Hoje a liturgia gira em torno do serviço, do serviço que Jesus veio inaugurar com a sua vida e o seu ministério.
A leitura de Isaías nos leva a refletir sobre a missão de Deus de assumir os pecados da humanidade escravizada pelo pecado original. Jesus assumirá nossos pecados, carregará nossos pecados inaugurando um tempo novo, o tempo da salvação. No quarto canto do Servo de Javé, Deus não segue a lógica dos homens. O justo esmagado é que assume e resgata as faltas dos “muitos”. Por isso, Deus o exalta, na figura de Nosso Senhor Jesus Cristo, no Evangelho.
A primeira leitura demostra, uma vez mais, como os valores de Deus e os valores dos homens são diferentes. Na lógica dos homens, os vencedores são aqueles que tomam o mundo de assalto com o seu poder, com o seu dinheiro, com a sua ânsia de triunfo e de domínio, com a sua capacidade de impor as suas ideias ou a sua visão do mundo; são aqueles impressionam pela forma como vestem, pela sua beleza, pela sua inteligência, pelas suas brilhantes qualidades humanas…
Na lógica de Deus, os vencedores são aqueles que, embora vivendo no esquecimento, na humildade, na simplicidade, sabem fazer da própria vida um dom de amor aos irmãos; são aqueles que, com as suas atitudes de serviço e de entrega, trazem ao mundo uma mais valia de vida, de libertação e de esperança.
Irmãos e irmãs, o cenário do Evangelho de hoje(cf. Mc. 10,35-45) é a estrada para Jerusalém. Jesus e os Apóstolos se aproximam da cidade Santa. Dois discípulos queriam sentar-se, um à direita e outro à esquerda, de Jesus. Puro engano! Ainda não haviam compreendido o projeto de salvação de Jesus, que era morrer na Cruz pela salvação da humanidade.
Tiago e João cometeram o pecado de querer ser iguais ao Deus Salvador. Isso é um grave pecado, querer usurpar o lugar do Redentor, porque Tiago e João não poderiam morrer na cruz pela nossa salvação: essa era uma missão privativa do Filho de Deus, que depois subirá ao Céu e se sentará à direita do Pai. Jesus se humilha, fazendo-se servidor e morrendo pelos nossos pecados, para ser glorificado, ou seja, irromper a morte e anunciar a vida eterna. Jesus nos ensina hoje a amar e esperar com fé e esperança a morte.
A Morte de Jesus é para nós muito cara, principalmente quando relembramos que todos nós bebemos do mesmo cálice da salvação e recebemos o mesmo batismo, ou seja, a porta de entrada para sermos associados ao Senhor Ressuscitado, pela salvação.
Todos nós temos muito de João e Tiago: queremos o Reino de Deus, mas não trabalhamos para isso, não fazemos jus a este prêmio eterno. Hoje os homens procuram o poder, a glória, o ter, a honra. O que nós devemos ter é uma atitude de desprendimento, de renúncia, de serviço, é humilhar-se como Cristo, para subir ao céu depois de nossa peregrinação neste mundo!
Caros irmãos, na lógica da “mundanidade” os primeiros são os que têm dinheiro, os que têm poder, os que frequentam as festas badaladas nas revistas da sociedade, os que vestem segundo as exigências da moda, os que têm sucesso profissional, os que sabem colar-se aos valores politicamente corretos…
Em geral como concebe o nosso mundo social e político o uso da autoridade, dos ministérios, dos papéis e das funções? Promoção e honra, ambição e prestígio, domínio e tirania. Megalomania, arbitrariedade, tirania: eis ai a definição de muitos reinos e impérios da história passada: Nero, Sérvio Sulpicio Galba, Vespasiano... Isto é, “quantos súditos tenho para mandar, quantas bombas para disparar, quanto dinheiro para gastar”. Ambição, megalomania, exploração (ditatorial, republicana, democrática...): eis ai a definição de alguns Estados e nações na história contemporânea. Isto é: “quantos tenho que pisar para subir, que impostos impor para emagrecer os que têm e cevar os confrades do partido, quantos azulejos tenho que quebrar e corromper de religião, moral, matrimônio, família, filhos para me manter na poltrona”. E, desgraçadamente, não só no campo social e político, mas também familiar ou comunitário, isto pode acontecer. Está sempre ai a tentação de dominar e tiranizar os outros, se eles se deixam.
E na comunidade cristã? Quem são os primeiros? As palavras de Jesus não deixam qualquer dúvida: “quem quiser ser o primeiro, será o último de todos e o servo de todos”. Na comunidade cristã, a única grandeza é a grandeza de quem, com humildade e simplicidade, faz da própria vida um serviço aos irmãos.
Na comunidade cristã não há donos, nem grupos privilegiados, nem pessoas mais importantes do que as outras, nem distinções baseadas no dinheiro, na beleza, na cultura, na posição social… Na comunidade cristã há irmãos iguais, a quem a comunidade confia serviços diversos em vista do bem de todos. Aquilo que nos deve mover é a vontade de servir, de partilhar com os irmãos os dons que Deus nos concedeu.
Olhemos para Cristo, o nosso exemplo supremo. Não quis prerrogativas, nem ambições. Rebaixou-se, fez-se nada, arregaçou as mangas e lavou os pés. Veio para servir, e não para ser servido. Serviu o seu Pai celestial. Serviu Maria e José, os seus pais aqui na terra. Serviu a humanidade, curando, consolando, dando de comer, pregando a mensagem da salvação. Não quis nada em troca. Veio para dar a vida em resgate por todos. Onde resgate equivale à libertação do pecado e do cativeiro do demônio, mas também libertação das estruturas sociais, políticas, econômicas, religiosas, sindicais... opressoras do homem. Cristo não é um líder divino que abre caminho vencendo inimigos e instaurando um Reino de Deus político, não é um dominador, mas um servidor; não um vencedor, mas um vencido e rendido por amor.
COMENTÁRIO DOS TEXTOS BÍBLICOS
Leituras: Is 53, 2a.3a.10-11; Hb 4, 14-16; Mc 10, 35-45
A Palavra de Deus deste Domingo volta ao mistério da salvação que passa pela cruz. Um contraste!… Enquanto Jesus anunciava, pela terceira vez, a sua paixão, os filhos de Zebedeu pedem: “Concede-nos que, na Tua glória, nos sentemos, um à Tua direita e outro à Tua esquerda”. O homem procura sempre fugir ao sofrimento e garantir, por outro lado, as honras; Jesus, porém, desengana-o: quem quiser tomar parte na Sua glória, terá que beber com Ele o cálice amargo do sofrimento: “podeis beber o cálice que Eu vou beber?”
Através do Evangelho deste domingo, somos convidados a fazer da nossa vida um serviço aos irmãos e a não nos deixarmos manipular por sonhos pessoais de ambição, de grandeza, de poder e de domínio, mas a fazer da nossa vida um dom de amor aos outros.
O texto que nos é proposto demonstra que os discípulos continuam a raciocinar em termos de poder, de autoridade, de grandeza e vêem na proposta do Reino Messiânico a ser instaurado por Jesus a oportunidade de realizar os seus sonhos humanos.
Logo no início do texto é ressaltada a pretensão de Tiago e de João, filhos de Zebedeu, de sentarem no Reino que vai ser instaurado, um à direita e outro à esquerda de Jesus. A questão parece ser apresentada como uma reivindicação de quem se sente com direito inquestionável a um privilégio. Os dois irmãos, Tiago e João, se apresentam a Jesus e, ousadamente, na frente de todos, sem qualquer recato, dizem: “Mestre, queremos que faças por nós o que vamos pedir” (v. 35). Não pedem nem mesmo “por favor”, mas exigem: “queremos”.
Certamente Tiago e João imaginam que o Reino proposto por Jesus seria algo poderoso e glorioso e, por isto, almejam, desde logo, lugares de honra ao lado dele. O fato mostra como Tiago e João, mesmo depois de toda a catequese que receberam durante o caminho para Jerusalém, ainda não entenderam lógica do Reino de Deus e ainda continuam a refletir e a sentir de acordo com a lógica do mundo.
Diante desta manifestação de ambição e honrarias, de privilégios, de primeiros lugares, Jesus não se mostra de forma alguma condescendente, porque toda ambição contraria os fundamentos da sua proposta. Em relação a João e Tiago Jesus é severo: “Vós não sabeis o que pedis. Por acaso podeis beber o cálice que eu vou beber? Podeis ser batizados com o batismo com que vou ser batizado?” (v. 38). E para ajudá-los a superar a própria incompreensão, serve-se de duas figuras: a do cálice e a do batismo.
O cálice é uma referência aos sofrimentos pelos quais Jesus teria que passar. Na agonia de Jesus na cruz, teria ele dito: “Pai, se for possível, afasta de mim este cálice” (Lc 22,42). Esta imagem do cálice aparece ainda com freqüência na Sagrada Escritura. O cálice indica o destino, favorável ou não de uma pessoa. Jesus está ciente que o aguarda um cálice de sofrimentos, um cálice do qual gostaria de ser poupado.
Já o batismo, de acordo com o texto, é uma referência ao mar de sofrimentos em que Jesus será mergulhado. A imagem do batismo tem o mesmo sentido: indica a passagem através das águas da morte. Os sofrimentos e as aflições que o justo deve suportar são freqüentemente comparados pela Bíblia a uma imersão em águas profundas ou à agitação de águas impetuosas (cf. Sl 69,2-3; 42,8). Evoca a participação e imersão na paixão e morte de Jesus (cf. Rm 6,3-4).
Para fazer parte da comunidade do Reino é preciso, portanto, que os discípulos estejam dispostos a percorrer, com Jesus, o caminho do sofrimento, da entrega, do dom da vida até à morte. Apesar de Tiago e João manifestarem, com toda a sinceridade, a sua disponibilidade para percorrer o caminho do dom da vida, Jesus não lhes garante uma resposta positiva a esta pretensão.
Na segunda parte do nosso texto (vv. 41-45), temos a reação indignada dos outros discípulos ao pedido de Tiago e de João que indica que todos eles tinham as mesmas pretensões e revela que estavam eles longe de ter assimilado o pensamento do Mestre. Novamente Jesus toma a palavra e outra vez lhes ensina. Foi preciso que Jesus mostrasse qual deve ser a atitude dos seus discípulos, tendo a si mesmo como referência: “O Filho do homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos” (v. 45). Esta frase resume de forma admirável a existência humana de Jesus. Jesus se apresenta como o modelo a ser seguido. Sua vida sempre foi pautada como um serviço aos pobres, aos desclassificados, aos pecadores, aos desprezados, aos últimos. O ponto culminante dessa vida de doação e de serviço foi a morte na cruz, expressão máxima e total do seu amor.
E Jesus aproveita a circunstância para reiterar a sua instrução. Inicia recordando a eles o modelo dos governantes das nações e dos grandes do mundo (v. 42). Eles afirmam sua autoridade absoluta, dominam os povos pela força e submetem-nos, exigem honras, privilégios e títulos, promovem-se à custa da comunidade, exercem o poder de uma forma arbitrária. Ora, este esquema não pode servir de modelo para os seus discípulos. Eles devem ter como referência a lei do amor e do serviço. Os seus membros devem sentir-se “servos” dos irmãos, dedicados em servir com humildade e simplicidade, sem qualquer pretensão de mandar ou de dominar.
Jesus ainda enfatiza: “Quem quiser ser o primeiro, será o último de todos e o servo de todos” (v. 44). Chama a nossa atenção que, quando por ocasião da redação do Evangelho de São Marcos, um dos dois irmãos, Tiago, já teria dado a sua vida por Cristo, morrendo como mártir em Jerusalém (cf. At 12,2) e o outro, João, estaria pregando o evangelho, dando, assim, prova de que compreenderam o ensinamento do Mestre.
Através do Evangelho deste domingo, somos convidados a fazer da nossa vida um serviço aos irmãos e a não nos deixarmos manipular por sonhos pessoais de ambição, de grandeza, de poder e de domínio, mas a fazer da nossa vida um dom de amor aos outros.
O texto que nos é proposto demonstra que os discípulos continuam a raciocinar em termos de poder, de autoridade, de grandeza e vêem na proposta do Reino Messiânico a ser instaurado por Jesus a oportunidade de realizar os seus sonhos humanos.
Logo no início do texto é ressaltada a pretensão de Tiago e de João, filhos de Zebedeu, de sentarem no Reino que vai ser instaurado, um à direita e outro à esquerda de Jesus. A questão parece ser apresentada como uma reivindicação de quem se sente com direito inquestionável a um privilégio. Os dois irmãos, Tiago e João, se apresentam a Jesus e, ousadamente, na frente de todos, sem qualquer recato, dizem: “Mestre, queremos que faças por nós o que vamos pedir” (v. 35). Não pedem nem mesmo “por favor”, mas exigem: “queremos”.
Certamente Tiago e João imaginam que o Reino proposto por Jesus seria algo poderoso e glorioso e, por isto, almejam, desde logo, lugares de honra ao lado dele. O fato mostra como Tiago e João, mesmo depois de toda a catequese que receberam durante o caminho para Jerusalém, ainda não entenderam lógica do Reino de Deus e ainda continuam a refletir e a sentir de acordo com a lógica do mundo.
Diante desta manifestação de ambição e honrarias, de privilégios, de primeiros lugares, Jesus não se mostra de forma alguma condescendente, porque toda ambição contraria os fundamentos da sua proposta. Em relação a João e Tiago Jesus é severo: “Vós não sabeis o que pedis. Por acaso podeis beber o cálice que eu vou beber? Podeis ser batizados com o batismo com que vou ser batizado?” (v. 38). E para ajudá-los a superar a própria incompreensão, serve-se de duas figuras: a do cálice e a do batismo.
O cálice é uma referência aos sofrimentos pelos quais Jesus teria que passar. Na agonia de Jesus na cruz, teria ele dito: “Pai, se for possível, afasta de mim este cálice” (Lc 22,42). Esta imagem do cálice aparece ainda com freqüência na Sagrada Escritura. O cálice indica o destino, favorável ou não de uma pessoa. Jesus está ciente que o aguarda um cálice de sofrimentos, um cálice do qual gostaria de ser poupado.
Já o batismo, de acordo com o texto, é uma referência ao mar de sofrimentos em que Jesus será mergulhado. A imagem do batismo tem o mesmo sentido: indica a passagem através das águas da morte. Os sofrimentos e as aflições que o justo deve suportar são freqüentemente comparados pela Bíblia a uma imersão em águas profundas ou à agitação de águas impetuosas (cf. Sl 69,2-3; 42,8). Evoca a participação e imersão na paixão e morte de Jesus (cf. Rm 6,3-4).
Para fazer parte da comunidade do Reino é preciso, portanto, que os discípulos estejam dispostos a percorrer, com Jesus, o caminho do sofrimento, da entrega, do dom da vida até à morte. Apesar de Tiago e João manifestarem, com toda a sinceridade, a sua disponibilidade para percorrer o caminho do dom da vida, Jesus não lhes garante uma resposta positiva a esta pretensão.
Na segunda parte do nosso texto (vv. 41-45), temos a reação indignada dos outros discípulos ao pedido de Tiago e de João que indica que todos eles tinham as mesmas pretensões e revela que estavam eles longe de ter assimilado o pensamento do Mestre. Novamente Jesus toma a palavra e outra vez lhes ensina. Foi preciso que Jesus mostrasse qual deve ser a atitude dos seus discípulos, tendo a si mesmo como referência: “O Filho do homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos” (v. 45). Esta frase resume de forma admirável a existência humana de Jesus. Jesus se apresenta como o modelo a ser seguido. Sua vida sempre foi pautada como um serviço aos pobres, aos desclassificados, aos pecadores, aos desprezados, aos últimos. O ponto culminante dessa vida de doação e de serviço foi a morte na cruz, expressão máxima e total do seu amor.
E Jesus aproveita a circunstância para reiterar a sua instrução. Inicia recordando a eles o modelo dos governantes das nações e dos grandes do mundo (v. 42). Eles afirmam sua autoridade absoluta, dominam os povos pela força e submetem-nos, exigem honras, privilégios e títulos, promovem-se à custa da comunidade, exercem o poder de uma forma arbitrária. Ora, este esquema não pode servir de modelo para os seus discípulos. Eles devem ter como referência a lei do amor e do serviço. Os seus membros devem sentir-se “servos” dos irmãos, dedicados em servir com humildade e simplicidade, sem qualquer pretensão de mandar ou de dominar.
Jesus ainda enfatiza: “Quem quiser ser o primeiro, será o último de todos e o servo de todos” (v. 44). Chama a nossa atenção que, quando por ocasião da redação do Evangelho de São Marcos, um dos dois irmãos, Tiago, já teria dado a sua vida por Cristo, morrendo como mártir em Jerusalém (cf. At 12,2) e o outro, João, estaria pregando o evangelho, dando, assim, prova de que compreenderam o ensinamento do Mestre.
A segunda leitura(Hb. 4,14-16) nos fala do sacerdote, como o santificador da comunidade. Tenhamos presente que o apóstolo quer nos dizer que a participação de Jesus nos mais profundos abismos da condição humana – exceto no pecado – o qualifica para ser o melhor sacerdote imaginável. Um sacerdote que não está do outro lado da barra, mas que participa e celebra conosco, como o próprio Cristo.
Jesus, nosso Sumo Sacerdote. Temos um pontífice que por nós entrou no Santuário, mas, também, é capaz de compadecer-se de nossas fraquezas, conhecendo a carência humana. Jesus leva nossa condição humana à santidade de Deus. Jesus nos exorta na fidelidade na confissão da fé e na confiança na misericórdia divina.
Os discípulos de Nosso Senhor Jesus Cristo são, naturalmente, convidados, a assumir o seu exemplo… Assim como Cristo, por amor, vestiu a nossa fragilidade e veio ao nosso encontro, também nós devemos – despindo-nos do nosso egoísmo, da nossa acomodação, da nossa preguiça, da nossa indiferença – ir ao encontro dos nossos irmãos, vestir as suas dores e fragilidades, fazer-nos solidários com eles, partilhar os seus dramas, lágrimas, sofrimentos, alegrias e esperanças. Não podemos, do alto da nossa situação cômoda, limpa, arrumada, decidir que não temos nada a ver com o sofrimento do mundo ou com a carência que aflige a vida de um nosso irmão. Somos sempre responsáveis pelos irmãos que conosco partilham os caminhos deste mundo, mesmo quando não os conhecemos pessoalmente ou mesmo que deles estejamos separados por fronteiras geográficas, históricas, étnicas ou outras.
Quem segue a Cristo no seu caminho, deve contar com a incompreensão, o sofrimento, as perseguições e o próprio aniquilamento. Sua vida será uma permanente oblação a Deus, passando pelo serviço ao próximo. Neste serviço, expressão do amor, realiza-se a libertação plena.
Demos graças ao Senhor Onipotente por tantos discípulos de Cristo que, a exemplo dele, continuam a dar a vida por seus amigos e por seus irmãos de fé. E neste dia das Santas Missões, da Santa Infância e da Evangelização entre os gentios peçamos a graça de compreender que o discipulado de Cristo passa pelo caminho da cruz que leva à ressurreição, à vida, à glória eterna. Amém!
PARA REFLETIR
Comecemos observando o evangelho. Notemos como os dois irmãos, Tiago e João, se dirigem a Jesus: “Queremos que faças o que vamos pedir”. Isto não é modo de pedir nada ao Senhor, isto não é modo de rezar! Aqui não há humildade, não há abertura para procurar a vontade do Senhor a nosso respeito, mas somente o interesse cego de realizar nossa vontade! Quanta loucura e presunção! Muitas vezes, é assim também que rezamos, com esse tom, com essa atitude! Recordemos a palavra do Apóstolo: “Não sabemos o que pedir como convém” (Rm 8,26). Somos tão frágeis, tão incapazes de compreender os desígnios de Deus, que nossos pedidos muitas e muitas vezes não são segundo o coração do Senhor e, portanto, não são para o nosso bem!
Como, então, pedir de acordo com a vontade do Senhor? Escutemos ainda São Paulo: “O Espírito socorre a nossa fraqueza. O próprio Espírito intercede por nós com gemidos inefáveis” (Rm 8,26). Eis! É somente quando nos deixamos guiar pelo Santo Espírito do Cristo, que compreendemos as coisas de Deus e pediremos segundo Deus! Nunca compreenderá o desígnio de Deus, quem não pede segundo Deus… e nunca pedirá segundo Deus, quem não se deixa guiar pelo Espírito de Deus! Aqueles dois não pediam segundo Deus, não suplicavam segundo o Reino, mas segundo seus interesses: queriam glória, queriam honra, queriam os primeiros lugares, queriam seus interesses, de acordo com sua lógica e modo de pensar!
A resposta de Jesus demonstra o seu desgosto: “Vós não sabeis o que pedis!” E o Senhor completa com um desafio – que é para os dois irmãos e para todos nós, caros irmãos e irmãs: “Podeis beber o cálice que eu vou beber? Podeis ser batizados com o batismo com que vou ser batizado?” De que cálice, de que batismo Jesus está falando? Do seu sofrimento, do seu caminho de dor e humilhação, pelo qual ele entrará no Reino e o Reino virá a nós: “O Senhor quis macerá-lo com sofrimentos. Oferecendo sua vida em expiação, ele terá descendência duradoura e fará cumprir com êxito a vontade do Senhor. Por esta vida de sofrimento, alcançará a luz e uma ciência perfeita. Meu Servo, o justo, fará justos inúmeros homens, carregando sobre si suas culpas”. Este é o caminho de Jesus: fazer-se servo humilde e causa de nossa salvação. Isso os discípulos não compreendiam… nem nós compreendemos! Também a nós o Senhor convida a participar do seu batismo e do seu cálice. Escutemos mais uma vez, são Paulo: “Não sabeis que todos os que fomos batizados em Cristo Jesus, é na sua morte que fomos batizados? Pelo batismo nós fomos sepultados com ele na morte para que, como Cristo foi ressuscitado dentre os mortos pela glória do Pai, assim também nós vivamos vida nova. Porque se nos tornamos uma só coisa com ele por uma morte semelhante à sua, seremos uma coisa só com ele também por uma ressurreição semelhante à sua” (Rm 6,3-5). Podeis ser batizados no meu batismo? Estais dispostos a mergulhar vossa vida no meu caminho de morte e ressurreição, morrendo para vós mesmos e buscando a vontade do Pai de todo o coração? Eis o que é ser batizado em Cristo! E nós o fomos! O desafio agora é viver o batismo no qual fomos batizados, tornando-nos, em Cristo, criaturas novas, abertas para a vontade do Pai, como Jesus. E, não somente ser batizado no batismo de Jesus, mas também beber o cálice de Jesus: “Todas as vezes que comeis desse pão e bebeis desse cálice, anunciais a morte do Senhor até que ele venha” (1Cor 11,26); “O cálice de bênção que abençoamos não é comunhão com o sangue de Cristo?” (1Cor 10,16). Vejam só: comungar na eucaristia é aprofundar aquilo que já começamos a viver no batismo: fazer da vida uma vida em comunhão com o Senhor na sua morte e ressurreição! Não se pode nem sonhar em ser cristão pensando num caminho diferente, num modo diverso de viver! Tiago e João não tinham compreendido isso; os Doze também não compreenderam; nós, tampouco, compreendemos!
Observem ainda como os dois irmãos são presunçosos: quando Jesus pergunta: “Podeis beber o cálice? Podeis ser batizados?” Eles respondem: “Podemos!” Na ânsia pelos primeiros lugares, no desejo de obterem o que pedem, prometem aquilo que somente com a graça de Deus seriam capazes de prometer! A mesma lógica nossa, nosso mesmo procedimento, tantas vezes! Como Pedro, que, mais tarde dirá: “Darei a minha vida por ti” (Jo 13,37); e de modo tão presunçoso quanto o dos dois irmãos, exclamará: “Ainda que todos se escandalizem, eu não o farei!” (Mc 14,29). Pobre Pedro, pobres Tiago e João, pobres de nós! Sem a graça de Deus em Cristo, que poderemos? Vamos nos escandalizar, vamos fugir da cruz, vamos descrer no Senhor, vamos abandonar o caminho! Como não compreendemos a estrada de Jesus! Tudo é graça. Por isso Jesus diz que, ainda que eles bebam o seu cálice e sejam mergulhados no seu batismo, ainda assim, será graça de Deus conceder os primeiros lugares… Não podemos cobrar nada de Deus: “É para aqueles a quem foi reservado!”
Finalmente, a atitude dos outros Doze, que também buscavam o primeiro lugar e se revoltam contra os dois irmãos! E Jesus chama os Doze e nos chama também a nós, e fala-nos do mundo, com seus jogos de poder, sua ganância, sua hipocrisia e sua mentira… e nos diz: “Entre vós, não deverá ser assim: quem quiser ser grande, seja vosso servo; quem quiser ser o primeiro, seja o escravo de todos. Porque o Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida como resgate para muitos”. Aqui está o modelo do caminho cristão: o Cristo, totalmente abandonado à vontade do Pai, totalmente disponível, totalmente pobre… Ele é o modelo de como devemos viver entre nós e em relação ao Pai: no serviço mútuo, na disponibilidade, na confiança no Pai, no abandono ao seu desígnio a nosso respeito. Somente Jesus poderia rezar com toda a liberdade: “Pai, não o que eu quero, mas o que tu queres!” (Mc 14,36).
Olhando nossa fraqueza, nossa pouca disponibilidade, olhando quanto na vida buscamos nossos interesses e nossas vantagens, não desanimemos! Sigamos o conselho do Autor da Carta aos Hebreus: “Temos um Sumo-sacerdote eminente, que entrou no céu, Jesus, o Filho de Deus. Por isso, permaneçamos firmes na fé que professamos! Temos um Sumo-sacerdote capaz de se compadecer de nossas fraquezas, pis ele mesmo foi provado em tudo como nós!” Confiemos no Senhor e supliquemos que ele converta o nosso coração, dando-nos seus sentimentos, suas atitudes de doação, serviço e humildade, sua confiança no Pai e, finalmente, a graça de participar daquela glória que no céu ele tem com o Pai e o Espírito Santo. Amém.
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