
Cristo após a sua Ascensão) age sempre reconhecendo a liderança de Pedro sobre
a primitiva Igreja cristã. Por isso, após a sua conversão, encerrado o seu
retiro de 3 (três) anos na Arábia, dirigiu-se a Jerusalém à fim de encontrar-se
pessoalmente com Pedro, com quem ficou durante 15 dias (cf. Gálatas 1,18),
citando Tiago apenas de relance, secundariamente (cf. Gálatas 1,19).
Ora, se Paulo não reconhecesse a
autoridade de Pedro porque teria "perdido tempo" passando 15 dias com
Pedro e não com Tiago, que segundo o programa, seria o verdadeiro líder da
Igreja universal? Não há dúvidas, assim, de que Paulo também reconhecia a
primazia e a autoridade de Pedro sobre toda a Igreja.
2º) Se a ocorrência de nomes pode ser tido
por sinal de hierarquia, dever-se-ia observar que Judas Iscariotes foi o 2º
mais citado nos Evangelhos e que nem por isso se poderia dizer que ele era o
mentor dos demais [03:56].
Judas nem de perto se aproxima de
Pedro: é citado tão somente 20 vezes e quase sempre para apontar-lhe traços
negativos!!!
Por isso, esta contra-argumentação
adventista é totalmente absurda e desprovida sentido... É o típico uso da
"metralhadora giratória" protestante: na falta de uma
contra-argumentação lógica, "atira-se" rapidamente para todos os
lados, só para não dar o braço a torcer.
3º) Pedro "jamais foi o topo da
lista ou Papa dos demais Apóstolos. Não há nada, nenhuma indicação histórica ou
bíblica que aponte para uma liderança, digamos, 'papal' de Pedro" [04:23]
Ao contrário, Pedro encontra-se sempre
no topo das listas bíblicas. Basta uma simples leitura para comprová-lo
documentalmente:
- Mateus 10,2-4: "Eis os nomes dos doze apóstolos: O PRIMEIRO, SIMÃO,
CHAMADO PEDRO; depois André, seu irmão. Tiago, filho de Zebedeu, e João, seu
irmão. Filipe e Bartolomeu. Tomé e Mateus, o publicano. Tiago, filho de Alfeu,
e Tadeu. Simão, o cananeu, e Judas Iscariotes, que foi o traidor".
- Marcos 3,14-19:
"Designou [Jesus] doze dentre eles para ficar em sua companhia. (...)
Escolheu estes doze: SIMÃO, A QUEM PÔS O NOME DE PEDRO; Tiago, filho de
Zebedeu, e João, seu irmão, aos quais pôs o nome de Boanerges, que quer dizer
Filhos do Trovão. Ele escolheu também André, Filipe, Bartolomeu, Mateus, Tomé,
Tiago, filho de Alfeu; Tadeu, Simão, o Zelador; e Judas Iscariotes, que o
entregou".
- Lucas 6,13-16:
"Ao amanhecer, chamou os seus discípulos e escolheu doze dentre eles que
chamou de apóstolos: SIMÃO, A QUEM DEU O SOBRENOME DE PEDRO; André, seu irmão;
Tiago, João, Filipe, Bartolomeu, Mateus, Tomé, Tiago, filho de Alfeu; Simão,
chamado Zelador; Judas, irmão de Tiago; e Judas Iscariotes, aquele que foi o
traidor".
- Atos 1,13:
"Tendo entrado no cenáculo, subiram ao quarto de cima, onde costumavam
permanecer. Eram eles: PEDRO e João, Tiago, André, Filipe, Tomé, Bartolomeu,
Mateus, Tiago, filho de Alfeu, Simão, o Zelador, e Judas, irmão de Tiago".
Além disso, há inúmeros testemunhos
históricos, bem do início do Período Patrístico (que o programa, por pura
conveniência, faz questão de ignorar), apontando Pedro como a pedra sobre a
qual Cristo fundou a Sua Igreja e como origem da instituição do Papado. Cito
apenas duas:
- "Foi
ocultado algo a Pedro, que foi chamado 'pedra sobre a qual a Igreja seria
edificada', que obteve as chaves do Reino dos Céus e o poder de desligar e
ligar nos céus e na terra?" (Tertuliano de Cartago, +220; Da Prescrição
dos Hereges 22,2-4).
- "[Os
hereges] se atrevem a atravessar o mar [Mediterrâneo] para levar cartas de
cismáticos e profanos à cátedra de Pedro e Igreja principal, de onde provém a
unidade do sacerdócio. Esquecem, porém, que são esses mesmos romanos que
tiveram sua fé louvada pelo Apóstolo e [são] inacessíveis à perfídia"
(Cipriano de Cartago, +258; Carta 59,14).
Por isso concluía magistralmente o
grande Doutor de Hipona, Santo Agostinho (+430):
- "Quem ignora que o príncipe dos Apóstolos é o bem-aventurado
Pedro? (...) A Igreja atua em bendita esperança até nesta vida problemática, e
esta Igreja (...) foi personificada no Apóstolo Pedro, por conta do primado que
obteve dentre os Apóstolos" (Tratado sobre João 56,1; 124,5).
Quem disse então que a primazia de
Pedro não encontra eco na Bíblia e na História???
Para mais referências do Período
Patrístico, recomendamos a leitura do livro "A Fé Cristã Primitiva - Coletânea
de Sentenças Patrísticas", que pode ser adquirido no Clube de Autores[6].
Finalmente, para concluir esta parte da
refutação, devemos observar que a doutrina católica sobre o Papado não se
fundamenta apenas nessas "4 razões" apontadas pelo programa adventista.
Muito pelo contrário, sustenta-se bíblica e historicamente em dezenas e mais
dezenas de argumentos. Dave Armstrong, por exemplo, cita 50 razões apoiando-se
tão somente na Bíblia[7]!
3. ACUSAÇÕES CONTRA A
INSTITUIÇÃO DO PAPADO QUE DESPREZAM A DOUTRINA CATÓLICA
Após tentar oferecer
contra-argumentações para só 4 argumentos católicos que justificam a
instituição do Papado, o programa passou a apresentar contra-argumentos contra
o "regime papal", "fundamentando-se" na Bíblia e,
paradoxalmente, em diversas fontes extrabíblicas.
Sim, dizemos "paradoxalmente"
porque sendo os Adventistas do 7º Dia uma denominação protestante (muito embora
muitos protestantes neguem isto), deveriam contra-argumentar apelando
"apenas para a Bíblia" (=doutrina da "Sola Scriptura"),
como todos os demais protestantes[8]. Ora, socorrendo-se agora de fontes
extrabíblicas, em especial dos Padres da Igreja (sendo que todos eles eram
católicos!!!), verifica-se que na prática a "Sola Scriptura" é
insuficiente para os Adventistas demonstrarem que a antiquíssima instituição do
Papado seria uma doutrina errônea.
Deploravelmente, quando a maioria dos
protestantes questionam os católicos, exigem que apresentemos as nossas razões
"usando apenas a Bíblia" (sendo que a própria Bíblia não ensina nem
exige isto!!!); porém, entre eles, internamente, também precisam apelar para o
seu "magistério" e para as suas "tradições"
denominacionais, de modo que também não aplicam a "Sola Scriptura"
que afirmam observar...[9]
Vamos aos contra-argumentos:
a)
"Fundamentados" na Bíblia
1º) Jesus advertiu aos Apóstolos que
não se deixassem ser chamados de "pai", porque só Deus é Pai (cf.
Mateus 23,1-12); no entanto, curiosamente, o líder católico se denomina
"Papa", que quer dizer "Pai" em latim [09:17].
Ok. Historicamente, convém lembrar que
o termo latino "papa" provém do grego "papas", variação de
"pappas", que quer dizer "pai". Nos primeiros séculos do
Cristianismo, o título era aplicado a todos os bispos, como expressão de afeto.
Com o tempo, passou a ser empregado apenas para o Bispo de Roma, em virtude da
sua peculiar posição como sucessor de São Pedro, pastor de toda a Igreja e
Vigário de Cristo sobre a terra.
A contra-argumentação apresentada é tão
simplista que o que realmente faz, na verdade, é isolar tal afirmação de Cristo
do seu contexto. Com efeito, quando Jesus diz que "não devemos chamar
ninguém de pai", está tratando de um assunto bem diferente: da hipocrisia
dos fariseus e doutores da lei, que punham Deus de lado e se colocavam ilegitimamente
no Seu lugar, como podemos facilmente observar pelos versículos 6 e 7. Estes
eram totalmente obcecados pelo respeito e louvor humanos. O que Cristo quer
para os seus líderes é que sejam humildes: que se contemplem como realmente
são, que contemplem os outros como realmente são e que contemplem a Deus na
verdade, como realmente Ele é (cf. Santa Teresa d'Ávila).
Ora, se realmente não pudéssemos chamar
ninguém de pai, teríamos que riscar o Mandamento divino que diz: "Honra
teu PAI e tua mãe, para que teus dias se prolonguem sobre a terra que te dá o
Senhor, teu Deus" (Êxodo 20,12). Mas será que os Adventistas - que nos
acusam e se apegam tanto à letra dos Dez Mandamentos (a ponto de ignorar
solenemente o espírito da Lei) - concordariam com isto?
Estudando melhor o assunto, o Pe. Mitch
Pacwa[10] apontou que "Existem cerca de 144 ocasiões no Novo Testamento
onde o título "pai" é empregado para alguém que não seja Deus: para
os patriarcas de Israel, para os pais de família, para os líderes judeus e para
os líderes cristãos". Não a toa, portanto, que o próprio São Paulo escreve
aos fiéis cristãos, na condição de "pai espiritual":
- "Não vos
escrevo isto para vos envergonhar, mas para admoestar-vos como a filhos
queridos. Pois, embora tenhais como cristãos dez mil instrutores, não tendes
muitos pais. Anunciando a boa notícia, eu vos gerei em Cristo" (1Coríntios
4,14-15).
- "A Timóteo,
meu verdadeiro filho na fé: Graça, misericórdia e paz da parte de Deus nosso
Pai, e da de Cristo Jesus, nosso Senhor" (1Timóteo 1,2).
- "A Tito, meu
verdadeiro filho, segundo a fé comum: graça, misericórdia, e paz da parte de
Deus Pai, e da do Senhor Jesus Cristo, nosso Salvador" (Tito 1,4).
- "Peço-te por
meu filho Onésimo, que gerei nas minhas prisões" (Filemon 1,10).
E não só Paulo... O Apóstolo João
também se dirigia aos cristãos chamando-os de"Filhinhos" (cf. 1João 1,2).
Ora, se os cristãos não pudessem mesmo
chamar ninguém de pai, o primeiro Mártir da Igreja, Santo Estêvão, não teria
cometido "erro tão crasso":
- "E ele disse:
'Homens, irmãos e PAIS, ouvi: O Deus da glória apareceu a nosso PAI Abraão,
estando na Mesopotâmia, antes de habitar em Harã" (Atos 7,2).
...nem, muito menos, o
experimentadíssimo São Paulo (pois, vindo de um Apóstolo que instrui as igrejas
na reta Fé, isso seria totalmente injustificável):
- "Homens,
irmãos e PAIS, ouvi agora a minha defesa perante vós" (Atos 22,1).
- "Portanto, é
pela fé, para que seja segundo a graça, a fim de que a promessa seja firme a
toda a posteridade, não somente à que é da lei, mas também à que é da fé que
teve Abraão, o qual é PAI de todos nós" (Romanos 4,16).
Com efeito, considerando que os
católicos, ao se dirigirem ao Papa, não estão atribuindo a ele aquele
significado que designa propriamente o Pai celeste, mas sim usando um termo que
meramente indica respeito, reverência e afeto, de que realmente é legítimo
merecedor, é mais do que óbvio de que não há problema nenhum nisto, caso
contrário os protestantes também não poderiam chamar seus líderes de
"pastores" já que, pela Bíblia, somente Cristo é "o Bom
Pastor" (cf. João 10,11.14).
2º) Quanto às chaves dadas por Jesus a
Pedro, com o poder de ligar e desligar no céu e na terra, "esse mesmo
elemento" foi conferido em outras passagens bíblicas "a todos os
discípulos de Cristo e não apenas a um deles" (cf. Mateus 18,18; João
20,23; Apocalipse 1,18) [09:51].
Reproduzamos, então, as passagens
bíblicas citadas pelo programa:
- Mateus 18,18:
"Em verdade vos digo que tudo o que ligardes na terra será ligado no céu,
e tudo o que desligardes na terra será desligado no céu".
- João 20,23:
"Aqueles a quem perdoardes os pecados lhes são perdoados; e àqueles a quem
os retiverdes lhes são retidos".
- Apocalipse 1,18:
"Eis que vivo e fui morto, mas eis aqui estou vivo para todo o sempre.
Amém. E tenho as chaves da morte e do inferno"
Em Mateus 18,18 e João 20,23, Jesus
está se dirigindo aos Apóstolos como um todo. No entanto, nestas duas passagens
não se fala nada das "chaves do Reino dos Céus"; fala apenas das
funções de ligar/reter e desligar/não reter, também entregues a Pedro em Mateus
16,16-19.
Apocalipse 1,18, por outro lado, fala
das chaves da morte e do inferno. Portanto, estas NÃO são as "chaves do
Reino dos Céus" e permanecem de posse plena do Senhor. Pretender que as
chaves do Inferno sejam as mesmas do Céu é um verdadeiro estupro à Palavra de Deus.
Pois bem: como facilmente percebemos,
SOMENTE Pedro recebeu as chaves do Reino; nenhum outro Apóstolo as recebeu (nem
mesmo João, o "discípulo amado" e, cronologicamente, o último a
falecer). E o que seriam essas chaves? Representam justamente a primazia sobre
toda a Igreja: Pedro, recebendo as chaves do Reino, torna-se o legítimo
representante de Cristo-Rei sobre a terra, da mesma forma como lemos em Isaías
22,22, onde o Rei Ezequias remove de Sobna as chaves da casa de Davi e as
entrega ao seu novo sucessor Eliacim, que passa a ser então o novo mordomo ou
vizir do reino de Israel e Judá, detendo todo o poder do Rei, exceto o seu
próprio trono.
3º) No que diz respeito à passagem em
que Jesus pede a Pedro para que apascente as suas ovelhas (cf. João 21,15),
este pedido também é, em outras passagens, "estendido a todos os membros
do grupo" (cf. 1Pedro 5,1-4) [10:19].
Leiamos agora 1Pedro 5,1-4:
- "Aos
presbíteros, que estão entre vós, admoesto eu, que sou também presbítero com
eles, e testemunha das aflições de Cristo, e participante da glória que se há
de revelar: Apascentai o rebanho de Deus, que está entre vós, tendo cuidado
dele, não por força, mas voluntariamente; nem por torpe ganância, mas de ânimo pronto;
Nem como tendo domínio sobre a herança de Deus, mas servindo de exemplo ao
rebanho. E, quando aparecer o Sumo Pastor, alcançareis a incorruptível coroa da
glória. Semelhantemente vós jovens, sede sujeitos aos anciãos; e sede todos
sujeitos uns aos outros, e revesti-vos de humildade, porque Deus resiste aos
soberbos, mas dá graça aos humildes".
Quem escreve esta carta para os
cristãos do Ponto, Galácia, Capadócia, Ásia e Bitínia é o próprio São Pedro, a
partir da "Babilônia" (cf. 1Pedro 5,13), isto é, Roma, como sempre
afirmou a Igreja Católica e como reconhecem a maioria dos protestantes e
biblistas. Como facilmente podemos verificar, Pedro não está "doando"
uma parte do Rebanho do Senhor para esses outros presbíteros, mas está
simplesmente exortando a cada presbítero em particular dessas regiões para que
cuidem zelosamente dos seus respectivos rebanhos locais. Pedro pode agir assim
porque é responsável, perante o Senhor, por todo o rebanho.
Não há, pois, que se falar em
"pedido estendido", pois a totalidade do Rebanho de Jesus continua
sob a guarda universal de Pedro (e dos Papas, seus sucessores), fiel vigário de
Cristo sobre a terra até que Jesus retorne no fim dos tempos (cf. Mateus
28,20).
Mais uma vez: Só pode exortar nesses
termos quem tem a responsabilidade pelo todo. Logo, antes de enfraquecer, estes
versículos manifestam fortemente a autoridade primacial de Pedro sobre toda a
Igreja.
b)
"Fundamentados" em Fontes
Extrabíblicas
Como vimos até aqui, a própria Bíblia
aponta muito mais para a legitimidade do Papado do que o inverso. Contudo, como
dissemos anteriormente, de forma muito paradoxal o programa esqueceu a
"Sola Scriptura" protestante e passou a apelar também para fontes
não-bíblicas, para tentar refutar essa bimilenar instituição cristã. Para que a
nossa análise seja então completa, aceitamos o desafio de apreciar essas
contra-argumentações, para "ter claro se nossas convicções religiosas são
de fato baseadas em elementos concretos ou em crendice, tradição ou
achismo", como declarou o apresentador.
E para facilitar o nosso estudo,
seguiremos aqui a ordem cronológica de todos os "fatos" identificados
e apontados, deixando novamente de lado aquela "ordem de
conveniência" do programa, que desordena tudo para favorecer o ponto de vista
adventista:
1º) Pedro nunca se considerou chefe
supremo da Igreja ou Papa, nem em Roma nem em qualquer outra parte do Império;
"o mesmo pode-se dizer de Lino e de Clemente, seus dois imediatos
substitutos na cidade de Roma" [10:38].
Este contra-argumento desconsidera a
interpretação sistemática da Bíblia e omite importantes eventos para o primado
de Pedro. Contudo, a Bíblia é muito clara em como Pedro é preparado por Jesus
para tornar-se o Chefe da Igreja. Recordemos os principais:
• Mateus 16,16-19: Jesus quis entregar
a Pedro e somente a Pedro, as chaves do Reino dos Céus. Tais
chaves, segundo a Bíblia, significam autoridade, primazia (cf. Isaías 22,22;
Apocalipse 1,28; 3,7). Em nenhum outro ponto do Novo Testamento vemos Jesus
entregar as chaves do Reino para qualquer outro Apóstolo ou discípulo seu.
• Lucas 22,31-32: Jesus confiou a Pedro
e somente a Pedro a missão de confirmar na fé os seus
irmãos (o que inclui até os demais Apóstolos). Com efeito, o dom ou carisma da
reta fé é entregue tão somente a Pedro.
• João 21,15-17: Cristo constituiu
Pedro e somente Pedro como Pastor do Seu único rebanho (cf.
João 10,16). Observe-se que Jesus não legou apenas uma parte do Seu rebanho,
mas todo o rebanho, de maneira indivisível e originária. Deste modo, percebe-se
claramente que Pedro, embora seja da mesma ordem dos demais Apóstolos (=o Papa
é bispo assim como os demais bispos do mundo), possui ele uma jurisdição
superior, apascentando (=exercendo autoridade) todo o rebanho cristão (ou seja,
a somatória de todos os rebanhos parciais, confiados a cada bispo local).
Por outro lado, citando nominalmente
Lino e Clemente como "imediatos substitutos" de Pedro na cidade de
Roma, é óbvio que o programa cai em contradição, pois reconhece que estes dois
bispos de fato sucederam a Pedro em Roma, confirmando a antiguidade do
instituto do Papado e, ao contrário do que costuma afirmar o Adventismo,
demonstrando que tal instituição não teve origem com a "grande apostasia
da Igreja" na época de Constantino.
Com relação a Lino, conhecido de São
Paulo Apóstolo (cf. 2Timóteo 4,21), é bem verdade que pouco sabemos acerca do
seu pontificado e de seus "atos" sobre a Igreja Universal. O mesmo se
diga de Anacleto, o sucessor de Lino, e que o programa esqueceu de mencionar...
No entanto, quanto a Clemente, o
sucessor de Anacleto e também conhecido de São Paulo (cf. Filipenses 4,3),
enviou este, no ano 95, uma carta à comunidade de Corinto, em que ao mesmo
tempo que exortava, impunha a sua autoridade. Isto porque o espírito
divisionista existente na época de Paulo continuava a fazer estragos ali, a
ponto de sua as autoridades eclesiásticas terem sido "depostas" por
um grupo de descontentes. Clemente então adverte:
- "Vós,
portanto, que fostes a causa da rebelião, sede submissos aos vossos presbíteros
e aceitai com contrição a correção (...) Se, porém, alguns não obedecerem ao
que, POR NOSSO INTERMÉDIO, Ele (=Cristo) fez, saibam que se envolverão em
pecado e perigo não pequeno (...) Alegria e regozijo nos dareis se, obedientes
ao que, pelo Espírito Santo, acabamos de escrever, cortardes pela raiz a cólera
iníqua de vossa inveja, sendo conformes com a exortação à paz e à concórdia que
nesta carta fazemos" (1a Carta aos Coríntios 57; 59; 63).
É este o 1º testemunho patrístico da
posição singular da Igreja de Roma e do ocupante de sua Sé, isto é, a Sé de
Pedro (que o programa faz questão de omitir). Repare-se, ainda, que tendo sido
escrita entre os anos 95 e 96, o Apóstolo João ainda se encontrava vivo (e o
Apocalipse muito provavelmente nem mesmo tinha sido ainda escrito[11]);
entretanto, quem veio intervir em Corinto é Clemente de Roma, sucessor de Pedro
e certamente conhecedor do seu ofício e autoridade como Papa (ainda que nessa
época talvez não fosse esse o título empregado)[12].
Observe-se ainda que essa carta foi
levada a Corinto por 3 testemunhas que tinham também por missão observar e
relatar a Clemente o retorno à paz naquela comunidade. Logo, não se tratava de
uma simples carta retórica ou exortatória, até porque também
"recomendava" aos infratores que se exilassem, refletindo com certeza
a prática romana secular em que o exílio implica na fuga do julgamento.
A carta de Clemente aos Coríntios, por
seus bons frutos para a comunidade, era tão estimada, que foi tida por canônica
em diversas igrejas cristãs (antes de o cânon do Novo Testamento ter sido
definido pela Igreja), constando, por exemplo no tão celebrado manuscrito
bíblico conhecido como "Códice Alexandrino". Quase um século depois,
o bispo Dionísio de Corinto (+166) comunicou ao Papa Sótero que sempre se
alegravam quando liam nas igrejas locais a carta de Clemente[13].
Por fim, é cabível recordar que os
Santos Padres e escritores eclesiásticos anteriores à Era Constantiniana, já
apontavam Lino, Anacleto e Clemente como sucessores diretos de São Pedro, como,
p.ex., Santo Ireneu de Lião ("Contra as Heresias 3,3,3). Aliás, a sucessão
apostólica dos bispos de Roma a partir de Pedro era tão conhecida e amplamente
aceita pelas demais igrejas cristãs (inclusive pelos cismáticos e hereges; e
ainda que acidentalmente se omitisse algum nome na lista das sucessões[14]),
que sempre era apontada pelos escritores eclesiásticos para se verificar a
ortodoxia dos diversos grupos que se identificavam como "cristãos".
2º) Já no final do séc. II, o bispo de
Roma queria fazer valer a todo custo a sua supremacia, como no caso de Victor
I, que ordenou às igrejas orientais a celebrar a Páscoa nos domingos; não sendo
atendido, excomungou os cristãos desobedientes [16:57].
Em princípio, devemos observar que a
questão aqui era meramente litúrgica (=disciplinar) e não dogmática
(=doutrinária), de modo que qualquer das partes envolvidas na controvérsia
poderia adotar uma entre duas posições possíveis:
• Celebrar a Páscoa em qualquer dia da
semana (inclusive no domingo!), para preservar o dia 14 de Nisã (dia da páscoa
judaica);
- OU –
• Celebrar a Páscoa no domingo seguinte ao dia 14 de Nisã, para preservar sempre o dia em que o Senhor ressuscitou (o domingo).
Porém, ao contrário do que afirma o
programa, não eram todas as igrejas orientais que celebravam a Páscoa no dia 14
de Nisã, mas apenas uma pequena parcela, que correspondia às igrejas da Ásia
Menor, evangelizadas por São João Evangelista. Considerando, porém, que a
imensa maioria das igrejas (inclusive Roma, evangelizada por Pedro e Paulo)
celebrava a Páscoa no domingo seguinte ao dia 14 de Nisã, o Papa Vítor
(189-199) quis padronizar a data da celebração, para que todos os cristãos do
mundo pudessem comemorar juntos a Páscoa do Senhor no mesmíssimo dia, como um
corpo bem unido (cf. 1Coríntios 1,10; Filipenses 2,2).
O fato de Vítor ameaçar as igrejas
dissidentes com a excomunhão UNIVERSAL (e não só com a Igreja de Roma) e,
posteriormente, cumprir a ameaça, demonstra que o exercício da jurisdição
universal pelo bispo de Roma, o Papa, continuava sendo compreendido no século
II como inerente à função, o que mais uma vez reforça a autenticidade do
instituto do Papado. Finalmente, para pôr fim às hesitações existentes nos
primeiros séculos e unificar a celebração da Páscoa em toda a Igreja, o I
Concílio Ecumênico de Niceia, em 325, determinou consensualmente que a Páscoa
seria sempre celebrada no domingo seguinte à primeira lua cheia após o
equinócio da primavera no hemisfério norte (=21 de março), ou seja, no domingo
seguinte ao dia 14 de Nisã (o que bem demonstra que o desejo e sentimento de
Vítor I eram legítimos e autênticos em toda a Igreja):
- "Nós, por fim,
vos anunciamos as boas novas dos acordos relativos à Santa Páscoa, porque este
pormenor também foi através de nossas preces corretamente firmado, de modo que
todos os nossos irmãos no Oriente, que anteriormente seguiam o costume dos
judeus, doravante, celebrarão a sacratíssima festa da Páscoa simultaneamente
com os romanos, convosco e com todos aqueles que observam a Páscoa desde o
início [no domingo seguinte à Páscoa judaica]" (Carta Conciliar à Igreja
de Alexandria).
3º) Se Pedro não foi o 1o Papa, então
"quem foi"? No séc. II, quando a Igreja estava mais organizada,
começou-se a dar mais destaque para os líderes locais, geralmente anciãos que
cuidavam de uma pequena congregação de fiéis. O respeito por esses líderes era
proporcional ao tamanho da cidade onde sua congregação se encontrava. Criou-se
então uma hierarquia e esses anciãos foram chamados de "epíscopos", termo
grego que significa "aquele que vigia sobre os demais" [12:49] (...)
Considerando que a maior cidade daquela época era Roma, então o bispo que
detinha maior prestígio e mais destaque era evidentemente o de Roma [13:54].
Isto poderia ser verdade se não fosse
um pequeno detalhe, que derruba todo esse castelo de areia de blá-blá-blás: o
termo "epíscopo", que significa "bispo".
Ora, se o contra-argumento adventista
diz que "criou-se então [no século II] uma hierarquia" e os
"anciãos foram chamados de epíscopos", logo o termo
"epíscopo" não pode absolutamente ocorrer no Novo Testamento, já que
este foi escrito durante o século I... Correto? Porém, o termo aparece diversas
vezes no NT, como em Atos 20,28; Filipenses 1,1; 1Timóteo 3,2; e Tito 1,7. Com
efeito, o estabelecimento de uma hierarquia eclesiástica e o cargo de bispo são
de instituição apostólica e não uma invenção do século II.
Por outro lado, o "prestígio"
do bispo de Roma não está ligado ao "respeito" aos líderes ou tamanho
das cidades do Império Romano, mas pelo simples fato de o Papa ser o legítimo
sucessor de São Pedro: este, após deixar a Palestina, passou por Antioquia e,
por fim, estabeleceu-se em Roma, onde foi martirizado em 64 d.C., como bem
documentam os escritores do Período Patrístico (séc. II a VIII) e as escavações
arqueológicas realizadas sob a basílica de São Pedro, no Vaticano, em meados do
século XX.
4º) O termo "epíscopos"
aparece "umas 5 vezes" no Novo Testamento, "mas com sentido bem
diferente daquele adquirido posteriormente. De 'epíscopo' vem a palavra
'bispo', que usamos até hoje" [13:39].
Como se observa neste ponto, o programa
cai em clara contradição com o que afirmou no item anterior.
E se por acaso o termo
"epíscopo" na Bíblia tinha um "sentido bem diferente daquele
adquirido posteriormente", por que o programa não aproveitou o momento
para apresentar esse "sentido bíblico diferente"? Será que é porque o
sentido é exatamente o mesmo, isto é, o de supervisão e vigilância???
Na verdade, estamos aqui, novamente,
diante da tática da "metralhadora giratória" protestante...
5º) As passagens dos Padres da Igreja
citadas pela Igreja Católica para fundamentar Pedro como 1º Papa "são
geralmente controvertidas e fora de contexto" [11:11].
Afirmação totalmente gratuita e que não
cita exemplos concretos e nem as fontes patrísticas que em tese contradiriam o
ensino católico (autor, livro, capítulo). Ora, juridicamente falando, o ônus da
prova cabe a quem acusa...
Logo, temos aqui mais um
contra-argumento destituído de valor.
6º) Santo Agostinho de Hipona, um dos
teólogos mais respeitados da Igreja, "negou veementemente que Jesus se
referia a Pedro quando disse 'sobre essa pedra edificarei a minha Igreja'"
(cf. Retractationes, livro 1, capítulo 20 ou 21, verso 1 "dependendo da
versão"). Para Agostinho, "a pedra (...) era Cristo e nunca
Pedro"; "isto está claramente lá", "pode ser conferido
inclusive no original latino da obra" [11:27].
O que diz Santo Agostinho nessa obra?
Diz literalmente o seguinte:
- "Em certo
passo, disse eu, do Apóstolo São Pedro, que a Igreja fora fundada sobre, como
sobre uma pedra, sentido esse que celebra o mui espalhado hino do
bem-aventurado Ambrósio, nestes versos do 'Canto do Galo': 'Hoc ipsa petra
ecclesiae canente culpam diluet...' Mas lembro-me que depois e por muitas vezes
tenho explicado esta sentença do Salvador: 'Tu és Pedro e sobre esta pedra
edificarei a minha Igreja', neste sentido: que a pedra é Aquele que Pedro tinha
confessado quando disse: 'Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo'. Assim foi que
Pedro, derivando o seu nome desta pedra, figurava a pessoa da Igreja que sobre
ela foi edificada e que recebeu as chaves do Reino dos Céus. Com efeito, não
diz Ele: 'Tu és a pedra', mas: 'Tu és Pedro', porque a pedra era Cristo, e
Simão, tendo-O confessado, como toda a Igreja o confessa, foi por isso chamado
'Pedro'. Que o leitor escolha das duas interpretações aquela
que lhe pareça mais provável".
O que vemos aqui é que Agostinho de
Hipona humildemente reconhece a sua incapacidade para interpretar com exatidão
a passagem bíblica de Mateus 16,16-19 e, por isso, deixa para os seus leitores
a OPÇÃO de escolher entre uma interpretação ou outra, de modo que não descarta
a validade nem de uma nem de outra. Ora, tal incapacidade era diretamente
derivada do fato de Agostinho desconhecer o grego e o aramaico; ele conhecia e
manuseava muito bem a tradução bíblica conhecida como "Vetus Latina"
(anterior à Vulgata de São Jerônimo), mas que por ter sido traduzida por
diversas pessoas anônimas e em épocas bastante diferentes, possuía muitas imprecisões
e atentava contra a sua unidade interna.
Porém, ambas as interpretações podem se
auto-completar, como bem demonstra o Catecismo da Igreja Católica - ao que
parece, totalmente desconhecido para o roteirista do programa, já que ele parte
de uma suposição errada: a de que os católicos não aceitam como possível
complementação a interpretação de que a pedra seja também a confissão de Pedro.
Vejamos o que diz o Catecismo:
- "Movidos pela
graça do Espírito Santo e atraídos pelo Pai, nós cremos e confessamos acerca de
Jesus: 'Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo' (Mateus 16,16). Sobre a rocha
desta fé, confessada por São Pedro, Cristo tem construído a sua Igreja (cf.
Mateus 16,18; São Leão Magno, Sermão 4,3; 51,1; 62,2; 83,3)" (CIC 424).
- "No colégio
dos Doze, Simão Pedro ocupa o primeiro lugar (cf. Marcos 3,16; 9,2; Lucas
24,34; 1Coríntios 15,5). Jesus lhe confia uma missão única. Graças à uma
revelação do Pai, Pedro confessou: 'Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo'.
Então Nosso Senhor lhe declarou: 'Tu és Pedro e sobre esta pedra edificarei a
minha Igreja e as portas do Hades não prevalecerão contra ela' (Mateus 16,18).
Cristo, 'Pedra viva' (1Pedro 2,4), assegura à sua Igreja, edificada sobre
Pedro, a vitória sobre os poderes da morte. Pedro, em razão da fé confessada
por ele, será a rocha inquebrantável da Igreja. Terá a missão de custodiar esta
fé perante todo desfalecimento e de confirmar nela os seus irmãos (cf. Lucas
22,32)" (CIC 552).
- "Jesus confiou
a Pedro uma autoridade específica: 'A ti te darei as chaves do Reino dos céus;
e o que ligares na terra será ligado nos céus; e o que desligares na terra será
desligado nos céus' (Mateus 16,19). O poder das chaves designa a autoridade
para governar a casa de Deus, que é a Igreja. Jesus, 'o Bom Pastor' (João
10,11) confirmou este encargo após sua ressurreição: 'Apascenta as minhas
ovelhas' (João 21,15-17). O poder de 'ligar e desligar' significa a autoridade
para absolver os pecados, pronunciar sentenças doutrinárias e tomar decisões
disciplinares na Igreja. Jesus confiou esta autoridade à Igreja pelo ministério
dos Apóstolos (cf. Mateus 18,18) e particularmente pelo de Pedro, o único a
quem foi confiada explicitamente as chaves do Reino" (CIC 553).
- "O Senhor fez
de Simão, a quem deu o nome de Pedro, e somente a ele, a pedra de sua Igreja.
Lhe entregou as chaves dela (cf. Mateus 16,18-19); o instituiu pastor de todo o
rebanho (cf. João 21,15-17). 'Resta claro que também o Colégio dos Apóstolos,
unido à sua Cabeça, recebeu a função de ligar e desligar dada a Pedro' (Lumen
Gentium 22). Este ofício pastoral de Pedro e dos demais Apóstolos pertence aos
fundamentos da Igreja. Continua pelos bispos sob o primado do Papa" (CIC
881).
Como quer que seja, o que vemos aqui é
que Santo Agostinho acredita que as duas interpretações eram plenamente
possíveis, de modo que isto está muito longe de ser o que afirmou erroneamente
o programa adventista: que, para Agostinho, a pedra ***nunca*** poderia se
referir a Pedro. Tanto poderia, que ele mesmo deixou para os seus leitores essa
alternativa como possível interpretação, baseada sobretudo na autoridade de
outro grande doutor da Igreja, Santo Ambrósio de Milão.
Mas como São Jerônimo interpretava essa
passagem bíblica, ele que era o maior biblista da época de Santo Agostinho, profundo
conhecedor de hebraico, aramaico, grego e latim, tradutor da Vulgata Latina?
Vejamos:
- "Estou a falar
com quem sucedeu ao Pescador (=São Pedro), com o Discípulo da Cruz. Nenhum
Chefe Supremo reconheço senão a Cristo e por isso me ponho em comunhão com
Vossa Santidade, isto é, com a Cátedra de Pedro (...) A nenhum outro quero
seguir e estar em comunhão, senão com Cristo e com vossa beatitude (=papa
Dâmaso), isto é, com a cátedra de Pedro. Eu sei que sobre esta pedra a Igreja
foi construída e quem come o Cordeiro fora desta Casa é profano. Quem não
estiver na arca de Noé, isto é, em comunhão com esta cátedra, perecerá quando a
inundação prevalecer" (São Jerônimo, +420; Carta 15,2).
- "A Igreja aqui
está sendo rompida em três partes, cada parte ansiosa por me agarrar em seu
apoio (...) Estou em prantos, mas unido à cátedra de Pedro (...) Imploro que
vossa beatitude (=papa Dâmaso) me fale, por carta, com quem posso entrar em
comunhão na Síria" (Carta 16,2).
É evidente que São Jerônimo, profundo
conhecedor de latim, grego e hebraico, soube bem interpretar Mateus 16,16-19...
A pedra sobre a qual a Igreja foi edificada é Pedro!
7º) No séc. IV, Constantino o Grande
unificou a Igreja e o Estado Imperial, como parte de uma grandiosa estratégia
política, afirmando-se convertido ao Cristianismo após ver a cruz como sol no
caminho para a batalha, tendo-lhe Jesus dado o sinal para a vitória: "In
hoc signo vinces" [15:01].
Constantino, imperador romano do
Ocidente, não unificou a Igreja e o Império; o que ele fez foi (juntamente com
Licínio, imperador romano do Oriente) conceder a liberdade religiosa aos
cristãos através do Edito de Milão:
- "Eu,
Constantino Augusto, e eu, Licínio Augusto, venturosamente reunidos em Milão
para discutir sobre todos os problemas referentes à segurança e ao bem público,
entre outras disposições a assegurar, cremos dever regulamentar, primeiramente,
o bem da maioria, que se refere ao respeito pela divindade, ou seja, garantir
aos cristãos, bem como a todos, a liberdade e a possibilidade de seguir a
religião de sua escolha, a fim de que tudo o que existe de divino na morada
celeste possa ser benevolente e favorável a nós mesmos e a todos aqueles que se
encontram sob a nossa autoridade. Este é o motivo pelo qual cremos - num
desígnio salutar e muito digno - dever tomar a decisão de não recusar essa
possibilidade a quem quer que seja, tenha essa pessoa ligado a sua alma à
religião dos cristãos ou a qualquer outra: para que a divindade suprema - a
quem prestamos uma homenagem espontânea -, em todas as coisas, possa nos
testemunhar com o seu favor e a sua benevolência costumeiros. Assim, convém que
Vossa Excelência saiba que decidimos suprimir todas as restrições contra os
cristãos, encaminhadas a Vossa Excelência nos escritos anteriores, e abolir as
determinações que nos parecem totalmente infelizes e estranhas à nossa
brandura, assim como permitir, a partir de agora, a todos os que pretenderem
seguir a religião dos cristãos, que o façam de modo livre e completo, sem serem
aborrecidos ou molestados" (ano 313).
E mesmo depois de converter-se ao
Cristianismo e tornar-se único Imperador sobre todo o Império (porque Licínio
passou a perseguir novamente os cristãos e Constantino saiu na defesa destes),
ele JAMAIS unificou Igreja e Império, pois mesmo favorecendo o Cristianismo,
permitiu que as religiões pagãs continuassem a prestar culto aos seus
respectivos deuses.
Quanto a "ver a cruz como
sol" no caminho de batalha (provavelmente para fazer-nos crer que a Igreja
Católica idolatra o deus Sol pagão (Mitra), tal como fazia Constantino antes da
sua conversão ao Cristianismo), leiamos o que foi relatado por Constantino:
- "Disse
Constantino que nas horas meridianas do sol, quando o dia já começava a
declinar, viu com os seus próprios olhos, em pleno céu, um troféu em forma de
cruz, sobreposto ao sol, feito à base de luz, ao qual estava unida uma
inscrição que dizia: 'Com este sinal, vencerás'" (Eusébio de Cesareia,
+320; Vida de Constantino 1,28).
Percebemos, então, que Constantino não
viu "a cruz como sol", mas "a cruz sobreposta ao sol" - e
portanto, acima do sol ou na frente do sol, tanto faz -, o que bem nos
demonstra que a cruz de Cristo (e, por consequência, a Fé Cristã) haveria de
prevalecer sobre o deus Sol (e, por consequência, sobre o Paganismo como um
todo).
8º) A partir de Constantino, uma mescla
de símbolos cristãos e romanos começaram a aparecer em todas as partes do
Império, e decretos e mais decretos favorecendo o Cristianismo foram expedidos:
a Igreja agora não era mais católica universal, mas católica romana, e o bispo
de Roma era quem mais ganhava com esta situação [15:52].
No programa, o único símbolo
apresentado foi o conhecidíssimo "Monograma de Cristo" (formado pela
letras gregas Chi (χ) e Ró (ρ) sobrepostas) dentro de uma guirlanda de folhas,
retirado de um sarcófago cristão do período constantiniano e exposto hoje no
Museu Pio-Cristão, que os Adventistas interpretam como símbolo do deus Sol de
Constantino.
Tal acusação também é absurda, até
porque encontramos o Monograma de Cristo em sarcófagos e catacumbas cristãs bem
anteriores à visão de Constantino, em 313, isto é, anteriores ao século IV.
Ademais, prova-se que o "Monograma
de Cristo" sempre foi tido por símbolo especificamente cristão pelo
simples fato de Juliano - imperador apóstata de 361 a 363, que tentou
restabelecer o Paganismo e revitalizar o culto dos deuses - tê-lo removido do
estandarte romano, tão logo assumiu o Império, substituindo-o pela insígnia de
Mitra, com a inscrição "Ao Sol invencível". Isso o programa não
disse...
No tocante aos decretos expedidos,
estes favoreciam o Cristianismo como um todo e não o Papa em específico.
Constantino, além de conceder a liberdade religiosa aos cristãos, restituiu os
bens confiscados pelo Estado, ofereceu prédios para a realização dos cultos,
equiparou o domingo (dia consagrado pelos cristãos ao Senhor) aos dias
festivos, promulgou leis contra o adultério, tentou suprimir os espetáculos
sangrentos ou obscenos nos circos, ergueu igrejas e monumentos na Terra Santa
etc.
E também graças ao Cristianismo,
Constantino proibiu o suplício na cruz, proibiu a marcação do rosto dos
condenados com ferro fervente, limitou o poder do "pai de família"
(que detinha o poder de vida e morte sobre os membros da sua família), mitigou
as condições de trabalho dos escravos (e só não chegou a abolir a escravidão
por temer o colapso do Estado, há muito baseado nessa espécie de economia),
tentou fixar a população em suas próprias cidades de trabalho etc. Como podemos
observar, em geral tudo coisas bastante positivas e condizentes com a moral
cristã, apesar das muitas limitações da personalidade de Constantino, não
poucas vezes violento contra a sua própria família.
Quanto às boas relações entre os
imperadores cristãos e os Papas, bem escreveu D. Estêvão Bettencourt (osb):
- "O fato de
terem cooperado entre si a Igreja e o Império não é um mal em si; não há por
que rejeitar de antemão o bom entendimento entre aquela e este, a menos que se
professe um Maniqueísmo sócio-político. Se um imperador se diz católico e nada
prova que não é sincero, a Igreja tem o direito e o dever de contar com ele
como um filho seu, a quem compete proclamar o Evangelho a partir do trono
imperial"[15].
Cabe observar que o Maniqueísmo foi a
heresia que ensinava a existência, desde o princípio, de dois reinos divinos
inconciliáveis: o do bem e o do mal, havendo portanto duas espécies de
seguidores: os eleitos (ou puros) e os condenados (ou impuros). É o Adventismo
professando uma heresia há muito condenada...
9º) Houve disputa acirrada entre os
Patriarcas para saber quem teria a autoridade e a hegemonia sobre os demais.
Venceu o bispo de Roma por diversos fatores, entre eles: seu sucesso em
resistir a várias heresias e movimentos; facções rivais que apelavam para o
bispo de Roma para resolver suas dissidências teológicas [16:17].
Não é verdade que houve "disputa
acirrada" entre os Patriarcas, pois desde os primeiros tempos do
Cristianismo estabeleceu-se naturalmente a seguinte ordem honorífica:
1º) Roma (em razão de ser a última Sé
de Pedro)
2º) Alexandria
3º) Antioquia
A autoridade da Igreja de Roma vem, com
efeito, desde os tempos de Pedro, como vimos mais acima (quando falamos de
Clemente I e Vítor I), e era reconhecida por toda a Igreja, p.ex.:
- "Inácio, (...)
para a Igreja que preside, na região dos romanos, merecedora de Deus, de honra,
de bênção, de elogio, de sucesso, de santificação, porque preside o amor. (...)
Vós não invejastes ninguém, mas a outros ensinastes. Eu só desejo que aquilo
que foi ordenado nas tuas instruções possa permanecer em vigor" (Inácio de
Antioquia, +107; Carta aos Romanos 1,1; 3,1).
- "A Sé dos
Apóstolos [Pedro e Paulo] foi informada por vossos delegados [do Egito] que
alguns de nossos irmãos bispos estão sendo expulsos de suas igrejas e sés,
privados de seus bens, e chamados a juízo, sendo, ainda por cima, destituídos e
maltratados. Isto é um absurdo, já que as constituições dos Apóstolos e de seus
sucessores, assim como os estatutos dos imperadores e a regulamentação das
leis, assim como a autoridade da Sé dos Apóstolos proíbem-no fazer"
(Urbano I de Roma, +230; Carta aos Bispos do Egito 1,1).
- "Atrevem-se
estes (=cismáticos) a dirigir-se à cátedra de Pedro (=Roma), a esta Igreja
principal de onde se origina o sacerdócio (...), esquecidos de que os romanos
não podem errar na fé" (Cipriano de Cartago, +258; Carta 59).
- "Sabemos que Cornélio foi
eleito, por Deus Onipotente e por Cristo Nosso Senhor, Bispo (=Papa) da Santa
Igreja Católica; confessamos o nosso erro: fomos vítimas de uma impostura (=a
do antipapa Novaciano); fomos envolvidos por gente de fala perversa e
sorrateira. Na verdade, ainda quando parecia que tínhamos alguma ligação com o
homem cismático e herege (=Novaciano), nosso coração, no entanto, estava sempre
na Igreja, porque não ignoramos que há um só Deus e um só Senhor Jesus Cristo,
a quem confessamos; um só Espírito Santo; e que só deve haver um [único] Bispo
(=Papa) na Igreja Católica" (Fábio de Antioquia, +260; Carta "Quantam
Sollicitudinem").
Uma "tentativa de disputa",
podemos assim dizer, surgiu quando o Império mudou a sua capital de Roma para
Constantinopla. Como esta cidade nunca recebera a pregação de nenhum Apóstolo,
aventou-se entre as autoridades civis e religiosas locais a ideia de que, sendo
ela "a nova Roma", deveria por consequência ser honrada também com um
importante Patriarcado, o que foi obtido pelo cânon 3 do Concílio Ecumênico de
Constantinopla I (381):
- "O bispo de
Constantinopla terá o primado de honra depois do Bispo de Roma, porque
Constantinopla é a Nova Roma" (cânon 3).
Porém, seus patriarcas - estes sim -,
por orgulho, não se contentaram com isto e quiseram obter ainda mais poder,
igualando-se à Sé de Pedro (estabelecida na "antiga Roma") e, se
possível, até usurpar-lhe o lugar.
Assim, no Concílio Ecumênico de
Calcedônia (451), por intromissão do Imperador, o cânon 28 estabelecia à Sé de
Constantinopla os mesmos privilégios da Sé da "antiga Roma" e previa
ainda um primado sobre o Oriente, muito embora reconhecesse que continuaria na
segunda posição, logo depois da Sé de Roma. O Papa Leão I, porém, rejeitou o
cânon, pois embora Constantinopla "se contentasse" com "o
segundo lugar teórico", na prática isto lesava as prerrogativas das outras
Sés patriarcais, além de poder constituir, no futuro, um perigoso precedente
que daria a Constantinopla autonomia e independência.
O que importa aqui é que o cânon 28
nunca foi aprovado pelos Papas e, desta forma, jamais vigorou na Igreja.
10º) O Papa assumiu para si o título
pagão de "Pontifex Maximus" ou "Sumo Pontífice",
anteriormente adotado pelo imperadores como sacerdote do deus Mitras e que
significa "o principal construtor de pontes entre os homens e o deus
sol" [24:27].
Os títulos adotados pelos imperadores
romanos eram:
• "Princeps Senatus",
"Príncipe do Senado": líder político-parlamentar do Senado;
• "Pontifex Maximus", "Pontífice Máximo": máxima autoridade religiosa do Império, independentemente do deus cultuado (não só o deus Sol!).
Ora, qualquer lider ou representante
supremo de uma religião pode legitimamente adotar para si ou ser chamado por
terceiros com o título de "pontífice máximo", "sumo
pontífice", "príncipe dos sacerdotes", "sumo
sacerdote" (como encontramos na Bíblia!) ou qualquer outro título que
designe sua função suprema de liderança. São expressões totalmente intercambiáveis
entre si. A sra. Ellen Gould White, por exemplo, poderia, indubitavelmente, ser
chamada de "Pontífice Máxima" dos Adventistas do 7º Dia, dada a
imensa importância e influência que exerceu (e continua exercendo) sobre eles,
a ponto de suas falsas profecias e informações equivocadas continuarem a ser
defendidas com unhas e dentes por estes.
Quanto ao uso do título de
"Pontifex Maximus" pelos Papas (não sendo, porém, um título oficial),
inexiste qualquer prova documental de que o tenham feito antes do século XV,
excluindo-se, portanto, qualquer ligação com o título que foi usado
oficialmente pelos imperadores romanos até o ano de 376 d.C.
11º) Em 380, o imperador Teodósio
proclamou o Catolicismo religião oficial do Império, dando tanta força ao Papa
que, ironicamente, acabou sendo excomungado por este e obrigado a curvar-se às
suas exigências [17:36].
De fato, Teodósio tornou o Cristianismo
(o Catolicismo, evidentemente, já que naquela época o Protestantismo -
inclusive o Adventismo - nem sonhava em existir!) a religião oficial do
Império.
Ironia, porém, é o programa ter
afirmado que vai "contar um pouco da história dos Papas" [01:27] e
expor as coisas segundo "fatos históricos, bíblicos e proféticos"
[27:27] e depois CRIAR um factóide: a excomunhão do imperador Teodósio I pelo
Papa!!!
Teodósio governou o Império (ocidental
e oriental) de 378 a 395; durante seu reinado, passaram pelo trono de Pedro os
Papas Dâmaso I (366-384) e Sirício (384-399). Contudo, NENHUM dos dois
excomungou o imperador!!!
Na verdade, o roteirista do programa
confundiu alhos com bugalhos e atribuiu erroneamente aos Papas uma excomunhão
que Teodósio sofreu de Ambrósio de Milão, seu bispo diocesano. Teria pelo menos
essa excomunhão sido injusta, para podermos dar "alguma razão" ao programa?
Vejamos...
Por volta do ano 388, Teodósio publicou
um decreto que condenava à morte os pecados contra a natureza (pederastia,
sodomia etc.), até então normalmente admitidos pelo mundo greco-romano.
Aplicando a lei na Tessalônica, o chefe da infantaria, o godo Buterico,
encarcerou um auriga de circo que gozava de grande popularidade e riqueza no
local. Estourou então uma revolta popular que, associada ao ódio pelos soldados
bárbaros contratados pelo imperador, culminou com o assassinato de Buterico. Em
resposta, Teodósio ordenou que fossem mortos todos os tessalonicenses que se
reunissem para os espetáculos do circo, o que acabou resultando no massacre de
300 a 7.000 pessoas (os números variam conforme as fontes). Ao tomar
conhecimento disso, Ambrósio excomungou o Imperador, o qual, para ser perdoado
e readmitido à comunhão precisou passar por uma rigorosa penitência que durou 8
meses.
Não a toa, o próprio Teodósio confessou
mais tarde: "Sem dúvida, Ambrósio me
fez compreender pela primeira vez como que deve ser um Bispo"; e no leito de morte, ainda confiou a
Ambrósio os seus filhos... Sinal de que reconheceu o seu excesso.
Será que o Adventismo discorda dessa
punição eclesiástica ao imperador cristão que agiu desproporcionalmente, tal
como um bárbaro? Quem, afinal, está ao lado do poder então? O Catolicismo ou o
Adventismo?
12º) Quando em 475 o Império Romano
Ocidental caiu nas mãos dos bárbaros, alguns desses povos invasores já eram
convertidos ou ao menos simpatizantes do Cristianismo; por isso, pouparam a
instituição cristã e lhe deram certa autonomia [14:16].
Outra meia-verdade, pois os bárbaros
que invadiram o Império eram de duas espécies: bárbaros pagãos e bárbaros
arianos (que não criam na Santíssima Trindade). Lançou-se então um desafio
duplo para a Igreja Católica, que cria (e crê) na Trindade (como boa parte dos
Adventistas, aliás!).
Por que a Igreja, sob a unidade
proporcionada pelos Papas, saiu vencedora nesse período difícil e conturbado?
Deixemos que o próprio Jesus responda:
- "E eu te declaro:
tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja; as portas do inferno
não prevalecerão contra ela. (...) Ide, pois, e ensinai a todas as nações;
batizai-as em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Ensinai-as a observar
tudo o que vos prescrevi. Eis que estou convosco todos os dias, até o fim do
mundo" (Mateus 16,18; 21,19-20).
Seguir, confiante, a missão apontada
pelo Divino Fundador... Simples assim.
13º) Em meados do séc. VIII, em meio a
uma grande contenda política, o Papa apresentou um documento chamado
"Constitutum Donatio Constantini" (=Doação de Constantino), em que
supostamente o imperador Constantino I doa ao Papa Silvestre I e seus
sucessores, "os seus títulos, as suas heranças, as suas terras, tudo o que
ele possuía", de modo que "o Papado seria então oficialmente herdeiro
do imperador Constantino". Embora hoje a maioria dos historiadores
considerem falsa a Doação de Constantino, na época convenceu e a Roma católica
passou a ser dona de grandes extensões de terra em toda a Itália [18:26].
O programa reconhece que o documento é
falso. Ponto pacífico, pois a Igreja Católica também o afirma.
Na verdade, o domínio da Igreja sobre
os territórios cobertos pela "Doação de Constantino" era legítimo,
mas por outras razões: quando os lombardos ameaçaram invadir Roma e região, o
Papa Estêvão II pediu socorro ao povo franco, governado por Pepino o Breve,
sendo atendido por este. Posteriormente, o mesmo Pepino conferiu ao Papa o
título de "Soberano do Patrimônio de São Pedro", o que veio dar início
aos chamados "Estados Pontifícios", em 756 d.C.
Portanto, a posse dessas terras pela
Igreja não foi efeito de trapaça, até porque, além da "Donatio" nunca
ter sido citada até o século VIII, já em pleno século IX sua autenticidade era
afastada pelo imperador Oto III; ademais, toda vez que era mencionada nos
debates medievais, era quase sempre tida como falsa, sendo por isso mesmo
rejeitada.
14º) Parte dessas terras
"doadas" por Constantino "é hoje (...) o Estado do
Vaticano", Estado que foi devolvido por Mussolini à Sé católica em 1929,
já que em 1798, o Papa Pio VI foi preso por ordem de Napoleão Bonaparte e a
Igreja perdeu temporariamente os seus títulos e propriedades [19:11].
Mais erros históricos - frutos do
simplismo do programa - não poderiam faltar para criticar o Catolicismo...
1)
No
que cabe a Napoleão:
a)
Os
Estados Pontifícios foram invadidos por ordem de Napoleão em 1793, mas foram
devolvidos ao Papa logo após este pagar uma altíssima soma em dinheiro, além de
entregar diversos manuscritos e obras de arte de grande valor. Poucos anos
depois, Napoleão invadiu novamente os Estados Pontifícios, em represália à
aliança do Papa Pio VI com os reinos da Áustria e Nápoles; apesar disso,
devolveu os Estados ao Papa, após ditar um tratado ainda mais duro que o
anterior.
b)
O
que ocorreu em 1798 foi a precária proclamação da república em Roma, ato este
que depôs o Papa. Mas como ele se negava a deixar Roma, foi conduzido preso
pelos republicanos para Siena e daí para Florença; por fim, já doente, foi levado
numa padiola para Grenoble e, a seguir, Valence (França), onde morreu em
29.08.1799, como prisioneiro dos franceses.
c)
Com
a morte de Pio VI, os cardeais-eleitores elegeram Pio VII em Veneza, a quem
Napoleão reconheceu, por carta, que "a religião católica é a única
âncora" e, desta forma, assinou uma Concordata com a Santa Sé em
15.07.1801. Posteriormente, exigindo Napoleão que o Papa nomeasse um Patriarca
para os franceses, bem como que indicasse pelo menos 1/3 de franceses para o
Colégio Cardinalício, este não concordou e, em virtude disso, ocupou Roma em
fevereiro e novamente em setembro de 1808. Em resposta, Pio VII excomungou
Napoleão, chamando-o de "ladrão do Patrimônio de São Pedro", motivo
pelo qual acabou sendo detido pelas forças napoleônicas e levado, por fim, para
Savona e daí para Fontainebleau. Porém, após a derrota de Napoleão na Rússia,
este resolveu se reconciliar com o Papa, assinando duas Concordatas benéficas à
Igreja e permitindo o regresso do Papa a Roma em 24.04.1814.
d)
Porém,
pouco depois, Napoleão partiu para o exílio na ilha de Elba e um cunhado dele,
o rei Murat de Nápoles, forçou o Papa a deixar Roma, em 22.03.1815. Mas em
09.06.1815, o Congresso da Viena ordenou a devolução dos Estados Pontifícios ao
Papa, de modo que Pio VII retornou em definitivo para Roma em 07.07.1815.
2)
Quanto
à "devolução do Vaticano" por Mussolini, em 1929:
a)
Como
observamos pelo item "1.d" acima, o "Tratado de Latrão"
nada tem a ver com Napoleão, mas sim com a chamada "Questão Romana",
um outro evento histórico: no pontificado de Pio IX (1846-1878), irromperam em
toda a península italiana (incluindo os Estados Pontifícios) movimentos
revolucionários republicanos, de sorte que em 24.11.1848 o Papa e os Cardeais
tiveram que deixar Roma, estabelecendo-se na Gaeta. Com a unificação do
território pelos republicanos, foi então proclamada a república italiana em
09.02.1849.
b)
Ocorre
que, contando com o auxílio de tropas francesas, o Papa conseguiu retornar à
Roma, muito embora as tropas republicanas ocupassem a maior parte do território
dos Estados Pontifícios, desapropriados da Santa Sé. Como o Papa se recusava a
deixar Roma, em 1871 o governo italiano, por iniciativa própria, assegurou ao
Papado soberania, imunidade, domínio sobre o Vaticano, Latrão e a vila de
Castel Gandolfo, além de uma renda anual; mas em 15.05.1871, Pio IX condenou
essa lei e autoproclamou-se "prisioneiro do Vaticano" (título este
que os Papas usaram até a assinatura do Tratado de Latrão, em 11.02.1929, que
pôs fim à "Questão Romana").
c)
Então,
no pontificado de Pio XI (1922-1939), o Estado italiano, ora representado por
Mussolini, chegou a um acordo reputado justo por ambas as partes: o Vaticano
(compreendendo também a Basílica de São Pedro, a praça de São Pedro e os
jardins do entorno) foi reconhecido como Cidade-Estado, gozando de plena
soberania e autonomia; e ainda:
• Direito de extraterritorialidade em
diversas edificações espalhadas sobre Roma (p.ex.: Basílica de São João do
Latrão, Basílica de São Paulo Extramuros, Basílica de Santa Maria Maior e
Castel Gandolfo);
• Direito a indenização pela desapropriação dos Estados Pontifícios;
• Revogação de diversas leis anticlericais; e
• Obrigatoriedade de instrução religiosa nas escolas (esta última parte foi revogada em 1985).
Em contrapartida, a Santa Sé reconheceu
- pela 1ª vez - o reino da Itália, com capital em Roma.
d)
Cumpre
observar que o fato de a Santa Sé ter chegado a um acordo com o ditador Benito
Mussolini (após cerca de dois anos e meio de duras negociações) não mancha em
nada o Acordo, até porque Mussolini detinha legitimamente o poder segundo as
leis do Estado Italiano (apesar deste Estado ter surgido de forma
revolucionária, pelo derramento de sangue e ocupação de terras alheias). Como
quer que seja, as duas partes detinham o poder pleno e legítimo para solucionar
o conflito.
15º) Durante o tempo em que o Papado
dominou a Europa, "fez muitos estragos", estragos esses que coincidem
com profecias bíblicas que falam acerca da apostasia e da chegada de um certo
anticristo (=aquele que opõe a Cristo, usurpando o lugar de Cristo). Assim:
[19:35]
Como constatamos até aqui, quem sofreu
muitos estragos foi a Igreja Católica: com a intensa perseguição aos cristãos,
antes de Constantino; e com os caprichos e intrigas políticas dos "governantes
cristãos", quer para influenciar, quer para dominar, quer para receber
favores, quer até para lutar pelo orgulho próprio e egoísmos desenfreados pelas
razões mais mesquinhas.
E ainda que tenham havido de fato maus
Papas, lamentavelmente mais célebres pelo pecado do que pela santidade de vida,
o fato é que NENHUM deles jamais errou ao proclamar solenemente dogmas de Fé,
todos eles consistentes com a Escritura e a Tradição. Por isso mesmo, existem
protestantes que reconhecem que a defesa da Fé católica é muitíssimo mais
consistente e sólida que a protestante; encontramos isso inclusive em fontes
adventistas:
- "Apologeta que
é bom não dá brecha para os polemistas, mas quando se trata dos sites
apologéticos brasileiros [de vertente protestante], muito usados por pessoas
sem muito conhecimento, sinceramente interessadas em aprender e defender o
protestantismo contra sites [católicos] como Montfort, Veritatis Splendor,
Lepanto dentre outros, A REGRA É A MEDIOCRIDADE. Me comovo com essas pessoas
que procuram defender a fé porque sou uma delas, que constantemente são
atacadas por pessoas [católicas] BEM FIRMADAS (ou não, mas nesse caso o pobre
apologeta mirim não vai poder reconhecer) de sua fé; e quando procuram um braço
forte que lhes dê segurança, batem de frente com os PIORES sites [protestantes]
que se pode imaginar"[16] (correções e grifos nossos).
Passemos agora para as [falsas]
profecias adventistas, conforme são indicadas pelo programa:
a)
O
anticristo é representado em Apocalipse 13 como uma besta fera que surge do
mar; seu poder seria revelado, segundo Paulo (2Tessalonicenses 2,3), juntamente
com uma grande apostasia da Igreja, que quebraria o seu acordo com Deus (v.tb.
1João 2,18.22; 4,3; 2João 1,7, que também falam da vinda e da obra do anticristo)
[19:56].
Vejamos, primeiro, os versículos
bíblicos citados neste trecho do programa:
- 2Tessalonicentes
2,3: "Ninguém de modo algum vos engane. Porque primeiro deve vir a
apostasia, e deve manifestar-se o homem da iniqüidade, o filho da
perdição".
- 1João 2,18.22:
"Filhinhos, esta é a última hora. Vós ouvistes dizer que o Anticristo vem.
Eis que já há muitos anticristos, por isto conhecemos que é a última hora. Quem
é mentiroso senão aquele que nega que Jesus é o Cristo? Esse é o Anticristo,
que nega o Pai e o Filho".
- 1João 4,3:
"Todo espírito que não proclama Jesus esse não é de Deus, mas é o espírito
do Anticristo de cuja vinda tendes ouvido, e já está agora no mundo".
- 2João 1,7:
"Muitos sedutores têm saído pelo mundo afora, os quais não proclamam Jesus
Cristo que se encarnou. Quem assim proclama é o sedutor e o Anticristo".
Lamentavelmente, o programa citou
apenas uma pequenina parte dos versículos, fora do contexto mais amplo.
Reconstruamos o contexto inteiro, principalmente aquele aduzido por São Paulo:
- 2Tessalonicentes
2,1-12.15: "No que diz respeito à vinda de nosso Senhor Jesus Cristo e
nossa reunião com ele, rogamo-vos, irmãos, não vos deixeis facilmente perturbar
o espírito e alarmar-vos, nem por alguma pretensa revelação nem por palavra ou carta
tidas como procedentes de nós e que vos afirmassem estar iminente o dia do
Senhor. Ninguém de modo algum vos engane. Porque primeiro deve vir a apostasia,
e deve manifestar-se o homem da iniquidade, o filho da perdição, o adversário,
aquele que se levanta contra tudo o que é divino e sagrado, a ponto de tomar
lugar no templo de Deus, e apresentar-se como se fosse Deus. Não vos lembrais
de que vos dizia estas coisas, quando estava ainda convosco? Agora, sabeis
perfeitamente que algo o detém, de modo que ele só se manifestará a seu tempo.
Porque o mistério da iniquidade já está em ação, apenas esperando o
desaparecimento daquele que o detém. Então o tal ímpio se manifestará. Mas o
Senhor Jesus o destruirá com o sopro de sua boca e o aniquilará com o resplendor
da sua vinda. A manifestação do ímpio será acompanhada, graças ao poder de
Satanás, de toda a sorte de portentos, sinais e prodígios enganadores. Ele
usará de todas as seduções do mal com aqueles que se perdem, por não terem
cultivado o amor à verdade que os teria podido salvar. Por isso, Deus lhes
enviará um poder que os enganará e os induzirá a acreditar no erro. Desse modo,
serão julgados e condenados todos os que não deram crédito à verdade, mas
consentiram no mal. (...) Assim, pois, irmãos, ficai firmes e conservai os
ensinamentos que de nós aprendestes, seja por palavras, seja por carta
nossa".
- 1João 4,2-3:
"Nisto se reconhece o Espírito de Deus: todo espírito que proclama que
Jesus Cristo se encarnou é de Deus. Todo espírito que não proclama Jesus esse
não é de Deus, mas é o espírito do Anticristo de cuja vinda tendes ouvido, e já
está agora no mundo".
Para começar, São João declara que
"JÁ HÁ muitos anticristos" e "JÁ ESTÃO AGORA no mundo", ou
seja, em seu próprio tempo (há quase 2000 anos atrás, quando escrevia essa
carta!); logo, muito antes da época que os adventistas querem apontar como
início do "Grande Cisma da Igreja" (=ano 313, com a conversão de
Constantino). E o mesmo Apóstolo acrescenta que esses anticristos negam a Encarnação
de Jesus Cristo e não O proclamam [ao mundo], coisas estas que a Igreja
católica sempre ensinou e heroicamente defendeu (e continua ensinando e
defendendo até hoje; leia-se, p.ex., os parágrafos 237, 258, 309, 333, 429,
432, 461 a 465, 470, 512, 517, 519, 521, 528, 606 e 607, 653, 661, 686, 690,
727, 1159, 1171, 1174, 2602 e 2666 do Catecismo da Igreja Católica).
Não há dúvida, pois, que a Igreja
Católica sempre foi de Deus como diz um dos versículos omitidos pelo programa,
isto é, 1João 4,2.
Passemos a São Paulo e iniciemos pelo
fim, omitido pelo programa. Ele conclui esta parte de sua carta com os
seguintes dizeres: "Ficai firmes e conservai os ensinamentos que de nós
aprendestes, seja por palavras (=Tradição oral), seja por carta nossa
(=Tradição escrita)". Ora, certamente ele não estava se referindo aos
ensinamentos protestantes (que se contradizem e são auto-excludentes entre si,
dada a existência de dezenas de milhares de denominações diferentes, cada qual
com suas interpretações particulares), muito menos das "profecias
particulares" adventistas, com seus sábados, alimentos impuros, datas
"certas" para o fim do mundo, "juízo investigativo" etc.,
que os primeiros cristãos jamais observaram ou ouviram sequer dizer. Assim,
quem permanecer firme na Fé Apostólica (que a Igreja Católica recebeu e
conservou, como verificamos pelos escritos patrísticos), não tem o que temer...
São Paulo também diz com extrema
clareza: "Rogamo-vos, irmãos: não vos deixeis facilmente perturbar o
espírito e alarmar-vos, nem por alguma pretensa revelação nem por palavra ou
carta tidas como procedentes de nós e que vos afirmassem estar iminente o dia
do Senhor. Ninguém de modo algum vos engane". Estes versículos também
foram omitidos pelo programa, mas é fácil adivinhar o porquê: os Adventistas (e
também os Testemunhas de Jeová) NÃO OBEDECEM este ensinamento inspirado de São
Paulo: desde seu surgimento, com Willian Miller (por volta de 1816), até seu
desenvolvimento com as "profecias" de Ellen Gould White (cerca de
1845), o que o Adventismo mais faz é ficar, ele próprio, perturbado e alarmado
com o Dia do Juízo e - pior ainda! - ficar perturbando e alarmando os outros
com base nas suas "pretensas revelações", que historicamente já se
demonstraram falhas... Antes, deveriam seguir os ensinamentos simples e
objetivos do Senhor: "Vigiai!" (Mateus 24,42; 25,13; Marcos 13,33-37;
Lucas 21,36; 1Coríntios 16,13; 1Pedro 4,7 etc.) e "Aquele que perseverar
até o fim será salvo" (Mateus 24,6). Bastam estes dois ensinamentos para
que o cristão compreenda que deve estar preparado TODOS OS DIAS para a vinda do
Senhor ou para o juízo particular diante de Deus em razão da sua morte (Hebreus
9,27).
Quanto ao Anticristo que se manifestará
nos últimos dias e que presenciará a 2ª Vinda do Senhor, São Paulo é muito claro
acerca dele: ele "se levanta contra tudo o que é divino e sagrado, a ponto
de tomar lugar no templo de Deus, e apresentar-se como se fosse Deus";
portanto, além de imoral, ele requer para si o conceito de divindade (como o
faziam os imperadores pagãos da Ásia, da Grécia e de Roma, antes de
Constantino!!!). Essa figura tentará se passar por Deus e enganará muitos pois
realizará muitos "portentos, sinais e prodígios"; mas aqueles que o
aceitarão, o farão por "não terem cultivado o amor à verdade que os teria
podido salvar". Por isso, Jesus nos deixou a seguinte questão:
"Quando vier o Filho do Homem, acaso achará fé sobre a terra?" (Lucas
18,8). Pois bem: as incertezas doutrinárias que o Protestantismo multifacetado
ajuda a criar e espalhar no mundo, certamente estão influenciando para o
esfriamento e a perda da fé (o que já vem sendo observado pelo aumento
estatístico dos "sem religião" nos últimos censos) e esse será o
campo propício para a ação do Anticristo. Não se aplica à Igreja Católica pelo
simples fato de Cristo ter concedido a esta o dom da infalibilidade (cf. João
16,12-14) e a graça de permanecer no mundo até a sua vinda gloriosa (cf. Mateus
16,16-19; 28,18-20).
Com isto em mente, temos que as
bestas-feras apontadas pelo Apocalipse 13 representam simplesmente o Império
Romano pagão e o seu Imperador (também pagão), que combatiam ferozmente o
Cristianismo no tempo do Apóstolo João e que, portanto, também não se
identificam com o Anticristo final, retratado por São Paulo aos
tessalonicenses. Do mesmo modo, a Igreja Católica também não se identifica nem
com as bestas de Apocalipse 13 (já que o número 666 indica "César
Nero") e nem com os anticristos apontados por São João ou por São Paulo,
pelos motivos já expostos.
b)
O
estudo sistemático da Bíblia e da interpretação mais antiga das profecias
apocalípticas apontam que os cristãos primitivos sempre entenderam que este
anticristo seria uma união perigosa entre a Igreja e o Império Romano [21:21].
O programa esqueceu que Jesus QUIS
fundar a Igreja (Mateus 16,18) e que esta recebeu efetivamente o Espírito Santo
para ter acesso infalível a toda a verdade (João 16,12-14; Atos 2), devendo o
próprio Jesus permanecer na Igreja até a consumação dos séculos (Mateus 28,20).
Jesus teria mentido? Seria então um falso profeta? Óbvio que não! Com efeito, o
"estudo da Bíblia" que conclui que o anticristo seria "a união
da Igreja com o Império Romano" pode ser tudo, menos
"sistemático", já que tal conclusão seria contraditório e até um abuso
de intelectualidade. Além disso, o programa mencionou a "interpretação
mais antiga das profecias apocalípticas".
Infelizmente, o programa pecou mais uma
vez em não apontar fontes... Qual autor patrístico escreveu isso? Nem Santo
Ireneu de Lião (+202), que abordou em detalhes os "últimos dias" (v.
Contra as Heresias, livro 5), chegou a uma conclusão próxima a essa. Quanto ao
Anticristo, na época em que o Cristianismo (=Catolicismo) se expandia (antes
mesmo de Constantino!) sob "uma só fé e um só batismo" (Efésios 4,5),
escreveu Cipriano de Cartago (+258):
- "Aumenta, dia
a dia, o povo fiel; abandonam-se os velhos ídolos, tornam-se desertos os seus
templos. Então, o que faz o malvado? Inventa nova fraude para enganar os
incautos com o próprio título do nome 'cristão'. Introduz as heresias e os
cismas para derrubar a fé, para contaminar a verdade e dilacerar a unidade.
Assim, não podendo mais segurar os seus na cegueira da antiga superstição, os
rodeia, os conduz ao erro por novos caminhos. Rouba à Igreja os homens e,
fazendo-lhes acreditar que alcançaram a luz e se subtraíram à noite do século,
envolve-os ainda mais nas trevas: não observam a lei do Evangelho de Cristo e
se dizem cristãos, andam na escuridão e pensam que possuem a luz, nisto são
iludidos e lisonjeados pelo adversário, que, como diz o Apóstolo, 'se
transfigura em anjo de luz' (2Coríntios 11,14). Disfarça seus ministros em
ministros de justiça, ensina-lhes a dar à noite o nome de dia, à perdição o
nome de salvação, ensina-lhes a propalar o desespero e a perfídia sob o rótulo da
esperança e da fé, a apregoar o Anticristo com o nome de Cristo. Mestres na
arte de mentir, diluem com as suas sutilezas toda a verdade" (Cipriano de
Cartago, +258; Da Unidade da Igreja Católica 3,2-4).
Seria bom que os Adventistas
considerassem isto antes de querer escrever algo acerca do Anticristo...
c)
Se a
Bíblia diz que a rocha é Cristo e a Igreja Católica diz que é Pedro e os demais
Papas, está aí um exemplo de um homem usurpando o lugar de Cristo, significando
isso uma "quebra de acordo", conforme profetizado por Paulo [21:36].
Quem disse que Pedro é a pedra foi o
próprio Cristo ("Tu és 'keppa' e sobre esta 'keppa' edificarei a minha
Igreja", cf. Mateus 16,18); e Pedro e seus sucessores não estão usurpando
o lugar de Cristo porque foram os únicos a receber(em) do mesmo Cristo a chave
do Reino dos Céus, como já o demonstramos. Daí a expressão "Vigário de
Cristo".
Ora, se Pedro e os Papas usurpassem o
lugar de Cristo, estes não usariam o título de "Vigário de Cristo",
mas de "Cristo" (=o Ungido) mesmo. Apenas a falta de lógica pode
levar alguém a afirmar que os Papas usurpam o lugar de Cristo. Não há que se
falar, portanto, em "quebra de acordo", mas em "manutenção do
desejo de Jesus"...
d)
É
por isso que na Doação de Constantino o Papa "é chamado de 'Vicarius Filii
Dei', o substituto do Filho de Deus, aquele que está no lugar do Filho de
Deus" [22:01].
Vigário não é o substituto, mas aquele
que representa fisicamente alguém que detém um poder superior. Se fosse
substituto, como erroneamente quis fazer crer o programa, o Papa também seria
Deus e Homem, como Jesus (algo que nenhum Papa jamais aventou para si!).
A leitura integral do "Constitutum
Donatio Constantini" também não apoia o argumento de que o Papa estaria
usurpando o lugar de Cristo; apenas o aponta como "Vicarius Filli
Dei", ou seja, "aquele que representa fisicamente [na terra] o Filho
de Deus"; nada demais, portanto.
O que o programa não diz - mas que todo
fiel adventista automaticamente sabe -, é que apontando ao Papa o título de
"VICARIVS FILLI DEI" estão, com isso, querendo apontá-lo como "a
besta do Apocalipse", que porta o número 666. Isto porque, segundo eles, a
soma dos caracteres latinos que representam algum valor totalizaria 666:
V(5) + I(1) + C(100) + A(0) + R(0) +
I(1) + V(5) + S(0) +
F(0) + I(1) + L(50) + I(1) + I(1) +
D(500) + E(0) + I(1) = 666
F(0) + I(1) + L(50) + I(1) + I(1) +
D(500) + E(0) + I(1) = 666
No entanto, essa tese não tem como se
sustentar por quatro razões:
a)
Nenhum
Papa jamais empregou o título "Vicarius Filli Dei" (Vigário do Filho
de Deus), conforme consta na "Doação de Constantino" (criado por um
falsário do séc. VIII), mas sim o título "Vicarius Christi" (Vigário
de Cristo). E embora muitos adventistas afirmem que esse título encontra-se
"na tiara do Papa", nunca foi encontrada uma tiara contendo esse
título, como reconhecem alguns trabalhos mais sérios[17].
b)
Mas
ainda que o Papa empregasse o título de "Vicarius Filii Dei", ainda
assim não seria possível demonstrar que a soma das letras em algarismos romanos
totalizaria 666, em virtude dos encontros entre as letras que apontam um valor
numérico diferente. Em outras palavras:
VI=(6) + C(100) + A(0) + R(0) + IV(4) +
S(0) +
F(0) + I(1) + LII(52) +
D(500) + E(0) + I(1) = 664
F(0) + I(1) + LII(52) +
D(500) + E(0) + I(1) = 664
c)
A
Bíblia não diz em qual idioma ou alfabeto esse "número de homem" (no
sentido de ser humano) foi escrito. Com efeito, o Adventismo, obrigando seus
seguidores a empregarem o latim está, mais uma vez, ultrapassando os limites da
"Sola Scriptura" (que afirma adotar) e invadindo o terreno do
extrabíblico (que afirma não adotar). Porém, neste caso de usar o latim,
"o feitiço volta-se contra a feiticeira", de modo que se isolarmos e
somarmos os caracteres latinos da fundadora do Adventismo, obteremos também o
número 666:
E(0) + L(50) + L(50) + E(0) + N(0) +
G(0) + O(0) + V(5) + L(50) + D(500) +
W=V(5)+V(5)] + H(0) + I(1) + T(0) + E(0) = 666
G(0) + O(0) + V(5) + L(50) + D(500) +
W=V(5)+V(5)] + H(0) + I(1) + T(0) + E(0) = 666
d)
O
Apóstolo João, de origem judaica, adotou o grego para redigir o Apocalipse,
sendo este destinado às comunidades da Ásia maior, que também não usava o
latim, de modo que não teriam como decifrar a "mensagem secreta" do Apóstolo.
Portanto, considerando todo o contexto
bíblico, histórico e geográfico, devemos considerar somente os idiomas e
alfabetos grego e/ou hebraico, os quais também possuem letras que indicam
valores numéricos. Então, se fizermos a gematria da forma grega do nome
"César Nero", ou seja, "NVRN RSQ" (escrita da direita para
a esquerda), empregando o alfabeto hebraico, totalizaremos 666, pois:
N(50) + V(6) + R(200) + N(50) +
R(200) + S(60) + Q(100) = 666
R(200) + S(60) + Q(100) = 666
A "prova dos nove" pode ser
dada por alguns antigos manuscritos que trazem o número variante de 616 ao
invés de 666: omitindo a letra Num final (que vale 50) de César Nero (para
empregarmos a forma latina do nome Nero), obteremos o número 616:
V(6) + R(200) + N(50) +
R(200) + S(60) + Q(100) = 616
R(200) + S(60) + Q(100) = 616
Ora, o grego era de pleno conhecimento
do Apóstolo e das comunidades destinatárias, que estavam sob o domínio romano,
justificando assim a forma da expressão; já os caracteres hebraicos empregados,
eram de pleno conhecimento de João, em virtude da sua descendência judaica e
podia ser decifrado pelas comunidades primitivas porque também congregavam
judeus conversos ao Cristianismo (como nos prova os livros dos Atos dos
Apóstolos e as epístolas de Paulo em diversas passagens), os quais certamente
conheciam os valores das letras hebraicas.
Também o Apocalipse 17,10-11 sustenta
esta interpretação do número 666, já que diz:
- "São também sete reis, dos quais cinco já caíram, um existe e o outro
ainda não veio, mas quando vier deverá permanecer por pouco tempo. A Besta que
existia e não existe mais é ela própria o oitavo e também um dos sete, mas
caminha para a perdição".
Ora, referindo-se ao Império Romano,
logo percebemos que os reis de que trata a citação são os imperadores romanos.
Devemos considerar cronologicamente os imperadores a partir da vinda de Cristo
até a época da redação do livro do Apocalipse. Então:
• 5 já caíram: Augusto (31 a.C.-14
d.C.), Tibério (14-37 d.C.), Calígula (37-41 d.C.), Cláudio (41-54 d.C.) e Nero
(54-68 d.C.);
• 1 existe: Vespasiano (69-79 d.C);
• 1 que virá e durará pouco: Tito (79-81 d.C.: durou apenas 2 anos!);
• a besta é o oitavo que, ao mesmo tempo, é um dos sete anteriores, ou seja, Nero (já que NVRN RSQ = 666!).
O Apóstolo, assim, alude à lenda do
"Nero redivivo" (esta surgiu logo após ao seu suicídio e afirmava que
Nero não havia morrido, pois o ferimento que o levou à morte fora
sobrenaturalmente curado, estando ele agora oculto em algum lugar, devendo logo
reassumir o poder do Império). Portanto, a besta que possui o número 666 é o Imperador
Domiciano (81-96 d.C.), o qual - tal como Nero - tornava agora a perseguir os
cristãos, só que com mais força e crueldade...
4. ACUSAÇÕES DIVERSAS
CONTRA O CATOLICISMO COMO UM TODO
É claro que a "metralhadora
giratória" não podia ser apontada apenas contra o Papado... Para manter a
"tradição protestante", ela deve ser apontada também para diversos
outros temas, que as "profecias adventistas" do séc. XIX pretendem
lançar "luz":
1º) Jesus também advertiu aos Apóstolos
que não se deixassem ser chamados como "guias da Igreja", porque
Cristo é o único guia, no entanto, o clero católico se denominou o supremo guia
espiritual teológico dos leigos [09:35]
Jesus advertiu aos Apóstolos que não se
deixassem ser chamados como "guias da Igreja"? Onde, na Bíblia
(inclusive na tradução protestante de Almeida, usada pelos Adventistas),
encontra-se essa expressão?
A "Sola Scriptura" também não
funciona aqui...
Pior: o Protestantismo adota o título
de "pastor" para a sua liderança... E qual a função principal do pastor?
Não é justamente guiar, conduzir, apascentar o rebanho? E não foi exatamente
isso que Jesus ordenara em João 21? "Apascenta as Minhas ovelhas"...
Como se vê, o programa cai numa
contradição pra lá de aberrante, apenas para manifestar a todo custo sua posição
anticatólica.
2º) A 1a parte de Daniel 7,25 diz que o
"futuro poder" da besta cuidaria de reformar os calendários[18]. Isto
realmente foi feito pela Roma pagã (Calendario Juliano, de ano 46 a.C.) e
também pela Roma papal (Calendário Gregoriano, de 1582), fazendo com que os
calendários bíblicos baseados na agricultura, na astronomia e nas festas
religiosas fossem quase esquecidos [22:17].
Para começar, o principal calendário
adotado pelos judeus (e, portanto, pela Bíblia) não foi estabelecido por estes,
mas pelos babilônios! Prova disso está em Êxodo 13,3-4, em que Moisés, falando
dos Ázimos diz:
- "Lembrai-vos
deste dia, em que saístes do Egito, da casa da escravidão, pois com mão forte
Iahweh vos tirou de lá e, por isso, não comereis pão fermentado. Hoje é o mês
de ABIB e estais saindo".
Mas qual é o "mês
tradicional" que os judeus celebram os ázimos? NISAN, pois a partir do
Exílio Babilônico passaram a seguir o calendário deste povo pagão!!! Temos
ainda 1Reis 6 a 8, que aponta três meses do calendário fenício...
Não coube, pois, à Bíblia estabelecer o
Calendário universal. Prova disso, são as "lacunas" nos calendários:
se pesquisarmos a Bíblia de capa a capa, veremos que ela não aponta todos os
meses do ano, nem do calendário original (citado por Moisés), nem do calendário
babilônico (adotado pelos judeus exilados), nem do calendário fenício, nem de
nenhum outro...
O questão do calendário não é, pois, de
natureza bíblica, mas científica, de modo que a reforma do calendário realizada
pelo Papa Gregório XIII (1572-1585) era medida que se fazia extremamente
necessária pois o equinócio da primavera (usado para o cômputo da Páscoa) caía
cada vez mais cedo, já que "desaparecia" 1 dia a cada 128 anos.
Assim, no tempo de César, o equinócio da primavera caía no dia 24/03; 128 anos
depois, em 23/03;... no séc. XVI, o equinócio já estava próximo de 11/03!
Portanto, além de extinguir a diferença entre o ano civil e o ano trópico, era
preciso também evitar que, após a reforma do calendário, o problema tornasse a
ocorrer.
Consultando diversos astrônomos e
matemáticos de renome (Inácio Danti, Cristóvão Clau, Pedro Chaón, Aloísio e
Antonio Lílio), Gregório XIII apresentou, por fim, o novo calendário através da
bula "Inter Gravissimas", de 24/02/1582.
Por outro lado, convém observar que a
Comissão de Fé e Constituição do Conselho Mundial de Igrejas (do qual a Igreja
Católica não faz parte) apontou, em um documento de 07/04/1999, que:
- "O calendário
gregoriano está mais próximo da realidade astronômica do que o calendário
juliano. Conforme o primeiro, o ano civil conta 26 segundos a mais do que a
duração da terra em torno do sol, ao passo que, segundo o calendário juliano, a
diferença é de 11 minutos e 14 segundos. Atualmente o calendário juliano acusa
uma diferença de 13 dias em relação ao calendário gregoriano. No ano 2100, a
diferença será de 14 dias".
Recorde-se também que a Conferência de
Alep, na Síria, celebrada em 03/1997, com o participação do mesmo Conselho
Mundial de Igrejas e do Conselho das Igrejas do Oriente Médio, recomendou,
entre outras coisas, que todas as igrejas cristãs continuassem a fixar a data
da Páscoa no domingo que se segue à primeira lua cheia da primavera nórdica,
segundo o método de cálculo adotado pelas comunidades do Oriente e do Ocidente,
método este já estipulado pelo 1o Concílio de Niceia em 325. É bom esclarecer
que a Igreja Adventista do 7º Dia foi uma das participantes desta
Conferência...[19]
E depois vão dizer que a Igreja
Católica é inimiga da Ciência! No mais, veja-se o que foi escrito mais acima
sobre a celebração da data da Páscoa.
a)
Os
meses atuais "são quase todos" homenagens aos imperadores romanos -
como Júlio César (Julho) e Augusto (Agosto) - ou aos deuses romanos - como
Marte (Março) e Ianus (Janeiro). O mês de Setembro, que lembra Sete, passou a
ser pelas mudanças romanas o mês nove e assim sucessivamente até Dezembro
[22:50].
O calendário latino, de 12 meses, foi
estabelecido antes da Era Cristã pelos romanos, povo de origem pagã. Portanto,
não é de se estranhar que alguns meses derivem dos nomes dos seus deuses ou
imperadores. Aliás, a própria Bíblia, adotando majoritariamente o calendário
babilônico, não teve o condão de alterar-lhe os nomes dos meses; e nem mesmo os
judeus tentaram fazê-lo por conta própria. Daí o absurdo do argumento
adventista.
O Papa Gregório XIII, embora pudesse,
não alterou os nomes dos meses para evitar mais confusão ainda, já que diversas
nações (principalmente as protestantes) estavam boicotando a reforma do
calendário; contentou-se com tão somente ajustar os dias do ano civil ao ano
trópico.
Contudo, o imperador francês Napoleão
Bonaparte quis, em 1792, por conta própria, alterar os nomes e dias dos meses
do ano, tendo por base as condições climáticas e agrícolas das estações (algo
mais "natural", como de certa forma defendeu o programa), para
simbolizar a quebra com a ordem antiga. Eis os meses do ano segundo este
"novo Calendário":
No outono:
- Vindemiário: vindima das uvas (de 22 de setembro a 21 de outubro)
- Brumário: nevoeiro (de 22 de outubro a
20 de novembro)
- Frimário: geadas (de 21 de novembro a
20 de dezembro)
No inverno:
- Nivoso: neve (de 21 de dezembro a 19 de janeiro)
- Pluvioso: chuvas (de 20 de janeiro a
18 de fevereiro)
- Ventoso: ventos (de 19 de fevereiro a
20 de março)
Na primavera:
- Germinal: germinação das sementes (de 21 de março a 19 de abril)
- Floreal: flores (de 20 de abril a 19
de maio)
- Pradial: prados (de 20 de maio a 18
de junho)
No verão:
- Messidor: colheita (de 19 de junho a 18 de julho)
- Termidor: calor (de 19 de julho a 17
de agosto)
- Frutidor: frutos (de 18 de agosto a
20 de setembro)
A confusão no Império francês foi
tamanha, que o "Calendário Revolucionário" foi extinto em 31 de
dezembro de 1805 pelo próprio Napoleão, restabelecendo-se, assim, o Calendário
Gregoriano.
Bem que os Adventistas poderiam adotar
o Calendário Napoleônico, baseado na natureza, para não ter que citar os
"nomes inconvenientes" dos meses do Calendário latino... Que tal?
b)
A
Páscoa, celebrada na Bíblia no dia 14 de Nisã, passou para o domingo seguinte à
lua cheia do equinóxio primaveril do hemisfério norte, para acomodar no mesmo
calendário eclesiástico as festas religiosas católicas com as festas pagãs de
Baco, deus do vinho, que deu origem ao Carnaval [23:33]
O que que é isso, companheiro?
As festas de Baco, deus do vinho, eram
de dois tipos:
• As festas religiosas em sua
homenagem, públicas, celebradas anualmente de 16 de março a 18 de março (data
fixa); e
• As orgias ou bacanais (em razão da
identificação de Baco com Dionísio), clandestinas, que não tinha data certa
para ocorrerem, podendo se dar até 5 vezes ao mês!!!
Só com isto, percebe-se a falácia da
afirmação, uma vez que a Páscoa cristã (celebrada sempre aos domingos desde o
Período Apostólico) é uma data móvel no Calendário, de modo que raramente cai
entre 16 e 18 de março (do mesmo modo que os dias 16 a 18 de março nem sempre
caem em um domingo), bem como é propriamente celebrada um único domingo ao ano
(e não 5 vezes todos os meses)...
Também duvidosíssima é a ligação
histórica entre os antigos bacanais (realizados diversas vezes ao ano e cerca
de 5 dias por mês) e o carnaval (popularmente festejado uma vez ao ano, antes
do início da Quaresma). Parece que o único ponto de contato que existe entre
essas duas festividades populares são os excessos e a promiscuidade. Como quer
que seja, a Igreja Católica jamais apoiou tais vícios e pecados, de modo que a
contra-argumentação do programa é completamente infundada e absurda.
c)
O
Mitraísmo, que cultuava o deus Sol, entrou com força na Igreja e mesclou com a
figura de Cristo um deus pagão (como demonstram a arte pagã anterior a
Constantino e a arte católica posterior a Constantino) [24:02]
O programa, infelizmente, não indicou a
fonte dos dois alto-relevos que apresentou; disse apenas que a imagem do deus
Mitra foi retirada de "antigas termas romanas" e que a de Cristo foi
extraída de "uma igreja espanhola do séc. VII". Fazendo uma busca
pelo Google Images, não fomos capazes de encontrar nem uma imagem, nem outra,
de modo que não podemos por ora precisar a quem retratam. Podemos, porém,
comentar sobre a "possível ligação" entre o Mitraísmo e o
Cristianismo:
Não há nada que possa indicar uma
aproximação entre Mitra e Jesus (tal como este é pregado pela Igreja Católica).
Buscando pontos de contato entre essas duas religiões, encontramos a seguinte
argumentação ateísta (e a correspondente contra-argumentação católica):
- Afirma-se que ambos nasceram de uma
Virgem, em 25 de dezembro, em uma caverna e receberam a visita de pastores:
ocorre que a encarnação de Jesus é fato real, atestada no tempo e no espaço,
enquanto que a de Mitra é, como outras crenças pagãs, mero mito. Além disso,
Mitra não nasceu de uma Virgem, mas de uma pedra, tendo sido auxiliado a sair
dela pelos pastores. Embora Mitra fosse celebrado em 25 de dezembro, os
cristãos que celebravam o nascimento de Jesus no mesmo dia sabiam muito bem que
estavam comemorando o mistério da Encarnação e não festejando uma figura
mitológica.
- Afirma-se que ambos foram mestres
itinerantes: nem a tradição iraniana, nem a tradição romana apontam Mitra como
Mestre no sentido próprio da palavra (isto é, aquele que ensina e orienta), mas
simples "mestre das sortes". Sendo Mitra um deus, não deveria ser bem
mais do que isso?
- Afirma-se que ambos tinham 12
discípulos: a única coisa que se aproxima ao número 12, no caso de Mitra, é o
fato de existir um mural (de período pós-cristão) em que ele aparece rodeado
dos 12 signos do zodíaco, o que tem tudo a ver com o fato dele ser "mestre
das sortes", mas nada a ver com discípulos de carne e osso.
- Afirma-se que ambos realizaram
milagres em vida: e qual deus não realizaria milagres? Se não os realizasse,
não poderiam ser considerados deuses... Porém, sendo Mitra um mito e Jesus
figura histórica, é óbvio que na prática somente Cristo pôde efetivamente
realizar milagres.
- Afirma-se que ambos eram chamados de
"Bom Pastor", "cordeiro" e "leão": também
inexiste qualquer tradição nesse sentido no que diz respeito a Mitra; no
máximo, poderia ser chamado de "leão", já que sendo Mitra o deus Sol
estaria originalmente ligado à casa do sol segundo a astrologia babilônica (mas
esta única justificativa também tem origem pós-cristã).
- Afirma-se que ambos se consideravam
"caminho", "verdade", "luz", "logos",
"redentor", "mediador", "salvador" e
"messias": com exceção do termo "mediador", nenhum dos
demais termos encontram-se na tradição mitraica. Ainda assim, o termo
"mediador" é empregado de maneira diversa da tradição cristã: enquanto
para o Cristianismo, Jesus é o único mediador entre Deus e os homens, para o
Mitraísmo Mitra é mediador entre os dois deuses de Zoroastro (o deus bom e o
deus mau).
- Afirma-se que ambos celebravam a
Eucaristia: os seguidores de Mitra não celebravam a Eucaristia, mas se reuniam
regularmente para uma refeição de confraternização, como muitos outros grupos
religiosos do mundo greco-romano.
- Afirma-se que ambos prometeram a
imortalidade aos seus seguidores: e daí? Qual deus não prometeria imortalidade
aos seus seguidores? Não é isso o que os Adventistas também esperam por ocasião
da 2a vinda de Cristo?
- Afirma-se que ambos se sacrificaram
para conceder a paz ao mundo: o ato "mais nobre" de Mitra foi quando
enfrentou um búfalo (é esta, aliás, a imagem mais conhecida deste
"deus", mas que não foi apresentada pelo programa porque não contém
os raios solares na cabeça, impedindo que se fizesse a ligação com a
"imagem de Cristo" extraída de "uma igreja [qualquer] do séc.
VII); logo, não se aproxima nem de longe do sacrifício redentor de Cristo na
cruz, este sim, o verdadeiro e único Salvador da humanidade.
- Afirma-se que ambos foram sepultados
e ressuscitaram ao 3o dia: não há nada nas tradições de Mitra que indiquem que
ele tenha morrido! O que dirá então de ter sido sepultado e, depois,
ressuscitado!!!
- Afirma-se que ambos eram celebrados
por ocasião da ressurreição (=Páscoa): mas se inexiste qualquer tradição de que
Mitra tenha morrido, como sua ressurreição poderia ser celebrada? Isto é
ilógico...
- Afirma-se que ambos são cultuados no
domingo, conhecido como "o Dia do Senhor": Mitra era celebrado aos
domingos segundo a tradição romana (mas não segundo a tradição iraniana); porém
esta celebração dominical de Mitra foi introduzida em Roma bem depois do
Cristianismo chegar ali.
Com isto, fica mais do que evidenciado
que o Jesus pregado pela Igreja Católica nunca teve nada a ver com o deus Sol
do Mitraísmo[20].
d)
Por
isso, a Igreja Católica institui e observa como dia de guarda o "Dies
Solis" (="Dia do Sol"), em lugar do Sábado bíblico [25:00].
A instituição do domingo como dia de
observância encontra-se suficientemente testemunhada pelo Novo Testamento. Eis
apenas alguns exemplos:
• Jesus ressuscitou no "primeiro
dia da semana" (cf. João 20,1), estabelecendo assim o domingo como "o
Dia do Senhor".
• A primeira vez que Jesus apareceu a
todos os seus Apóstolos (com exceção de Tomé, que estava ausente) foi em um
domingo (João 20,19ss).
• A segunda vez que Jesus apareceu a
todos os seus Apóstolos (inclusive a Tomé, desta vez presente) foi novamente em
um domingo (João 20,26ss).
• O Espírito Santo desceu sobre a
Igreja em um domingo, dia de Pentecostes (cf. Atos 2,1ss).
• O primeiro sermão de Pedro, que
resultou no ingresso dos primeiros convertidos, deu-se em um domingo (Atos
2,14ss.41).
• A Igreja reunia-se para a eucaristia
no domingo (Atos 2,6-7).
• A Igreja realizava as coletas de
caridade no domingo (1Coríntios 16,2).
Além disso:
• O sábado foi feito para o homem e não
o homem para o sábado (Marcos 2,27).
• Ninguém pode ser criticado por não
observar o sábado (Colossenses 2,16-17).
• As primícias da colheita, que
representam Jesus ressuscitado (cf. 1Coríntios 15,20), eram ofertadas pelo
sacerdote do Antigo Testamento, no domingo (Levítico 23,9-21).
Fora isso, muitos outros testemunhos
primitivos, bem anteriores a Constantino, demonstram que o domingo sempre foi o
dia guardado pelos cristãos e não mais o sábado judaico, uma mera "sombra
do que deveria vir". Eis alguns exemplos:
- "Mas o domingo
é o primento dia em que todos celebramos a nossa assembleia comum, porque é o
primeiro dia em que Deus, tendo realizado uma mudança nas treva e na matéria,
fez o mundo; e Jesus Cristo, nosso Salvador, foi nesse mesmo dia que
ressuscitou dos mortos" (Justino de Roma, +150; Apologia 1,67, cerca de
67. d.C.).
- "Reunidos a cada
dia do Senhor, parti o pão e dai graças, depois de terdes confessado os
pecados, para que o vosso sacrifício seja puro" (Didaqué 14; entre 70 e
120 d.C.).
- "Portanto, nós
guardamos o oitavo dia para o celebrar. Nesse dia, Jesus ressuscitou dos mortos
e, depois de se manifestar, subiu aos céus" (Carta de Barnabé 15; ebtre 70
e 110 d.C.).
- "Por isso, os
que se criaram na antiga ordem das coisas vieram à novidade da esperança, não
guardando o sábado, mas vivendo segundo o domingo, dia em que também amanheceu
a nossa Vida" (Inácio de Antioquia, +107; Carta aos Magnésios 9, entre 80
e 90 d.C.).
e)
O
"Dies Solis" foi rebatizado de "Dies Domini" (="Dia do
Senhor") ou "Domênico" (="Domingo"), no entanto, na
Bíblia, o Dia do Senhor não é o domingo, mas o sábado, o 7o dia da semana
[25:15].
O "Dia do Senhor" típico,
segundo o Novo Testamento, é o Dia em que Jesus retornará glorioso (2º Advento)
para julgar os vivos e os mortos (cf. Atos 2,20; 1Coríntios 5,5; 2Coríntios
1,14; 1Tessalonicenses 5,2; 2Tessalonicenses 2,2; 2Pedro 3,10), no fim do
mundo.
Só que enquanto Cristo-Juiz não vem (e
não adianta os Adventistas e Testemunhas de Jeová tentarem
"adivinhar" a data que virá, porque nunca descobrirão), celebramos o
"Dia do Senhor" no domingo, o dia da Ressurreição, que reflete a Nova
Criação, como sempre procedeu a Igreja Cristã desde os primórdios (cf. Atos
2,6-7). Caso interessante é o de Apocalipse 1,10, que, em tese,
"admitiria" duas formas de tradução:
1ª) Estive em espírito no Dia do
Senhor;
- OU –
2ª) No Dia do Senhor, fui arrebatado em espírito
A 1ª tradução, de cunho nitidamente
escatológico, coloca a expressão "Dia do Senhor" no mesmo sentido das
outras (vistas logo acima), afirmando que o êxtase do Apóstolo João
"transportou-o" em espírito para o Dia do Juízo; a 2ª, aponta que o
êxtase ocorreu em um domingo, no mesmo sentido dos versículos vistos no item
"d" supra.
Traduz da 1ª forma: Tradução do Novo
Mundo das Escrituras Sagradas, dos Testemunhas de Jeová (tinha que ser!!!
talvez esta tradução tenha influência adventista, já que o fundador dos
Testemunhas fôra previamente adventista)[21].
Traduzem da 2ª forma: Almeida
Contemporânea, Almeida Corrigida e Fiel, Almeida da Imprensa Bíblica, Almeida
Revista e Corrigida, Bíblia de Aparecida, Bíblia do Peregrino, Bíblia na
Linguagem de Hoje, Bíblia Sagrada Ave Maria, Bíblia Sagrada CNBB, Bíblia
Sagrada Edição Pastoral, Bíblia Sagrada Vozes, Bíblia de Jerusalém, Bíblia
Mensagem de Deus, Bíblia Palavra Viva, Neovulgata, Nova Tradução na Linguagem
de Hoje, Nova Versão Internacional, Novo Testamento de Taizé, Tradução
Ecumênica da Bíblia, Vulgata de D. Zioni, Vulgata do Pe. Figueiredo, Vulgata do
Pe. Matos Soares.
Traduz de maneira ambígua: Almeida
Revista e Atualizada (verte o grego assim: "Achei-me em espírito, no Dia
do Senhor, e ouvi por detrás de mim...").
Quem será que traduz corretamente esse
versículo? Os Testemunhas de Jeová??? ;)
Por outro lado, assim debatia o cristão
Justino Mártir com alguns judeus, em meados do século II:
- "Há mais
alguma coisa que reprovais em nós, amigos [judeus]? Ou apenas o fato de não
vivermos conforme a vossa Lei, nem circuncidarmos o nosso corpo como vossos
antepassados, nem guardarmos os sábados como vós fazeis? (...) Por isso, ó
Trifão, para ti e para todos aqueles que querem tornar-se prosélitos vossos,
anunciarei uma palavra divina, que ouvi daquele homem: 'Não vedes que os
elementos nunca descansam, nem guardam o sábado? Permanecei como nascestes'. Se
antes de Abraão não havia necessidade de circuncisão e antes de Moisés não havia
necessidade do sábado, das festas ou dos sacrifícios, também agora não existe,
depois de Jesus Cristo, Filho de Deus, nascido sem pecado de Maria Virgem, da
descendência de Abraão" (Diálogo com o Judeu Trifão 10,1; 23,3).
E mais: além de darem a vida por
Cristo, muitos cristãos também deram a vida pelo domingo, o Dia do Senhor:
- "Sem o
domingo, não podemos viver" (Ata dos Mártires da Abissínia: Saturnino,
Dative e Alioro 7,9,10, de ~250).
Diante disso, em são juízo, como
poderia o sábado continuar a ser observado pelos primeiros cristãos??
f)
A
cultura eclesiástica transformou o domingo em 7o dia e por essa razão o domingo
encerra o fim de semana, embora o dia seguinte seja a 2a-feira e não a 1a-feira
[25:40].
Esta contra-argumentação só pode ser
brincadeira! Ou mais um blá-blá-blá apenas para preencher o tempo de
filmagem...
Ora, basta bater o olho em qualquer
Calendário, em qualquer "Folhinha" presa na parede, para se dar conta
que o 1o dia da semana é o Domingo!!!
O sábado e o domingo são considerados "fim
de semana" por regra civil/estatal (jamais religiosa/eclesiástica!!), para
a simples ordenação do trabalho e do lazer no território nacional.
Apenas isso. Consulte-se, por exemplo,
a Norma ISO 8601:2004, sobre os formatos de data e hora. Se tudo isto não for
verdade, deixamos o seguinte desafio ao programa adventista: em qual documento
pontifício ou Catecismo da Igreja Católica ocorre a transformação do domingo em
7º dia (com a consequente passagem do sábado para o 6o dia)?
Sem mais comentários...
3º) A 2ª parte de Daniel 7,25 fala
também que o futuro poder alterará a Lei de Deus[22]. Com efeito, o texto do
Decálogo contido em Êxodo 20 é bem diferente do Catecismo, o que demonstra que
a Igreja Católica alterou arbitrariamente os Mandamentos divinos[23] [26:00].
Devemos primeiramente notar que a
própria Bíblia, no Antigo Testamento, traz por duas vezes o texto dos Dez
Mandamentos, em Êxodo 20,1-17 e Deuteronômio 5,6-21. Porém, os dois textos não
são exatamente os mesmos, sendo um texto ligeiramente mais breve do que o
outro, como uma simples leitura comparativa pode demonstrar.
Por outro lado, é evidente que o texto
do Catecismo é também diferente na sua literalidade, já que foi simplificado
para facilitar a memorização por todos os fiéis cristãos. Mas mesmo sendo
bastante curto, a extensão própria de cada Mandamento é salvaguardada pelo
ensino doutrinário da Santa Igreja. Por exemplo:
• O 1º Mandamento, que declara, segundo
o Catecismo clássico: "Amar a Deus sobre todas as coisas", abrange,
segundo o ensinamento da Igreja Católica: adorar somente a Deus sobre todas as
coisas, afastando-se todas as formas de idolatria (ver Catecismo da Igreja
Católica, parágrafos 2083 a 2141); já os protestantes, preferem quebrar o 1º
Mandamento em dois: um para adorar somente a Deus sobre todas as coisas; e
outro para não cometer idolatria... Ora, quem ama a Deus sobre todas as coisas
não pode, por consequência natural, cometer idolatria!
• O 3º Mandamento, que declara, segundo
o Catecismo clássico: "Guardar domingos e festas", abrange, conforme
o ensinamento da Igreja: guardar o repouso dominical e outros dias santos
apontados pela Igreja, dedicando esses dias ao Senhor, evitando fazer coisas
desnecessárias (ver Catecismo da Igreja Católica, parágrafos 2168 a 2195); embora
os protestantes enxerguem este Mandamento como o 4o (por terem dividido do 1º
Mandamento em dois), a maioria deles concorda em gênero número e grau com o
ensinamento católico; a exceção é formada pelas denominações que "guardam
o 7o dia" - o sábado - como os Adventistas do 7º Dia, que paradoxalmente
seguem a praxe judaica e não a praxe cristã.
• O 9º Mandamento, que declara, segundo
o Catecismo clássico: "Não desejar a mulher do próximo" diferencia-se
do 10º Mandamento, "Não cobiçar as coisas alheias", por se tratar de
sentimentos notoriamente diferentes e também por terem como destinatários
"objetos" diferentes (afinal, "seres humanos" não se
confundem com "coisas"; nem a cobiça sexual com a cobiça de obter
bens, como deixa notar perfeitamente o texto de Deuteronômio 6,21, que traz por
duas vez a palavra "não": "NÃO cobiçarás a mulher do teu
próximo" e "NÃO desejarás para ti a casa do teu próximo, nem o seu
campo, nem o seu escravo, nem a sua escrava, nem o seu boi, nem o seu jumento,
nem coisa alguma que pertença ao teu próximo". É claro que, por terem
dividido o 1o Mandamento em dois, os protestantes (salvo os luteranos) agora
precisam juntar o 9o com o 10o, para totalizar o número de dez; com isto a
mulher passa a ser considerada coisa, patrimônio do marido...
Por fim, devemos observar que Jesus
também "modificou" a literalidade dos Mandamentos, simplificando tudo
como:
- "Amarás o
Senhor teu Deus de todo teu coração, de toda tua alma e de todo teu espírito.
Este é o maior e o primeiro mandamento. E o segundo, semelhante a este, é:
Amarás teu próximo como a ti mesmo" (Mateus 22,37-39; v.tb. Marcos
12,30-31; Lucas 10,27).
E não há dúvida de que nestes dois
únicos Mandamentos de Jesus encontram-se todos os demais...
É que Jesus (bem como a Igreja
Católica), se preocupa com o "espírito" e não com a simples
"letra" da lei (cf. 2Coríntios 3,6-7).
4º) Muitas outras coisas poderiam se
apontar contra a Igreja Católica, mas por ora é desnecessário, bastam os
seguintes exemplos: [26:42]
Novamente, a "metralhadora giratória"...
Como estes "novos temas" nada têm a ver com o tema do programa,
indicamos apenas alguns artigos que os abordam em detalhes:
a)
O
Santo Ofício e a Inquisição
Quanto a estes, indicamos a leitura
atenta dos seguintes artigos:
• "Ahistória da inquisição", em Veritatis Splendor.
• "Inquisição:a verdadeira Face", em
Apologistas Católicos.
• "AInquisição e o Protestantismo", em Católico Porque...
• "Leitoraquestiona a inquisição protestante", em Católico
Porque...
• "Aindaas Inquisições protestantes...",
em Católico Porque...
• "Leitorquer rebater argumento contrário às Inquisições Protestantes",
em Católico Porque...
b)
As
indulgências
Quanto a estas, leia-se:
• "Aversão correta: Indulgências - Que são?", em Católico
Porque...
• "Entendendoa doutrina das indulgências", em Católico Porque...
• "AIgreja Católica vendia lugares no Céu?! O que são as indulgências", em Católico Porque...
CONCLUSÃO
O programa concluiu com as seguintes
afirmações:
Certamente houve Papas sinceros,
devotos a Deus, e Papas desonestos, assim como existem pastores verdadeiros e
charlatães, usando o mesmo título de pastor" [27:12].
A Igreja Católica admite (e ensina) que
o pecado também pode atingir o Papa, apesar deste ser infalível quando se
pronuncia "ex cathedra" em questões de fé e moral. Com efeito,
infalibilidade não se confunde com impecabilidade. Por isso mesmo, os Papas
também tem seus confessores, a quem confessam os seus pecados pessoais; fazem,
assim, penitência.
Mas o que chama a atenção na afirmação
acima é justamente a parte que diz: "Certamente houve Papas sinceros,
devotos a Deus". Ora, afirmando isto, o programa caiu mais uma vez em
contradição, uma vez que até então vinha propondo a ideia de que o Papado e os
Papas eram "coisas ruins", que desviavam a Igreja Católica; fora a
ideia tresloucada de que o Papa, como "Vicarius Filii Dei" seria
"a besta do Apocalipse", o portador do no 666... Acrescente-se ainda
que todos os Papas "sinceros, devotos a Deus" guardaram o domingo, o
que para os adventistas caracterizaria "a marca da besta"...
Eis o resultado da falta de coerência
entre a teoria e a prática adventistas.
- "Eu era um católico muito bem
convertido, tão convertido como hoje" [28:27].
Essa afirmação foi feita pessoalmente
pelo apresentador do programa... Contudo, se quando católico "era muito
bem convertido", não teria deixado se convencer pelas balelas adventistas
(guarda do sábado, alimentos puros e impuros, juízo investigativo, mortalidade
da alma, grande apostasia da Igreja etc.), pois nem mesmo a imensa maioria dos
protestantes caem nessa conversa fiada. E mais: se fosse "católico muito
bem convertido" conheceria bem melhor o Catolicismo, a ponto de não
propagar aqui os inúmeros erros doutrinários ou históricos que atribuem à Fé
Católica e que constam no roteiro do programa. Isto é verdadeiramente
lamentável!
Por outro lado, dizendo-se que era
"tão convertido como hoje [ao Adventismo]", é possível que não esteja
ainda tão contumazmente preso a essa denominação. Oremos e torçamos para que
reveja sua posição e "retorne ao lar", de onde nunca deveria ter
saído.
- "Eu não consigo sequer supor a
ideia de chegar ao céu e não encontrar ali irmãos católicos como Madre Teresa
de Calcutá, Irmã Dulce ou Francisco de Assis. Se esse pessoal tão caridoso e
altruísta não foi verdadeiramente cristão, quem é que foi?" [29:08].
Ora, o Adventismo não admite a
imortalidade da alma, tal como professa a Igreja Católica e a esmagadora
maiorias das igrejas protestantes, de modo que a afirmação acima é também
discordante da doutrina oficial da igreja Adventista do 7o Dia. Se o
"destoamento" apresentado pelo programa se deu de boa fé (por
ignorância ou descuido) ou de má fé (por motivos proselitistas, para atrair
católicos), que Deus o julgue.
- "A menos que haja duas verdades
- e não há! - eu tenho muitas vezes que optar entre o que diz a Bíblia e o que
ensinam as bulas papais. E, entre ambos (...) eu prefiro ficar com a
Bíblia" [29:28].
Outro ponto que demonstra que o
apresentador não era tão convertido assim ao Catolicismo, pois, se o fosse,
saberia muito bem que as bulas papais (e demais documentos pontifícios e
curiais) não fazem "competição" com a Bíblia Sagrada ou com a Sagrada
Tradição, mas as aplicam, exortam, explicam, etc., tudo dentro do devido
contexto histórico vivido pelos Papas (ou outras autoridades eclesiásticas)
signatários... Isto porque o Papado está a serviço de Cristo e da Igreja e não
do anticristo; daí a autoridade da Igreja, a esposa de Cristo:
- "Tu és Pedro e
sobre esta pedra edificarei a minha Igreja" (Mateus 16,18);
- "Quem vos
ouve, a Mim ouve; e quem vos rejeita, a Mim rejeita. E quem me rejeita, rejeita
Aquele que me enviou" (Lucas 10, 16).
- "Se recusa
ouvi-los, dize-o à Igreja. E se recusar ouvir também a Igreja, seja ele para ti
como um pagão e um publicano" (Mateus 18,17).
- "Cristo amou a
Igreja e se entregou por ela, para santificá-la, purificando-a pela água do
batismo com a palavra, para apresentá-la a Si mesmo toda gloriosa, sem mácula,
sem ruga, sem qualquer outro defeito semelhante, mas santa e
irrepreensível" (Efésios 5,25b-27).
- "A Igreja do
Deus vivo é a coluna e o fundamento da verdade" (1Timóteo 3,15).
Mais claro, impossível... Quem tiver
ouvidos para ouvir, ouça...
- "Seja fiel ao que diz a Palavra
de Deus" [29:59].
Não podemos esquecer aqui que o cânon
da Bíblia foi definido pela Igreja Católica no século IV d.C., e que o primeiro
livro do Novo Testamento surgiu mais de vinte anos após a Ressurreição e Ascensão
de Cristo, o que significa, por óbvio, que a Tradição oral da Igreja antecedeu
os escritos do Novo Testamento, de modo que estes apenas reproduzem uma parte
dessa Tradição transmitida verbalmente pelos Apóstolos e seus sucessores.
Com efeito o que vem a ser realmente a
Palavra de Deus a que devemos permanecer fiéis?
1.
A
Sagrada Tradição
2.
2. A
Sagrada Escritura (Antigo Testamento + Novo Testamento)
3.
3. O
Sagrado Magistério
Finalmente, devemos dizer que, embora a
fundadora do Adventismo, sra. Ellen Gould White, muito fale das Escrituras e
muito contradiga a Tradição e o Magistério da Igreja Católica, o fato é que ela
mesma segue uma tradição que nem mesmo as igrejas ditas protestantes aceitam,
como também impõe aos seus fiéis adventistas um magistério fundado nas suas
profecias pessoais e interpretações bem particulares das Escrituras
(especialmente as do livro de Daniel), esquecendo-se que São Pedro, homem
certamente inspirado (independentemente de a profetiza considerá-lo ou não
Papa), tenha ensinado que: "Nenhuma profecia é de particular
interpretação" (2Pedro 1,20). Com efeito, voltam-se contra ela as palavras
que ela própria escreveu em "O Grande Conflito" (págs. 525-526, tal
como o vômito retorna ao cachorro (Provérbios 26,11):
- "As
interpretações vagas e imaginosas das Escrituras, as muitas teorias
contraditórias concernentes à fé religiosa, as quais se encontram no mundo
cristão[24], são obra de nosso grande Adversário para confundir o espírito de
tal maneira que não saiba distinguir a verdade[25]. E a discórida e divisão que
há entre as igrejas da Cristandade são em grande parte devidas ao costume que
prevalece de torcer as Escrituras, a fim de apoiar uma teoria favorita[26]. Em
vez de estudar cuidadosamente a Palavra de Deus com humildade de coração, a fim
de obter conhecimento de Sua vontade, muitos procuram apenas descobrir algo
singular ou original[27]. Com o intuito de sustentar doutrinas errôneas ou
práticas anticristãs, alguns apanham passagens das Escrituras separadas do
contexto, citando talvez a metade de um simples versículo, como prova de seu
ponto de vista, quando a parte restante mostraria ser bem contrário o sentido.
Com a astúcia da serpente, entrincheiram-se por trás de declarações desconexas,
interpretadas de maneira a convir a seus desejos carnais. Muitos assim
voluntariamente pervertem a Palavra de Deus. Outros, possuindo ativa
imaginação, lançam mão das figuras e símbolos das Escrituras Sagradas,
interpretam-nos a seu bel-prazer, tendo em pouca conta o testemunho das
Escrituras como seu próprio intérprete, e então apresentam suas fantasias como
ensinos da Bíblia[28]".
Teria sido muito bom se a sra. White
tivesse "se olhado no espelho" e sabido aplicar na prática o que ela
mesma escreveu. Típico caso de ter uma trave no olho (cf. Mateus 7,3) que
infelizmente acomete muitos até hoje...
Pax Christi!
_________________________________
NOTAS
NOTAS
[0] O programa
refutado pode ser assistido no YouTube.
[1] Veja-se, p.ex.: o livro "O Grande Conflito", de Ellen Gould White (Casa Publicadora Brasileira); o livreto "Conhecereis a Verdade", de Alfons Balbach (Editora Missionária A Verdade Presente; Itaquaquecetuba-SP; 3a ed., s/data); e o folheto "A Última Advertência", de autor anônimo (Editora Missionária A Verdade Presente; Itaquaquecetuba-SP; s/data).
[1] Veja-se, p.ex.: o livro "O Grande Conflito", de Ellen Gould White (Casa Publicadora Brasileira); o livreto "Conhecereis a Verdade", de Alfons Balbach (Editora Missionária A Verdade Presente; Itaquaquecetuba-SP; 3a ed., s/data); e o folheto "A Última Advertência", de autor anônimo (Editora Missionária A Verdade Presente; Itaquaquecetuba-SP; s/data).
[2] Quanto aos duvidosíssimos ensinamentos da sra. Ellen Gould White, consulte-se as seções "Bibliografia" e "Sites", mais abaixo.
[3] RAY, Steeve. "Carta a um Fundamentalista". Apostolado Veritatis Splendor. Acessado em 16.05.2013.
[4] Cf. PAPIAS DE HIERÁPOLIS in Eusébio de Cesareia, "História Eclesiástica" 3,39,6; IRENEU DE LIÃO, "Contra as Heresias" 2,1,1;
ORÍGENES DE
ALEXANDRIA etc.
[5] KEATING, Karl. "Quem é a pedra: Jesus ou Pedro?". Apostolado Veritatis Splendor. Acessado em 13.05.2013.
[6] NABETO, Carlos Martins Nabeto. "A Fé Cristã Primitiva: Coletânea de Sentenças Patrísticas". São Paulo: Clube de Autores, Edição Master, 2012.
[7] ARMSTRONG, Dave. "50 Provas Bíblicas de que Pedro fora o primeiro Papa". Apostolado Universo Católico. Este artigo também pode ser encontrado na Internet em outra tradução sob o título "50 Provas do Primado Petrino e do papado tiradas do Novo Testamento".
[8] Como, aliás, reconhece ao menos em tese a própria fundadora do Adventismo do 7o Dia, a sra. Ellen Gould White, em sua obra "A Grande Esperança" (Tatuí-SP: Casa Publicadora Brasileira, 2011, pág. 65): "Mas Deus terá um povo que mantém a Bíblia, e a Bíblia somente, como padrão de todas as doutrinas e a base de todas as mudanças. As opiniões de intelectuais, as deduções da ciência, as decisões de concílios eclesiásticos, a voz da maioria - nenhuma dessas coisas, nem todas em conjunto, deveriam ser consideradas como prova a favor ou contra qualquer doutrina. Devemos exigir um 'assim diz o Senhor'".
[9] No caso específico do Adventismo do 7º Dia, seu "magistério" é principalmente constituído pelas interpretações bíblicas e profecias particulares da sua fundadora, Ellen Gould White; e suas "tradições" decorrem principalmente de doutrinas, disciplinas e costumes herdados de outras denominações protestantes mais antigas como a própria doutrina da Sola Scriptura, herdada dos luteranos, e as interpretações pessoais de adventistas mais antigos, que não observavam o sábado, mas tinham uma concepção muito particular de fim do mundo, como William Miller (1782-1849) que, por sua vez, tinha origem batista.
[10] PACWA, Mitch. "Call no Man Father", in Revista "This Rock". Estados Unidos, janeiro de 1991.
[11] Segundo a tabela constante do livro "A Reconquista do Homem", do adventista Carlos A. Trezza, (Santo André-SP: Casa Publicadora, 2a ed., s/data, pág.223), o Apocalipse foi escrito pelo Apóstolo João entre os anos 95 e 96, na época do pontificado de Clemente I.
[12] Manter a unidade da Igreja é um dos ofícios mais básicos de Pedro, já que, como vimos, cabe a ele confirmar os irmãos na fé. Não a toa, escreve Inácio de Antioquia (+107) à Igreja de Roma, que "preside ao amor": "Inácio, também chamado Teóforo, à Igreja que recebeu a misericórdia, por meio da magnificência do Pai Altíssimo e de Jesus Cristo, seu Filho único (...); à Igreja que preside na região dos romanos, digna de Deus, digna de honra, digna de ser chamada feliz, digna de louvor, digna de sucesso, digna de pureza, que preside ao amor, que porta a Lei de Cristo, que porta o nome do Pai: eu a saúdo em nome de Jesus, o Filho do Pai (...) Nunca tiveste inveja de ninguém; pelo contrário, ensinaste aos outros. Quanto a mim, desejo guardar o que ensinais e preceituais (...) Em vossa oração, lembrai-vos da igreja da Síria que, em meu lugar, tem Deus por pastor. Somente Jesus Cristo e o vosso amor serão nela o bispo" ("Epístola aos Romanos" Prefácio; 1,1; 3,1; 9,1).
[13] Cf. EUSÉBIO DE CESAREIA, "História Eclesiástica" 3,16,1; 4,23,9-11. Na tradução feita pela Casa Publicadora das Assembleias de Deus (Rio de Janeiro: CPAD, 1a ed., 1999), ao invés de alegria, lemos palavras ainda mais fortes: "Hoje passamos o santo dia do Senhor (=domingo), em que lemos tua epístola (=a do Papa Sótero). Ao lê-la, devemos sempre ter nossa mente suprida de admoestações, como temos do que nos foi escrito antes por Clemente".
[14] Cf. TERTULIANO DE CARTAGO, "Da Prescrição dos Hereges" 32,1-2.
[15] BETTENCOURT, Estêvão Tavares. "Diálogo Ecumênico: Temas Controvertidos". Rio de Janeiro: Lumen Christi, 3a ed., 1989.
[16] Cf. "CACP está entre os Piores Sites Apologéticos do Brasil". Blog "Sétimo Dia": http://setimodia.wordpress.com/2009/05/22/os-piores-sites-apologeticos-do-brasil/. Acessado em 14.05.2013.
[17] Escreve Luiz Gustavo S. Assis (ao que tudo indica adventista): "Esse assunto teve início com um incidente envolvendo W. W. Prescott, um dos pioneiros da segunda geração adventista. Um evangelista chamado C. T. Everson visitou o Museu do Vaticano e tirou algumas fotografias de diversas tiaras papais, usadas ao longo dos séculos. Nenhuma inscrição havia em sequer uma delas. Prescott foi autorizado para utilizar as fotos na ilustração de um dos seus artigos. Porém, a Southern Publishing Association, quando preparava a publicação da versão atualizada da obra de Smith, contratou um artista que inseriu as palavras 'Vicarius Filii Dei'. A sede mundial da IASD ordenou que a impressão fosse interrompida e que removessem as fraudes fotográficas. Em 1935, a revista [católica] 'Our Sunday Visitor' desafiou o períodico adventista 'Present Truth', que nessa época tinha como editor Francis D. Nichol, a provar que a expressão 'substituto do Filho de Deus' era um título oficial do papa. Nichol consultou a Prescott para solucionar esse problema. Prescott afirmou que não era possível responder ao desafio, já que os adventistas baseavam essas argumentações em fontes questionáveis. Devido esse incidente, a sede mundial da IASD sugeriu que tal interpretação jamais fosse utilizada novamente. Ironicamente, hoje esta é a interpretação mais popular entre os adventistas" (in "'Vicarius Filli Dei: sua origem e uso na IASD como interpretação de Apocalipse 13:18". UNASP-Centro Universitário Adventista de São Paulo, VII Jornada Bíblico-Teológica, in revista Kerygma, Ano 3, No 2, 2007, págs. 92-95).
[18] Na verdade, o programa apenas repete a tradição que recebeu de sua "profetiza" Ellen Gould White: "A profecia declarara que o papado havia de cuidar 'em mudar os tempos e a lei' (Daniel 7,25)", conforme lemos em "O Grande Conflito", pág.49.
[19] Cf. Revista Pergunte
e Responderemos no 447, 08/1999, p. 355.
[20] Para maiores detalhes, ver "Is Jesus simply a retelling of Mithras mythology?". Please Convince Me. Acessado em 14.05.2013.
[21] Eis a tradução desse versículo segundo a famigerada "Tradução do Novo Mundo das Escrituras Sagradas", publicada pelos Testemunhas de Jeová: "Por inspiração, vim a estar no Dia do Senhor, e ouvi atrás de mim uma forte voz semelhante à duma trombeta".
[22] Idem à nota 18, pois a "profetiza" escreveu na mesma obra, na pág. 50: "Para completar a obra sacrílega, Roma pretendeu eliminar da lei de Deus, o segundo mandamento, que proíbe do culto das imagens, e dividir o décimo mandamento a fim de conservar o número deles (...) intrometeu-se também com o quarto mandamento e tentou pôr de lado o antigo sábado, o dia que Deus tinha abençoado e santificado (Gênesis 2:2 e 3), exaltando em seu lugar a festa observada pelos pagãos como 'o venerável dia do Sol'".
[23] Idem à nota 18, conforme vemos na "tabela comparativa" existente às págs. 447-448 de "O Grande Conflito".
[24] Entenda-se "no mundo cristão protestante", o que acaba por incluir o próprio Adventismo do 7o Dia, que em suas doutrinas discrepam de todas as outras igrejas protestantes, inclusive de outros ramos do Adventismo.
[25] Daí a importância de se conhecer a Patrística e, com isto, conhecer o que professavam os cristãos primitivos. Basta ler imparcialmente as suas obras para facilmente se constatar que a fé da "Igreja Primitiva" nada tem a ver com as várias fés protestantes (no plural!), em seus diversos ramos e divisões, mas com a Fé Católica. Ver Nota 6.
[26] É o caso do próprio Adventismo do 7o Dia, que distorce sobretudo as profecias de Daniel e as "sombras" que são o Antigo Testamento, para sustentar sua denominação à parte de todas as demais 30 mil denominações protestantes...
[27] No caso do Adventismo do 7o Dia poderíamos assim resumir: adoção dos escritos de Ellen Gould White como inspirados, supervalorização do sábado e do Antigo Testamento, juízo investigativo, etc.
[28] No caso do Adventismo, um dos melhores exemplos seria a doutrina do "Juízo Investigativo"; ver ARRÁIZ, José Miguel. "Os Adventistas do Sétimo Dia e o Juízo Investigativo". Apostolado Católico Porque... Acessado em 12.05.2013.
BIBLIOGRAFIA
- BETTENCOURT,
Estêvão Tavares. Revista Pergunte e Responderemos. Rio de Janeiro: Lumen
Christi. Nºs 447, 448.
- FISCHER-WOOLPERT,
Rudolf. "Léxico dos Papas: de Pedro a João Paulo II". Petrópolis:
Vozes, 1ª ed., 1991.
- NABETO, Carlos
Martins. "A Fé Cristã Primitiva: Coletânea de Sentenças Patrísticas"
(Edição Master). São Paulo: Clube de Autores, 2ª ed., 2012.
- _________. "A Infalibilidade Papal: refutação ao pseudo-Strossmayer". São Paulo: Clube de Autores, 2ª ed., 2012.
- MCBRIEN, Richard P. "Os Papas: os pontífices de São Pedro a João Paulo II". São Paulo: Loyola, 1ª ed., 2000.
- WHITE, Ellen Gould. "A Grande Esperança". Tatuí: Casa Publicadora Brasileira. 2ª ed., 2011.
- _________. "O Grande Conflito". Tatuí: Casa Publicadora Brasileira. 33ª ed., 1987.
___________________________________
Fonte: NABETO, Carlos Martin. Católico por
que: "A História do Papado": uma Refutação a um Programa de TV
Adventista.
Disponível em: Apologistas Católicos
Nenhum comentário:
Postar um comentário