sexta-feira, 30 de maio de 2014

O casamento dos padres pode ser uma solução para a pedofilia e homossexualismo?


Caro Padre Angelo, em uma jornada na escola ouvi uma professora que dizia que o casamento dos padres poderia ser uma solução aos casos de pedofilia e também a homossexualismo. Ela também sustentava que os apóstolos eram casados e que seria justo ter também padres casados (adiciono que ela também falava das freiras). Ela disse que o celibato sacerdotal e monástico é contra a natureza e que o matrimônio poderia acabar com as infidelidades e os escândalos. Naturalmente eu estava muito bravo ao ouvir estas coisas contra a Igreja, mas não tive coragem de contrapor, porque muitos dos meus companheiros estavam de acordo, e também porque eu não tinha argumentos adequados para contrapor estas questões. 

Resposta do sacerdote:

Caro,

1. Cito primeiramente o que escreveu um professor na França, Jean Guitton: “Se se compara a vida dos animais com o comportamento da espécie humana, percebemos que a sexualidade nos animais tem um papel muito mais limitado. Dá-se por fases e períodos limitados, ao menos nas espécies superiores. Com excessão dos grandes macacos, que são certamente os degenerados, a fêmea aceita o macho somente para sua necessidade aos seus deveres com a espécie. Existem também casos nos quais apenas um contato torna a fêmea idônea a gerar muitas vezes, como para as abelhas e pulgões. De resto, a sexualidade animal é limitada estreitamente a sua função e não cria comunidade de vida entre os indivíduos. Conhecem-se certamente as simbioses de acoplamento, por exemplo nas rãs e nas tartarugas, mas o acoplamento não é uma sociedade” (J. Guitton, O amor humano, p. 162).

2. Depois de ter observado que para os animais o estímulo sexual leva à necessidade incontrolável, afirma: “Existe toda uma literatura que quer apresentar a satisfação do instinto sexual como uma necessidade. Mas os raciocínios dos fisiologistas e o lirismo nunca podem prevalecer sobre a realidade que a continência não é prejudicial à saúde física e mental e não afeta os órgãos reprodutores. É neste sentido que o instinto sexual, que no homem e somente no homem é independente do instinto vital, permite ao homem libertar-se… Por outro lado, enquanto no animal o instinto segue uma regra e é submisso ao ritmo cósmico, no homem - e sobretudo no macho - pode ser excitado quase em continuação. Não é ligado às necessidades vitais e se apresenta no tempo e fora dele. Diria que no homem o instinto se solta da vida para se envolver no espírito… Tudo ocorre como se a natureza tivesse, neste instinto mais que em outro, deparado o desejo da necessidade… A necessidade, reduzida a pura necessidade real, é rara e se deve notar que nunca é constritiva” (Ib., pp. 164-165).

3. Um autor de bioética, Ramòn Lucas Lucas, ressalta a importância deste dado: “No animal a atividade instintiva sexual tem um caráter totalmente automático. O encontro do macho com a fêmea não é subordinado a nenhuma decisão ou escolha; tem qualquer coisa de fatal. Do mesmo modo, o ritmo dos períodos do cio é regulado de maneira automática. Este caráter automático não se encontra no homem. Não existe no homem ‘normal’ nenhuma atividade instintiva vinculada por si. A razão disto, em relação à sexualidade, é a ausência dos períodos de cio; como existem determinados estímulos hormonais, que se manifestam na intensificação do instinto. Em virtude desta ausência, o homem escapa ao ciclo do tempo” (R. Lucas Lucas, Antropologia e problemas bioéticos, p. 69).

4. E acrescenta: “A exclusão do homem de determinação instintiva não é de menos, mas uma outra oportunidade como sinal de sua grandeza. A diminuição de sua potência como ser natural oferece a oportunidade de orientar-se para a sua determinação. A vida não lhe é dada já organizada, nem determinada para o ciclo dos instintos; assim o homem é exposto ao risco, e à oportunidade e ao dever de perguntar-se qual é o sentido da sua atividade sexual. Com isto, a possibilidade de errar se converte em privilégio do qual goza apenas o homem; errar é humano. A falta de determinação da força natural da sensualidade humana e das relações sexuais produz paradoxalmente uma força de humanização” (Ib., p. 79). 

5. Nota-se ainda que os fenômenos da pedofilia se registram em sua maioria ao interno do ambiente familiar e parental. Não tem a ver com a solidão de uma pessoa. Também a sexualidade não tem a ver com a pedofilia. O homossexual busca uma integração física, psicológica e afetiva com pessoas do mesmo sexo e a busca com pessoas com as quais pode instaurar um tipo de relacionamento. Em geral da sua mesma idade. O pedófilo não busca integração física, psicológica e afetiva com as crianças. A sua é pura perversão.

6. Que alguns homossexuais são ao mesmo tempo pedófilos é fato, como é fato que existem pessoas casadas e heterossexuais que são pedófilas. Mas como não se pode dizer que as pessoas casadas e heterossexuais são pedófilas, assim não se pode dizer nem mesmo dos homossexuais.

7. Enfim, o fato de alguns padres serem homossexuais não depende do fato que são celibatários, mas de problemas pessoais e antecedentes ao sacerdócio. Seriam homossexuais também se não fossem padres.

8. Fico feliz se você lesse a Encíclica “sacerdotalis coelibatus”, de Paulo VI, onde estão apresentadas de maneira muito persuasiva as motivações cristológicas, eclesiológicas e escatológicas do celibato sacerdotal. Razões que são, provavelmente, totalmente alheias a sua professora. Limito-me a apresentar-lhe o testemunho de um não cristão sobre o valor do celibato, Mahatma Gandhi. Ele escreveu: “Não se pense que a castidade é impossível porque é difícil. A castidade é o mais alto ideal, não deve fazer maravilhar que peça o mais alto esforço para alcançá-la. Uma vida sem castidade me pareceria insípida e animalesca: a fera, por sua natureza, não tem autocontrole, o homem é homem porque é capaz de tê-lo” (Gandhi, A minha vida pela liberdade, p. 193-194). E continua: “Por volta dos 30 anos, junto à mulher, Gandhi fez voto solene e perpétuo de castidade: ‘Quando eu olho para trás me sinto cheio de alegria e de maravilha. A liberdade e a alegria que me preenchem após ter feito o voto de castidade, nunca havia experimentado antes de 1906 (data do seu voto solene). Antes de fazer o voto eu estava à mercê de cada tentação impura a cada momento. Agora o voto tornou para mim um escudo seguro contra a tentação. O grande poder da castidade em mim, tornou-se cada vez mais evidente. Cada dia que passa me faz sempre compreender mais que a castidade é uma proteção do corpo, da mente e da alma. O praticar a castidade não se tornou praticar uma árdua penitência, foi uma consolação e uma alegria. Cada dia me revelava uma nova beleza: foi para mim uma alegria sempre crescente”.

9. Eis como nasceu na alma de Gandhi a decisão pela castidade: “Eu vi com clareza que um que aspira servir aos outros de modo total não pode não fazer menos que o voto de castidade. O voto de castidade me deu a alegria: tornar-se livre e disponível a cada serviço ao próximo”.

10. Como pode ver, a sua professora foi muito descuidada e bastante ignorante. Seria mais correto se tivesse falado aos alunos daquilo que a ela competia e tinha sido confiado como tarefa para ensinar.

Estou feliz pela sua indignada reação, que lhe torna agradável a Deus, da mesma maneira que é agradável o celibato dos sacerdotes. Obrigado pela oração a feita por mim e pelos sacerdotes, todos precisamos. 

Lhe asseguro a minha benção.



Padre Angelo

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