sábado, 24 de agosto de 2013

A celebração do Sacramento do Matrimônio pode ser realizada fora da igreja?


Esta pergunta foi-me feita mui recentemente. Mais especificamente, uma amiga perguntou-me se a celebração do Sacramento do Matrimônio pode ser feita numa praia, num bosque ou noutros lugares similares, que não sejam uma igreja. Crendo que este pode ser o desejo e, portanto, a dúvida de várias pessoas, considerei que seria proveitoso responder através do blog.

Bem, consultemos o Ritual do Matrimônio e o Código de Direito Canônico, inicialmente.

Ritual do Matrimônio (n. 27-29):

Celebre-se o Matrimônio na paróquia de um ou de outro dos nubentes, ou noutro lugar com licença do Ordinário ou do pároco.
O Matrimônio é ordenado ao crescimento e à santificação do povo de Deus. A sua celebração reveste por conseguinte um caráter comunitário. Não requer somente a participação dos esposos e das pessoas que lhes estão mais próximas, mas também da comunidade paroquial, pelo menos na pessoa de alguns dos seus membros. Tendo em conta os costumes locais, se parecer oportuno, podem celebrar-se vários Matrimônios ao mesmo tempo ou inserir a celebração do sacramento na assembleia dominical.
A própria celebração deverá preparar-se cuidadosamente, tanto quanto possível com os nubentes. Celebre-se o Matrimônio habitualmente dentro da Missa. O pároco, porém, tendo em conta quer as necessidades pastorais quer a participação dos nubentes e dos assistentes na vida da Igreja, considere se será conveniente propor a celebração do Matrimônio dentro ou fora da Missa.


Código de Direito Canônico (cân. 1115.1118):

Celebrem-se os matrimônios na paróquia, onde qualquer das partes tem o domicílio ou quase-domicílio ou residência durante um mês, ou, tratando-se de vagos, na paróquia onde atualmente se encontram; com licença do Ordinário próprio ou do pároco próprio podem celebrar-se noutro lugar.
O matrimônio entre católicos ou entre uma parte católica e outra não católica mas batizada celebre-se na igreja paroquial; pode celebrar-se noutra igreja ou oratório com licença do Ordinário ou do pároco.
O Ordinário do lugar pode permitir que o matrimônio se celebre noutro lugar conveniente.
O matrimônio entre uma parte católica e outra não batizada pode celebrar-se na igreja ou noutro local conveniente.

Estes dois textos fazem-nos compreender que a celebração do matrimônio é uma celebração sagrada, de cunho comunitário, marcadamente ligada ao contexto paroquial, sobretudo quando é o matrimônio de noivos católicos de fato.

O Ritual manda celebrá-lo na paróquia de um dos noivos. Celebrar em outra requer licença do bispo ou do pároco. Diz ainda que seja celebrado habitualmente dentro da Missa, o que nos fará ter que procurar mais outras fontes, já que agora estamos falando da Missa. Voltaremos a isto.

O Código de Direito Canônico indica com mais clareza que o matrimônio entre católicos ou entre um católico e outro batizado (ex: protestante com batismo válido) seja celebrado na igreja paroquial. O bispo ou o pároco podem permitir que seja feito noutra igreja. O cânon seguinte diz que o bispo (e aqui não cita o pároco ou outra pessoa) pode permitir que seja celebrado em outro lugar conveniente.

A permissão comum para o matrimônio noutro local sem ser uma igreja está no parágrafo que fala do matrimônio entre um católico e alguém não batizado.

Portanto, se dois católicos querem que o seu matrimônio seja celebrado num lugar que não seja uma igreja, as citações nos levam a compreender que é preciso permissão do bispo, certamente dando os devidos motivos, os quais não conviriam ser meramente relativos a estética, moda e muito menos superstição.
Assim percebemos que, para a celebração sacramental do Matrimônio, o local certo é a igreja, "edifício sagrado destinado ao culto divino", como diz o Código de Direito Canônico (cân. 1214).

Entrando no detalhe de que o matrimônio venha a ser celebrado dentro da Missa, vejamos o que diz a Instrução Geral sobre o Missal Romano, o Código de Direito Canônico e a Instrução Redemptionis Sacramentum:

Instrução Geral sobre o Missal Romano (n. 297):

A celebração da Eucaristia, em lugar destinado ao culto, deve ser feita num altar; fora do lugar sagrado, pode se realizar sobre uma mesa apropriada, sempre, porém, com toalha e corporal, cruz e castiçais.

Código de Direito Canônico (Cân. 932, § 1):

A celebração eucarística realize-se em lugar sagrado, a não ser que a necessidade exija outra coisa; neste caso, deve realizar-se em lugar decente.

Instrução Redemptionis Sacramentum (nn. 77.108):

A celebração da santa Missa, de nenhum modo, pode ser inserida como parte integrante de uma ceia comum, nem se unir com qualquer tipo de banquete. Não se celebre a Missa, a não ser por grave necessidade, sobre uma mesa de refeição, ou num refeitório, ou num lugar que será utilizado para uma festa, nem em qualquer sala onde hajam alimentos, nem os participantes na Missa se sentem à mesa, durante a celebração. Se, por uma grave necessidade, deva-se celebrar a Missa no mesmo lugar onde depois será a refeição, deve-se mediar um espaço suficiente de tempo entre a conclusão da Missa e o início da refeição, sem que se exibam aos fiéis, durante a celebração da Missa, alimentos ordinários.
"A celebração eucarística se tem de fazer em lugar sagrado, a não ser que, em um caso particular, a necessidade exija outra coisa; neste caso, a celebração deve se realizar em um lugar digno". Da necessidade do caso julgará, habitualmente, o Bispo diocesano para sua diocese.

Procurando mais informações em outras línguas, encontro a mesma dúvida sobre omatrimonio all'aperto ou all'americana (como chamado na Itália) ou outdoor wedding (em inglês) e praticamente as mesmas fontes são utilizadas.

O interesse no matrimônio celebrado fora da igreja é facilmente dedutível como advindo de motivos alheios à sacralidade da celebração e, por isso mesmo, percebe-se o perigo de prevalecer uma visão apenas social, estética, "romântica", que ignora o sentido sagrado, eclesial e comunitário do sacramento.

Definitivamente, o matrimônio entre católicos deve ser celebrado na igreja, sobretudo na igreja paroquial de um dos dois. Se é celebrado dentro da Missa, como recomendado, não poderá ser feito fora da igreja, a não ser em caso de necessidade (o grande número dos convidados, que venha a não caber na igreja, ou algo assim). Motivações meramente estéticas, "românticas" ou questão de "moda" estão longe de serem consideradas "necessidade".

Para o caso de matrimônio entre um católico e um não batizado, podem estar em questão fatores relacionados à religião da outra parte e restrições da família quanto a lugares cristãos, o que configura um contexto bem diverso do simples matrimônio entre fiéis católicos num país e numa cultura historicamente cristãos e católicos.

Esperamos ter sanado a dúvida.

Deus abençoe os noivos que venham a ler esta postagem. Que possam celebrar o santo matrimônio de forma consciente e frutuosa, como bons cristãos.


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Luís Augusto - membro da ARS

o que vem a ser “secularização” ?


Atualmente nos deparamos com certas mudanças que nos surpreendem e que chegam a nos questionar sobre até onde é capaz de ir o homem com a sua mentalidade secularizada.

É importante saber o que vem a ser “secularização”, pois por vezes vivemos a nossa vida sem perceber o que realmente acontece na nossa sociedade, ao nosso redor. Chegamos a aplaudir fatos e acontecimentos sem que percebamos o imenso mal que podem nos fazer. Diariamente recebemos muitas informações que são fontes de uma espécie de “indiferentismo religioso e do ateísmo nas suas mais variadas formas, particularmente naquela que hoje talvez seja a mais espalhada: a do secularismo” (CL, 13.4).

Para que se possa entender o que é secularização, e também por que o Santo Padre pede com urgência uma nova evangelização, é bom citar alguns exemplos que ainda são atuais: tivemos há pouco tempo notícias de cientistas que conseguiram colocar uma orelha humana em um rato, também fizeram um clone de uma ovelha. Isso teve repercussão no mundo inteiro, tornando-se uma questão de ética, de moral, pois abriu a possibilidade de se criar clones humanos. É verdade que a tecnologia, a informação, a informática e a ciência trazem grandes benefícios; mas quando valorizam a pessoa humana só pelo que ela tem e não pelo que ela é de fato, deixam de ser benefícios para se tornarem um mal.


Mas, o que é realmente secularização? Segundo o Dicionário de Conceitos Fundamentais de Teologia, secularização “designa o processo, iniciado na Idade Média e que continuou a manifestar-se nos tempos modernos, de afastamento, separação e emancipação, praticamente de todos os campos do universo da vida humana, do contexto de sentido fornecido pela fé cristã” (DCFT, 81).

Em outras palavras, o homem usa de seus conhecimentos técnicos, dons concedidos gratuitamente por Deus, de uma forma errada, ou que o fascinam por suas próprias conquistas, esquecendo-se de que é uma criatura. Assim, torna-se atual a velha tentação de “querer ser como Deus” (Gn 3,5). Usando de uma liberdade sem parâmetros, o homem vai eliminando as raízes religiosas que estão no fundo do seu ser. Ele vai esquecendo-se de Deus. Muitos quiseram propagar a “morte de Deus” na cabeça e no coração do povo. Apesar de não terem conseguido muita coisa, ainda hoje há alguns que querem ser “Deus”, ou tornar Deus um ser insignificante, sem valor.

A secularização atinge muitos setores da vida humana, roubando-lhes o sentido de pertencer a Deus e tê-lo como pertença maior. Não só o indivíduo, mas a família, a comunidade, a sociedade entram nesse sistema, e por isso o Santo Padre grita pela nova evangelização, por um retorno a Deus, porque uma vez secularizado, o homem tornou-se só, vazio, amargo, triste e perdido. Roda em círculos procurando uma felicidade que pensa estar nas suas descobertas, fora de Deus, ou seja, uma felicidade em que ele é o centro de tudo, o que não é verdade, bem sabemos.

É um grande desafio para a evangelização enfrentar neste mundo cada vez mais secularizado. É um grande desafio apresentar Jesus a este mundo descrente que prefere apostar em si mesmo do que se deixar amar por Deus. Mas não deve ser um desestímulo para nós, que acreditamos e experimentamos a cada dia o amor de Deus, muito pelo contrário, quanto mais se observar que o mundo está mergulhado em uma cultura secularizada, se afastando de Deus, que o homem não ama mais a seu Deus e ao seu próximo, aí é que devemos anunciar o Amor. “Apesar de tudo, portanto, a humanidade pode e deve ter esperança: o Evangelho vivo e pessoal, Jesus Cristo em pessoa, é a “notícia” nova e portadora de alegria que a Igreja cada dia anuncia e testemunha a todos os homens” (CL 19,7). Não podemos desanimar uma vez que temos Jesus Cristo como centro de nossas vidas.


Lutemos, pois, para que Deus seja novamente posto no seu devido lugar: o coração do homem, o coração da sociedade.
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Peregrinos da JMJ pedem refúgio ao Brasil


Pelo menos 45 peregrinos de todo mundo que participaram em julho da JMJ no Rio de Janeiro pediram refúgio ao Brasil por se sentirem perseguidos em seus países, informou nesta quinta-feira o Alto Comissariado da ONU para os Refugiados (Acnur).

De acordo com o Acnur, os pedidos partiram de cidadãos que alegaram serem alvos de perseguição religiosa, conflitos e guerras em seus países de origem. No comunicado, o Acnur informa ainda que a Caritas Arquidiocesana de São Paulo registrou cinco pedidos de cidadãos da Serra Leoa, da República Democrática do Congo e do Paquistão.

A Jornada Mundial da Juventude, que contou com a presença do Papa Francisco, recebeu cerca de 3 milhões de jovens de todo o mundo.


De acordo com o protocolo para pedidos de asilo, as solicitações devem ser analisadas pelo Comitê Nacional para Refugiados, Conare, ligado ao Ministério da Justiça. O processo conta ainda com uma entrevista na Polícia Federal por parte dos candidatos a asilo, e só depois é anunciada uma decisão sobre o caso.

O Acnur revelou que pelo menos 12 peregrinos, no Rio de Janeiro, alegaram terem sofrido perseguição religiosa em seus países pelo fato de serem cristãos. Um jovem de 24 anos, da Serra Leoa, mostrou as cicatrizes e ferimentos causados por grupos anticristãos em seu país. Ele disse também que o pai foi assassinado na nação africana pelo fato de professar a fé em Jesus Cristo.

O representante do Acnur no Brasil, Andrés Ramirez, disse que a agência vai acompanhar os casos, uma vez que os pedidos com base em perseguição religiosa são mais complexos para análises.

Os solicitantes de refúgio estão sendo assistidos, hospedados e alimentados provisoriamente por voluntários da Igreja Católica e por autoridades municipais. 


A concessão do refúgio permitirá que esses peregrinos recebam uma ajuda financeira mensal e que realizem cursos de português e de capacitação profissional gratuitamente.
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“Juventude que ousa lutar, constrói o projeto popular” é o lema do 19º Grito dos Excluídos


O tema do Grito dos excluídos de 2013 foi definido na última semana, e esse ano a Juventude está no centro dessa manifestação que será realizado em todo o país no feriado de 7 de setembro. “Juventude que ousa lutar, constrói o projeto popular” é o lema do 19º Grito dos Excluídos, escolhido após avaliação das sugestões enviadas a coordenação por vários grupos, comunidades, dioceses, movimentos, sindicatos.

O Grito dos Excluídos é uma manifestação popular carregada de simbolismo, sendo um espaço de animação e profecia aberto e plural de pessoas, grupos, entidades, igrejas e movimentos sociais comprometidos com as causas dos excluídos. É realizado num conjunto de manifestações no Dia da Pátria, 7 de setembro, tentando chamar à atenção da sociedade para as condições de crescente exclusão social na sociedade brasileira.


O Grito é parte das atividades da 5ª Semana Social Brasileira que tem o apoio da Comissão Episcopal Pastoral para o Serviço da Caridade, da Justiça e da Paz da CNBB e constitui-se em uma mobilização sustentada em três objetivos:

- Denunciar o modelo político e econômico que, ao mesmo tempo, concentra riqueza e renda e condena milhões de pessoas à exclusão social;

- Tornar público, nas ruas e praças, o rosto desfigurado dos grupos excluídos, vítimas do desemprego, da miséria e da fome;


- Propor caminhos alternativos ao modelo econômico neoliberal, de forma a desenvolver uma política de inclusão social, com a participação ampla de todos os cidadãos.
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Fonte: CNBB

sexta-feira, 23 de agosto de 2013

Para o Patriarca Maronita, são os cristãos que perdem com a complexa situação no Oriente Médio


O Patriarca da Antioquia e de todo o Oriente, Bechara Boutros Raí, afirmou nesta sexta-feira que “tudo o que acontece no Oriente Médio – quer no Egito, como na Síria e no Iraque – é uma guerra que tem duas dimensões. No Iraque e na Síria, a guerra é entre sunitas e xiitas; no Egito a guerra é entre fundamentalistas - entre os quais a Irmandade Muçulmana – e os moderados. São guerras sem fim, mas sinto ter que dizer – existem países, sobretudo ocidentais, mas também do oriente, que estão fomentando estes conflitos”.

Para o Patriarca, é necessário encontrar uma solução para todos estes problemas. “Nós cristãos – observou - há 1.400 anos, estamos vivendo junto com os muçulmanos e temos promovido nesta terra valores humanos, morais, os valores da multi-confessionalidade, da pluralidade, da modernidade”.

“Graças à presença de nós cristãos, na nossa vida quotidiana em todos estes países árabes, acabamos criando uma certa moderação no mundo muçulmano – explicou o Cardeal Raí. Hoje assistimos à destruição total de tudo aquilo que os cristãos têm construído ao longo de 1.400 anos. E ao mesmo tempo, os cristãos acabam pagando por esta guerra entre sunitas e xiitas e entre moderados e fundamentalistas, no que diz respeito ao Egito”.

O Patriarca dos maronitas evidenciou que “em todo o mundo árabe, os cristãos fazem parte das instituições, respeitam os países onde vivem, as autoridades e a Constituição de cada país”. “No Egito, ao invés disso, “a Irmandade Muçulmana, em um ano, deu um passo atrás com a intenção de aplicar a Shari’a, enquanto o povo egípcio clamava por reformas no campo político”.


“E como de costume - denunciou Raí – o ocidente deu a sua contribuição sobre a forma de milhares de dólares à Irmandade Muçulmana, para que chegassem ao poder. Uma vez conquistado o poder, começaram a aplicar a Shari’a, a lei islâmica, isto é, fizeram um retrocesso”.

Certamente os cristãos são contrários a isto. “Os cristãos querem um Egito reformado, democrático, um Egito que saiba respeitar os direitos humanos. São sempre leais ao Estado e às instituições”.

Na opinião do Cardeal Raí “existe um determinado projeto de destruição do mundo árabe por interesses políticos e econômicos. Existe ainda o projeto de estimular o quanto possível os conflitos inter-confessionais no mundo muçulmano, entre sunitas e xiitas. Trata-se de um projeto de destruição do Oriente Médio, que vem do exterior”


“Eu já escrevi duas vezes ao Santo Padre para explicar-lhe o que está acontecendo e lhe contei toda a verdade objetiva, contou o Patriarca. Infelizmente, o objetivo é a destruição do mundo árabe e quem paga somos nós os cristãos. No Iraque, dos 1,5 milhões de cristãos que tínhamos, perdemos 1 milhão, no silêncio total da comunidade internacional”. (JE)
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A mediação de Maria contra o escândalo do mal


A recente decisão do Papa Francisco de repetir o gesto de seus predecessores, consagrando novamente o mundo ao Imaculado Coração de Maria, reacende no coração dos católicos a necessária devoção mariana, já que "não há fruto da graça na história da salvação que não tenha como instrumento necessário a mediação de Nossa Senhora"01. Ela, a Tota Pulchra, a Virgem Puríssima cuja maternidade divina se estende desde o céu a toda a humanidade, é quem prodigaliza as bênçãos da paixão, morte e ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo, repartindo-as de bom grado entre cada um de seus filhos, sobretudo entre aqueles que souberem optar pelo sim total ao seu dulcíssimo coração.

O vale de lágrimas no qual se transformou os países do Oriente Médio, em especial, o Egito, onde centenas de milhares de cristãos estão sofrendo, vítimas da perseguição de extremistas islâmicos, provoca, obviamente, dor, desespero e indignação. A experiência daqueles que, de sobressalto, veem-se mergulhados numa esfera de terror e medo, como é a dessas nações neste momento, suscita as palavras de Cristo na cruz: "Eli, Eli, lammá sabactáni? - o que quer dizer: Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste?" (Cf. Mt 27, 46). Por outro lado, ao longo desses dois milênios de Cristandade, a intercessão da Virgem Maria pelos filhos da Igreja sempre foi um refúgio seguro para defesa da fé. Com efeito, cada fiel é novamente convidado a recorrer à proteção da Mãe de Deus, tida pela Tradição como a Auxilium Christianorum, sempre que o bem da causa de Cristo estiver em jogo, como o está agora.


Recorda o Papa Leão XIII, na sua Encíclica Augustissimae Virginis Mariae acerca da récita do rosário, que "a história da Igreja atesta a força e a eficácia destas orações, recordando-nos a derrota das forças turcas na batalha naval de Lepanto, e as esplêndidas vitórias alcançadas no século passado sobre os mesmos Turcos em Temesvar, na Hungria, e perto da ilha de Corfu"(Cf. 09). Alçada pela vontade de Deus à graça de cooperar na obra da salvação, Maria, sempre que invocada por seus filhos, não os abandonou à própria sorte, antes, agiu de forma decisiva para o êxito da Igreja e para glória do nome de seu filho, Nosso Senhor e Salvador.

Inúmeros são os testemunhos dos santos que, abandonando-se à proteção maternal de Maria, puderam antegozar na terra o paraíso que os aguardava no céu. Ora, e não há um sequer que tenha chegado à glória dos altares sem antes ter-se formado no cenáculo da Beatíssima Virgem, o qual também formou Jesus durante 30 anos, período em que viveu servindo-a em silêncio e recolhimento antes da sua revelação pública. Tamanha é a pureza de Maria, diz São Luís Maria Grignon de Montfort, "que Ela glorificou mais Deus pela mínima das suas obras (por exemplo: fiar na sua roca ou dar alguns pontos de costura com agulha), do que São Lourenço pelo cruel martírio que sofreu na grelha, e mesmo do que todos os santos pelas suas mais heróicas ações".

Na condição de criatura escolhida por Deus para dar à luz o seu próprio filho, Maria teve a nobre missão de ensinar a Palavra de Deus a falar, uma vez que era Ele "semelhante a nós em tudo, exceto no pecado" (Cf. CIC, n.470). Se, portanto, Deus, para redimir o gênero humano, se submeteu aos cuidados de uma mulher, acolhendo-a por mãe, que resta à humanidade senão ir ao encontro dessa mesma mulher em caráter verdadeiramente filial? Ora, se Deus a amou como Filho, como não amá-la e servi-la também?

Ocorre que, perante o flagelo da humanidade pelo pecado e pela ação destruidora do mal, é exatamente neste momento - lembra Bento XVI - "que teremos em Nossa Senhora a melhor defesa contra os males que afligem a vida moderna". Com efeito, faz-se mais do que urgente a consagração total ao Imaculado Coração de Maria, porquanto "foi pela Santíssima Virgem Maria que Jesus Cristo veio ao mundo, e é também por Ela que deve reinar no mundo".02

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Que aprender com a guerra do Egito?


Agradeço a Deus porque neste momento histórico do povo do Egito, da Igreja no Egito, ele me deu a possibilidade de viver aqui como Carmelita na igreja de Santa Teresinha de Shubra, Cairo. A presença carmelitano-teresiana iniciou-se em 1926. Os carmelitas construíram a belíssima Basílica de Santa Teresa de Shubra, uma Basílica estilo bizantino. O povo seja cristão como muçulmano tem uma grande devoção a Santa Teresa do Menino Jesus. Não há dia que não venham visitar a nossa Basílica várias pessoas. E até tem um metrô que tem o nome de Santa Teresa.

A presença do Carmelo através das obras é muito importante. As obras são a maneira com que nós, cristãos, podemos atuar na educação e na saúde e através de um bom tratamento delicado e no estilo do evangelho, podemos sem dúvida anunciar o reino do amor que Jesus nos tem ensinado. E o testemunho é o anúncio mais belo de Cristo que todos podem ler. O livro do evangelho nem sempre todos podem ler, mas todos podem ler o livro que é a vida do cristão.


Nestes dias estamos expectadores de uma situação muito dura e difícil no Egito. Uma situação que os pessimistas veem como difícil de ter solução e que os otimistas veem com fáceis soluções. Nem 8 e nem 80. Sem dúvida vai precisar tempo. As palavras do Papa Francisco que nestes últimos dias tem feito referência ao Egito são para nós motivo de estímulo e de coragem. A fé e a violência são inconciliáveis. A fé é sempre portadora da paz e o anúncio de Deus não pode ser unido à violência. A violência é sempre uma força destruidora. Todas as grandes guerras iniciaram num lugar muito pequenino, que é o coração humano. Jesus nos tem avisado com uma extrema clareza: “é do coração que saem divisões, homicídios, roubos, adultérios e toda forma de mal”. É o caminho da conversão que deve nos levar a olhar o outro com olhos de amor e de misericórdia. O mundo não se faz através de tratados, de firmas, de leis, o mundo novo se faz através de relacionamentos, de diálogo, de busca sincera e especialmente compreendendo que nossa vida é serviço e não sermos servidos. E seremos capazes de amar a todos com um amor que não conhece limites.

Muitas são as lições que podemos aprender desta situação do Egito. A primeira é sem dúvida a lição sublime do DIÁLOGO. É preciso criar espaço para o diálogo e jamais o diálogo se faz com as armas nas mãos, prontos e atirar o gatilho. O diálogo exige sermos desarmados no coração, nas palavras, nos gestos. O diálogo é capacidade de ver com os olhos nossos irmãos que vivem ao nosso redor. A porta do diálogo jamais poderá ser fechada. Quando se fecha a porta do diálogo não há como encontrar saída de bem e de paz duradoura. O diálogo não se aprende nos livros, mas sim na vida, desde o anúncio do nosso caminho humano.

Aprendemos quando o medo entra nos corações a lição da ESCUTA do outro. Saber escutar sem preconceitos, sem prevenções e sem a manipulação do pensamento do outro. A escuta é fundamental, é a pedra fundamental para a construção de todo o futuro. Escutar não o triunfo dos tanques de guerra, nem da metralhadora, mas escutar o choro das crianças que pedem o fim da guerra e das mortes, o choro dos pais e das mães que pedem que a morte seja sempre vencida pela vida. O desespero da multidão anônima que com seu trabalho silencioso constrói o futuro do país.

Aprendemos a compreender o mistério da CONVIVÊNCIA RELIGIOSA. A religião é sempre e deve ser sempre ponto de encontro para todos, homens e mulheres de boa vontade. A fé não é uma camisa que se coloca e se tira todos os dias, faz parte da nossa maneira de pensar e de agir, de ser. A fé em Deus exige de cada um de nós o respeito, o amor pela fé do outro, e o respeito e o amor pelos lugares de culto do outro. Todo lugar do culto é lugar da presença pacífica e amorosa de Deus. Sim, vimos igrejas cristãs sendo atacadas, mas o cristão neste momentos deve se lembrar das palavras de Jesus e não pode revidar com a mesma solução de destruição. É necessário sermos fermento de paz e de esperança.


Aprendemos a ESPERANÇA. A esperança é uma semente que jamais morre, ela onde cai encontra um pouquinho de terra e vai germinar. Ela brota, ela cresce e nos mantém firme com o olhar cheio de esperança para o amanhã. Não há coração porquanto fechado e duro que seja, onde não haja um “espaçozinho” de terra boa da esperança. Vejamos tudo isto com olhos novos e fortalecidos pela oração. Na escola da guerra se aprende o amor à vida.


Frei Patrício Sciadini, ocd, 
superior do Convento Carmelita no Cairo

O demônio não é uma superstição

O demônio está bastante presente na pregação do Papa Francisco.
Mas, afinal, qual a importância de se falar sobre o diabo e o inferno hoje?

Referência constante em seus discursos, o diabo é um inimigo contra o qual o Papa Francisco insiste em convocar os cristãos a lutar. Na homilia de sua primeira Missa como Pontífice, ele disse que, "quando não se confessa Jesus Cristo, confessa-se o mundanismo do diabo, o mundanismo do demônio".Em uma de suas reflexões matutinas, no mês de maio, Francisco falou do "ódio do príncipe deste mundo àqueles que foram salvos e redimidos por Jesus".

A espontaneidade com que o Pontífice fala de Satanás lembra Jesus Cristo. Desagradando aos "politicamente corretos" e adeptos de uma teologia pouco preocupada com a transcendência, o Santo Padre imita ninguém menos que nosso Senhor: de fato, só nos Evangelhos sinóticos, são mais de 40 referências ao anjo caído; inúmeras delas, relatos de autênticos exorcismos, comprovando que o demônio, longe de ser uma mera produção fantasiosa, é uma realidade viva e atuante no mundo.


Hoje, no entanto, pregadores que falem com veemência do diabo e do inferno são acusados de instalarem o medo e angústia entre os fiéis, como se a prédica da Igreja devesse refletir a preocupação apenas com as coisas deste mundo, e não com as realidades eternas.

Mais do que isso: várias destas realidades eternas chegam mesmo a ser negadas, inclusive por aqueles que nelas e por elas deveriam crer e guiar suas vidas. O demônio, por exemplo, é tratado por muitos como uma mera "força negativa" ou simplesmente como uma metáfora para designar o mal físico. O inferno não passaria de um recurso retórico para ajudar as pessoas na luta contra as mazelas deste mundo. Reduz-se, assim, a categorias materiais aquilo que, de acordo com a doutrina perene e constante da Igreja, é uma autêntica realidade espiritual.

Com efeito, o Catecismo, recordando que "a existência dos (...) anjos, é uma verdade de fé", ensina que alguns destes anjos caíram. São os que comumente chamamos de demônios. Eles "foram por Deus criados bons em natureza, mas se tornaram maus por sua própria iniciativa", segundo uma lição do IV Concílio de Latrão. O Catecismo também destaca que a Escritura por diversas vezes "atesta a influência nefasta" do diabo, que tentou o próprio Senhor quando ele jejuava no deserto (cf. Mt 4, 1-11).

Ao se falar sobre estas coisas, não se pretende fazer do diabo o centro da pregação cristã. Deseja-se, outrossim, instruir os fiéis sobre o perigo de se manter indefeso ou indiferente aos assaltos do maligno. São João Crisóstomo declarava, aos fiéis de Antioquia: "Não é para mim nenhum prazer falar-vos do diabo, mas a doutrina que este tema me sugere será muito útil para vós". A importância deste tema está relacionada ao próprio fundamento espiritual de nossa fé, posto que, como já dizia o Papa Francisco, antes de ser eleito Pontífice, talvez o maior sucesso do demônio "tenha sido nos fazer acreditar que ele não existe, que tudo se arranja em um plano puramente humano" 01.


A Igreja não pode, em nome do bom-mocismo, calar estas verdades de fé, tão importantes para os nossos tempos, sob a alegação de que causariam medo entre as pessoas. De fato, nem todo temor é mau. O medo de perder a Deus e, consequentemente, a nossa alma é, por assim dizer, um "temor sadio", que deve não só ser pregado pelos sacerdotes, mas cultivado por todos os fiéis. Uma sentença atribuída a São João Crisóstomo diz que "devemos nos afligir durante toda a nossa vida por causa do pecado". O cristão deve criar em seu coração um verdadeiro medo de ofender a Deus, fazendo seu o lema do jovem São Domingos Sávio: "Antes morrer do que pecar".
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