segunda-feira, 9 de setembro de 2013

Uma verdade sobre os padres... não se precipite.


Há poucos dias eu escrevi um texto no qual eu falei de um certo desalento que tenho por conta de que em muitas paróquias e capelas a missa é descuidada, muitas vezes por aqueles que foram constituídos ministros do altar. Hoje volto para escrever sobre os padres.

Se é verdade que há padres desleixados, há também padres zelosos. Se é verdade que existe um ou outro padre que é pedófilo ou até homossexual, é igualmente verdade que há os que permanecem castos. Se é verdade que há padres carreiristas, é igualmente verdade que há os que tem verdadeira vocação. Se é verdade que há padres carrancudos e fechados, é igualmente verdade que há os que se doam ao ministério a ponto de sorrirem. Mas, esta não é toda a verdade sobre o padre.

Há algumas verdades sobre os padres que a televisão não mostra, o jornal não conta e a internet não deixa transparecer. Os padres sofrem. Sim, sofrem. Muitas vezes sozinhos, chorando por dentro, mas, sorrindo para o rebanho. Tal como um prestimoso pai, o padre quer a felicidade de seus filhos e prefere passar ele as dores e privações da vida a impor que seus filhos o sofram. Os padres choram. O sacrário mudo de uma capela é muitas vezes a única testemunha das lágrimas de um padre. Muitas destas lágrimas são de desilusão, outras por ingratidão do povo. Os padres rezam. Os padres celebram os mistérios da fé. São dispenseiros dos bens celestes, mas não vivem numa redoma de vidro. São constituídos de carne e osso como todo ser humano. São feridos, às vezes ferem. Sofrem a ingratidão e incompreensão e às vezes são duros com o povo, aquele mesmo povo que pode ser mais duro com seu pároco do que o pior dos algozes.


Com o padre tem-se, não raras vezes, pouca piedade, pouca misericórdia, quando sua humanidade extravasa as paredes do edifício de sua consagração. Percebo que aquele que é ministro da misericórdia, da acolhida e do perdão encontra muitos dedos em riste, acusações, apedrejamento e condenação, muitas vezes sumárias.

Esta, caros leitores, é uma verdade sobre os padres. Não somos de vidro, mas também não somos de ferro. "Trazemos este tesouro em vasos de barro". É isto que somos: simples barro. Quebradiços. As pedras que se nos atiram, quebram-nos interiormente. Mas, quem sabe seja melhor assim "para que transpareça que este poder extraordinário vem de Deus e não de nós" (2Cor 4,7).

Não escrevi para acusar nenhuma pessoa. Apenas para pedir: sejamos mais misericordiosos uns com os outros, inclusive com os padres. Queremos alcançar misericórdia de Deus? Se sim, tenhamos misericórdia nas nossas ações: "o juízo será sem misericórdia para quem não praticou a misericórdia. A misericórdia, porém, triunfa do juízo" (Tg 2,13). Misericórdia é aquela atitude que Jesus tem no evangelho para com os pecadores: não exita em olhar em seus olhos, compreendê-los, amá-los, acolhê-los, perdoá-los e diz-lhes: "vai e de hoje em diante não peques mais".


A quem interessar possa, uma ressalva: Misericórdia não é desleixo. Justiça não é impiedade. Ser verdadeiro não é sinônimo para ser não-caridoso. Amar como Jesus amou é uma arte, não é?


Padre Zezinho, scj

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Setembro: mês da (entrada da) Bíblia?

Capa de evangeliário do século XII

Já estamos em Setembro, o mês das Sagradas Escrituras. A ideia de ter um período para a Bíblia  tem como objetivo fazer a igreja estudar mais a fundo o que são os livros que compõe a Bíblia, sua origem, sua importância e, nesse processo, aprender que as Sagras Escrituras nasceram da Igreja e não o contrário. 

Objetivos à parte, o que se vê na prática litúrgica das paróquias é uma vontade de se dar destaque aos textos bíblicos, vontade esta legítima; todavia ela acaba sendo levada a cabo de maneira desastrosa. Não raramente o mês da Bíblia se transforma do mês da "entrada" da Bíblia. Finda a oração do dia, ou mesmo depois da saudação do sacerdote, uma Bíblia ou um Lecionário é levado até o presbitério, por vezes o Evangeliário antes ou durante o Aleluia. Pode ser de maneira simples, com alguém andando pelo corredor central, pode ser cercada de velas, ou com balé, dentro de um coco, com uma menina sobre um "andor", com músiva e movimentos de capoeira, dentro de um carrinho de mão... nós sabemos muito bem como as equipes de liturgias e os folhetos litúrgicos sabem ser "criativos".

E é assim que o mês da Bíblia vira o mês da entrada da Bíblia, assim como em Maio tem a entrada de Nossa Senhora, Junho do Sagrado Coração de Jesus. E toda a riqueza do rito romano se resume a "entradas" temáticas, convertendo-se em pedagogia; e pedagogia velha: a mesma que adora umas plaquinhas com coisas escritas, comentários mais longos que as orações às quais deviam servir de introdução e alguém falando "de pé" e "sentados". Se na sua paróquia não tem nada do que foi mencionado nos últimos dois parágrafos, agradeça por que existem paróquias no Brasil em que mais se explica do que se reza, algo de dar inveja a Calvino!

Voltando à vontade legítima de dar destaque aos textos bíblicos, poderíamos citar algumas possibilidades lícitas e louváveis. A primeira é o uso do livro dos Evangelhos ou evangeliário, é um livro distinto do lecionário, que contém apenas os evangelhos dos domingos e principais solenidades. Se se deseja usar o evangeliário em outro dia, pode-se "vestir" um lecionário, que contém os evangelhos de todos os dias como o evangeliário, com sua capa ricamente decorada. O evangeliário é levado um pouco elevado na procissão pelo diácono, na sua falta pelo leitor e posto sobre o altar. O evangeliário toma lugar na procissão entre clérigos e leigos, se o diácono que o leva deve ser o primeiro dos diáconos, se o leitor, o último dos leitores.  Ele pode ser posto "deitado" ou "de pé" sobre o altar, desde que não haja risco de ele vir a cair naturalmente.

domingo, 8 de setembro de 2013

Carta de um homossexual ao Papa

É preciso ir às periferias do mundo gay

Quando o Papa Francisco falou no avião sobre o lobby gay, suas palavras foram acolhidas com polêmica por alguns e com alegria por outros. Mas nesse coro de vozes faltava uma voz... a dos homossexuais. Encontramos no blog italianoEliseo do desertoesta voz, que oferecemos traduzida ao português para os leitores da Aleteia.


Queridíssimo Papa Francisco,

Eu me chamo Eliseo e lhe escrevo para dizer o quanto o aprecio! Devo admitir que meu coração continuava ligado a João Paulo II até que você chegou: sua história falava à minha história. Quando eu o via e escutava, algo se movia dentro de mim. Sua mensagem em Roma no ano 2000 aos jovens ainda ressoa forte em meu peito. Porque é verdade! Nossa sede de amor, de beleza, de verdade... É a Ele a quem buscamos!

Papa Francisco, com sua simpatia, você nos roubou o coração. Eu estava debaixo do balcão (da Basílica de São Pedro) em sua eleição, vivemos o Pentecostes essa noite, no silêncio, nas orações que recitamos juntos, em cada palavra sua.  

Eu sou um jovem, mais um homem adulto, e sofro impulsos homossexuais. Estou surpreso porque nas manchetes dos jornais falam só do que você falou ou não sobre os gays, esquecendo as belíssimas palavras pronunciadas no Rio.

Mas eu quero recordá-las! Você impulsionou os jovens a ir! Também às periferias da existência, ali onde frequentemente enviou os sacerdotes, convidando-os a ter o cheiro das ovelhas. Você falou desses jovens que pressionam para ser protagonistas da mudança e citou Madre Teresa, que dizia para começar por mim e por ti a mudar o mundo.

Papa Francisco, quero lhe falar das periferias da homossexualidade; eu descobri três.


A primeira é a de quem se descobre homossexual. É a periferia da solidão. Recordo que quando me reconheci homossexual, por um momento minha vista escureceu. Me perguntei por que isso acontecia comigo, recordo que estava indo à missa diária. O jovem que admite ser homossexual se sente um monstro e não sabe com quem falar sobre isso. Os pais? Por que lhes dar um sofrimento tão grande? Os amigos? Chacoteariam de mim. Os sacerdotes? Me diriam que é pecado. Quando falei com Deus, encontrei na Bíblia esta palavra: “Mas aqueles que contam com o Senhor renovam suas forças; ele dá-lhes asas de águia. Correm sem se cansar, vão para a frente sem se fatigar”. É Isaías. Na imagem da força eu li uma promessa. Porque eu pensava que não era varão porque não era forte como os da minha idade. Depois encontrei o valor de falar disso com um sacerdote, e com o tempo a amigos de confiança.

A segunda periferia é a homossexualidade de quem é crente. Sim, há também muitos homossexuais que creem em Jesus, mas que não aceitam o que a Igreja diz sobre a homossexualidade e sobre a sexualidade em geral. Não penso neles, mas sim naqueles que, em contrapartida, amam a Igreja e gostariam de seguir seus ensinamentos. A homossexualidade tem um problema fundamental, que leva frequentemente a viver uma sexualidade desordenada e excessiva: as pessoas homossexuais sentem pulsões compulsivas fortíssimas dentro de si, além disso, às vezes podem nascer inclusive sentimentos reais. A proposta da castidade ou do celibato pode parecer um ato de heroísmo, um martírio que só poucos podem enfrentar. Esses homens cada vez são menos, porque o conceito de castidade é cada vez menos compreensível em nossa sociedade, também no âmbito católico. E se não bastasse isso, há também os ataques da própria militância gay, porque os consideram uma espécie de traidores.

A terceira periferia são os infernos da homossexualidade. Onde o homossexual perde a dignidade de pessoa humana. São os websites de contatos, uma espécie de escape onde exibir pedaços do próprio corpo para encontrar quem te compre ainda que seja barato. Não se trata sempre de dinheiro, mas do preço da própria dignidade. São as ruas onde de noite se buscam encontros com outros homens que possam preencher os próprios vazios. São os locais gay, como as discotecas ou também esses novos bordéis que se escondem como círculos culturais, onde se pratica todo tipo de depravação. São as manifestações em que se pede dignidade pela própria condição, e em contrapartida se lhe perde.

Você nos pede para ir às periferias e que o façamos juntos. Eu ainda sou muito frágil, mas lhe peço que reze para que possa ter força. Quero estar junto a quem está sozinho, para lhe dizer que não perca a esperança em Deus, e creia que é precioso aos seus olhos.

A mudança começa por mim e por ti, dizia Madre Teresa. Papa Francisco, tenho esta imagem sua descendo também a essas periferias tão incômodas da existência. Agradeço pela delicadeza com que sempre enfrentou a questão. Você nunca levantou o dedo para dividir a humanidade segundo seus instintos sexuais. Você sabe que o ser humano é algo muito mais complexo e rico.

Reze por mim e por todos aqueles que talvez lendo esta carta decidam cruzar o umbral dessas periferias para levar a Boa Nova de Jesus.

Eu rezarei por ti, como filho.


Um abraço.


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Fonte: Aleteia

Desabafo de um padre sobre missas

Celebrando a missa na Paróquia Cristo Ressuscitado em Padre Miguel - RJ

Sou padre há quase 5 anos. Fui seminarista por 7 anos. Já estive em vários lugares Brasil afora, já celebrei em tantos outros e guardo no meu coração uma tristeza profunda. Quando eu era criança na roça e ia com minha família à missa uma vez por mês eu sabia que naquela hóstia tinha Jesus. Eu sentia o cheiro da vela queimando e aprendi a me perseguinar toda vez que passava diante de uma Igreja. Eu achava tudo meio estranho porque não entendia a missa, mas, sentava no primeiro banco e respondia a todas as perguntas que o padre fazia na hora do sermão. Daí eu cresci, fomos pra cidade e eu continuava inocente. Fui pro seminário e as escamas de meus olhos caíram. A missa pela qual eu sempre nutri o maior religioso respeito
virou palco
virou show
virou passeata
virou passarela
virou camarim de estrela
virou sambódromo
virou terreiro
virou tudo e suportou tudo
menos ser de fato, missa.

Já vi tanto desleixo... alfaias puídas, vasos sagrados zinabrados, hóstias consagradas carunchadas dentro do sacrário, um sacrário no meio de uma reforma de Igreja com hóstias consagradas dentro, consagração de vinho em tamanha quantidade que as sobras Eucarísticas precisaram de um exército de MESC para consumi-las porque o padre não poderia fazê-lo sem ficar bêbado e outros tantos abusos. Quando veio a Redemptionis Sacramentum e a Ecclesia de Eucharistia veio uma lufada de ar fresco e os rebeldes da Teologia da Libertação, da Rede Celebra e das CEB`s reagiram vorazmente. O site do mosteiro da Paz que hospedava uma carta de Reginaldo Velloso eivada de críticas às necessárias mudanças na liturgia e catalizadora desta mentalidade saiu do ar, mas, encontrei-a no site da Montfort disponível aqui.


Capitaneada pelo dualismo marxista de tipo maniqueísta, a reinterpretação que a missa sofreu nas décadas que sucederam o Concílio Vaticano II seguiu as pegadas da subjetividade humana. É odioso ouvir: "ah o jeito do outro padre é diferente". Isto denota uma personalização que a missa não comporta. A missa nunca foi a missa do padre, mas a missa da Igreja!

Esta mentalidade impregnou tanto a liturgia que quando um Padre quer celebrar a missa da Igreja, aquela do Missal Romano, é chamado de retrógrado. O respeito às normas litúrgicas são sinônimo de opressão. A missa pura e simples foi esvaziada para poder ser enchida pela ideologia da enxada, da faixa, do cartaz, da freira, do padre TL... a missa se transformou...
virou manifestação e protesto contra o Governo e o Sistema
contra a Igreja
contra os padres
contra a fé católica de sempre
contra a liturgia de sempre.

Enfiaram bananeiras, berrantes, espeto de churrasco, cuia de chimarrão, pão de queijo, cachaça, coco, faca e facão, pipoca, balões e ervas de cheiro na missa, enfiaram panos coloridos para todos os lados, colocaram mães de santo manuseando o turíbulo e leigos lendo preces seminus. Para essa CORJA a missa já deixou há muito tempo de ser o sacrifício redentor de Cristo PRO MULTIS e se tornou só mais uma mesa para comensais na qual vale o discurso e não a fé, na qual o que importa é o que o homem diz aos seus iguais e não o que Deus diz ao homem. Lembro-me de um professor contando todo garboso que certa feita utilizou-se de uma Adoração ao Santíssimo Sacramento para dar uma aula de teologia ao povo - aos seus moldes é claro - porque para ele aquela hóstia era pobre de significado.

Aquela hóstia pobre...
tão pobre quanto o cocho de Belém,
tão pobre quanto a cama em Nazaré,
tão pobre quanto a casa de Pedro em Cafarnaum,
tão pobre quanto a casa de Lázaro em Betânia,
tão pobre quanto o coração do Filho de Deus,
ela só pôde se tornar Corpo e Sangue, Alma e Divindade de Cristo
porque Ele se fez pobre!
Sua pobreza não comporta reduções
tampouco acréscimos desnecessários.
Ele é aquele que é e nada mais,
mas, só para quem tem fé!


Aos meus irmãos padres um apelo: que nós diminuamos e que Ele apareça. Não somos o noivo, apenas amigos do noivo! Rezemos a missa da Igreja, a missa do Missal. Que Ele fale aos corações e às mentes, inclusive às nossas mentes e corações! Que Ele toque as vidas, inclusive as nossas. Que sua voz ecoe nas consciências, também nas nossas. Que toda a nossa Liturgia seja feita Por [causa de] Cristo, Com Cristo e em Cristo a[o] Pai na Unidade do Espírito Santo. Só isso. Se fizermos isso bem feito teremos feito tudo o que nos compete nesta vida.


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Caim, o primeiro tatuado


Atualmente se observa uma crescente adesão da juventude à tatuagem. Talvez nunca na história da humanidade a vaidade e a luxúria tenham se antecipado tanto na juventude como agora. E a tatuagem é um dos sintomas dessa corrupção juvenil. A ignorância religiosa e o apego exacerbado às coisas sensíveis, de modo especial àquelas relacionadas à imagem, fazem com que os jovens não queiram outra coisa que não o serem vistos e serem cobiçados. E disso o desejo desenfreado em querer ser “imagem” para os outros, levando-os a “tatuar” seus corpos. Contudo, deveriam saber que o primeiro “tatuado” foi Caim, consoante nos revela a Sagrada Escritura, após ter matado o seu irmão Abel: “E Caim disse ao Senhor: A minha iniquidade é muito grande, para que eu mereça perdão. Eis que tu hoje me expulsas desta terra, e eu me esconderei da tua face, e serei vagabundo e fugitivo na terra; portanto, todo o que me achar me matará. E o Senhor disse-lhe: Não será assim; mas qualquer que matar Caim será castigado sete vezes mais. E o Senhor pôs um SINAL em Caim, para que o não matasse ninguém que o encontrasse. E Caim,  tendo-se retirado de diante da face do Senhor, andou errante sobre a terra...” (Gênesis 4, 13-16)


De Caim para praticamente todos os povos pagãos, a tatuagem passou a ser a marca representativa desse mau gosto imitativo, maldito e degradante, e o que é pior: prática até em católicos. Ademais, lembremo-nos de que o nosso corpo é templo de Deus: “Porventura não sabeis que os vossos membros são templo do Espírito Santo, que habita em vós, que vos foi dado por Deus, e que não pertenceis a vós mesmos? Porque fostes comprado por um grande preço. Glorificai e trazei a Deus no vosso corpo.” (I Coríntios 6, 19-20)


Adendo: A Igreja Católica, na Idade Média, baniu a tatuagem da Europa. Em 787, ela foi proibida pelo Papa Adriano I, sendo considerada como uma prática demoníaca, de vandalismo e vilipêndio do próprio corpo, templo do Espírito Santo.
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O uso do tabaco não é pecado


Questionam alguns fiéis acerca da licitude moral da prática de certas atividades que envolvam risco de vida. De fato, o V Mandamento do Decálogo, ao proibir o assassinato, estabelece também deveres de salvaguarda para com a própria vida. São esses, aliás, que fundamentam a legítima defesa, inclusive armada, contra a injusta agressão, ainda que cause a morte dos malfeitores (cf. Catecismo da Igreja Católica, 2263-2267; Santo Tomás de Aquino. S. Th., II-II, q. 64, a. 7; Sua Santidade, o Papa João Paulo II. Encíclica Evangelium Vitae, 56; ARRIGHI, A. Não matar, Pádua, 1946).

Enquadram-se no rol das ações perigosas determinadas práticas desportivas - luta, boxe, alpinismo, rapel, automobilismo -, algumas artes circenses - doma de feras, acrobacia, trapézio -, e mesmo atividades de lazer - caminhada no mato, acampamento em local ermo, banho de mar um pouco afastado da praia ou sob "bandeira vermelha"). Também o uso de substâncias nocivas à saúde.

A pergunta pode ser assim reproduzia: é imoral lutar boxe, praticar rapel, domar leões, fazer acrobacias, escalar montanhas? Ou: peca-se contra o V Mandamento desenvolvendo-se tais atividades perigosas? Ou ainda: é pecado consumir tabaco?

Para bem responder a instigante questão, devemos preliminarmente expor algumas noções fundamentais implicadas com a ordem divina de não matar (cf. Êx 20,13).

O mandamento implica em dois tipos de cuidados, uns para com a vida do próximo, outros para com a própria vida. Este segundo grupo é o que nos interessa.

Dentre os cuidados com a vida, tanto a nossa - objeto do presente estudo - quanto a do próximo, há uma série de deveres elencados pelos moralistas: a) positivos: usar dos meios aptos para a preservação da vida, se existirem; b) negativos: evitar os meios que ordinariamente causem intencionalmentea morte própria ou de outrem (cf. BAYET, A. O suicida e a moral, Paris, 1922; ODDONE, A. O respeito à vida, in "Civiltà Cattolica", nº 97, III, 1947, pp. 289-299; DEL GRECO, Fr. Teodoro da Torre, OFMCap. Teologia Moral, São Paulo: Paulinas, 1959, pp. 228-244).


De início podemos afirmar que a ninguém é autorizado a atentar contra a própria vida, donde a proibição do suicídio direto. Já em relação ao suicídio indireto, este é, em geral, proibido, mas pode ser permitido ocorrendo razão grave. "Mata indiretamente a si mesmo quem, conscientemente, pratica uma ação que visa a um efeito bom, compreendido o desejado, capaz, porém de também causar a morte. Neste caso, o efeito bom compensa o mau. É lícito atirar-se da janela para fugir a um incêndio; para fugir do violador do próprio pudor; para evitar o cárcere, etc. É lícito, na guerra, fazer saltar um depósito de pólvora, uma fortaleza, uma nave etc, mesmo com perigo certo da própria vida. É lícito, por caridade ou por profissão, servir os pestilentos, os leprosos ou outros doentes infecciosos." (DEL GRECO, Fr. Teodoro da Torre, OFMCap. op. cit., p. 229)

Também é proibido a abreviação da própria vida por vários anos, salvo "por uma necessidade moral ou pelo exercício da virtude." (DEL GRECO, Fr. Teodoro da Torre, OFMCap. op. cit., p. 229) - exemplo de necessidade moral: ganho honesto que faça um ferreiro estar em contato contínuo com o fogo ou um químico com produtos tóxicos; exemplo de exercício da virtude: mortificação do próprio corpo com jejuns, penitências, disciplinas. Claro que a necessidade moral será aferida caso a caso, e a virtude deve ser exercitada com o auxílio de um diretor espiritual, para não ocorrer excessos - que podem, aliás, ser pecado de soberba, orgulho espiritual: "vejam como sou santo, como jejuo, como etc." Se não existe perigo próximo de morte, também o consumir bebidas alcoólicas e o fumar tabaco não constituem pecado, a não ser que o uso seja excessivo, quando será pecado venial (cf. GENICOT-SALSMANS, Pe. J., SJ. Institutiones Theologiae Moralis, vol. I, Bruxelas, 1951, p. 363) - havendo perigo próximo de morte, o pecado é mortal; o uso de drogas para fins recreativos, i.e., não necessários, pode ser pecado grave ou venial, havendo, no primeiro caso, perigo próximo de morte, e, no segundo, excesso sem o tal perigo próximo. Como o consumo social de álcool ou tabaco, ordinariamente, constituem, no máximo, perigo remoto de morte, não há pecado - evidentemente, se houve excesso, há pecado, e, com o perigo próximo, este é agravado (cf. Catecismo da Igreja Católica, 2290). Consumir maconha ou cocaína, por outro lado, é pecado quando feito fora de uso terapêutico ou necessário, por constituir-se perigo próximo e não remoto de morte (cf. Catecismo da Igreja Católica, 2291).

A mutilação é pecado grave, "desde que não se pratique com a finalidade de conservar a vida." (DEL GRECO, Fr. Teodoro da Torre, OFMCap. op. cit., p. 230)

O desejo de morrer, outrossim, é lícito, desde que haja causa justa, v.g., o gôzo de Deus, a contemplação da bem-aventurança eterna, ser libertado de uma enfermidade longa e sofrida, e quem o desejo submeta-se à vontade divina.

Também, pelo V Mandamento do Decálogo, deve o homem conservar a "própria vida e a saúde, usando de todos os meios ordinários." (DEL GRECO, Fr. Teodoro da Torre, OFMCap. op. cit., p. 231) Daí a proibição da eutanásia passiva (a eutanásia ativa é proibida pelos deveres para com a vida alheia), mas não da ortotanásia: "A interrupção de procedimentos médicos onerosos, perigosos, extraordinários ou desproporcionais aos resultados esperados pode ser legítima. É a rejeição da 'obstinação terapêutica'. Não se quer dessa maneira provocar a morte; aceita-se não poder impedi-la." (Catecismo da Igreja Católica, 2278)

Enfim, e aqui o objeto próprio de nosso articulado, proíbe-se a exposição temerária ao perigo de morte. Analisemos alguns conceitos.

Exposição temerária é colocar-se frente ao perigo sem a tomada das devidas cautelas. Desse modo, sabendo-se que uma determinada atividade representa um perigo à própria vida - não uma certeza, pelo que seria imoral, mas um perigo, o que motiva nosso debate -, é necessária a adoção de medidas assecuratórias normais. Não se requer o uso de medidas extraordinárias, bastando a adesão à regulamentação da atividade, o conhecimento prévio do perigo, a habilidade e a destreza (exigidas nas ações mais perigosas, e que tornem o risco remotíssimo quando se tem fim de lucro), e a utilização de adequado equipamento.

Expor-se ao perigo de morte, usando das cautelas acima referidas, não é pecado se o fim é bom. Assim, quem faz rapel movido pelo desejo de uma justa diversão ou para admirar a criação de Deus e estar em contato mais íntimo com a natureza; quem pratica acrobacias no circo para emocionar a platéia com a beleza de sua arte, e desde que o lucro não seja o fim exclusivo; etc, não pratica pecado, usando das medidas normais de segurança. O risco assumido não é imoral, nesses casos, havendo quem o assume pelo exercício da atividade perigosa tomado "todas as providências tendentes a evitar ou minimizar as possibilidades de dano (...)." (GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Novo Curso de Direito Civil, vol. 1, 3ª ed., São Paulo: Saraiva, 2003, p. 164)

Objetarão alguns que os fins não justificam os meios. A expressão, todavia, deve ser melhor formulada: os fins não justificam os meios maus. Porém, quando os meios são neutros, i.e., nem bons nem maus em si mesmos, os fins bons estão plenamente justificados.

Ora, os fins de contemplar a natureza, divertir-se moderadamente, descansar etc são bons, e assumir um risco de morte é um meio neutro. Pode-se, logo, desenvolver atividades perigosas à própria vida, presente o fim bom e ausente algo que transforme o meio, em si neutro, em coisa má (por exemplo, não usar equipamento adequado).

Tomando, se existirem, as devidas cautelas (o que mantém o meio neutro, sem torná-lo mau) e com um fim bom, a prática de atividades que envolvam perigo para a própria vida é moralmente lícita, não constituindo pecado contra o V Mandamento.

"A virtude da temperança manda evitar toda espécie de exceção, o abuso da comida, do álcool, do fumo e dos medicamentos." (Cat., 2290)

O Catecismo da Igreja Católica é claro: o pecado está no abuso do fumo, não no mero uso. E, como diz o adágio dos moralistas, "o abuso não tolhe o uso". O Catecismo não condena o uso do fumo, mas somente o abuso. Ora, se o abuso é tido como pecado, logicamente é porque não considera a Igreja que o mero uso o seja. Se a Igreja quisesse ensinar que o mero uso fosse pecado, não teria dito que o abuso o é, mas diria simplesmente que o uso já configuraria pecado. Não foi esse o ensino, porém.

Por outro lado, a argumentação de que todo uso do fumo é abuso não procede, dado que está objetivando algo que é subjetivo. Em sendo abuso, ok, é pecado. Mas se existe abuso é porque também pode haver mero uso. Dizer que todo uso do cigarro é abuso é desvirtuar o próprio sentido de abuso, o que contraria toda a lógica da teologia moral clássica, notadamente a ensinada por Santo Tomás.

Do excelente e ortodoxo manual "Teologia Moral", do Fr. Teodoro da Torre Del Greco, OFMCap:

"À gula se refere a intemperança no beber até à perda do uso da razão (embiraguez), a qual, se é perfeita, isto é, se chega a impedir completamente o uso da razão, é pecado mortal 'ex genere suo', se causada sem motivo suficiente.

Por graves razões, provavelmente, pode permitir-se a embriaguez, como por exemplo, para curar uma doença ou para com mais segurança submeter-se alguém a uma operação cirúrgica. Afastar a melancolia não é motivo suficiente para embriagar-se. A embriaguez que priva só parcialmente do uso da razão (imperfeita) é somente pecado venial, mas poderia tornar-se mortal pelo dano ou escândalo produzido, pela tristeza que poderia causar aos pais etc.

Em relação ao uso dos entorpecentes (morfina, cocaína, heroína, clorofórmio etc) valem os mesmos princípios, isto é: usados em pequenas doses por motivo suficiente, por exemplo, para acalmar os nervos, dores etc, são lícitos. Sem motivo justo, porém, é pecado venial.

Mas tomá-los em doses tais que privem o homem do uso da razão, é pecado grave, salvo se há motivo suficiente proporcionado; por exemplo, uma operação cirúrgica, dar alívio a um paciente de doenças muito dolorosas etc."

A conclusão é de que:

a) o uso do álcool e de drogas, em si, não é pecado;

b) o pecado está em algumas condutas, dependendo da finalidade;

c) a embriaguez completa com justo motivo não é pecado;

d) a embriaguez completa sem justo motivo é pecado mortal;

e) a embriaguez incompleta é pecado venial;

f) a embriaguez incompleta pode tornar-se pecado mortal por outros fatores (escândalo, atos pecaminosos, em si, produzidos por força da embriaguez ainda que parcial, etc);

g) a embriaguez acidental não é pecado;

h) o consumo do álcool sem embriaguez não é pecado (para afastar a melancolia, v.g., só é pecado se houver embriaguez; pode-se, outrossim, beber por quaisquer outros motivos não-pecaminosos - comemoração, alegria, motivos de saúde, acompanhar os amigos etc - sem embriaguez; havendo outros motivos pecaminosos - ganhar "coragem" para adulterar, para fornicar, para furtar etc -, há pecado mortal mesmo sem embriaguez, mas a causa do pecado nãoé o uso do álcool, e sim a intenção do ato posterior);

i) o consumo de drogas em pequenas doses, com motivo suficiente, nãoé pecado;

j) o consumo de drogas em pequenas doses, sem motivo suficiente, é pecado venial;

k) o consumo de drogas em outras quantidades, com motivo grave e proporcionado, não é pecado;

l) o consumo de drogas em outras quantidades, sem motivo grave e proporcionado, é pecado mortal;

m) o consumo de drogas exige sempre justo motivo para ser lícito, ao contrário do uso do álcool, porque é de sua essência o entorpecimento, ao passo em que o álcool só o é acidentalmente.


O caso do fumo (tabaco) é bem diverso, de vez que ele não é entorpecente nem embriagante. Noutros termos, fumar cigarro, cachimbo ou charuto não afeta a consciência da pessoa. Por isso, o juízo a ser feito em relação a ele não deve ser o mesmo das drogas e do álcool. Não podemos simplesmente "colocar tudo no mesmo saco". Aliás, se nem mesmo o álcool e as drogas, em si, são ilícitos (pois se há um uso lícito, não podem ser ontologicamente ilícitos, sendo, pois, neutros, havendo licitude ou ilicitude conforme o caso), apesar de seu efeito narcótico, muito menos o seria o tabaco, que não é embriagante nem entorpecente.
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Papa pede continuidade na oração e nas obras de paz


ANGELUS
Praça São Pedro – Vaticano
Domingo, 8 de setembro de 2013


Queridos irmãos e irmãs, bom dia!

No Evangelho de hoje, Jesus insiste nas condições para ser seus discípulos: não antepor nada ao amor por Ele, levar a própria cruz e segui-Lo. Muita gente, de fato, se aproximava de Jesus, queria entrar entre os seus seguidores; e isto acontecia especialmente depois de algum sinal prodigioso, que o acreditava como o Messias, o Rei de Israel. Mas Jesus não quer iludir ninguém. Ele sabe bem o que o espera em Jerusalém, qual é o caminho que o Pai o pede para percorrer: é o caminho da cruz, do sacrifício de si mesmo para o perdão dos nossos pecados. Seguir Jesus não significa participar de um cortejo triunfal! Significa partilhar o seu amor misericordioso, entrar na sua grande obra de misericórdia para cada homem e para todos os homens. A obra de Jesus é justamente uma obra de misericórdia, de perdão, de amor! Jesus é tão misericordioso! E este perdão universal, esta misericórdia, passa através da cruz. Jesus não quer cumprir esta obra sozinho: quer envolver também nós na missão que o Pai lhe confiou. Depois da ressurreição dirá aos seus discípulos: “Como o Pai me enviou, também eu vos envio… Àqueles a quem perdoardes os pecados, ser-lhes-ão perdoados” (Jo 20, 21.22). O discípulo de Jesus renuncia a todo o bem porque encontrou Nele o Bem maior, no qual todo outro bem recebe o seu pleno valor e significado: os laços familiares, as outras relações, o trabalho, os bens culturais e econômicos e assim vai… O cristão se destaca de tudo e reencontra tudo na lógica do Evangelho, a lógica do amor e do serviço.


Para explicar esta necessidade, Jesus usa duas parábolas: aquela da torre a construir e aquela do rei que vai à guerra. Esta segunda parábola diz assim: “Ou qual é o rei que, estando para guerrear com outro rei, não se senta primeiro para considerar se com dez mil homens poderá enfrentar o que vem contra ele com vinte mil? De outra maneira, quando o outro ainda está longe, envia-lhe embaixadores para tratar da paz” (Lc 14, 31-32). Aqui, Jesus não quer lidar com o tema da guerra, é somente uma parábola. Porém, neste momento em que estamos fortemente rezando pela paz, esta Palavra do Senhor nos toca vivamente, e em essência nos diz: há uma guerra mais profunda que devemos combater, todos! É a forte e corajosa decisão de renunciar ao mal e às suas seduções e de escolher o bem, prontos para pagar pessoalmente: eis o seguir Cristo, eis o tomar a própria cruz! Esta guerra profunda contra o mal! De que serve fazer tantas guerras, se você não é capaz de fazer esta guerra profunda contra o mal? Não serve de nada! Não serve… Isto envolve, entre outros, esta guerra contra o mal envolve dizer não ao ódio fratricida e às mentiras de que se serve; dizer não à violência em todas as suas formas; dizer não à proliferação de armas e ao seu comércio ilegal. E há tanto! Há tanto! E sempre permanece a dúvida: esta guerra aqui, esta outra de lá – porque em toda parte há guerras – é realmente uma guerra por problemas ou é uma guerra comercial para vender estas armas no comércio ilegal? Estes são os inimigos a combater, unidos e com coerência, não seguindo outros interesses se não aqueles da paz e do bem comum.


Queridos irmãos, hoje recordamos também a Natividade da Virgem Maria, festa particularmente querida pelas Igrejas Orientais. E todos nós, agora, possamos enviar uma bela saudação a todos os irmãos, irmãs, bispos, monges, monjas das Igrejas Orientais, Ortodoxas e Católicas: uma bela saudação! Jesus é o sol, Maria é a aurora que preanuncia o seu nascente.  Ontem à noite fizemos a vigília confiando à sua intercessão a nossa oração pela paz no mundo, especialmente na Síria e em todo o Oriente Médio. Nós a invocamos agora como Rainha da Paz. Rainha da Paz, rogai por nós! Rainha da Paz, rogai por nós!
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Fonte: Boletim da Santa Sé
Tradução: Jéssica Marçal

Papa agradece participação na vigília pela Síria

Além do agradecimento, Francisco lembrou
que a oração e as obras de paz devem continuar

Após rezar o Angelus neste domingo, 8, Papa Francisco agradeceu a todos que participaram, de alguma forma, do dia de jejum e oração pela paz na Síria, neste sábado, 7. Ele se referiu às autoridades civis, membros de outras comunidades cristãs e de outras religiões e todos os homens e mulheres de boa vontade que viveram este momento.

Porém, Francisco recordou que o empenho pela paz seve prosseguir. Ele convidou todos a continuarem rezando para que cesse imediatamente a violência e a devastação na Síria e que se trabalhe com renovado empenho para uma solução justa ao conflito entre irmãos.



“Rezemos também pelos outros países do Médio Oriente, particularmente pelo Líbano, para que encontre a desejada estabilidade e continue a ser um modelo de convivência; pelo Iraque, para que a violência sectária dê lugar à reconciliação; e pelo processo de paz entre israelenses e palestinos, para que progrida com decisão e coragem. E rezemos pelo Egito, para que todos os egípcios, muçulmanos e cristãos, se empenhem em construir conjuntamente a sociedade para o bem de toda a população. A busca pela paz é longa e requer paciência e perseverança. Sigamos adiante com a oração!”, disse.
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