O conflito na Síria está cada vez pior. Mais de um ano de guerra civil já produziu um grande número de vítimas entre civis, de destruição e de feridas na complexa comunidade siriana. Enormes recursos econômicos e energias humanas ali gastos poderiam ter sido bem melhor aplicadas em projetos de paz e de bem-estar social...
Muitas análises sobre o conflito já foram feitas e não é minha intenção fazer mais uma. Certamente não se pode desconhecer que há um conjunto de fatores locais e estratégicos em jogo na guerra civil da Síria; há também facções buscam afirmar-se pela força sobre o resto da sociedade; há populações que desejam ver seus legítimos direitos respeitados. A sistemática violação da dignidade humana acaba se tornando insuportável. Uma guerra nunca é consequência da paz, mas de conflitos latentes ou abertos, que já existiam antes.
O que preocupa agora ainda mais é a perspectiva muito concreta do alastramento do conflito, em vez da busca da sua cessação. Fala-se de intervenção externa na Síria, para não deixar sem uma desaprovação contundente da Comunidade internacional o uso de armas químicas contra a população, pelo governo sírio, se assim ficar comprovado. De fato o uso de tais armas é vetado pelas convenções da Organização das Nações Unidas (ONU).
A questão é saber se mais violência resolve o problema da violência? Uma guerra pode ser solucionada com outra guerra? O papa Francisco lançou um dramático apelo pela paz na Síria na sua mensagem da hora do Angelus do domingo, dia 1º de setembro: “vivo com particular sofrimento e com preocupação as várias situações de conflito que existem na nossa terra; mas nesses dias, meu coração ficou profundamente ferido por aquilo que está acontecendo na Síria e fica ainda mais angustiado pelos desdobramentos dramáticos que se prenunciam”.
Qual poderia ser o caminho para evitar ainda mais sofrimento, destruição, morte e feridas abertas por muito tempo? O Papa lamenta o uso das armas e condena com firmeza o uso de armas químicas; adverte que existe um julgamento de Deus e também da história sobre quem toma tais iniciativas.
Se o uso da violência não conduz à paz, se a guerra traz mais guerra e a violência chama ainda mais violência, não existe outro caminho do que o da negociação, do diálogo e da busca de um entendimento razoável, onde todos perdem menos e pode ser encontrada uma solução de paz. O Papa convida as partes envolvidas que escutem a voz da consciência e não se fechem nos próprios interesses; que tenham a coragem de superar o conflito cego, desarmar os espíritos e de olhar um para o outro como irmãos.
O apelo também vale para a Comunidade Internacional, que está se envolvendo naquele conflito: não se poupem esforços para promover, sem demora, iniciativas claras pela paz na Síria, em vista do bem da população daquele país. As numerosas vítimas ido conflito e os refugiados em países vizinhos precisam da solidariedade concreta e de ajuda humanitária. A guerra civil na Síria, como tantas outras guerras esquecidas, em várias partes do mundo, requerem um novo sistema de relações de convivência entre os povos, baseado no respeito profundo à dignidade humana, na justiça e no amor.
O papa Francisco também lembra “aos homens e mulheres de boa vontade”, aos adeptos das religiões, especialmente aos membros da Igreja Católica, que a paz é um compromisso de todos. E dirige seu convite a todos, para serem promotores da cultura do encontro e do diálogo: é o único caminho para a paz. Por fim, convocou toda a Igreja e convidou as pessoas não-católicas a fazerem no dia 7 de setembro, um dia de oração e de jejum pela Síria.
Cardeal Odilo P. Scherer
Arcebispo de São Paulo
Arcebispo de São Paulo