quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

Comunicado do Capítulo Geral Extraordinário dos Legionários de Cristo sobre o caminho de renovação que estão percorrendo


1.            O Capítulo Geral Extraordinário, reunido em Roma sob a presidência do Delegado Pontifício, Card. Velasio De Paolis, emite este comunicado sobre o caminho de renovação que estamos percorrendo. Dirigimo-nos a todas as pessoas que seguiram com atenção os recentes acontecimentos em nossa congregação religiosa e especialmente aos nossos irmãos legionários de Cristo, leigos consagrados, as consagradas e aos demais membros e amigos do Movimento Regnum Christi. 

2. Esta é a primeira reunião do Capítulo Geral desde 2005. Sendo o Capítulo a mais alta autoridade interna que representa toda a congregação, vimos a necessidade de pronunciar-nos sobre os acontecimentos significativos dos últimos nove anos. Com isso, queremos definir de maneira conclusiva a postura da nossa congregação sobre os comportamentos do Pe. Marcial Maciel e seu papel de fundador em continuidade com as disposições da Santa Sé e com a anterior declaração de todos os superiores maiores da Legião de Cristo1. Além disso, oferecemos algumas reflexões iniciais sobre os pontos mais importantes do processo de renovação da nossa congregação. Durante as próximas semanas, nós, padres capitulares, continuaremos a análise dos diversos temas que devemos atender e daremos orientações ao novo governo da Legião para o caminho futuro. 

3. Ao ponderar a gravidade do mal e o escândalo causado, nos vemos sob o olhar misericordioso de Deus que com a sua providência continua guiando nossos passos. Unindo-nos a Jesus Cristo, esperamos poder redimir nossa dolorosa história e vencer com o bem as consequências do mal. Só assim podemos encontrar sentido evangélico aos acontecimentos, e construir nosso futuro sobre os sólidos fundamentos da confiança em Deus, da fidelidade à Igreja e à verdade. 

4. Desta perspectiva consideramos os comportamentos gravíssimos e objetivamente imorais do Pe. Maciel que mereceram as sanções que no seu momento a Congregação para a Doutrina da Fé justamente lhe impôs2. O nosso Fundador faleceu em 2008 e suplicamos para ele a misericórdia de Deus. Ao mesmo tempo queremos expressar o nosso profundo pesar pelo abuso de seminaristas menores de idade, os atos imorais com homens e mulheres adultos, o uso arbitrário da sua autoridade e bens, consumo desmedido de medicamentos aditivos e o facto de apresentar escritos de terceiros como próprios. É incompreensível a incoerência de ter-se continuado a apresentar durante décadas como sacerdote e testemunha de fé enquanto ocultava essas condutas imorais. Reprovamos tudo isso firmemente. Dá-nos muita pena que muitas vítimas e pessoas afetadas esperaram em vão uma petição de perdão e reconciliação por parte do Pe. Maciel e hoje queremos fazê-la nós mesmos, expressando a nossa solidariedade a todas elas. 


5. Os padres capitulares escutamos como os superiores maiores da congregação foram conhecendo esses aspectos escondidos da vida do nosso fundador, como tentaram discernir a resposta que deveriam dar, tendo em conta as exigências éticas e morais, e como realizaram o processo de comunicação. Junto a eles, hoje reconhecemos com tristeza a incapacidade inicial de acreditar nos testemunhos das pessoas que foram vítimas do Pe. Maciel, o longo silêncio institucional e, mais adiante, as indecisões e erros de juízo na hora de informar os membros da congregação e as outras pessoas. Pedimos perdão por essas deficiências que aumentaram a dor e o desconcerto de muitos. 

6. Devido a esses fatos e situações, nossa congregação religiosa poderia ter desaparecido se não nos tivesse acompanhado a misericórdia de Deus e o amparo maternal da Igreja, expressada através das decididas intervenções de Sua Santidade o Papa Bento XVI. O Papa considerou que a Legião de Cristo, em termos gerais, era uma comunidade sã, mas que deveria fazer correções3. A ajuda da Santa Sé foi imprescindível para descobrir como a personalidade e o modo de atuar do Pe. Maciel estava afetando a nossa congregação religiosa. De fato, a visita apostólica – realizada por mandato do Papa entre 2009 e 2010 – comprovou que “a conduta do Pe. Marcial Maciel, causou serias consequências na vida e estrutura da Legião, até o ponto de ser necessário um caminho de profunda revisão”4. Os visitadores destacaram sobre tudo três campos: a redefinição do carisma, o exercício da autoridade e a adequada formação5. O Papa quis “acompanhar, sustentar e orientar esse caminho” por meio de um delegado, “confiando-lhe o cargo de governar no meu [seu] nome tal instituto religioso durante o tempo que fosse necessário para completar o caminho de renovação e conduzi-lo à celebração de um Capítulo Geral Extraordinário que terá como principal fim realizar a revisão das Constituições”6. 

7. Os padres capitulares escutamos os informes do Delegado Pontifício e do nosso pró-Diretor Geral sobre o trabalho realizado nesses três anos e meio. Queremos compartilhar sinteticamente a análise de alguns aspectos relativos ao que a visita apostólica detectou e recomendou. Sabemos que este é o início do caminho e que ainda há muito por fazer. Estamos comprometidos a continuar com humildade esse processo de renovação e conversão. 

a. No campo da revisão do nosso carisma7, o delegado pontifício nos guiou em primeiro lugar a uma compreensão adequada do papel do Pe. Maciel e sua relação com a Legião. A congregação esclareceu no passado que não pode propor o Pe. Maciel como modelo, nem seus escritos pessoais como guia de vida espiritual8. Reconhecemos a sua condição de fundador. Contudo, uma congregação religiosa e suas características essenciais não tem origem na pessoa do fundador; são um dom de Deus que a Igreja acolhe e aprova e que depois vive no instituto e nos seus membros. 
Uma compreensão inadequada do conceito de Fundador, a exaltação excessiva e a visão acrítica da pessoa do Pe. Maciel, nos levou muitas vezes a dar um valor universal às suas indicações e a basear-nos exageradamente nelas. Por isso, na revisão das atuais constituições, uma das tarefas principais foi separar o que realmente expressa o património carismático da nossa Congregação de outros elementos acidentais. Além disso, asseguramos a conformidade de todo o nosso direito próprio com as normais universais da Igreja. Os três anos de processo de revisão foram semelhantes a um prolongado exame de consciência comunitário para descobrir e purificar o que em nosso comportamento pessoal e institucional, não era próprio da vida religiosa. Constatamos algumas tendências que ofuscaram a compreensão do nosso carisma, entre outras coisas, a falta de uma maior inserção na Igreja local e uma insistência desmedida no próprio esforço, na eficácia humana, no prestígio externo e no comprimento minucioso das normas. Tudo isso exige não só uma mudança de textos legislativos, senão uma conversão contínua da mente e coração. 

Nestes anos chegamos a uma compreensão mais adequada da nossa inserção no Movimento Regnum Christi, a valorizar e a respeitar a vocação e a autonomia dos outros membros, especialmente dos homens e mulheres consagrados. Junto com eles começamos uma reflexão conjunta sobre o papel de cada ramo do Movimento, sobre o nosso carisma comum e sobre o modo de levar adiante o nosso apostolado. Os numerosos leigos do Regnum Christi são uma parte belíssima de nossa realidade eclesial e queremos fomentar ainda mais a comunhão e sustenta-la através do nosso ministério sacerdotal. 

b. No exercício da autoridade, o acompanhamento do delegado pontifício foi uma lição contínua e eficaz para colocar em prática tudo o que a Igreja indica sobre o governo dos institutos de vida religiosa. Buscamos introduzir uma clara separação entre o âmbito da consciência (direção espiritual e confissão), o fórum interno e o fórum externo (a guia do superior e a disciplina religiosa) para garantir melhor a liberdade e a intimidade de cada religioso. Com uma maior rotação de pessoas que ocupam diferentes postos de governo e com o acompanhamento no exercício da sua autoridade por parte de um conselho que se reúne periodicamente e analisa os assuntos mais importantes, tratamos de prevenir possíveis arbitrariedades e abusos. O Delegado Pontifício e alguns dos seus conselheiros pessoais participaram quase semanalmente nas reuniões do conselho geral e contribuíram com seus conhecimentos e experiência. Também se eliminou a fragmentação da autoridade, dada pela multiplicação exagerada de assistentes e auxiliares dos superiores e as competências que tinham designadas. Além disso, se instituíram consultas formais aos membros da congregação antes de realizar as nomeações de superiores e, frente a uma mudança de comunidade ou missão apostólica, se procura envolver o interessado para discernir melhor a vontade de Deus. Finalmente, graças à supressão de um dos votos particulares e às numerosas reuniões comunitárias para a revisão do texto constitucional, estamos aprendendo como compartilhar e debater livremente com os nossos irmãos, reflexões e sugestões sobre qualquer tema que abarque a vida e a missão da congregação. 

c. Na formação dos nossos religiosos, se verificou sobretudo a necessidade de melhorar o acompanhamento vocacional para que os noviços e religiosos amadureçam sua decisão pessoal diante de Deus antes de emitir sua profissão religiosa. Os informes mostraram que nesses últimos quatro anos não poucos sacerdotes e um grande número dos nossos irmãos deixaram a congregação. Em alguns casos, a causa foi o impacto negativo relacionado com as notícias sobre o fundador e o modo informa-las, mas também comprovamos carências no programa formativo e no nosso estilo de vida. Entre outras, devemos fomentar uma vivência mais profunda dos conselhos evangélicos, e o discernimento espiritual e a vida fraterna. A formação e a vida religiosa continuam sendo objeto de reflexão desse Capítulo e será uma das prioridades do próximo governo geral. 

8. Nos primeiros dias do Capítulo escutamos também o informe das duas comissões que o delegado pontifício instituiu: 

a. A “comissão de aproximação” atendeu as pessoas que solicitaram alguma ação por parte da Legião de Cristo por causa dos fatos que direta ou indiretamente estão relacionados com o Pe. Marcial Maciel. O presidente da comissão, Mons. Mario Marchesi, informou-nos sobre os 12 casos que se apresentaram. A comissão terminou o seu trabalho e nenhum caso da sua competência fica aberto. A congregação atuou em cada caso segundo a proposta da comissão. A escuta e a ajuda material às vítimas contribuiu – no humanamente possível – a aliviar suas feriadas e a fomentar a reconciliação. 

Agradecemos a todos os legionários pelo seu esforço de se aproximar a outras pessoas também afetadas e por se encontrar pessoalmente com elas. Pedimos ao novo governo que mantenham esse compromisso de continuar procurando a reconciliação. 

b. A “Comissão para o estudo e revisão da situação económica da Congregação dos Legionários de Cristo” tinha a finalidade de analisar a gestão económica e a situação financeira da congregação. O informe apresentado ao Capítulo por Mons. Mario Marchesi, membro da comissão, destaca que não se encontrou apropriação indevida de dinheiro ou outras irregularidades nos exercícios fiscais revisados. 

O primeiro aspecto urgente a atender nesse campo é a redução da dívida bancária, resultada de vários fatores: a expansão muito rápida das obras da congregação, a crise imobiliária mundial e a diminuição de doações. Em alguns países a dívida equivale a uma soma elevada, mas continua sendo manejável com as entradas e bens da congregação. 

Por outro lado, a comissão destacou a necessidade – e isso será tarefa do próximo governo geral – de ajustar e simplificar a estrutura administrativa para fomentar a responsabilidade própria dos superiores territoriais e locais, ambos os ramos consagrados do Regnum Christi e os diretores das obras de apostolado. 

O Capítulo Geral, como autoridade suprema da congregação, também teve à sua disposição uma ampla e detalhada documentação preparada pelo administrador geral e o informe das auditorias internas e externas das operações financeiras da congregação no mundo todo. 

9. As considerações de todos esses temas nos levaram a concluir que o caminho de uma “renovação autêntica e profunda”, confirmada pelo Papa Francisco9, progrediu, mas ainda não terminou. Os acontecimentos desses anos marcarão a identidade e a vida da nossa congregação. À luz da providência divina, podemos acolhê-los, afrontá-los e transformá-los em um elo para uma nova etapa da nossa história. Nas próximas semanas das reuniões capitulares concluiremos a revisão das nossas constituições para submetê-las à aprovação da Santa Sé e estabeleceremos prioridades e orientações para seguir com uma esperança renovada o caminho que a Igreja nos marcou, sob o cuidado atento das autoridades competentes. 

10. Concluímos essa mensagem com um agradecimento a Deus pelo seu amor misericordioso, à Igreja que nos guiou na pessoa do Sucessor de Pedro, à Sua Eminência o Cardeal Velasio De Paolis e aos seus quatro conselheiros pessoais, Sua Excelência Dom Brian Farrell LC, Pe. Gianfranco Ghirlanda SJ, Mons. Mario Marchesi e o Pe. Agostino Montan CSI, sua presença firme e respeitosa entre nós. 

Ao mesmo tempo agradecemos a todos os Legionários de Cristo por seu testemunho de fé, de entrega e de caridade fraterna que nos une apesar das nossas diferenças. De modo especial, pensamos naqueles sacerdotes mais velhos que durante tantos anos nos ofereceram um exemplo de autenticidade e de entrega à missão. Não podemos “perder de vista que sua [nossa] vocação, nascida do chamado de Cristo e animada pelo ideal de dar testemunho do seu amor no mundo, é um autêntico dom de Deus, uma riqueza para a Igreja e o fundamento indestrutível sobre o qual construir seu futuro pessoal e da Legião”10. 

Finalmente agradecemos aos membros do Regnum Christi e a tantas pessoas que nos acompanharam durante esses anos com sua oração e caridade. 

A todos aqueles nossos irmãos, religiosos e sacerdotes, que durante este período abandonaram a congregação, queremos expressar nosso pesar por já não tê-los entre nós. Pedimos-lhes sinceramente desculpa se não os escutamos e acompanhamos evangelicamente, e gostaríamos manter a amizade e o diálogo fraterno. 

Queremos pedir perdão e reafirmar nosso esforço de reconciliação com todos os que de um modo ou de outro foram feridos pelos tristes eventos desses anos e por nossas deficiências. 

Maria, Nossa Senhora das Dores, foi testemunha do poder redentor de Cristo que vence o mal e o pecado. Confiamos o nosso futuro a Ela, nossa Mãe, com muita esperança. 

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1 SUPERIORES MAIORES DA LEGIÃO DE CRISTO, Comunicado sobre as presentes circunstâncias da Legião de Cristo e do Movimento Regnum Christi, 25 de março de 2010. 
2 SALA DE IMPRESSA DA SANTA SÉ, Comunicado 19 de maio de 2006. 
3 CF. BENTO XVI, Luz del Mundo, Barcelona, 2010, pag. 51 (Edição espanhola). 
4 SALA DE IMPRESSA DA SANTA SÉ, Comunicado 01 de maio de 2010. 
5 Cf. Ibid. 
6 BENTO XVI, Carta de nomeação do Delegado Pontifício, 16 de Junho de 2010. 
7 Cf. Ibid. 
8 CF. SUPERIORES MAIORES DA LEGIÃO DE CRISTO, Comunicado sobre as presentes circunstâncias da Legião de Cristo e do Movimento Regnum Christi, 25 de março de 2010 e DIRETOR GERAL DA LEGIÃO DE CRISTO, decreto sobre critérios e disposições relacionados com a pessoa do Pe. Marcial Maciel, L.C., 06 de dezembro de 2010. 
9 FRANCISCO, Carta ao Cardeal Velasio De Paolis, 19 de junho de 2013. 
10 Exortação do Papa Bento XVI, cf. SALA DE IMPRENSA DA SANTA SÉ, Comunicado de 01 de maio de 2010. 

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(Este texto foi aprovado na reunião plenária do Capítulo Geral do dia 20 de janeiro de 2014. Tradução do original espanhol).
Fonte: Radio Vaticano

Um novo “crime” está prestes a ser inventado: a “abortofobia”

França condena um cidadão de 84 anos de idade
por dar um par de sapatinhos de bebê a uma mulher grávida

O enésimo paradoxo do nosso tempo é o crime de "abortofobia", um conceito simplesmente surreal que viria a significar o ato de opor-se ao aborto, mesmo que seja apenas uma oposição intelectual em vez de física.
 
Numa época em que grassam "fobias" de todo tipo imaginável, a fobia que tem como objeto o aborto é particularmente assombrosa. O conceito de “fobia” passou a ser usado,de modo generalizante, para indicar a atitude negativa e a injusta discriminação de pessoas ou de situações, identificadas pela palavra que se combina com o termo “fobia”: pense na “cristianofobia”, já presente em muitos países, cujo alvo (de ataques físicos, assédio moral e marginalização)são os cristãos; ou na “homofobia”, que é a violenta aversão às pessoas homossexuais.No caso do aborto, porém, a situação “denunciada”como se fosse preconceituosa é a oposição a um verdadeiro crime, que é o de assassinar uma criança.
 
Na sociedade de hoje, em que se defendem a ferro e fogo os direitos de todos, menos os do nascituro, o novo absurdo parece não escandalizar quase ninguém. Pelo contrário: quem se opõe ao aborto é que se torna um “culpado”a ser punido, mesmo que apenas expresse uma opinião ou peça que as mulheres que planejam abortar sejam devidamente informadas sobre todas as alternativas que poderiam substituir esse gesto extremo.
 
O paladino dos direitos dos abortistas parece ser a França, onde a lei Weil,de 1975, criou o "crime de obstrução do aborto". Quem comete esse “crime”, o de obstaculizar o aborto, pode ser considerado um "abortofóbico".


Uma nova medida legal proposta na França, contrária a quem é contra oaborto,inclui dois artigos de extraordinária gravidade: o primeiro altera a leiatual, que já permite o aborto para mulheres “em situação de dificuldade”. Essa lei é de interpretação vastíssima, tanto que a história francesa não relata um único caso de mulher que tenha tido o aborto negado por ausência da tal "situação de dificuldade". Mesmo assim, o texto será alterado e a novalei dirá que o aborto é permitido para as mulheres "que não desejam levar a gravidez a termo". Na prática, pouco muda: o aborto na França, afinal, já é permitido para qualquer mulher que o solicita; mas a mudança é decisiva do ponto de vista do princípio. O aborto não será mais considerado como a consequência de uma dificuldade, como um drama, como uma derrota, e sim como uma opção completamente normal;como um direito (cf. La Nuova Bussola Quotidiana, 24 de janeiro).

 
A segunda alteração na legislação francesa proíbe obstaculizar o aborto não apenas fisicamente, o que já estava em vigor, mas também psicologicamente. A leitura dos trabalhos preparatórios revela que a intenção do legislador é proibir que,nos hospitais,as mulheres sejam informadas sobre as alternativas ao aborto;é proibir, também, que os voluntários dos centros de apoio à vida circulem pelos hospitais; e é proibir, inclusive, que, mesmo fora ou nas proximidades dos hospitais,haja protestos ou divulgação de informações pró-vida às mulheres.
 
Essa lei foi aprovada na primeira sessão, mas deve ser submetida a uma segunda.
 
A ministra francesa dos Direitos das Mulheres, Najat Belkacem-Vallaud, foi longe o suficiente para declarar que o número de abortos na França ainda é “muito baixo”. Aparentemente, ela acha pouco o fato de que 35% das mulheres francesas já abortaram e que, só no ano passado, 220 mil crianças foram abortadas no país, diante de 810 mil que nasceram. Outra ministra francesa, a da Saúde, Marisol Touraine, chegou a pedir que a França faça uma "mobilização" contra a lei... do país vizinho, a Espanha, que pretende estabelecer algumas restrições ao aborto.
 
A “abortofobia” parece destinada, portanto, a ter longa vida em terras francesas. E a primeira vítima foi um homem de 84 anos, Xavier Dor, conhecido ativista pró-vida que foi declarado culpado de dar a uma mulher grávida um par de sapatos de bebê a fim de dissuadi-la de abortar. Ele deverá pagar uma multa de 10.000 euros e corre o risco de pegar ainda um mês de prisão.
 
Por conta do "crime" de "abortofobia", os franceses pró-vida podem agora ser processados e condenados simplesmente por realizarem atividades de informação e dissuasão nos hospitais, por indicarem um número de telefone a uma mulher grávida ou por lhe proporem uma reflexão sobre o que é o aborto.
 
Da mesma forma, são criminalizados aqueles que organizam e participam de Marchas pela Vida ou mantêm sites com informações contrárias ao aborto. A pena máxima prevista pela lei é de dois anos de prisão e 30.000 euros de multa.

 
Perante os magistrados que leram a sua sentença, Xavier Dor, que há anos define o Estado francês como "République luciférienne", declarou, do alto dos seus 84 anos de idade: "Crime é assassinar uma criança".
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Fonte: Aleteia

As três qualidades do bom político


Este texto foi publicado na edição italiana de Aleteia. Apesar das especificidades estruturais da organização política italiana, a sua essência é aplicável à realidade de qualquer país. 
  
Esta questão afeta a todos nós, pelo impacto que terá na vida social e política do nosso país [a Itália, ndr]. Falo do assunto, portanto, não porque tenha competência específica na área, mas porque o serviço pastoral me permite estar bem perto das pessoas.Com isso,posso apresentar respostas muito fidedignas a perguntas como esta: o que o cidadão comum espera da futura regulamentação da eleição dos seus representantes e de uma possível nova estrutura institucional do Estado?
 
Tenho contato direto com diversas realidades, desde famílias e trabalhadores, jovens e idosos, até empresas, organismos institucionais e associações. Posso dizer, com essa base, que, além da necessidade de estabilidade, são três as expectativas mais frequentes (e mais do que legítimas) das pessoas: a primeira é que a nova legislação eleitoral garanta no parlamento uma representação efetiva das necessidades locais e dos problemas reais das pessoas; a segunda é que o custo da política, bancado por todos, seja decididamente redimensionado, tal como aconteceu com os orçamentos das próprias famílias,que foram obrigadas a "apertar o cinto" em face dos desafios impostos pela crise atual; e a terceira é que os políticos,que se candidatam a representar o povo, cultivem um alto padrão de moralidade e a intenção de servir ao bem comum em vez de servir-se dos privilégios da "casta".


Sobre a primeira expectativa, eu pude constatar várias vezes que a maioria das pessoas não sabe responder quem é o membro do parlamento que as representa: é como se o cidadão comum sentisse que não tem voz na coisa pública; pior ainda, é como se a maioria das pessoas não tivesse qualquer esperança de que os seus problemas e os da coletividade local interessem de verdade a qualquer um dos "poderosos".
 
A chamada Primeira República [italiana] pecava no clientelismo e nas desigualdades relacionadas coma maior ou menor influência do político local na tomada de decisões de alcance nacional: o povo ainda tinha, no entanto,a fundamentada impressão de que alguém estava trabalhando para resolver os seus problemas ou, pelo menos, os problemas da maior parte da sociedade.

 
Nos últimos anos, porém, esse cordão umbilical que unia o cidadão aos seus representantes foi rompido: os parlamentares são "nomeados" pelos partidos, graças ao sistema de listas fechadas, e os eleitos acabam sendo, na maioria, estranhos e distantes em relação ao território que deveriam representar.
 
A solução está, primeiro, em proporcionar um maior conhecimento dos candidatos por parte dos eleitores,mediante listas menores. O exercício democrático da escolha preferencial de um candidato como alternativa a outro, apesar de ter a desvantagem de favorecer possíveis relações de clientelismo entre eleitores e eleitos, é um direito que não pode ser negado.
 
Quem se opõe às preferências dos eleitores deve prestar contas do porquê dessa postura, que favorece as oligarquias dos partidos e enfraquece o sentido da participação ativa dos cidadãos na escolha dos próprios representantes e do futuro da comunidade.
 
A segunda expectativa que percebo entre as pessoas é a da redução drástica dos custos da política, o que poderá ser atendido com a redução do número de parlamentares. Atualmente, o país é governado por uma infinidade de representantes, articulados em um sistema bicameral perfeito que, na realidade, é frequentemente a origem da lentidão no processo de aprovação de leis.
 
Transformar o senado em uma estrutura de representação dos organismos regionais e locais, derrubando os seus custos e modificando as suas competências, é um passo que pode ser positivo. Se a maior potência econômica e política mundial,os Estados Unidos da América,é governada por um número de parlamentares que, no total, é pouco mais que a metade dos nossos, não há razão para que o mesmo não aconteça por aqui.
 
Com a reforma institucional, no entanto, é preciso ainda uma reorganização dos custos, a abolição dos privilégios de "casta", um rastreio de todos os benefícios e de todas as vantagens que transformam a cadeira parlamentar em objeto de cobiça,em garantia de tranquilidade econômica para quem é eleito para prazos indeterminados.
 
Voltar a conceber a tarefa do parlamentar como a de um servidor do Estado deverá significar equipará-lo a um cargo de responsabilidade a ser exercido com fidelidade e profissionalismo, e com a mesma remuneração e garantias oferecidas à maioria da população que ganha a vida com sacrifício e generosidade, assumindo responsabilidades não menos significativas.
 
Esta reflexão nos leva à terceira expectativa das pessoas: a qualidade ética de quem se envolve na política. A este propósito, não há lei que resolva: os muitos escândalos que emergem de tempos em tempos demonstram que o atual sistema legal e institucional não protege os cidadãos de ilícitos perpetrados por quem se esconde atrás da fachada da respeitabilidade.
 
O acúmulo de cargos com altíssimas retribuições, com a óbvia impossibilidade de cumpriras obrigações inerentes a cada um deles, é um escândalo que clama por reorganização urgente e por sanções adequadas, nos casos de comprovada ilegalidade ou omissão. Se não houver, porém, uma forte e convicta tensão moral, nutrida de responsabilidade para com o bem comum e de consciência educada para o sacrifício por amor ao próximo, se não se voltar a conceber a política como uma forma elevada de caridade e de vida vivida como serviço, de pouco valerão os novos mecanismos eleitorais e as reformas estruturais do sistema institucional.
 
Ouso augurar aqui, a todo aquele que quiser se empenhar na arena política, que se forme longamente na disciplina moral exigente e na solidez espiritual. Há um salmo que diz: "Se o Senhor não edificar a casa, em vão trabalham os construtores. Se o Senhor não guardar a cidade, em vão vigia a sentinela" (127,1).
 
Com imagens vívidas e concretas, a palavra do Grande Código, que é a Bíblia, nos lembra da urgência de monitorar continuamente as nossas ações com parâmetros exigentes e definitivos, ligados ao fundamento transcendente da vida e da história. O salmo sugere, ao mesmo tempo, não presumir de forças meramente humanas:ele pede humildade e invocação de auxílio.
 
Não é inoportuno, portanto, mencionar que a nova geração de políticos de que o país precisa deverá combinar essas três qualidades: o compromisso contínuo com o discernimento moral, a humildade no próprio comprometimento e a disponibilidade interior para emitir juízos mais elevados, para praticar um amor maior.

 
Tal desejo parecerá um sonho para alguns, mas é o melhor augúrio que pode ser feito ao destino comum de todos nós.

Dom Bruno Forte
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Fonte: Aleteia

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

Mensagem do Papa Francisco para a Quaresma 2014


MENSAGEM DO SANTO PADRE FRANCISCO
 PARA A QUARESMA DE 2014
Fez-Se pobre, para nos enriquecer com a sua pobreza
(cf. 2 Cor 8, 9)

Queridos irmãos e irmãs!

Por ocasião da Quaresma, ofereço-vos algumas reflexões com a esperança de que possam servir para o caminho pessoal e comunitário de conversão. Como motivo inspirador tomei a seguinte frase de São Paulo: «Conheceis bem a bondade de Nosso Senhor Jesus Cristo, que, sendo rico, Se fez pobre por vós, para vos enriquecer com a sua pobreza» (2 Cor 8, 9). O Apóstolo escreve aos cristãos de Corinto encorajando-os a serem generosos na ajuda aos fiéis de Jerusalém que passam necessidade. A nós, cristãos de hoje, que nos dizem estas palavras de São Paulo? Que nos diz, hoje, a nós, o convite à pobreza, a uma vida pobre em sentido evangélico?

A graça de Cristo

Tais palavras dizem-nos, antes de mais nada, qual é o estilo de Deus. Deus não Se revela através dos meios do poder e da riqueza do mundo, mas com os da fragilidade e da pobreza: «sendo rico, Se fez pobre por vós». Cristo, o Filho eterno de Deus, igual ao Pai em poder e glória, fez-Se pobre; desceu ao nosso meio, aproximou-Se de cada um de nós; despojou-Se, «esvaziou-Se», para Se tornar em tudo semelhante a nós (cf. Fil 2, 7; Heb 4, 15). A encarnação de Deus é um grande mistério. Mas, a razão de tudo isso é o amor divino: um amor que é graça, generosidade, desejo de proximidade, não hesitando em doar-Se e sacrificar-Se pelas suas amadas criaturas. A caridade, o amor é partilhar, em tudo, a sorte do amado. O amor torna semelhante, cria igualdade, abate os muros e as distâncias. Foi o que Deus fez connosco. Na realidade, Jesus «trabalhou com mãos humanas, pensou com uma inteligência humana, agiu com uma vontade humana, amou com um coração humano. Nascido da Virgem Maria, tornou-Se verdadeiramente um de nós, semelhante a nós em tudo, excepto no pecado» (Conc. Ecum. Vat. II, Const. past. Gaudium et spes, 22).

A finalidade de Jesus Se fazer pobre não foi a pobreza em si mesma, mas – como diz São Paulo – «para vos enriquecer com a sua pobreza». Não se trata dum jogo de palavras, duma frase sensacional. Pelo contrário, é uma síntese da lógica de Deus: a lógica do amor, a lógica da Encarnação e da Cruz. Deus não fez cair do alto a salvação sobre nós, como a esmola de quem dá parte do próprio supérfluo com piedade filantrópica. Não é assim o amor de Cristo! Quando Jesus desce às águas do Jordão e pede a João Baptista para O baptizar, não o faz porque tem necessidade de penitência, de conversão; mas fá-lo para se colocar no meio do povo necessitado de perdão, no meio de nós pecadores, e carregar sobre Si o peso dos nossos pecados. Este foi o caminho que Ele escolheu para nos consolar, salvar, libertar da nossa miséria. Faz impressão ouvir o Apóstolo dizer que fomos libertados, não por meio da riqueza de Cristo, mas por meio da sua pobreza. E todavia São Paulo conhece bem a «insondável riqueza de Cristo» (Ef 3, 8), «herdeiro de todas as coisas» (Heb 1, 2).


Em que consiste então esta pobreza com a qual Jesus nos liberta e torna ricos? É precisamente o seu modo de nos amar, o seu aproximar-Se de nós como fez o Bom Samaritano com o homem abandonado meio morto na berma da estrada (cf. Lc 10, 25-37). Aquilo que nos dá verdadeira liberdade, verdadeira salvação e verdadeira felicidade é o seu amor de compaixão, de ternura e de partilha. A pobreza de Cristo, que nos enriquece, é Ele fazer-Se carne, tomar sobre Si as nossas fraquezas, os nossos pecados, comunicando-nos a misericórdia infinita de Deus. A pobreza de Cristo é a maior riqueza: Jesus é rico de confiança ilimitada em Deus Pai, confiando-Se a Ele em todo o momento, procurando sempre e apenas a sua vontade e a sua glória. É rico como o é uma criança que se sente amada e ama os seus pais, não duvidando um momento sequer do seu amor e da sua ternura. A riqueza de Jesus é Ele ser o Filho: a sua relação única com o Pai é a prerrogativa soberana deste Messias pobre. Quando Jesus nos convida a tomar sobre nós o seu «jugo suave» (cf. Mt 11, 30), convida-nos a enriquecer-nos com esta sua «rica pobreza» e «pobre riqueza», a partilhar com Ele o seu Espírito filial e fraterno, a tornar-nos filhos no Filho, irmãos no Irmão Primogénito (cf.Rm 8, 29).

Foi dito que a única verdadeira tristeza é não ser santos (Léon Bloy); poder-se-ia dizer também que só há uma verdadeira miséria: é não viver como filhos de Deus e irmãos de Cristo.

O nosso testemunho

Poderíamos pensar que este «caminho» da pobreza fora o de Jesus, mas não o nosso: nós, que viemos depois d'Ele, podemos salvar o mundo com meios humanos adequados. Isto não é verdade. Em cada época e lugar, Deus continua a salvar os homens e o mundo por meio da pobreza de Cristo, que Se faz pobre nos Sacramentos, na Palavra e na sua Igreja, que é um povo de pobres. A riqueza de Deus não pode passar através da nossa riqueza, mas sempre e apenas através da nossa pobreza, pessoal e comunitária, animada pelo Espírito de Cristo.

À imitação do nosso Mestre, nós, cristãos, somos chamados a ver as misérias dos irmãos, a tocá-las, a ocupar-nos delas e a trabalhar concretamente para as aliviar. A miséria não coincide com a pobreza; a miséria é a pobreza sem confiança, sem solidariedade, sem esperança. Podemos distinguir três tipos de miséria: a miséria material, a miséria moral e a miséria espiritual. A miséria material é a que habitualmente designamos por pobreza e atinge todos aqueles que vivem numa condição indigna da pessoa humana: privados dos direitos fundamentais e dos bens de primeira necessidade como o alimento, a água, as condições higiénicas, o trabalho, a possibilidade de progresso e de crescimento cultural. Perante esta miséria, a Igreja oferece o seu serviço, a sua diakonia, para ir ao encontro das necessidades e curar estas chagas que deturpam o rosto da humanidade. Nos pobres e nos últimos, vemos o rosto de Cristo; amando e ajudando os pobres, amamos e servimos Cristo. O nosso compromisso orienta-se também para fazer com que cessem no mundo as violações da dignidade humana, as discriminações e os abusos, que, em muitos casos, estão na origem da miséria. Quando o poder, o luxo e o dinheiro se tornam ídolos, acabam por se antepor à exigência duma distribuição equitativa das riquezas. Portanto, é necessário que as consciências se convertam à justiça, à igualdade, à sobriedade e à partilha.

Não menos preocupante é a miséria moral, que consiste em tornar-se escravo do vício e do pecado. Quantas famílias vivem na angústia, porque algum dos seus membros – frequentemente jovem – se deixou subjugar pelo álcool, pela droga, pelo jogo, pela pornografia! Quantas pessoas perderam o sentido da vida; sem perspectivas de futuro, perderam a esperança! E quantas pessoas se vêem constrangidas a tal miséria por condições sociais injustas, por falta de trabalho que as priva da dignidade de poderem trazer o pão para casa, por falta de igualdade nos direitos à educação e à saúde. Nestes casos, a miséria moral pode-se justamente chamar um suicídio incipiente. Esta forma de miséria, que é causa também de ruína económica, anda sempre associada com a miséria espiritual, que nos atinge quando nos afastamos de Deus e recusamos o seu amor. Se julgamos não ter necessidade de Deus, que em Cristo nos dá a mão, porque nos consideramos auto-suficientes, vamos a caminho da falência. O único que verdadeiramente salva e liberta é Deus.

O Evangelho é o verdadeiro antídoto contra a miséria espiritual: o cristão é chamado a levar a todo o ambiente o anúncio libertador de que existe o perdão do mal cometido, de que Deus é maior que o nosso pecado e nos ama gratuitamente e sempre, e de que estamos feitos para a comunhão e a vida eterna. O Senhor convida-nos a sermos jubilosos anunciadores desta mensagem de misericórdia e esperança. É bom experimentar a alegria de difundir esta boa nova, partilhar o tesouro que nos foi confiado para consolar os corações dilacerados e dar esperança a tantos irmãos e irmãs imersos na escuridão. Trata-se de seguir e imitar Jesus, que foi ao encontro dos pobres e dos pecadores como o pastor à procura da ovelha perdida, e fê-lo cheio de amor. Unidos a Ele, podemos corajosamente abrir novas vias de evangelização e promoção humana.

Queridos irmãos e irmãs, possa este tempo de Quaresma encontrar a Igreja inteira pronta e solícita para testemunhar, a quantos vivem na miséria material, moral e espiritual, a mensagem evangélica, que se resume no anúncio do amor do Pai misericordioso, pronto a abraçar em Cristo toda a pessoa. E poderemos fazê-lo na medida em que estivermos configurados com Cristo, que Se fez pobre e nos enriqueceu com a sua pobreza. A Quaresma é um tempo propício para o despojamento; e far-nos-á bem questionar-nos acerca do que nos podemos privar a fim de ajudar e enriquecer a outros com a nossa pobreza. Não esqueçamos que a verdadeira pobreza dói: não seria válido um despojamento sem esta dimensão penitencial. Desconfio da esmola que não custa nem dói.

Pedimos a graça do Espírito Santo que nos permita ser «tidos por pobres, nós que enriquecemos a muitos; por nada tendo e, no entanto, tudo possuindo» (2 Cor 6, 10). Que Ele sustente estes nossos propósitos e reforce em nós a atenção e solicitude pela miséria humana, para nos tornarmos misericordiosos e agentes de misericórdia. Com estes votos, asseguro a minha oração para que cada crente e cada comunidade eclesial percorra frutuosamente o itinerário quaresmal, e peço-vos que rezeis por mim. Que o Senhor vos abençoe e Nossa Senhora vos guarde!

Vaticano, 26 de Dezembro de 2013
Festa de Santo Estêvão, diácono e protomártir




Na catequese, Papa reflete sobre sacramento da Eucaristia


CATEQUESE
Praça São Pedro – Vaticano
Quarta-feira, 05 de fevereiro de 2014

Queridos irmãos e irmãs, bom dia!

Hoje falarei a vocês da Eucaristia. A Eucaristia coloca-se no coração da “iniciação cristã”, junto ao Batismo e à Confirmação, e constitui a fonte da própria vida da Igreja. Deste Sacramento de amor, de fato, nasce cada autêntico caminho de fé, de comunhão e de testemunho.

Aquilo que vemos quando nos reunimos para celebrar a Eucaristia, a Missa, já nos faz intuir o que estamos para viver. No centro do espaço destinado à celebração encontra-se um altar, que é uma mesa, coberta por uma toalha e isto nos faz pensar em um banquete. Na mesa há uma cruz, a indicar que sobre aquele altar se oferece o sacrifício de Cristo: é Ele o alimento espiritual que ali se recebe, sob os sinais do pão e do vinho. Ao lado da mesa há o ambão, isso é, o lugar a partir do qual se proclama a Palavra de Deus: e isto indica que ali nós nos reunimos para escutar o Senhor que fala mediante as Sagradas Escrituras, e então o alimento que se recebe é também a sua Palavra.

Palavra e Pão na Missa tornam-se um só, como na Última Ceia, quando todas as palavras de Jesus, todos os sinais que havia feito, condensaram-se no gesto de partir o pão e de oferecer o cálice, antes do sacrifício da cruz, e naquelas palavras: “Tomai, comei, isto é o meu corpo…Tomai, bebei, isto é o seu sangue”.


O gesto de Jesus cumprido na Última Ceia é o extremo agradecimento ao Pai pelo seu amor, pela sua misericórdia. “Agradecimento” em grego se diz “Eucaristia”. E por isto o Sacramento se chama Eucaristia: é o supremo agradecimento ao Pai, que nos amou tanto a ponto de dar-nos o seu Filho por amor. Eis porque o termo Eucaristia resume todo aquele gesto, que é gesto de Deus e do homem junto, gesto de Jesus Cristo, verdadeiro Deus e verdadeiro homem.

Então a Celebração Eucarística é bem mais que um simples banquete: é propriamente o memorial da Páscoa de Jesus, o mistério central da salvação. “Memorial” não significa somente uma recordação, uma simples recordação, mas quer dizer que cada vez que celebramos este Sacramento participamos do mistério da paixão, morte e ressurreição de Cristo.

 A Eucaristia é o ápice da ação da salvação de Deus: O Senhor Jesus, se fez pão partido por nós, derrama sobre nós toda a sua misericórdia e seu amor, e assim renova o nosso coração, a nossa existência e a maneira como nos relacionamos com Ele e com os irmãos.

É por isto que sempre, quando nos aproximamos deste sacramento, se diz de: “Receber a Comunhão”, de “fazer a Comunhão”: isto significa que o poder do Espírito Santo, a participação na mesa eucarística se conforma de modo profundo e único a Cristo, nos fazendo experimentar já a plena comunhão com o Pai que caracterizará o banquete celeste, onde com todos os Santos teremos a alegria de contemplar Deus face a face.

Queridos amigos, nunca conseguiremos agradecer ao Senhor pelo dom que nos fez com a Eucaristia! É um grande dom e por isto é tão importante ir à Missa aos domingos.

Ir à missa não somente para rezar, mas para receber a Comunhão, este pão que é o Corpo de Jesus Cristo que nos salva, nos perdoa, nos une ao Pai. É muito bom fazer isto! E todos os domingos, vamos à Missa porque é o próprio dia da ressurreição do Senhor. Por isto, o domingo é tão importante para nós.

E com a Eucaristia sentimos esta pertença à Igreja, ao Povo de Deus, ao Corpo de Deus, a Jesus Cristo. Nunca terminará em nós o seu valor e a sua riqueza. Por isto, pedimos que este Sacramento possa continuar a manter viva na Igreja a sua presença e a moldar as nossas comunidades na caridade e na comunhão, segundo o coração do Pai. E isto se faz durante toda a vida, mas tudo começa no dia da primeira comunhão.

É importante que as crianças se preparem bem para a primeira comunhão e que todas as crianças a façam, porque é o primeiro passo desta forte adesão a Cristo, depois do Batismo e da Crisma.
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Fonte: Boletim da Santa Sé
Tradução: Jéssica Marçal e Paula Dizaró

Frei Cláudio Van Balen quebra o silêncio, fala sobre celibato, casamento gay e outras polêmicas


O frei holandês Cláudio Van Balen, de 81 anos, quebrou o silêncio após reassumir ocomando das missas na Igreja de Nossa Senhora do Carmo, região Centro-Sul de Belo Horizonte. Em entrevista à Rádio Itatiaia, ele posicionou-se contra o celibato, não criticou o casamento homossexual e defendeu a realização de missas de acordo com a realidade de cada país. “Nada no mundo ou na igreja muda sem rebeldia. Na família, se ninguém é rebelde, se ninguém coloca a boca no mundo, algo vai mudar? Isso faz parte. Não é para se escandalizar”, disse o padre, ao comentar sobre a postura dos fiéis após seu afastamento.

“Quem escreveu o texto de uma missa que a gente usa domingo? Alguém atrás de uma mesa sentado lá em Roma. Como é que ele conhece a situação no Brasil? Como é que ele conhece a situação da Indonésia ou da África?”, questionou o frei. “No mundo todo teria que ser o mesmo texto. Isso (textos iguais) tem sentido para nós hoje? Não tem. Então, eu sou um pouco bravo, independente e digo que não faz sentido. Isso Jesus não quer da gente de jeito nenhum. Nós temos que rezar em nossa linguagem, em nossa visão sobre a vida e o mundo”, disse. “Eu, como padre, sou obrigado a ajudar os outros a rezar dentro do contexto do tempo de hoje”, completou o frei.


Apontado como moderno, o frei disse que respeita o essencial, mas assume certa 'liberdade', como a forma de o fiel confessar. “Pode se fazer de muitas maneiras. Não precisa ser uniforme, pode ser multiforme. Cada país tem que se adaptar à mentalidade e à visão do povo”, opinou.

União homossexual

Frei Cláudio Van Balen não condena o casamento gay. “Prefiro não fazer avaliação, mas eu digo: se eu estivesse na condição deles e quisesse me unir a um outro, eu teria ou não o direito? Tem alguma instância neste mundo que tem condições, moral ou poder para impedir o que eu quero fazer? Eu não vou fazer crime nenhum, não”, analisou o frei.


“Eu, como padre, vou ficar no meu cantinho, não vou dar palpite”, acrescentou. “Quanta gente que casa direitinho, homem com mulher, e leva uma vida de vergonha, de desrespeito e de opressão”, indagou. 
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Fonte: Itatiaia

Menores: Vaticano reage a críticas da ONU

Delegação da Santa Sé perante a Comissão das Nações Unidas
para os Direitos da Criança

A Comissão das Nações Unidas para os Direitos da Criança, que a 16 de janeiro ouviu uma delegação da Santa Sé, publicou hoje um conjunto de recomendações com críticas ao tratamento de abusos sexuais na Igreja Católica.

“O comité está profundamente preocupado pelo facto de a Santa Sé não ter reconhecido a extensão dos crimes cometidos, não ter tomado as medidas necessárias para lidar com os casos de abuso sexual e proteger as crianças e por ter adotado medidas e práticas que levaram à continuação dos abusos e à impunidade dos abusadores”, lê-se no relatório.

O texto aponta o dedo a um alegado “código de silêncio” sobre estes casos ou à prática de transferir párocos suspeitos de abusos.

Nesse sentido, sugere-se que os abusadores sejam “imediatamente removidos” das suas funções e denunciados às autoridades civis.

A sala de imprensa da Santa Sé emitiu um comunicado, após a publicação do relatório, anunciando que as observações serão “sujeitas a minucioso estudo e exame”.

“A Santa Sé reitera o seu compromisso na defesa e proteção dos direitos das crianças, em linha com os princípios promovidos pela Convenção para os Direitos da Criança e segundo os valores morais e religiosos oferecidos pela doutrina católica”, pode ler-se.


A Congregação para a Doutrina da Fé, organismo da Santa Sé, enviou em 2011 uma ‘Carta circular’ na qual se sublinhava a importância de cooperar com as “autoridades civis” e a “atenção prioritária às vítimas”, determinando que cada conferência episcopal criasse diretivas para lidar com eventuais abusos.

O observador da Santa Sé junto das instituições da ONU em Genebra, Suíça, que falou em janeiro perante a Comissão das Nações Unidas para os Direitos da Criança, disse hoje à Rádio Vaticano que recebeu o relatório conclusivo com "surpresa" e com a impressão de que o mesmo ""estaria já preparado antes do encontro com a delegação da Santa Sé, que deu respostas precisas e detalhadas sobre vários pontos".

"A Igreja respondeu, reagiu e continua a fazê-lo. Temos de insistir nesta política de transparência, de não tolerância dos abusos”, declarou D. Silvano Tomasi.

O Vaticano anunciou em dezembro que o Papa Francisco decidiu instituir uma “comissão para a proteção das crianças”, que vai coordenar o combate e prevenção de abusos sexuais na Igreja Católica, decisão saudada pela ONU, que recomenda a inclusão de elementos da “sociedade civil” e das “organizações de vítimas”.

As resoluções sugerem várias mudanças no Direito Canónico em matérias ligadas aos abusos sexuais, mas também na questão do aborto.

O relatório vai além das questões ligadas aos direitos das crianças e critica as posições da Igreja em temas como a homossexualidade, os casamentos entre pessoas do mesmo sexo, a contraceção, levantando ainda a questão dos “filhos de padres” que considera serem abandonados.

Segundo o comunicado da Santa Sé, alguns pontos deste documento são “uma tentativa de interferir no ensinamento da Igreja Católica sobre a dignidade da pessoa humana e no exercício da liberdade religiosa”.

OC
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Fonte: Agência Ecclesia

Abuso de menores. Dom Tomasi ao Comitê ONU: texto já escrito, definições ideológicas


A Santa Sé acolheu com surpresa, nesta quarta-feira, as observações conclusivas do Comitê da ONU sobre os Direitos da Criança que acusa duramente o Vaticano sobre a questão de abusos contra menores cometidos por membros do clero. As observações foram apresentadas, nesta quarta-feira, em Genebra, na Suíça.

Segundo o organismo das Nações Unidas, a Santa Sé continuaria violando a Convenção sobre os Direitos da Criança. O comitê critica também o Vaticano por suas posições sobre a homossexualidade, contracepção e aborto. 

Entrevistado pela Rádio Vaticano, o Observador Permanente da Santa Sé na ONU, em Genebra, Dom Silvano Maria Tomasi, fala sobre como a Santa Sé reagiu a essas acusações.

Dom Tomasi: "O Comitê da ONU sobre os Direitos da Criança apresentou hoje suas conclusões e recomendações para os países que foram examinados durante esta 65ª sessão. São eles: Congo, Alemanha, Santa Sé, Portugal, Federação Russa e Iêmen. Primeira impressão: é preciso esperar, ler atentamente e analisar detalhadamente o que escrevem os membros desta comissão, mas a primeira reação foi de surpresa, porque o aspecto negativo do documento que produziram faz pensar que tenha sido preparado antes da reunião da Comissão com a delegação da Santa Sé, que deu em detalhes respostas precisas sobre vários pontos, que não foram, em seguida, incluídas no documento final ou pelo menos não parecem ter sido levadas seriamente em consideração. De fato, o documento parece não ter sido atualizado, considerando o que nesses últimos anos foi feito no âmbito de Santa Sé, com as medidas tomadas diretamente pela autoridade do Estado da Cidade do Vaticano e depois pelas Conferências Episcopais nos vários países. Portanto, falta a perspectiva correta e atualizada que realmente viu uma série de mudanças para a proteção das crianças que me parece difícil de encontrar, no mesmo nível de compromisso, em outras instituições ou até mesmo em outros Estados. Isto é simplesmente uma questão de fatos e evidências que não podem ser distorcidos!"

Como responder de maneira precisa a essas acusações do Comitê da ONU?


Dom Tomasi: "Não se pode em dois minutos responder a todas as afirmações feitas – algumas muito injustas – no documento conclusivo do Comitê. A Santa Sé responderá, porque é um membro, um Estado Parte da Convenção, que a ratificou e pretende observar no espírito e na letra essa Convenção, sem acréscimos ideológicos ou imposições que estão fora da Convenção. Por exemplo, a Convenção sobre a proteção das crianças, em seu preâmbulo, fala da defesa da vida e da proteção das crianças antes e depois do nascimento; enquanto a recomendação que é feita à Santa Sé é a de mudar a sua posição sobre a questão do aborto! É claro que, quando uma criança é morta não existem mais direitos! Então, isso me parece uma verdadeira contradição com os objetivos fundamentais da Convenção que é o de proteger as crianças. Este Comitê não fez um bom serviço para as Nações Unidas, tentando introduzir e pedir à Santa Sé de mudar o seu ensinamento não negociável! É um pouco triste ver que o Comitê não compreendeu a natureza e as funções da Santa Sé, que expressou claramente ao Comitê a sua decisão de realizar os pedidos da Convenção sobre os Direitos da Criança, mas definindo e protegendo primeiramente os valores fundamentais que tornam a proteção da criança real e eficaz."

A ONU tinha dito no início que o Vaticano havia respondido melhor do que outros países sobre a proteção dos menores: o que mudou?

Dom Tomasi: "Na introdução do relatório final foi reconhecida a clareza das respostas; não se procurou evitar nenhum pedido feito pelo Comitê, com base na evidência disponível, e onde não tinha uma informação imediata, foi prometido fornecê-la no futuro, segundo as diretrizes da Santa Sé, assim como fazem todos os governos. Parecia um diálogo construtivo e acredito que deva permanecer como tal. Portanto, considerada a impressão que tivemos do diálogo direto da Delegação da Santa Sé com o Comitê e o texto das conclusões e recomendações, é tentador dizer que provavelmente aquele texto já tinha sido escrito e não reflete os suplementos e a clareza, com exceção de algumas atualizações de última hora. Portanto, devemos, com serenidade e com base nas evidências – porque não temos nada a esconder – levar a diante a explicação das posições da Santa Sé, responder às perguntas que ainda permanecem, de modo que o objetivo fundamental que deve ser atingido - a proteção das crianças – possa ser alcançado. Fala-se de 40 milhões de casos de abusos de crianças no mundo. Infelizmente, alguns desses casos – embora em proporções reduzidas em comparação com tudo o que está acontecendo no mundo – dizem respeito a membros da Igreja e a Igreja respondeu, reagiu e continua a fazê-lo! Devemos insistir nesta política de transparência e não tolerância de abusos, porque até mesmo um só caso de abuso de criança é demais!

O que pode ter acontecido?


Dom Tomasi: "Provavelmente, as organizações não-governamentais - que têm interesse na homossexualidade, no casamento gay e outras questões – apresentaram certamente suas observações e de alguma forma reforçaram uma linha ideológica".
(MJ)

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Fonte: Rádio Vaticano